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Desde pequeno, o fotógrafo Taehyung era apaixonado por parques de diversões. Ele decide conhecer um parque novo e, durante o passeio, depara-se com um garoto lindo, misterioso e estranhamente familiar lhe encarando do barco viking. Mas apenas Taehyung conseguia enxergá-lo. [- Especial de Halloween -]


Fanfiction Bandas/Cantores Impróprio para crianças menores de 13 anos.

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Para toda a eternidade; único

No assento do transporte, os dedos longos ansiosos tamborilavam na bolsa de tecido escuro. Os olhos afilados não paravam quietos diante da paisagem da janela. Montanhas e pastos, algumas construções delineavam os lugares que passava. Se estivesse acompanhando, já teria perguntado há que horas chegariam no local, contudo, está sozinho.

O triste de ser adulto é que nem sempre se tem com quem ir passear. Os amigos geralmente têm outros planos e cabe a si tomar a iniciativa de fazer o que lhe dá vontade e experimentar unicamente. Nesse caso, Taehyung está acostumado. Seu hobby é vinculado ao trabalho, o que o faz ter uma rotina fora do padrão geral.

Fotografia, sua paixão, mas, acima desta, estão parques de diversão. É tamanho seu amor e excitação quando apenas pensa sobre. Desde a primeira vez que foi quando criança, nunca mais experimentou algo que se assemelhasse em felicidade para si. Não são apenas os brinquedos e comidas, a energia é muito boa. Tem ótimas memórias de cada um que visitou, é sempre nostálgico de um jeito curioso. Uma dose direta de serotonina no cérebro de qualquer um.

Hoje, irá fotografar. Um novo parque abriu, não vê a hora de pisar lá e se banhar na alegria contagiante dos que se divertem. Espera capturar tais expressões e eternizar o prazer que lhe sempre é transferido pelo ambiente.

O trem parou, para seu alívio. Chamou mais um transporte e finalmente chegou a seu destino mais do que desejado. Comprou o bilhete e atravessou os portões da alegria. Imediatamente, uma visão de fogos no céu noturno o acometeu. Toda vez que entra em um parque, ela vem lhe dando a sensação de já ter estado no local antes. Não é ruim, pelo contrário, aumenta sua pulsação positivamente.

É o terceiro dia pós inauguração, porém está cheio para um início da semana. Logo ouviu risadas e conversas animadas, feições exageradas e brincadeiras entre amigos. Típico de um clima de parque, pensou.

O cheiro de doces e salgados misturados ao da natureza, trouxeram mais lembranças a Taehyung. Agora foi a uma casa tradicional de madeira avermelhada num bosque fechado, outra ocorrência frequente. Provavelmente, já viu fotos dela e, estar perto do verde, o remetam a isto. Da mesma forma, quando está em praias e visualiza portos com navios antigos, e em lagos, montado piqueniques. O engraçado é que parece estar acompanhado, mas nunca vê alguém ao seu lado. Deve ter sonhado com algum filme ou fotografia.

Crianças correndo animadas esbarraram de leve em si. Sorriu por reflexo, um dia fora afoito como elas. Tirou a câmera da bolsa e começo a fotografar. Seus olhos agora viam através da lente. Focou em casais indo a montanha russa, mais crianças correndo para o carrossel, adolescentes saindo da casa de espelhos, outros direcionando-se a casa de horrores. Por um breve momento, foi ofuscado por um raio de sol batendo na lente. Desorientou-se, no entanto, voltou a pôr a câmera sobre os orbes e tirar uma foto de pessoas enjoadas, eufóricas e tontas saindo do barco viking.

Registrou cada expressão, suspirando. Talvez devesse ir em algum brinquedo também. Abaixou a câmera ainda fitando a barca e deparou se com um rapaz o encarando sentado nela. Ele não estava ali antes, estava? Será que registrou alguma foto tendo ele? Cabelos escuros, rosto suave e... Familiar.

Campo aberto, sol da manhã, pessoas espalhadas e cabelos até os ombros com uma coroa de flores a sua frente, sorrindo afetuoso. Os dentes levemente salientes dando um toque fofo nele.

Taehyung voltou a realidade do parque. Primeira vez que vê isso e quem o acompanha. É a mesma pessoa que o encara, mas por que lembrou de algo que nunca viveu? Por que esse rapaz que nunca viu antes está em sua recordação improvável? Ele permanecia no barco mesmo com outras pessoas entrando nele. Num piscar de olhos, desapareceu de lá.

Apreensão acometeu o fotógrafo. O perdi de novo, seu cérebro, estranhamente, martelava tal afirmação. Então, foi para outro lugar. Um apartamento? Não, escritório. O rapaz parece mais velho e cansado. Atrás da mesa, ele bagunça seus fios escuros e ergue a cabeça para si:

Você não vai me perder.

A fala foi muito profunda e próxima. Como se fosse real e tivesse sussurrado em seu ouvido. Taehyung até prendeu a respiração com o peso que cada palavra o atingia. Há um significado, mas ele não o entende. Sente em seu íntimo que é doloroso, que, o que estão passando, é sofrido, mas não sabe o porquê. É frustrante e desesperador, um beco sem saída.

— Respire, estou aqui — a voz do rapaz ressoou ao seu lado. O sobressalto foi inevitável.

O belo rosto pálido de olhos grandes está a centímetros do seu, no entanto, não sente sua respiração, só a sensação de que já provou desses lábios e tocou a pele lisa. Mais um lapso mental o levou a um momento em que afundava os dedos nas madeixas macias e o puxava para si a pouca luz.

Sacudiu a cabeça, dando passos para trás. Está imaginando coisas, não pode ser real. Quanto mais se afastava, mais o via sob o céu noturno e delineado pela luz lunar na clareira, vestindo hanbok.

Lindo...

Esbarrou em um homem com uma criança de colo, se desculpou até estarem longe. O moreno surgiu novamente ao seu lado.

— Vem — acenou para um canto afastado do aglomerado agitado.

Devia ignorar, devia questionar, até mesmo se tratar, porque nada disso é normal, entretanto o seguiu. Conforme andavam, Taehyung percebeu que o outro sequer desviava das pessoas e coisas, as atravessava. O ambiente noturno retornou, e sua mão era puxada pela dele no meio do amontoado que lembra um festival cultural. Piscou algumas vezes para que fosse dia mais uma vez. Pararam perto de uma pequena e fina árvore isolada do restante do conjunto que liga ao bosque atrás do parque. O rapaz ficou de cabelos grandes e coroa de flores novamente. Ria de algo, encostando a cabeça na árvore... grossa.

É um sonho. O que está acontecendo para eu estar sonhando acordado?

— Desculpe aparecer de repente — disse, com os cabelos curtos de novo. — Você já está se lembrando de tanto que é triste ver que não estou nas lembranças.

— O quê? — foi o que conseguiu dizer.

— Taehyung — o chamou, porém o citado ficou fora de órbita.

Estava num piquenique, olhando para o rapaz de suéter e cabelo penteado para trás. Tirou um cigarro do bolso e fez menção a acender. O fotógrafo, que ali era um jornalista, o impediu.

— Não fume perto de mim, por favor — falou baixo.

Os orbes direcionados a ele foram inquisidores. No entanto, aguardou o isqueiro com o cigarro.

— Vou parar, por você.

— Sério? — Taehyung estava desacreditado.

— Sim — o moreno segurou sua mão.

— Faça isso por você também. Não viu a matéria que saiu recentemente? Fumar faz mal à saúde — comentou.

— É, eu dei uma lida por cima — riu de lado. — Se for para viver mais com você, me desprenderei do vício.

— Obrigado — o jornalista apertou sua mão com força.

— Tudo por você, meu amor — seu olha ficou terno. — Tudo por nós, Taehyung — foi enfático na última sentença.

O som de risadas altas o trouxe de volta ao parque. Foi mirado pelos olhos arredondados e avaliado pelos lábios comprimidos do...

— Você é um fantasma? — perguntou, incomodado por talvez ser o óbvio.

O rapaz fechou a cara, ofendido. Taehyung tremeu um pouco, a última coisa que quer é receber a fúria de um ser sobrenatural.

— “Fantasma” é um termo inapropriado.

O fotógrafo teve um vislumbre de um momento em que eles liam uma declaração formal datando mil novecentos e sessenta e dois, definindo algo como inapropriado. O outro passou a mão, frustrado, nos cabelos intactos, e amassou o papel.

— Não importa o que digam, isso não vai nos mudar — direcionou-se a Taehyung.

— Tem razão — respondeu, mas na realidade.

O moreno intangível, arqueou a sobrancelha para si.

— Sinto muito — falou, desviando o olhar. — Está sendo muito difícil para você lidar com isso agora. Mas eu queria te ver e tentar fazê-lo lembrar de nós.

— Eu te protejo! — Taehyung gritou para o rapaz que tinha os cabelos longos esvoaçando pelo movimento ágil dos cavalos que montavam.

— Não, nós lutaremos juntos — ele arqueou as costas cobertas por uma armadura antiga e marchou avante.

— Concentre-se no meu eu do presente — ouviu a voz perto de si.

O fotógrafo confuso ficou tonto. Apoiou a mão na árvore, despercebidamente cercando o não-fantasma. Seus olhos pararam nos dele.

Um vento fresco acariciou seu rosto e a pele do outro tornou-se alaranjada como um entardecer, ouviu ondas batendo em pedras e o calor do hálito em seus lábios. Queria beijá-lo com toda a vontade de seu coração, mas não pode. Estão em público, mesmo que afastados das pessoas. Podem ser pegos, sentenciados a prisão e tratamentos de “cura”. Só quer abraçá-lo sem medo, só quer amá-lo sem medo...

Tomou fôlego. Provavelmente, há curiosos o espiando e cochichando. Era para ele, está falando sozinho. Talvez haja um no meio deles que acredita na existência do paranormal, porém isto não vem a sua mente no momento e está apenas a julgar. Taehyung faria o mesmo senão estivesse passando por isto. Acredita na máxima de que “há mais coisas entre o céus e a terra do que pode figurar nossa vã filosofia”, contudo, há realmente quem é só louco. E nesse caso, ele não é louco. Essas lembranças são muito mais do que delírios, alguém viveu cada uma delas.

— Nos conhecemos em outras vidas? — indagou, ainda fitando as obsidianas.

— Sim — respondeu-lhe baixo. — Muitas outras vidas. Estamos destinados a nos encontrar de um jeito ou de outro.

— Mas você é um espírito agora, por quê? — sequer piscava para não perder qualquer detalhe do belo rapaz a sua frente.

— Em uma de nossas vidas, eu nasci uma geração antes de você e presenciei seu nascimento — ele desviou o olhar. — O destino está em dívida conosco — riu sem graça.

Os dentes fofos o distraíram para o cenário de um píer com atrações e uma roda gigante. O moreno de madeixas longas tentava abocanhar uma maçã do amor, mas seus dentes não rachavam a camada caramelada. Se constrangeu ao notar que estava sendo observado.

— Para, Tae — virou o rosto.

— Já fomos a parques antes – comentou pensativo, ao se distanciar do outro e olhar ao redor.

— Sim — ele sorriu mais. — Parques e tantas outras festividades. Ah, vamos aproveitar aqui um pouco. Quer ir a qual brinquedo? — o mirou animado.

Além do sol, um sentimento bom aqueceu o peito de Taehyung. Esse rosto amoroso lhe transmite confiança, não há o que temer.

— Carrossel — sugeriu, um tanto sem graça.

Timidez se apossou dele. Uma sensação familiar relacionada a carrossel e alegria. Ficaram em silencio até Taehyung subir no corcel de madeira. Braços o envolveram, peso e calor corporal.

Abriu os olhos, está em um quarto com portas de correr, embaixo de cobertas e sem roupas. Alguém respirou em sua nuca.

— Meu pai pode chegar a qualquer momento — disse ao indivíduo.

— Podemos dizer que você está a me inspirar com a nova estória que tenho que criar para o rei — respondeu abafado, com o rosto afundado na pele dele.

— Se esta estória tiver estratégias de guerra, ele relevará — riu, apertando os braços macios.

— Posso colocar um bonito jovem guerreiro liderando um ataque para resgatar o amor de sua vida — sussurrou, no ouvido de Taehyung.

— E o amor da vida dele é um escriba que foi sequestrado pelos inimigos? — entrou na brincadeira.

— Viste? — desfez o abraço. — Está a me ajudar com a estória — se apoiou no cotovelo para encarar o outro.

Os fios escuros longos escorriam delicadamente sobre peito desnudo de Taehyung. O olhar que recebeu era intenso e carregado de amor.

Não notou quando o carrossel começou a rodar e muito menos que já havia parado. O moreno sinalizou para que o seguisse.

Sons de tiro, está agachado atrás de caixas de madeira cheirando a tabaco. Ao seu lado, o rapaz segura um revólver enquanto ofega. Uma mexa estava fora do lugar no penteado impecável.

— Não nos acharam, mas estamos cercados — suspirou em meio ao murmúrio. — Se ficarmos aqui, perderemos o navio.

— Estão confrontando os italianos, talvez seja hora...

— De aproveitar os charutos cubanos a nossa volta e fumar um para relaxar? — o interrompeu.

Taehyung o fitou, sério.

— Aproveitar a distração deles — o corrigiu.

— Não, é arriscado — arregalou os olhos. — Estão por todo lado.

— É agora ou nunca — deu o ultimado ao outro.

Do nada, foi atingido por uma pequena coisa que lhe causou não só dor, como surpresa e a expressão apavorada do rapaz bonito a sua frente.

— Ei! — ouviu a reclamação de uma mulher.

Teve de se desculpar pela segunda vez hoje.

— Eu estou te chamando, você não me escuta — o não-fantasma o censurou de brincadeira.

— Estou sendo chamado por todos os planos — ele riu.

— Que bom que está atento a isso — sorriu. Taehyung ficou corado. — Que tal a roda gigante agora?

Concordou, o acompanhando para a uma parte mais afastada do parque. O sol está cada vez mais quente e brilhante. Uma brisa fresca passou por entre as pessoas, chegando em si. Sua câmera em torno do pescoço, batia levemente sobre seu estômago, o que geralmente o incomoda, mas observar o moreno etéreo a sua frente, o hipnotiza. Sua presença é muito viva e isto alegra o coração do fotógrafo.

Param no fim da fila que logo se tornou meio. Mirou a roda movendo-se em sentido horário, os vidros das janelas refletindo os raios solares às onze horas. Mais sensações nostálgicas. Esbarraram em seu braço e foi o não-fantasma, só que trajado com roupas militares.

O azul escuro de suas vestes e cape contrastava com o cenário brando de inverno. Ajeitou-se, apoiando-se em um dos joelhos. Sua respiração era visível no ar gélido, sua face rosada e ressecada após dias marchando a baixas temperaturas parecia intrigada, enquanto fitava algo.

— Quem é pior? Americano ou japonês? — indagou, concentrado.

— Está mesmo querendo escolher um lado? — Taehyung o reprovou.

— Claro que não — sussurrou, abismado. — Quero saber quem valerá mais a pena matar e entregar nossa posição — suspirou. — Nossa única opção é ser as iscas para que o plano dê certo.

— Morreremos antes de saber o que é liberdade... — comentou, pensativo.

— É o jeito. Garantiremos o futuro de outros — o moreno soltou a espingarda com baioneta para segurar a mão de Taehyung. — Estou aqui, passaremos por isso juntos.

— Preferia estar só para que você ficasse em segurança — penetrou no olhar hesitante do outro.

O vento frio passou entre eles o que fez com que o rapaz puxasse ar, soltasse a mão de volta para a arma e encarasse a guarnição inimiga.

— Vamos fazer isso logo.

Americanos e japoneses não são aliados, mas, no momento, negociam uma união para impedir os avanços da resistência coreana. Diversos eventos estão acontecendo, no entanto, somente esses dois conseguiram acompanhar a movimentação dos líderes opostos. Os ânimos se agitaram nos dois lados. Agora Taehyung conseguia vê-los.

— Está vendo o general americano? — lhe foi perguntado.

— Sim, ele se levantou e está gritando.

— Ótimo, estou com o japonês na mira — apoiou-se melhor no joelho levantado. — Vamos atirar ao mesmo tempo e matar os dois.

Assentiu, aceitando a ideia. Serão pegos e mortos, que diferença fará? Contudo, ainda engoliu em seco, vendo a cabeça do estrangeiro centralizada em sua visão.

— Atire no três — anunciou o moreno de olhos grandes. — Um, doi-

Algo explodiu os assustando e os fazendo atirar. Erraram, pois os inimigos também se surpreenderam com a barulho repentino. Taehyung olhou para a direção de onde a fumaça vinha.

— Não era a hora, o que aconteceu?

Não temos tempo, a revolta começou e precisamos sair daqui — foi puxado para fora do esconderijo, enquanto ouvia tanto japoneses quanto americanos se prontificando para ir atrás deles.

Taehyung estava sendo fitado pelo funcionário do parque.

— Senhor, entre na cabine — falou.

— Ah, sim — respondeu, constrangido por empacar a fila.

Tropeçou ao adentrar, caindo de joelhos, só não foi o chão de borracha que encontrou.

Está segurando seu amado em seus braços. Do corte profundo na barriga verte demasiado sangue. Suas longas vestes bordadas e claras estão se tornando vermelhas. Seu rosto suado gruda os fios escuros dos cabelos, sua boca tosse mais sangue, está febril e pálido.

— Fuja — gaguejou.

— Não, levar-te-ei comigo — olhou ao redor do campo verde e nada além.

Seus orbes arderam em desespero por não saber o que fazer e como carregá-lo sem que acelere suas chances de morte. Prometeu que o protegeria, mas caíram na emboscada. Provavelmente, nem seu pai tem uma solução para isso.

— Eles vão te alcançar senão partir nesse momento — proferiu, com a voz embolada.

— Jungkook, eu sinto muito — Taehyung chorou mais, o abraçando de leve. — Falhei contigo. Não abandonar-te-ei justo agora.

— Para com isso — o escriba piscou lento. — Apresse-se em avisar ao rei... — sua voz sumiu, junto com a visão de Taehyung.

Fora atingido por uma flecha na cabeça e sequer teve tempo de perceber antes de apagar.

— O senhor está bem? — o funcionário foi acudir o fotógrafo.

— Ah, sim. Tudo bem — garantiu.

Recebeu alguns olhares estranhos antes da porta fechar. O não-fantasma o fitava sem expressão.

— Seu nome é Jungkook — disse a ele.

— Sim, em três vidas — respondeu, simples.

— Nunca tivemos um final feliz, né? — indagou, desanimado pela resposta óbvia.

— Não, por isso que estou cansado de esperar a sorte sorrir para nós e vim te ver.

— Não reencarnará tão cedo, não é? — os olhos de Jungkook, estranhamente escureceram.

— Não — respondeu, sisudo.

— Será que um dia seremos felizes juntos? — questionou retoricamente.

O moreno se limitou a olhar pela janela, cabisbaixo. Seu perfil delicado ganhou tons azulados e o lado de fora se tornou noite. Os cabelos cresceram e suas roupas são fora de época, mas ele está lindo.

Não, ele é lindo. A pessoa mais doce que já conheceu. A pessoa mais importante que já conheceu.

— Não quero voltar — Jungkook comentou, ainda distraído com a paisagem.

— Mas precisamos — Taehyung respondeu desanimado.

— Para você casar e me esquecer? — virou-se brusco para o encarar irritado. — Prefiro morrer.

— Nós não podemos fugir...

— Sim, podemos! — exclamou alarmado. — Não temos que nos obrigar a ter uma vida que não queremos. Podemos nos juntar aquela caravana e nos arriscar a ficar aqui — se esticou para pegar nas mãos do companheiro. — Estou disposto a viver essa incerteza do que aceitar a infelicidade que me aguarda em casa. Você quer viver isso comigo?

Taehyung quer, mais do que tudo nessa vida controlada por seus pais. Se voltar, terá de trabalhar na empresa do pai, se casar com alguma moça, ter filhos e herdar os negócios da família. Isto é a última coisa que deseja para si ou qualquer um, aprendeu tanto aqui na América o que é liberdade, o que é amor. Sua casa se tornou uma prisão da qual foi condenado injustamente.

O que tem a perder se ficar? O intercâmbio foi mais do que um aprendizado acadêmico, foi uma lição do qual grande é o mundo para se limitar a imposições familiares. Valeu a pena cada segundo conhecendo esse novo mundo, cada segundo com Jungkook, aprendendo a amar. Não quer perder isso, não pode perder.

— Vamos viver juntos para sempre — e sorriu.

A luz dos fogos de artifício reluziu no belo sorriso do outro e o beijo teve um sabor diferente.

O raio de sol bateu no rosto de Taehyung. Retornou ao presente, abalado.

— Como acabou nossa vida de intercambistas? — indagou, preocupado.

— Nos juntamos a uma banda de rock — disse, lentamente. — Durante uma viagem de turnê, sofremos um acidente. Você morreu no local, seu sobrevivi, mas não me imaginei sem você, então cometi suicídio ainda na cama de hospital.

— Jungkook... — o fotógrafo se sentiu mal com a informação.

O rapaz era tão jovem, poderia se apaixonar por outra pessoa e ser feliz. No entanto, e se nas vidas passadas ambos tinham lapsos de memórias? A carga emocional de centenas de anos é demasiada. Ele mesmo está confuso. Jamais ficaram plenamente juntos, sempre houve um empecilho. Como não sentir raiva do destino por brincar com ambos dessa forma? Como não querer resolver do próprio jeito?

Um momento... Já não leu algo assim sobre almas “azaradas”? A penalidade que recebem caso cometam um ato imprudente e “egoísta”? Algo como uma maldição e não poderem mais...

Taehyung se recostou no assento, fitando assustado o “não-fantasma”.

— Você se tornou um espírito de rancor — disparou. Os olhos de Jungkook se afiaram. — Morreu odiando o destino que nos impuseram e está aqui porque não pode mais reencarnar.

— Estou aqui por amor a você, Tae — se levantou, aproximando-se.

— Não chega perto de mim — olhou pela janela, ainda faltam bons metros para a parada do brinquedo.

— Depois de tantos anos, você vai simplesmente ignorar cada luta que tivemos para ficarmos juntos? — ele elevou a voz. — Eu te amo mais do que tudo, não despreze meus sentimentos.

— Você está desprezando a minha vida de agora! — Taehyung gritou de volta.

— É para a nossa felicidade!

— Não, é para a sua! Não está pensando em mim, só em você! — esbravejou esticando os braços.

Jungkook pareceu inflar. Suas feições escureceram como os orbes.

— Você mesmo disse: nós vamos ficar juntos para sempre — e avançou.

Não feriu o fotógrafo, mas o possuiu. Sua pele formigou, sua garganta fechou. A mente ficou nublada, mas ainda enxergava. Os músculos pareciam atrofiados para si, só que se moviam sozinhos. Não, o espírito maligno os controlava.

Se levantou involuntariamente e forçou a trava da porta até ouvir um clique.

O que está fazendo? Saia de mim — tentou lutar internamente com a possessão, enquanto o vento fresco o atingia.

Vou eternizar nossa união — e os jogou.

Não! — gritou para si. — Eu não quero morrer!

Girou no ar, escutando gritos e outros sons. Seus olhos lacrimejaram na fração de segundos que lhe restava.

Nossa vida começa a partir daqui — as palavras do espírito não o confortaram.

Taehyung não conteve o pensamento de praguejar contra o destino por lhe proporcionar tal situação e muito menos as tragédias em todas as suas vidas anteriores.

Então o mundo parou de girar e enegreceu.

31 de Outubro de 2019 às 04:18 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

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