Meus olhos estavam cheios de lágrimas tentando entender o que aconteceu.
Letícia ligava dez vezes em um minuto e eu não atendia. Preferi me afastar do mundo e corri sem sentido até acabar a gasolina do carro.
-Legal - saio e sento no capô - Só tem uma solução.
Pego minha arma e boto no meu queixo.
-Eu vivi uma boa vida?
Uma luz de um carro surge no horizonte. O carro para do meu lado e sai um senhor de idade.
-Meu filho, o que faz aqui?
-Acabou a gasolina e eu resolvi sentar aqui e pensar na vida.
-Foi uma mulher? - Ele vem e encosta na porta do carro.
-Ela morreu.
-Ah, me desculpe.
-Não se preocupe.
-Eu tive uma mulher na minha vida... ela era incrível - ele olhava para o céu sorrindo - Mas... a vida nem sempre é justa... ela foi assassinada logo após que eu me casei com ela. Um ladrão parou o carro dela numa ponte e atirou...
Não conseguia dizer nada, apenas suspirei.
-Mas então, eu aprendi que ao invés de ficar me lamentando e apontando uma arma para minha cabeça, sim, eu vi a arma, eu segui minha vida.
-Acontece, que não é a primeira que morre... é a segunda.
-Olha, se ela se foi... é por que algo tinha que acontecer - ele encosta em meu ombro - Viva sua vida, pois, um dia você vai achar alguém melhor...
-E se eu não achar?
-Vocês irão se reencontrar em outro lugar.
Ele entrou em seu carro foi embora sem falar mais nada. Olho para dentro do carro e vejo Letícia ligando.
-Oi?
-Levi, SEU ANIMAL!!! AONDE VOCÊ ESTÁ?!
-Perdido e sem gasolina.
-DÁ UM JEITO E VEM PRA CÁ VER ISSO, SEU IDIOTA!
Dei um jeito e consegui chegar na nova casa da Letícia.
-Senta aqui nessa cadeira e lê isso.
Sento na cadeira e começo a ver o que estava no computador.
-Acredita em fantasmas? - Ela e sua ironia...
-Não pode ser! ELA NÃO...
Levanto da cadeira iniciando uma gritaria, mas logo Letícia me nocauteia.
Acordo, pouco tempo depois, amarrado na cama.
-Não grita!
-Ela não fez isso!
-Fez sim! E você caiu naquele papo! Eu sabia desde o começo que ela mentia!
-Sim... você avisou...
-Como é bom saber que eu sempre estive certa!
-Letícia...
-Uma agente dupla... ótimo! Já parou pra pensar que era ela quem delatava suas posições? Já parou?! Todo aquele joguinho de amor... tudo pra te enganar! MAS AGORA ME DIZ! QUAL A NECESSIDADE?!
-Eu vou descobrir! E quando achar ela... vou fazer o favor de botar uma bala naquele rosto. AGORA ME DESAMARRA!
Anoto algumas coisas no meu pequeno caderno e logo saio.
-Não vai tomar café?
-Hoje não -Saio correndo e entro no meu carro.
Chego no meu apartamento e quebro todos os quadros, todas as memórias e ponho dentro de um saco.
-Letícia? - Ligo para ela.
-Oi.
-Ponha meu apartamento à venda e mande alguém limpar.
Desligo e vou para algum lugar vazio.
-Como eu odeio ser enganado. É sempre essa merda!
Taco fogo no saco contendo todas as minhas memórias que um dia tive.
-Eu deveria ter parado após a Larissa... não sei o que eu fui fazer. Merda!
Pego a arma e gasto todas as balas atirando no fogo.
-Você vai pagar. Pode saber.
Era melhor eu matar todo meu passado para poder viver. Mais uma vez, estou motivado pela raiva, provavelmente minha eficiência no trabalho será melhor.
Ela me conhecia, sabia de tudo. Foi a partir daí que tudo começou a fazer sentido. Letícia, como sempre, estava certa sobre certas aparências.
Eu nunca tive uma lista negra, mas, comecei a ter. Tudo isso para uma vingança não marcada.
Decidi seguir com minha vida e trabalhar. Algum dia nos encontraremos e ela irá receber sua bala de prata.
Obrigado pela leitura!