hellemgzr Hadassa

Aos 16 anos, Matsumoto Takanori vivia isolado em uma torre de pedra localizada numa região remota, entre as montanhas tortuosas além da floresta. Dono de uma beleza única, o jovem possuía cabelos mágicos, macios e brilhosos, tão longos que arrastavam-se pelo chão. Quando os fios loiros e reluzentes eram cortados, transformavam-se em ouro. Tendo como única companhia uma cacatua rara de plumagem negra azulada, o jovem passava seus dias cantarolando na janela, apreciando a paisagem e lendo contos de fadas. Sua paz, no entanto, é abalada no momento exato em que um viajante, a fim de escapar da tempestade violenta, invade a torre em busca de abrigo. [yaoi|reituki]


Fanfiction Bandas/Cantores Todo o público.

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O menino de cabelos mágicos

Era uma vez um casal apaixonado. Emi e Hideki Matsumoto. Viviam uma vida tranquila em um pacato povoado ao norte das montanhas. Possuíam muitos bens: dinheiro, servos, o casarão mais belo da cidade, e eram ainda donos da maior parte dos hectares ao oeste, em uma época em que terra era o maior sinônimo de fortuna. Eles tinham tudo, menos aquilo que mais desejavam: um herdeiro.

Anos e anos tentando, sonhando em ouvir as risadas gostosas de crianças correndo pela casa, e o momento tão aguardado nunca chegava, parecendo cada dia mais distante, mais difícil de se tornar realidade. Conforme o tempo passava, mais frustrada a mulher ficava. Estava envelhecendo e o relógio biológico de seu corpo não parava de soar em sua cabeça. Tick-tack, tick-tack. Só o que queria era dar um filho ao seu marido, gerar em seu ventre o fruto do amor que existia entre eles, ainda que este lhe dissesse que estava tudo bem, que ainda assim podiam ser felizes. Porém, no fundo ela sabia que não era de todo verdade. O amante possuía o anseio de ser pai, tanto quanto ela de ser mãe.

Por isso, desesperada, decidiu procurar na floresta a estranha feiticeira de quem tanto ouvira falar. A bruxa em questão não era feia como as fábulas costumavam dizer, pelo contrário: era jovem, com um ar fofo e infantil que conquistava confiança facilmente. A moça de lábios vermelhos ouviu o lamento da mulher e, quase compadecida, acatou seu pedido. Por um pequeno preço, claro. A mulher, esperançosa, foi logo entregando de forma precipitada todos os sacos de ouro que trouxera consigo achando que assim a dívida estaria paga. Coitada!

Os meses foram passando rapidamente até que enfim aconteceu. Seu sonho se realizara. Estava grávida. Exorbitantes de tanta felicidade, os cônjuges convidaram todos os nobres para uma grande festança, afinal, a notícia merecia uma comemoração digna. A gestação seguiu tranquila, com todos os sintomas comuns, incluindo os enjoos e desejos peculiares. Seu marido, bobo como era, paparicava a esposa com tudo que tinha direito. Tudo corria às mil maravilhas, exceto por um fator: as dívidas do casal foram aumentando em uma proporção assustadora e sem explicação aparente. Perderam terras, bens, despediram metade dos criados e tiveram que se mudar para uma casa menor e mais simples. Quanto mais a gravidez avançava, mais perto ficavam da falência absoluta.

Preocupada em como criaria o filho em tais condições, a mulher decidiu procurar a feiticeira mais uma vez a fim de consultá-la sobre o futuro. A bruxa não parecia surpresa em vê-la, pelo contrário. O que ela não esperava, no entanto, era que a preocupação da futura mamãe não se tratava do dinheiro em si. Era em relação à criança em seu ventre. Emi não tinha qualquer receio de perder suas vestes caras, suas joias, tampouco tinha medo de passar fome se necessário, desde que nada faltasse ao filho. E isso ofendeu a bruxa. Ora! Imaginara que ela retornaria desesperada a fim de recuperar os bens que perdera, mas tudo o que importava era aquele maldito parasita crescendo dentro dela? Perceber que a mulher possuía uma alma tão bondosa e altruísta soava-lhe como o mais absurdo dos insultos.

Mas, sem se mostrar abalada, a bruxa se aproximou de Emi com um sorriso perverso bailando nos lábios vermelhos. Pousou a mão sobre a barriga dela e afagando a região em um carinho fingido, murmurou:

— Não se preocupe, minha senhora. Você dará a luz a um menino muito saudável e em breve já não terá de se preocupar com dinheiro. Ele será muito próspero e ouro é algo que nunca lhe faltará.

Assim, no dia 01 de Fevereiro, já quase no fim do inverno que castigava a região, o bebê nasceu. Forte e esbanjando saúde como a bruxa dissera. Possuía olhos claros, num tom verde amarelado. Sua pele era clara, quase tão branca quanto a neve lá fora e havia ainda duas pintinhas charmosas no rostinho: uma embaixo do olho esquerdo e a outra, logo no cantinho do queixo. Sua característica mais chamativa, porém, eram os fios loiros bem clarinhos em sua cabeça, algo extremamente raro entre os japoneses. Mas isso não era mais que um mero detalhe que apenas o deixava mais lindo. Deram-lhe o nome de Takanori Matsumoto.

Estranhamente, desde que o menininho viera ao mundo, a situação financeira dos pais começara a melhorar. Tão rápido quanto perderam, passaram a recuperar. Os pais, felizes como nunca, associaram a boa sorte ao menino. Takanori era especial. Os dias outrora tenebrosos e incertos, agora voltavam a brilhar. Mesmo a primavera que se se aproximava prometia ser a mais bela e florida de todos os tempos. No entanto, o que ninguém sabia ainda é que a calmaria precede a tempestade. E uma das grandes se aproximava.

Emi, como uma boa mãe, estava sempre atenta ao seu filho. Portanto, não demorou a notar a velocidade incomum na qual os cabelos do menino cresciam. Qual não foi sua surpresa quando, a fim de aparar a franjinha que caia sobre os olhos do neném, percebeu com horror que os fios cortados, ao caírem, tomaram uma tonalidade mais escura? A raiz continuava a mesma, mas as mechas pelo chão adquiriram instantaneamente um tom dourado, brilhante e reluzente... como ouro.

Não demorou nenhum um pouco até a notícia se espalhar pela cidade e logo as pessoas vinham de todas as partes, curiosas, querendo ver e tocar no menino, como se Takanori fosse o protagonista principal do circo dos horrores. O brinquedinho preferido dos nobres. Então, cansados da exposição ao qual o garoto, ainda com poucas semanas de vida, estava sendo submetido, os pais venderam tudo o que tinham e se mudaram.

Todavia, não importava em qual cidade se instalavam ou quantas milhas percorressem. Os momentos de paz não duravam muito. Aparentemente, os rumores sobre o menino de cabelos mágicos havia se espalhado pelos quatro cantos do reino. Em uma época e lugar em que todos possuíam praticamente as mesmas características físicas, os mesmo olhos puxados e principalmente, os mesmos cabelos negros escorridos, a cabeleira loira do pequeno herdeiro Matsumoto chamava atenção. "É bruxaria!Deveriam matá-lo, queimá-lo vivo" alguns diziam. E essa nem era a pior parte. Se os ricos enxeridos ou os comentários maldosos já não eram ruins o suficiente, o desespero dos mais humildes a fim de obter apenas alguns fios dourados era infinitamente pior.

Apesar das adversidades, o casal nunca deixou-se abater. Isolados no campo, passaram a viver propositalmente de forma humilde, sobrevivendo do plantio da terra que cultivavam e apenas iam a cidade em casos estritamente necessários. E assim, Takanori foi crescendo. Cada dia mais lindo, alheio a maldade do mundo. Uma criança alegre, cheia de energia e que adorava aprontar algumas travessuras de vez em quando. Amava todos os animais que criavam: as galinhas que botavam ovos para o desjejum, o cavalo manso em que cavalgava todas as tardes com seu pai e principalmente, as vaquinhas que forneciam o leite mais gostoso e fresco do mundo, em sua humilde opinião, claro. Desse modo, a família foi feliz por algum tempo, esquecendo-se durante esse período da maldição que o menino carregava consigo.

As coisas mudaram drasticamente quando, na noite de aniversário de sete anos do pequeno, tentaram raptá-lo. A senhora Matsumoto havia preparado, com a ajuda do filho curioso, um bolo. O pai colheu os morangos mais vermelhos e saborosos de sua plantação, a fruta preferida do garoto. Estavam prontos para cantar o tradicional "parabéns pra você" quando a porta foi derrubada. Depois disso houve gritos, tiros e a casa em chamas enquanto Takanori chorava assustado... Por sorte, o patriarca, com ajuda do senhor Menjo - o único servo da família - colocou os invasores para correr.

Não houve feridos, porém, os pais perceberam naquele momento que algo deveria ser feito. Já não podiam mais viver fingindo que estava tudo bem, ignorando os fatos. Ou tomavam uma atitude, ou da próxima vez, quem sabe, o resultado seria pior. E bem sabiam: não iriam parar até obterem o último fio de cabelo do garoto. Não havia qualquer piedade ou preocupação se Takanori era apenas uma criança. Queriam o menino a todo custo. Vivo ou morto.

Por isso, recorreram ao Plano B: a torre que mandaram construir secretamente anos atrás. Abriram mão do sonho de criar o menino, vê-lo crescer e se tornar o homem incrível que tinham certeza que ele viria a ser. Esconderam o pequeno na construção rochosa, além dos vales verdejantes, entre as montanhas tortuosas, numa região tão remota que tinham certeza absoluta que ninguém jamais poderia encontrá-lo.

2 de Dezembro de 2019 às 04:38 1 Denunciar Insira Seguir história
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Rodrigo Borges Rodrigo Borges
Já me conquistou no "era uma vez". Adoro começos assim ^^. Ansiei por saber mais sobre a torre, pena que foi o último parágrafo. Vou ficar esperto para o próximo capítulo.
December 02, 2019, 11:03
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