oak Rodrigo Carvalho

Tudo corria bem para eles; ir para uma outra cidade com tudo pago, bom tratamento e um gordo pagamento. Só.. que ninguém se sente muito bem perto daquelas portas que dão para as catacumbas..


Conto Impróprio para crianças menores de 13 anos.

#horror #medieval #conto #história #terror #lovecraft #HorrorCosmico
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Horror nas Catacumbas

Piotrand se levanta de sua cama agitado e assustado, suava mesmo com o frio que transformava cada respiração sua em uma pequena nuvem de vapor quente. Seus olhos doíam e as lagrimas semi secas ainda se faziam sentir em seu rosto.


"Que maldição" - Exclama o recém-acordado homem com seu pijama que mais parecia um longo e pesado vestido de tecido escuro. As lembranças dos acontecimentos inexplicáveis voltavam na forma de sonhos obtusos e dantescos e, não importava o quanto bebesse durante seu tempo desperto, os sonhos sempre vinham à noite.


Outro homem se vira em outra cama, ele olha para Piotrand e com um sorriso estranho, com um pingo de insanidade pergunta: "Você também não esquece, não é?".


Piotrand o encara friamente, limpando as lágrimas do rosto. Bertrond é um dos sobreviventes da expedição às catacumbas da propriedade Buttendorth. Ele era um dos soldados e tinha como trabalho proteger os exploradores contra o que é que vivesse lá. Mas claro que ele, assim como Piotrand, não tinha ideia do encontraria, mesmo com os avisos que os moradores da cidade deram dias antes de entrarem pela primeira vez no buraco do inferno, nome dado por um dos finados mosqueteiros após entrar naquele lugar.


"Eu sei que não, porque eu também não" - Falou novamente Bertrond, que se ajeitava em sua cama enquanto o vapor saia de sua boca a cada palavra. O brutamonte pega uma faca que estava na mesinha de cabeceira e a saca de sua bainha. O brilho da lamparina reflete na lâmina dando uma sensação diferente nos dois homens. O soldado parece ansioso pela oportunidade de vingança, enquanto Piotrand, um cartografo contratado para mapear os túneis, engole seco com o terror de imaginar o dia seguinte.


A noite passou lenta e calamitosa para os companheiros de quarto, o frio só diminuiu depois que o sol nasceu e um banho quente foi tomado. A banheira foi preparada pelas criadas da hospedagem que os encaravam com certo pesar enquanto os dois se lavavam na água quente. O clima que pairava no ar parecia preceder algo de bem ruim.


Antes das dez da manhã os quatro soldados restantes, com suas couraças de metal, cotas de malha, escudos de madeira, espadas, machados, maças e lanças, estavam terminando de se equipar. Piotrand vestia uma camisa de malha para se proteger e recebeu uma pistola de um único tiro de Sir Galdentorn, o dono da expedição, contratante e aquele que ameaçou a todos de morte pela forca em caso de quebra contratual, na noite anterior.


"Vocês segurem bem essas tochas, precisamos enxergar tudo a nossa volta" - Falou Villandur, o único dos mosqueteiros que restou. Ele acompanhava o próprio Sir Galdentorn enquanto alguns escravos do norte, mal vestidos e fedidos, carregavam as lanternas. Era claro para todos ali, inclusive para aqueles que apoiavam a nefasta cultura escravista do povo de Hastatlov, que os escravos estavam posicionados apenas para servirem de escudos.


O portão foi aberto por alguns criados que tinham tanto medo de fazê-lo que um ou outro vomitava ao puxar. Assim que a comitiva entrou completamente, uma batida pesada é ouvida. Os mesmo criados que abriam lentamente a porta, pesada de madeira e pedra, fecharam-na o mais rápido possível. Sabiam apenas que deveriam abri-la quando as três batidas na porta fossem ouvidas, nunca em outra ocasião.


Entraram em uma formação planejada anteriormente, baseada na experiência desastrosa das tentativas anteriores. Bertrond ia à frente, como a ponta de lança, junto de outros dois solados, formando uma espécie de triângulo que ia protegendo a dianteira. Atrás deles, vinha alguns escravos com suas tochas, duas fileiras de três escravos de cada lado da comitiva, com Piotrand e seu mapa no centro, logo atrás de Villandur, o mosqueteiro que fazia a guarda pessoal de Sir Galdentorn, este, que ficava logo atrás dele. Por ultimo, mas não menos importante, o quarto soldado, que tinha apenas como função proteger a retaguarda.


No corredor das catacumbas, informações visuais e odoríficas dos acontecimentos dos dias anteriores estavam por todos os lugares. Sangue, armas, um corpo de um escravo desfigurado, a manopla de um dos soldados ainda segurando a tocha e o cheiro da podridão que causou aquilo.


Caminharam por mais vinte minutos seguindo pelos túneis de alvenaria secular que Piotrand havia ilustrado a partir de um mapa anterior, possivelmente da primeira exploração organizada por Sir Galdentorn, quando adentrou aquele buraco do inferno pela primeira vez.


"Você, Piotrand, leia o livro quando chegarmos à câmara do caixão" - Disse o velho Senhor de Buttendorth olhando encarecidamente para o homem que além de guiar o grupo, rabiscava os caminhos novos que descobriam, fazendo anotações sobre a situação. O cartógrafo, que não era sequer necessário para aquele trabalho, mas que o aceitou graças à alta remuneração, apenas assente com a cabeça a ordem do velho louco. Em sua mente, repudiava o senil, mas em sua cidade deveria fazer o que ele mandava, caso contrário morreria.


Mas qual morte ele preferiria? A forca? A guilhotina? Ou o encontro com algo inexplicável, algo que ceifava vidas humanas com brutalidade e rapidez?


O caixão citado surgiu há visão do grupo pouco tempo depois da ordem. O ambiente estava calmo, a aberração devia estar satisfeita de sangue, carne e terror, pensaram todos. Piotrand sacou o livro de capa escura, textura estranha e cheiro nojento, abrindo-o. Uma das páginas estava marcada por uma pena, e nela letras incompreensíveis estavam escritas. O cartógrafo olhou para seu chefe como quem perguntava como faria para ler aquilo. Sir Galdentorn prontamente respondeu: "Apenas deixa as malditas letras serem ditas pela sua própria boca imunda, Piotrand, tente ler.. e lerá".


Piotrand contrariado pigarrou e olhou paras inscrições que mal poderia considerar como letras. Não era próxima a nenhuma língua que conhecia, mesmo sendo fluente em mais de cinco. Tentou fala-las uma vez, mas nada aconteceu. O contratante fixou seus olhos velhos e cansados sobre ele. Piotrand então respirou fundo, fechou seus olhos e tentou repetir a primeira palavra ao abri-los.


"Gan'h karatun Ryn Hs Absta Krue Bantl' Un" - Falou, sendo guiado por algo, que ele acreditava ser o próprio livro. O velho sorriu, gargalhou enquanto os demais recuaram um passo ao ver uma onda de poeira sair do caixão.


O túmulo se abria. Sua tampa de alguma rocha escura e pesada se movimentava para o lado lentamente deixando um ar de tensão na sala até que finalmente caísse no chão. Não quebrou como alguns pensaram que aconteceriam, apenas caiu na lateral.


Um brilho verde amarelado começou a surgir, enquanto formas estranhas intraduzíveis em palavras começaram a sair de dentro do caixão. Ninguém que estava ali, exceto o próprio Sir Galdentorn, sabia o que era aquele lugar ao certo, o que continha aquele caixão e o que aconteceria.


Na verdade, nem mesmo o velho louco sabia, afinal, uma coisa é a história contida em um velho livro de capa negra, comprado de um feiticeiro em um país distante. Outra coisa, no entanto, é o que acontece quando se faz algo que o próprio livro avisava para não se fazer, apesar de explicar muito detalhadamente como fazer.


Universos, planetas, luas, formas impossíveis, seres como o homem, como peixes, como sombras, como algo indescritível. Todas são vistas sob a luz e o ambiente que ela cria no salão do caixão.


Nenhum membro da comitiva percebe a fumaça escura como o ambiente cobrindo todo o salão. Mas como poderiam fazer isso, afinal enquanto a luz colorida, as formas e tudo o que viam se espalhava nada mais era passível de se ter atenção.


A sombra se solidificou em um instante, tornando-se horrenda, uma mistura de carne escura, ossos, dentes e uma substância pegajosa gotejante.


Quando Bertrond, segurando seu escudo e machado e Piotrand, segurando o livro ainda com as duas mãos perceberam, já era tarde. Era a mesma coisa que lhes causou aqueles pesadelos na noite anterior. O cartógrafo moveu-se em uma tentativa de fuga, enquanto o soldado ergueu sua arma e a desceu com força buscando corta-la.


+++


No lado de fora os servos sentados pareciam esgotados, pois já estava de manhã e, um dia havia se passado. Todos estavam cobertos por mantas de pele pesada, estavam sentados em volta de uma fogueira para se aquecerem dado a longa exposição ao clima frio de uma noite inteira.


"Poc"

"Poc"

"Poc"


A terceira batida foi a mais cruel, pois todos estavam tão aterrorizados com as catacumbas e com seu patrão louco. Torciam para que Sir Galdentorn nunca mais voltasse e por isso hesitaram em abrir a pesada porta no primeiro instante.


Respiraram fundo e pensaram no que aconteceria quando seus encarregados descobrissem a ordem e o que aconteceu. Sabiam que seriam enforcados e, não tinham outra saída a não ser abrir a porta. Não importava se o senhor das terras morresse lá, em Hastatlov um servo sempre será punido se não obedecer à ordem de um nobre.


Levantaram-se e foram pesarosos, até a grande e pesada porta de madeira e rocha. Forçaram as alavancas para abri-la. Lentamente ela foi se abrindo permitindo que a fumaça escura, inodora e quase impossível de se ver, saísse antes que duas pessoas caíssem aos seus pés.


+++


Villandur acorda em uma cama macia e aquecida. Inicialmente não se recorda de nada e, não sente necessidade de forçar-se a buscar alguma lembrança. Olha para o lado e percebe que há uma pessoa no mesmo quarto, um homem, vestido roupas pesadas e caras, mas muito sóbrias.


"Sou o Doutor Jugmond" - A figura se apresenta "Você dormiu por dois dias" - Fala se aproximando e tocando o mosqueteiro na testa e, logo em seguida, no pescoço tentando aferir seus batimentos cardíacos.


"Eu.. não sei bem o que aconteceu" - Comenta Villandur levantando-se com muita dificuldade em sua cama. Notou que seu corpo todo doía, havia sangue em algumas bandagens e sua cabeça estava girando. Seus pensamentos começam a fervilhar com pequenos episódios rápidos de lembranças.


"Não se preocupe, seu amigo, Piotrand, passou pelo mesmo e já foi embora" - Comentou o doutor pegando um frasco com um líquido e despejando-o em uma colher. "Tome isso, vai te ajudar a não sentir mais dores" - Diz enquanto leva a colher tomada pelo líquido para o enfermo, que parece demorar alguns segundos antes de compreender o que estava acontecendo. Os episódios rápidos de lembranças começaram a tomar forma, fazendo-o reviver os acontecimentos dentro das catacumbas.


"Não" - Villandur grita, fazendo a colher cair tamanho é o susto que o doutor toma. "Piotrand morreu primeiro, perto do caixão da coisa" – Lamuria-se com voz tremulante o mosqueteiro. Jugmond tentando recobrar o folego do susto olha para o ferido inquerindo o motivo para tudo aquilo enquanto o homem a sua frente geme em agonia ao lembrar-se do ocorrido no dia passado dentro daquele buraco do inferno.

26 de Novembro de 2019 às 06:24 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

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Rodrigo Carvalho Gosto de escrever, ** *** ******* ***, por enquanto é só isso.

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