R
Rosana Mandelli


Gilbert Blythe estava de volta, depois de uma longa viagem que durara um ano. Queria retornar à sua fazenda, rever velhos amigos, retomar a sua vida de onde havia parado. Mas um reencontro inesperado vira o seu mundo tão bem estruturado e planejado de cabeça para baixo. Bastava saber se ele mergulharia de cabeça em sua recém descoberta paixão por Anne, ou se ignoraria esse sentimento que ameaçava consumi-lo por dentro.


Fanfiction Seriados/Doramas/Novelas Para maiores de 18 apenas.
0
4.0mil VISUALIZAÇÕES
Em progresso - Novo capítulo Todas as Sextas-feiras
tempo de leitura
AA Compartilhar

De volta para casa

Lar. Olhos azuis. Cabelos vermelhos. Anne. Toda vez que Gilbert pensava em Avonlea, a imagem dela era a primeira a lhe invadir os pensamentos. Sentia como se a lembrança de Anne lhe trouxesse pela brisa fresca do mar o suave aroma de casa.

Era engraçado pensar que quando partira há quase um ano, com a alma devastada pela perda do pai e farto daquela vida monótona e sem perspectiva de mudança, Gilbert prometera que jamais voltaria, mas agora, depois que descobrira sua real vocação, entendia que tudo que precisava estava em Anvolea e retornar era a única coisa que desejava agora.

Mas valera a pena toda aquela aventura, visitara tantos lugares diferentes, conhecera muitas pessoas interessantes, até mesmo conquistara um amigo, Sebastian, que agora voltava com ele para começar uma nova vida depois de anos preso em um navio, levando uma vida de escravidão e privações.

Gilbert fitou a imensidão do oceano a sua frente e suspirou, pensando no que o esperava dali a alguns dias. Será que alguma coisa mudara em Avonlea, ou será que as pessoas continuavam as mesmas ? E Anne? Como será que ela estava? Será que se lembrava dele ou simplesmente o esquecera depois de todos aqueles meses sem nenhum contato,a não ser por uma única carta que recebera dela contando uma história que ele não entendera muito bem, de que talvez houvesse ouro nas terras dele, e a qual ele respondera dizendo que não tinha intenções de voltar para casa tão cedo. Depois disso, não mais se falaram, seguiram-se meses de silêncio nos quais ele sem perceber, esperara que ela escrevesse novamente, mas isso não aconteceu, e então tivera que se conformar com o fato de que Anne não sentia falta dele.

Gilbert fechou os olhos e se lembrou da primeira vez que a vira na floresta, no momento em que estava sendo ameaçada por Billy, um dos garotos estúpidos da escola. Gilbert então a salvara, afugentando o menino, e Anne quando se viu livre saiu correndo a caminho da escola, sem olhar ou falar com ele nenhuma vez como se estivesse extremamente envergonhada por ter sido pega naquela situação. Ele tentara falar com ela, seguindo-a até a escola, mas não teve sucesso, somente quando chegaram na sala de aula é que Anne dissera seu nome e o agradecera em rápida palavras,e depois mais nada. Gilbert tentara se aproximar muitas vezes, mas não teve sucesso, e não entendia porque ela o ignorava todo o tempo. Tentara chamar sua atenção durante as aulas de todas as maneiras possíveis, mas a garota não cedia um centímetro. A única vez que conseguira uma reação por parte dela foi quando a chamara de ruiva, o que lhe rendara um hematoma na testa, já que Anne bastante irritada com suas investidas acertou seu rosto com a lousa que usava para estudar. Ao invés de ficar bravo, Gilbert se sentiu satisfeito por perceber que Anne não era tão indiferente assim à sua presença.

Anne era uma incógnita para ele, e isso o fascinava. Sua personalidade era tão marcante e cheia de facetas que ele acabava por se perder muitas vezes em uma profunda contemplação por ela durante as aulas. Anne o confundia, o distraía e o atraía também, e por esta razão Gilbert sentia uma necessidade enorme de estar perto dela em todas as oportunidades.

Que ser humano incrível Anne Shirley era! Sua criatividade e talento não tinham comparação, era espirituosa, dedicada aos seus amigos e inteligente demais para uma garota, ele tinha que admitir. Estar próximo dela era sentir a energia que emanava daquele corpo tão franzino, mas tão ativo em todas as suas terminações, e também era sentir-se bombardeado por tanta sabedoria que o fazia imaginar como alguém tão jovem poderia ter tanto conhecimento sobre tantas coisas.

Gilbert podia se lembrar das inúmeras vezes em que Anne encontrara soluções para problemas e situações que nenhuma outra pessoa poderia ter imaginado. Ele se perguntava como fora sua vida antes de ser adotada por Marila e seu irmão Mathew. Anne nunca falava sobre os anos em que vivera no orfanato, mas Gilbert acreditava não ter sido nada fácil para ela. Talvez toda sua coragem e agressividade se originassem do fato de que tivera que aprender a se defender sozinha desde cedo, e isso o fazia admirá-la ainda mais.

É claro que não era só admiração o que ele sentia por ela, mas não sabia ainda definir que outros tipos de sentimentos ele nutria por Anne. Todas ás vezes em que se aproximara dela sentira seu coração bater mais forte, se atrapalhara com as palavras e acabara por não dizer o que queria,. Ela o desconcertava quando o olhava com aqueles maravilhosos olhos azuis quase violetas, e ele sentia como fosse se afogar em um mar imenso de emoções que ele não conseguia compreender.Gilbert jamais se sentira assim com nenhuma outra garota, embora ele tivesse que admitir que em Avonlea haviam várias garotas bonitas com as quais ele tivera a chance de conviver em muitas ocasiões,todas elas perdiam o brilho quando comparadas com Anne, pois ele achava que ela era maravilhosa,uma perfeita combinação entre cabelos vermelhos, olhos azuis e personalidade singular.

Muitas vezes Gilbert ouvira Anne reclamar para sua amiga Diana de sua aparência, de como odiava a cor de seus cabelos e sua constituição corporal muito magra, e ele pensara que era uma pena ela não saber o quanto ficava linda quando o sol batia em seus cabelos e fazia com que brilhassem como pequenas chamas que iluminavam tudo. O som da voz dela quando lia uma história em voz alta na sala de aula, podia fazer com que ele viajasse para outros tempos e outros mundos, e o seu sorriso podia agitar todo o corpo de Gilbert como se ele fosse atingido por uma descarga elétrica.

Anne era sem dúvida uma inspiração, ele podia sentir a presença dela a milhares de distância, pois onde ela estava tudo se transformava em algo colorido e cheio de aventuras, com certeza, não havia nada de comum naquela ruivinha tão vibrante.

Ao pensar nisso, Gilbert mudou de posição de onde estava e fitou as milhares de estrelas que salpicam o céu naquele momento, e então se lembrou da última vez em que vira Anne. Ele acabara de encontrar um emprego no cais, pois tinha a intenção de conseguir uma passagem em um dos navios que partiria dali a alguns dias quando a encontrou saindo de uma casa de penhores. Anne pareceu confusa por um momento, mas depois lhe deu um sorriso brilhante. Gilbert então a convidou para tomar um chá, e ela lhe contou sobre a situação em Green Gables.

"Tivemos que vender praticamente tudo. Com Matthew doente e o empréstimo no banco, não sabemos se poderemos manter Green Gables por muito tempo."

"Que pena. Espero que vocês possam resolver essa situação o quanto antes." - ele dissera ,tentando fazê-la se sentir melhor.

"Também espero. E você, o que faz aqui no cais?" - Anne quis saber.

"Estou trabalhando nos navios que estão atracados. Quero conseguir uma passagem para viajar pelo mundo."

"Mas, e a escola?"– Anne perguntou.

"Posso estudar em qualquer lugar do mundo."- Gilbert respondeu.

"Isso quer dizer que não pensa em voltar?" – Ele percebeu que a voz dela soou um pouco trêmula, ou teria sido sua imaginação?

"Ainda não pensei nisso. Só sei que o mundo é muito grande para ficarmos presos a um só lugar."

"Vou sentir sua falta."– disse Anne de repente, sem que ele esperasse.

"Realmente?" – Ele perguntou, e então seus olhos se encontraram. Um mar azul se fundiu com o castanho, e ele sentiu como se flutuasse em direção a ela sem controle algum. Olhou para os lábios macios dela e pensou em como seria beijá-la, tê-la em seus braços, enroscando seus dedos naqueles cachos vermelhos. Até que percebeu por onde seu pensamento o estava levando e quebrou o encanto dizendo:

"Preciso voltar ao trabalho."

"Tudo bem, também preciso ir. Tenho um longo caminho até chegar em casa." - Anne respondeu.

"Então, acho que isto é um adeus." – disse Gilbert pegando na mão dela para se despedir.

"Acho que sim."– seriam lágrimas o que via nos olhos dela? Lágrimas por ele? E antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, ela se soltou da mão dele, deu um beijo em seu rosto,e saiu correndo pela rua, sem dar chance a Gilbert de se despedir adequadamente. E ele ficou parado no meio da rua, feito um idiota por alguns segundos, tocando o lugar onde ela o havia beijado.

Neste momento Gilbert foi arrancado de suas lembranças por Sebastian que se aproximava dele dizendo:

"Hey, Blyte, pensando na Anne?"

"O que o faz pensar que estou pensando nela?" – perguntou Gilbert.

"Você está com aquele sorriso idiota no rosto." - respondeu Sebastian, provocando-o.

"Ora, não me amole, Bash. Ou te jogo do convés." - disse Gilbert, fingindo estar indignado.

"Duvido muito que consiga Blyte, por isso não ouse. Quanto tempo ainda falta para chegarmos a Avonlea?" - quis saber o amigo.

"Dois dias." - respondeu Gilbert.

Dois dias o separavam de seu destino. Dois dias, e ele estaria em casa. Dois dias e ele voltaria a ver Anne. E diante desse pensamento, ele não pôde deixar de sorrir.

15 de Outubro de 2019 às 04:19 0 Denunciar Insira Seguir história
0
Leia o próximo capítulo Reencontro

Comente algo

Publique!
Nenhum comentário ainda. Seja o primeiro a dizer alguma coisa!
~

Você está gostando da leitura?

Ei! Ainda faltam 4 capítulos restantes nesta história.
Para continuar lendo, por favor, faça login ou cadastre-se. É grátis!

Histórias relacionadas