lara-one Lara One

Mulder e Scully se vêem as voltas com um caso bizarro. Mulder fica mais atordoado e nervoso do que já está. Scully, por sua vez, começa a suspeitar da natureza real da criança. Mas isso estraga os planos do Sindicato. Eles deixarão que Mulder revele a Scully o que sabe? Scully começa a ter mais pressentimentos e visões. Mulder relembra o início do relacionamento deles e toma uma decisão que pode afetar sua vida.


Fanfiction Seriados/Doramas/Novelas Para maiores de 18 apenas.

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S03#20 - INTRUDERS

INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Richmond – Virgínia – 1:23 A.M.

Geral de uma rua escura, bem movimentada por carros. Uma ambulância dobra a esquina, rapidamente. A sirene soa. Os carros cedem lugar. A chuva cai fina.

Corta pra dentro da ambulância. Uma mulher grávida, amarrada na maca, pronta para dar a luz. O paramédico tenta acalmá-la. A tensão é enorme.

PARAMÉDICO: - Aguente, senhora! Respire fundo.

A mulher grita em desespero. As dores são intensas.

PARAMÉDICO: - Já estamos chegando.

ABBY: - (DESESPERADA) Tem alguma coisa errada com o meu filho!

PARAMÉDICO: - Não há nada de errado com o seu filho. Relaxe, respire fundo.

O paramédico fica nervoso, mas tenta acalmá-la. A mulher grita, contraindo-se na maca. O paramédico olha pro motorista.

PARAMÉDICO: - (NERVOSO) Joe, pelo amor de Deus, acelere isso! Ou vamos ter de fazer um parto.

A mulher grita. Joe pega o rádio.

JOE: - Aqui é a ambulância 34. Estamos chegando com uma paciente grávida, prestes a dar a luz.

ENFERMEIRA (OFF): - Sim, 34. Algum procedimento em especial?

JOE: - Ela é paciente do hospital psiquiátrico. Solicito procedimento de segurança.

ENFERMEIRA (OFF): - Afirmativo, 34. Estamos preparados.

Joe desliga o rádio. A mulher continua gritando e se contorcendo.

ABBY: - Pelo amor de Deus, não podem me desamarrar? Vou ter um filho, eu não suporto as dores!

Joe vira-se e olha pro paramédico. O paramédico olha pra Abby. O suor escorre do rosto dela e o medo e o desespero são visíveis em seus olhos.

PARAMÉDICO: - Não temos ordens de soltá-la, senhora. Precisa ficar calma.

ABBY: - (GRITA NERVOSA) Deus! Eu vou morrer!

PARAMÉDICO: - Não vai morrer, senhora.

Ela grita em desespero. O paramédico olha pra Joe.

PARAMÉDICO: - Pelo amor de Deus, olha a situação da mulher! Ela não tem como fugir daqui!

Joe respira fundo.

JOE: - Solta ela.

O paramédico desamarra as mãos dela. Ela segura a barriga. Grita com muita dor. Vira o rosto. Vê a maleta de equipamentos cirúrgicos. Vira o rosto pro paramédico.

ABBY: - Precisa me ajudar. Ele vai nascer! Ele não pode nascer.

PARAMÉDICO: - Como assim, senhora?

ABBY: - Não entendem? Não é uma criança, é um monstro!

PARAMÉDICO: - Acho melhor amarrá-la de novo.

O paramédico leva as mãos para amarrá-la, mas ela é mais rápida. Vira-se e pega um bisturi da maleta. O paramédico a detém, ela grita implorando que ele a deixe.

ABBY: - Você não entende! Precisamos matá-lo.

JOE: - O que está acontecendo aí atrás? Pelo amor de Deus!

PARAMÉDICO: - (ASSUSTADO) A mulher é louca, quer matar o filho!

JOE: - (DESESPERADO AOS GRITOS) Tira essa droga das mãos dela!

A tensão aumenta. O paramédico consegue tirar o bisturi. Ela segura a barriga gritando.

ABBY: - Eu não quero morrer! Eu não quero morrer!

Ela dobra as pernas em posição de parto. Um líquido verde fluorescente começa a escorrer pela maca. O paramédico arregala os olhos.

PARAMÉDICO: - (PÂNICO) Ah, meu Deus! Joe, tem algo acontecendo aqui, Joe!

Fade in. (tela escura fechando-se)

PARAMÉDICO (OFF): - Joe! Não!!!!!

[Gritos]

Fade out. (tela abrindo-se)

Externa da ambulância batida contra um poste. A sirene continua soando e a luz piscando. O corpo do motorista morto por sobre o volante pressionando a buzina que não para de soar. A porta traseira do veículo está aberta. A chuva cai fina. Algo indefinido arrasta-se pelo chão, levando pedaços de carne humana e deixando um rastro da substância esverdeada que se mistura com a chuva. A criatura entra num bueiro.

VINHETA DE ABERTURA:



BLOCO 1:

Apartamento de Mulder – 4:17 A.M.

Mulder, cabelos desgrenhados e vestido apenas com as calças de um pijama, abre a porta. Skinner está parado ali. Mulder esfrega os olhos, ainda sonolento.

MULDER: - Algum problema?

Skinner o puxa pro corredor. Está irritado.

SKINNER: - Quando eu perguntar se tem algo pra me dizer, gostaria que me dissesse.

MULDER: - Do que está falando? Que horas são?

SKINNER: - É hora de contar o que está me escondendo.

MULDER: - Não estou escondendo nada. Já disse tudo.

SKINNER: - Onde está a Scully? Não a encontrei em seu apartamento.

MULDER: - Está morando com os Pistoleiros.

SKINNER: - Por quê? Porque eles querem proteção do FBI ou porque você quer a proteção deles?

MULDER: - ... Você sabe porquê, Skinner.

SKINNER: - (TENSO) Vim aqui porque quero que vá agora pra Virgínia antes que limpem toda a sujeira.

MULDER: - (SE ACORDANDO) O que aconteceu?

SKINNER: - Mulder, não queria colocar você nessa. Mas tem a ver com vocês dois e acho que deveria ir. Parece que mais uma criança nasceu essa noite. E essa é diferente.

Mulder fica tenso. Skinner entrega um papel que tira do bolso.

SKINNER: - Pegue isso e saia daqui o mais rápido possível. Vou buscar a Scully e vou com ela. Agora, vá na frente, antes que algo aconteça.

Skinner desce as escadas, apressado. Mulder entra desesperado no apartamento. Pega a primeira camiseta que vê e coloca. Veste uma calça. Coloca os tênis. Pega a jaqueta, o celular e as chaves. Bate a porta. Aproxima-se do elevador e aperta o botão. Veste a jaqueta, todo atrapalhado. Liga o celular. Disca. Lê o papel em sua mão.

MULDER: - ... Scully, sou eu. Encontro você no necrotério do hospital da Virgínia... Não, não posso falar agora. É urgente. Estou indo pra lá. O Skinner vai te pegar aí, apronte-se.

Mulder desliga. Entra no elevador, penteando os cabelos com as mãos.


Necrotério do Hospital Geral – 6:23 A.M.

Scully entra num corredor. Skinner com ela. Mulder está parado ao lado da porta do necrotério, fazendo vigília. Scully para e olha pra ele.

SCULLY: - Onde está o corpo da senhora Morrisey?

MULDER: - Scully, eu peço desculpas pelo que vai ver, mas eu preciso de você.

SCULLY: - Mulder, algum Arquivo X?

MULDER: - Se não puder fazer, quero que me diga.

Mulder abre a porta. Scully entra. Mulder olha pra Skinner, que está assustado.

SKINNER: - Não falei nada sobre o caso. Não tive coragem.

Mulder entra. Scully aproxima-se da mesa e ergue o lençol. Arregala os olhos.

SCULLY: - (ASSUSTADA) Oh, meu Deus!

Scully puxa o lençol de cima do corpo da mulher.

SCULLY: - Mulder, o que aconteceu?

Mulder vira o rosto, evitando de olhar para o cadáver. Está nervoso e preocupado.

MULDER: - Abby Morrisey. 30 anos, paciente do Sanatório Middersville. Grávida de seis meses.

Scully coloca a mão sobre os lábios. Olhos enchendo-se de lágrimas.

MULDER: - Scully, se não puder, não faça.

SCULLY: - Onde está o bebê? O que fizeram com ela?

MULDER: - ... (RECEOSO) O ... O 'bebê' desapareceu, Scully. Olha, faça a autópsia primeiro, depois te dou os dados.

Mulder abre a porta.

SCULLY: - Onde vai?

MULDER: - Até o sanatório. Fique aqui com o Skinner e me espere. Pode ser uma armadilha pra nos afastarem.

Ela afirma com a cabeça. Mulder sai.


7:30 A.M.

Scully tira as luvas e a máscara. A auxiliar lhe passa uma toalha. Ela seca o rosto. Olha pra auxiliar.

SCULLY: - Obrigada.

Scully olha pra Abby, que está na mesa, com as pernas erguidas. Scully liga o gravador.

SCULLY: - Análise preliminar do corpo de Abby Morrisey. A vítima apresenta lacerações nos órgãos genitais externos: monte do púbis, lábios maior e menor do pudendo, vestíbulo da vagina, clitóris, bulbo do vestíbulo, glândulas vestibulares maior e menor. O períneo e o reto, o septo retovaginal...

Scully desliga o gravador. Está nervosa. Olha pra assistente.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Deus! Eu... Eu nem sei como descrever o estado dessa mulher! É como se a criança saísse a rasgando de dentro da pra fora! Isso é absurdo!

Scully vai até a pia e lava o rosto.

ASSISTENTE: - Nunca vi algo assim, doutora.

Scully seca o rosto.

SCULLY: - Vou abrir. As provas estão ali.

Scully coloca outro par de luvas e põe a máscara. A assistente lhe entrega um bisturi.


8:49 A.M.

Mulder entra no necrotério. Scully está toda suja de sangue. Tira máscara. Mulder faz uma cara feia ao ver o corpo da mulher aberto. Vira o rosto.

MULDER: - Scully, o que aconteceu com Abby?

SCULLY: - Órgãos genitais externos lacerados, períneo e ânus também. Ausência de órgãos urinários pélvicos. Músculos Esfíncteres interno e externo do ânus foram retirados. Ausência também dos músculos perineais superficiais transverso superficial do períneo, isquiocavernoso e bulboesponjoso.

MULDER: - ... (APAVORADO)

SCULLY: - Também não há útero, nem ovários e parece que todo o aparelho urogenital foi retirado dela de dentro pra fora, como se algo saísse de dentro dessa mulher tão desesperadamente que a rasgou. A coluna vertebral está quebrada. Puxada pro lado de dentro do corpo. Algumas vértebras estão faltando. Mulder, nunca vi algo assim. O que está acontecendo por aqui?

MULDER: - Scully, Abby Morrisey era divorciada, sem filhos. Foi internada em 1999 por depressão e tentativa de suicídio. Na verdade, Abby alegava que era visitada por extraterrestres que faziam experiências com ela, lhe tirando todos os bebês que gerava.

Mulder entrega uma pasta pra Scully.

MULDER: - Relatórios médicos do sanatório, Scully. Abby não recebia visitas, mas mesmo assim ficou grávida. Ninguém questionou, 'ela era louca e algum visitante ou até mesmo um funcionário poderia ser o pai da criança'... (FAZ PAUSA/TENSO) Ontem, ela começou a sentir dores fortes e chamaram os paramédicos. No meio do caminho, a ambulância foi encontrada com Abby, um paramédico e o motorista mortos.

SCULLY: - ... (PREOCUPADA) E... o bebê?

MULDER: - Nada de bebê, Scully. Apenas um rastro de partes do corpo dessa mulher e sangue foram encontrados, espalhados pelo meio da rua.

SCULLY: - Sua teoria é que essa mulher deu à luz a alguma criatura que não faz parte do nosso catálogo de 'normal'?

MULDER: - ... (OLHA PRA ELA COM PIEDADE)

Scully respira fundo. Fecha os olhos.

SCULLY: - Vou autopsiar os outros dois, Mulder. A princípio, sua teoria tem muito fundamento. E não vejo outra explicação por aqui.

Scully sai da sala. Mulder olha pro corpo da mulher. Sai da sala, nervoso. Skinner olha pra ele.

SKINNER: - Mulder...

MULDER: - (RESSENTIDO) Skinner, eu... Eu preciso te contar uma coisa. Não sou digno da sua amizade. Menti pra você. Eu...

SKINNER: - Eu sei, Mulder. Você não me deu as provas do caso do rapaz de Louisiana, Irving Sander... Você deve tê-las dado ao Canceroso.

MULDER: - ... (ENVERGONHADO)

SKINNER: - Mulder, não vou condenar você por fazer todas as loucuras possíveis e impossíveis para salvar sua família. Eu faria o mesmo. Acha que tem alguma ligação com o caso?

MULDER: - Tem. E o desgraçado mentiu pra mim!

Skinner suspira.

MULDER: - Dei aquelas provas, tentei ganhar a confiança dele e olha no que deu.

SKINNER: - Mulder, mas se o filho de vocês não fosse uma criança normal, teria aparecido nos exames.

MULDER: - Skinner, por acaso nós achamos o 'bebê' da senhora Abby? Sabe se não era de aparência humana como você ou eu?

SKINNER: - O que vai fazer, Mulder?

MULDER: - Não há o que eu possa fazer, Skinner. Ele ganhou tempo. Não dá pra abortar, tá entendendo? E não posso agarrá-la à força e tirar o filho dela. Mesmo que eu tivesse falado antes, e sabe que eu tentei, ela nunca acreditaria. Nem depois do que viu aí dentro.

SKINNER: - Mulder, e se essa criança nascer?

MULDER: - Se ela nascer, a Scully morre. Mas ela não vai nascer, Skinner. Acho que a Scully tá começando a ver a verdade.

Mulder esmurra a parede.

MULDER: - Por que fui acreditar naquele homem? Por quê?

Skinner está apático, cabisbaixo, triste. Mulder olha pra ele.

MULDER: - O que foi, Skinner?

SKINNER: - Nada, Mulder. Apenas a velha pergunta sobre por que as coisas não são mais fáceis e voltadas pra felicidade das pessoas...

MULDER: - Skinner, eu só posso contar que a Scully descubra a verdade. Porque acabo de ter uma ideia que não gostaria de fazer.

SKINNER: - Mulder, não está pensando em...

MULDER: - Estou, Skinner. É ela ou aquela coisa. Mil vezes ela, Skinner, mil vezes ela. Poderia colocar algo na bebida dela, sei lá. Mas eu não tenho coragem de fazer nada contra a Scully. Tá entendendo?

SKINNER: - ... (SUSPIRA)

MULDER: - Vou averiguar o local do acidente. Fica com ela?

SKINNER: - Vim pra isso, Mulder. Vim apenas pra cuidar dela pra você.

Mulder sai do hospital. Skinner senta-se num banco. Fica olhando pra porta da sala onde Scully entrou.

Corta para Scully. Ela abaixa a cabeça e coloca as luvas, preparando-se para autopsiar os dois corpos. De repente, ergue a cabeça, sem olhar para o lado. Scully fica parada, olhando com o rabo dos olhos para o lado, pressentindo alguma coisa.

Corta para o anjo vestido de branco, passar ao lado dela, a observando, como se a estivesse protegendo.


10:14 A.M.

Um carro de polícia estaciona na rua. Mulder e o delegado descem. A rua foi interditada.

DELEGADO: - Agente Mulder, é aqui.

Mulder olha pro poste. Olha para o chão. Vidros quebrados, manchas de sangue por todos os lados. Mulder agacha-se, vendo manchas de uma substância estranha. Põe as luvas. O delegado olha pra ele, enquanto Mulder tira amostras do chão.

DELEGADO: - Quando a coisa toda aconteceu, atendemos um chamado de um casal dizendo que presenciou um acidente. Quando chegamos, havia gente por todos os lados, apavorada. Pensamos que estávamos atendendo a um chamado de acidente, mas na verdade era um crime.

MULDER: - Tiraram fotos?

DELEGADO: - Tiramos fotos, mas pena não termos chegado antes. A área do crime já havia sido violada. Poderíamos tirar digitais, verificar marcas de sapatos. Mas não há como.

MULDER: - Quem tirou as vítimas da ambulância?

DELEGADO: - Os transeuntes. O que acha que é essa coisa verde? Tinta?

MULDER: - Não é tinta. Parece alguma substância orgânica.

Mulder guarda o saquinho plástico no bolso.

MULDER: - Onde mora o casal que notificou o fato?

DELEGADO: - (APONTA) Naquela janela. Pedi que fossem até a delegacia depor. Vão fazê-lo na hora do almoço. Os dois trabalham.

MULDER: - E as outras pessoas que estavam aqui?

DELEGADO: - Já temos alguns testemunhos e nada bate, agente Mulder. Versões diferentes.

Mulder segue o rastro pela rua. O delegado o observa.

DELEGADO: - Não vai dar em nada, agente. O rastro desaparece. A chuva deve ter apagado.

Mulder observa. Olha para o bueiro. Pega o celular.

MULDER: - ... Oi, aqui é o agente Mulder. Quero pedir uma ordem pro departamento de esgotos de Richmond. Aguardo.

O delegado olha pra ele.

DELEGADO: - Agente Mulder, tem ideia do que aconteceu por aqui?

MULDER: - Acho que o 'criminoso' pode ter escapado pelo bueiro.

O delegado fica olhando pro bueiro, incrédulo. Mulder está falando algo ao telefone. Desliga.

MULDER: - Preciso ir até o departamento de esgotos.

DELEGADO: - Vamos.

Mulder olha pro bueiro. O delegado olha pra ele.

DELEGADO: - O que foi, agente?

Mulder tira outro par de luvas. Veste-as. Agacha-se na frente do bueiro.

MULDER: - Tem alguma coisa aqui.

Mulder estende o braço pra dentro do bueiro. O delegado o observa, curioso. Mulder tira a mão, segurando pedaços do que parece ser uma placenta. Mulder vira o rosto. O delegado arregala os olhos.

DELEGADO: - Jesus Cristo!

Mulder sacode a mão. Coloca-a dentro do esgoto novamente. Vira o rosto. Retira um pedaço de cordão umbilical. Mulder levanta-se, tirando as luvas, numa fisionomia de pânico.

MULDER: - Chame ajuda pelo rádio. Acho que tem metade do corpo de Abby aqui dentro.

O delegado corre pra viatura. Pega o rádio.

DELEGADO: - Aqui é o delegado Wilson. Código 3. Solicito pessoal da perícia...

Mulder parece que vai vomitar. Puxa a lanterna do bolso e agacha-se, olhando pra dentro do bueiro.

MULDER: - Meu Deus! Que diabos é isso?

O delegado aproxima-se. Mulder levanta-se, colocando a mão sobre os lábios.

DELEGADO: - Chamei o pessoal da perícia. O que foi?

MULDER: - ... (ENJOADO) Acho que as vísceras da mulher estão ali dentro. Arrancou tudo o que podia dela. Há pedaços da coluna, como se a coisa tivesse se agarrado nela...

Mulder vai pra viatura, desesperado. O delegado olha pro bueiro.


Central de tratamento de água - 11:11 A.M.

Mulder e o delegado descem do carro. Há um tumulto ali na frente de vários funcionários. Mulder aproxima-se do portão. Puxa a credencial.

FUNCIONÁRIO: - Ainda bem, vieram rápido dessa vez.

MULDER: - Não estamos atendendo nenhum chamado. O que aconteceu?

FUNCIONÁRIO: - Sei lá, cara. Tem uma coisa estranha, morta, boiando num dos tanques.

DELEGADO: - Pode nos levar até lá?

Mulder, o delegado e o funcionário vão até um dos tanques.

FUNCIONÁRIO: - (INDIGNADO) Essa gente joga cada coisa pelo ralo... Sei lá que diabos jogaram num dos esgotos.

Os três caminham por uma plataforma entre dois tanques.

FUNCIONÁRIO: - Fechem o nariz ou não vão conseguir almoçar hoje.

MULDER: - Não se preocupe. Já perdi meu apetite antes de vir pra cá.

O funcionário para. Aponta.

FUNCIONÁRIO: - Lá, estão vendo?

Mulder olha pra um pequeno corpo flutuando na água, nada identificável pela sujeira. O delegado põe a mão sobre o nariz, falando fanho.

DELEGADO: - Que raios é aquilo?

MULDER: - (FAZENDO UMA CARA FEIA, VIRANDO O ROSTO E TAPANDO O NARIZ) Podem tirá-lo daí?

FUNCIONÁRIO: - Parece um cachorro morto.

MULDER: - Talvez.

FUNCIONÁRIO: - Vou buscar uma rede.

Mulder e o delegado saem dali.

DELEGADO: - Que cheiro desgraçado... Que profissãozinha ingrata!

Mulder pega o celular. Aperta uma tecla.

MULDER: - ... Scully, acho que encontrei mais serviço pra você. Sei que deve estar cansada, mas acho que pegamos o 'bebê fujão'.


Necrotério – 12:56 P.M.

Skinner sai do necrotério rindo sozinho, de felicidade. Mulder aproxima-se, chegando pelo corredor.

MULDER: - Skinner, mandei as amostras da substância pro laboratório e... (SORRI) Do que está rindo?

SKINNER: - Entre lá, Mulder. A Scully quer matar você.

Mulder vai abrir a porta, mas Scully dá de cara com ele.

MULDER: - Então?

SCULLY: - Então o quê?

MULDER: - ... Analisou aquela coisa?

SCULLY: - Mulder, seu suspeito é um canídeo, mais conhecido como 'bulldog'. Não tem nada de alienígena nele. Morreu por ter ingerido um rato contaminado com veneno. Acredito que tenha morrido há mais de uma semana pelo estado de decomposição.

Skinner segura o riso. Mulder olha pra ele.

MULDER: - Tá se divertindo, né, ô big boss? Deveria sair mais vezes com seus subordinados. Talvez repensasse aquele aumento que venho pedindo...

SCULLY: - Mulder, o delegado ligou pedindo para que fôssemos até a delegacia ouvir os depoimentos.

MULDER: - Primeiro quero verificar os esgotos dessa cidade.

SKINNER: - Mulder, vá com a Scully até a delegacia. Eu vou investigar os esgotos.

MULDER: - Não sabia que diretores-assistentes também faziam trabalho sujo...


Delegacia de polícia – Primeiro distrito - 1:39 P.M.

O inspetor de polícia sai da sala. Mulder olha pra ele.

INSPETOR: - São todos seus agora.

Mulder abre a porta. Está visivelmente cansado, se arrastando. Scully entra, ele a segue. Há um jovem casal, de mãos dadas e sentados num sofá. Mulder e Scully mostram suas identificações.

MULDER: - Senhor e senhora Malafaya? Não vamos tomar muito do tempo de vocês. Apenas algumas perguntas rotineiras.

MARCUS: - Achamos que deveríamos comunicar à polícia, mesmo sabendo que poderiam rir da nossa cara.

SCULLY: - O que viram exatamente naquela noite? Onde estavam?

MARCUS: - Estávamos na sacada do apartamento. Sempre ficamos olhando pras estrelas, olhando pra rua, conversando... Hábito. Terapia de casal.

Scully sorri. Mulder mal consegue sorrir, parece que vai desabar a qualquer momento, de sono e de nervosismo.

MARCUS: - Foi quando eu e Darlene vimos a ambulância dobrar a esquina e entrar na nossa rua. Ainda comentei com ela sobre quantas emergências esses pobres trabalhadores enfrentam todos os dias.

DARLENE: - (SORRINDO) Uma piada dele, porque na verdade, ele também é paramédico... O Marcus e eu ficamos olhando. De repente a ambulância perdeu o controle e bateu no poste. Tudo ficou escuro. Então eu corri e peguei o telefone. Tentei chamar o socorro, mas Marcus gritou meu nome. Ele parecia assustado. Corri pra sacada e quando vi... Aquela coisa se arrastava pelo chão.

MARCUS: - Estava escuro, nós não podíamos ver bem o que era.

DARLENE: - Mas era pequeno.

SCULLY: - Pequeno o quanto? Do tamanho de uma criança?

MARCUS: - De uma criança recém-nascida sim. Arrastava alguma coisa e entrou pelo bueiro.

Mulder levanta-se. Scully olha pra ele. Mulder pega o celular e abre a porta.

MULDER: - Vou avisar o Skinner.

SCULLY: - Não quer ir até lá?

MULDER: - ...

SCULLY: - Estou numa delegacia, Mulder.

Mulder sorri.

MULDER: - Me espere aqui, tá certo?

SCULLY: - Tá.

Mulder sai.


BLOCO 2:

4:17 P.M.

Uma rua. Um carro de polícia ao lado de uma tampa de esgoto no chão. A tampa abre-se. Skinner sai, vestido num sobretudo muito sujo. Mulder vem atrás dele, tão sujo quanto. Os dois ficam tentando limpar a roupa. Skinner ajeita os óculos.

SKINNER: - Sabe aquele aumento, Mulder? Acho que merecemos.

MULDER: - Nenhum vestígio daquela coisa. Pra onde poderia ter ido?

SKINNER: - Pra dentro de alguma residência?

MULDER: - Se foi, não temos como descobrir. Não deixou pistas. É rápido... Skinner, impressão minha ou está caçando alienígenas comigo?

SKINNER: - Não acha que formamos uma boa dupla?

MULDER: - Acho estranho.

SKINNER: - Uma vez, enquanto estava morrendo naquele hospital, eu disse à Scully que teria morrido em vão. Já que tive uma segunda chance, é hora de aproveitar.

MULDER: - (PÂNICO) Deus! Esqueci a Scully na delegacia!

Mulder pega o celular e aperta uma tecla, nervoso. Skinner tenta limpar o sobretudo.

MULDER: - ... Ela vai me matar... Scully, sou eu, o cachorro desgraçado que late e baba nos seus pés.

Skinner segura o riso.

MULDER: - ... Onde está? (IRRITADO) O quê? Quem te autorizou? Não mandei você ficar aí?

Mulder afasta o celular do ouvido e estende o braço. Dá pra se ouvir a voz dela gritando 'desde quando manda em mim, Mulder? Blá-blá-blá...'. Mulder coloca o celular no ouvido de novo.

MULDER: - Tá, já tô indo... Tá bom... Tá... Tá, já ouvi! ... Sim senhora.

Mulder desliga. Suspira. Skinner olha pra ele.

MULDER: - Tá no FBI. E odeia prestar conta do que faz pra um porco chauvinista como eu. Vai entender a Scully... Uma hora quer ser protegida, outra hora bate o pé dizendo que não precisa de homem pra protegê-la!

SKINNER: - Mulder... Eu não posso mais segurar a barra pra ela. Preciso afastá-la do Bureau. Já devia estar cumprindo licença.

MULDER: - ... Falei com o Frohike. Vão ficar com ela enquanto eu trabalho.

SKINNER: - Mulder, vamos voltar. Hoje não temos mais nada pra fazer por aqui... Deixei dois agentes no necrotério, vigiando os corpos. Você precisa descansar.


Apartamento de Mulder – 8:11 P.M.

Mulder abre a porta. Scully entra com um pacote e uma pasta de papéis, toda atrapalhada. Chuta a porta.

SCULLY: - Jantar pronto e não reclame.

MULDER: - (SORRI) Festinha? Scully, adoro essas suas festinhas surpresas.

SCULLY: - Comida chinesa?

MULDER: - Pra falar a verdade, esse caso me deixou sem fome.

Os dois trocam um beijo. Mulder pega o pacote da mão dela e puxa Scully pro quarto. Fecha a porta. Scully puxa o edredom da cama. Tira da pasta uma papelada enorme e joga sobre a cama. Mulder larga o pacote na cama e pega o laptop.

MULDER: - (SÉRIO) Acho que o ninho tá pronto. Comida, computador, papéis, edredom... Vamos trabalhar. (SUSPIRA) Shi, esqueci de trazer uma bebida. Suco?

SCULLY: - Com certeza.

Mulder sai do quarto. Scully vai atrás dele. Se espreguiçando.

SCULLY: - Mulder, que tal um banho antes de começarmos?

MULDER: - Boa ideia, Scully.

SCULLY: - Esqueci meu pijama.

MULDER: - Te empresto o meu. Você sabe onde está.

SCULLY: - Vou pegar nossas roupas e te espero no banheiro.

Scully volta pro quarto. Abre o armário de Mulder. Olha pro espelho. Toca em sua barriga. Scully abre a roupa rapidamente e fica passando a mão sobre a barriga, analisando-a. Fisionomia de desconfiança. Mulder entra no quarto. Olha pra ela, com receio.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - Tenho médico amanhã e gostaria que fosse comigo.

Ela dá um sorriso tentando animá-lo. Mulder pressente que a dúvida na cabeça dela começou.

SCULLY: - Vamos pro chuveiro, Mulder.

Scully o puxa pro banheiro. Mulder a segue, temendo que ela já tenha encaixado os fatos.


Apartamento de Mulder – 2:03 A.M.

Mulder anda de um lado pra outro, roendo a unha do polegar. O sono parece vencê-lo. Scully lê alguns papéis, sentada sobre a cama, com o edredom por cima.

SCULLY: - Mulder, o que temos aqui são dois homens mortos com a garganta cortada irregularmente o que sugere...

MULDER: - Garras?

SCULLY: - Bem, talvez... Uma mulher que teve seu filho roubado...

MULDER: - Ele não foi roubado, Scully. Simplesmente saiu e tomou seu rumo.

SCULLY: - Mulder, como vamos provar que não era um simples bebê, mas um alienígena? Eu sei que diante do estado do corpo de Abby Morrisey, uma criança não nasceria daquele jeito, mas tem certeza de que era uma criança? E se fosse aquela criatura que você diz que se desenvolve dentro do corpo da gente e...

MULDER: - Não, não era nenhum alienígena do óleo negro, Scully. Aquilo ali era outra coisa. Era um feto.

SCULLY: - Mulder, tem certeza disso?

MULDER: - Não. Pra dizer a verdade, eu já não tenho certeza de mais nada.

Mulder deita-se na cama. Aconchega-se ao lado dela. Scully continua lendo o papel.

SCULLY: - Aqui diz que Abby Morrisey estava com seis meses de gravidez. Não há parto normal com seis meses, exceto se a criança estivesse sendo abortada, expelida, o que não é provável. Temos a ficha dela, consultas psiquiátricas assinadas por um tal de Dr. Maurice Fenton, onde ele diz que Abby sofria de paranoia e relata o que ela contava a cada encontro. Abby descrevia sempre que era visitada por alienígenas, que já tinha gerado três crianças e que estava grávida de um deles. Mulder, como vamos fazer o FBI aceitar isso?

MULDER: - ...

SCULLY: - Acho que devemos ir ao sanatório e falar com o Dr. Fenton. Não acha?

MULDER: - ....

SCULLY: - Mulder?

Scully olha pra ele. Mulder dorme, de boca aberta, exausto. Scully sorri.

SCULLY: - Tá bem, Mulder. Você venceu. Acho que é uma boa ideia.

Scully tira a papelada toda da cama. Deita. Puxa o edredom pra cima de Mulder e o cobre. Beija-o na testa. Olha pra ele. Passa a mão em seu rosto.

SCULLY: - Hum, como ele dorme bonitinho, de boquinha aberta... Tá cansadinho, né, meu agente?

Scully empurra a franja dele pra trás. Mulder está ferrado no sono.

SCULLY: - (SORRI) Eu te amo, Mulder.

Scully aconchega-se nele, se abraçando em sua cintura, deitando a cabeça em seu peito. Fecha os olhos.

SCULLY: - Hum... o mais gostoso, no final do dia, é ficar assim, juntinho, me esquentando em você...

Scully abre os olhos. O anjo está parado ao lado da cama, apontando pra Mulder. Scully fecha os olhos. Abre-os. O anjo sumiu. Ela fica tensa.


Sanatório Middersville – 10:34 A.M.

Mulder, sentado, observa uma ficha em suas mãos. O velho Dr. Fenton, muito parecido com Freud, sentado, com os dedos enlaçados uns nos outros, conversa com Scully. Olha por cima dos óculos quadrados e pequenos, enquanto fala.

FENTON: - Ela era uma paciente tipicamente neurótica, paranoica e violenta. Precisávamos sedá-la algumas vezes para que ela pudesse dormir a noite. Acreditava que homenzinhos verdes vinham fazer sexo com ela.

MULDER: - Dr. Fenton, pelo que li nas fichas de pacientes, vi que tratou duas vezes de um sujeito chamado Duane Barry.

FENTON: - Oh, sim. Mais um caso típico de paranoia com extraterrestres. O transferimos. Duane apresentava os mesmos sintomas que Abby Morrisey, entretanto nunca disse que fazia sexo com eles.

Scully olha pra Mulder, numa fisionomia de intriga.

MULDER: - Vocês a sedavam para dormir?

FENTON: - Não havia outro jeito. Quando ela dizia que estava sentindo a presença deles e que eles viriam naquela noite, fazia plantão, não queria dormir para não tirarem o filho dela.

Scully olha pra Mulder, desconfiada. Mulder levanta-se rapidamente, disfarçando.

MULDER: - Obrigado pela sua ajuda.

Scully levanta-se. Os dois saem da sala. Caminham por um corredor. Scully séria, intrigada. Mulder tenso. Os dois em silêncio.


FBI – Gabinete do diretor-assistente – 2:11 P.M.

Mulder, cabisbaixo. Skinner olha pra Scully.

SKINNER: - O que temos de palpável pra apresentar?

SCULLY: - Senhor, as amostras que Mulder enviou ao laboratório... Simplesmente sumiram.

SKINNER: - (SUSPIRA)

SCULLY: - Isso nos indica que estão preocupados em encobrir alguma coisa muito grande. Não podemos simplesmente sugerir que um feto saiu por aí, arrastando-se pela rua. Não temos provas, apenas o cadáver de Abby, e ele não pode nos dizer que a criança era alienígena. Poderia ser um monstro... (ASSUSTADA COM SUA TEORIA) Ah, Deus! Eu disse isso realmente?

Scully olha pra Mulder. Mulder está dormindo, sentado na cadeira. Skinner olha pra ela.

SKINNER: - Deixe-o, Scully. Está cansado.

SCULLY: - ...

SKINNER: - Está me dizendo que não temos provas, não é isso?

SCULLY: - Apresentar as evidências nós podemos, e... Senhor, acho que sabe o que Mulder está me escondendo.

SKINNER: - ... Agente Scully, não sei de nada.

SCULLY: - Se souber, gostaria que me dissesse. Porque neste exato momento eu posso ser a prova que pode trazer justiça àquela mulher.

Skinner fecha os olhos. Scully levanta-se. Acorda Mulder, sacudindo-o pelo ombro.

SCULLY: - Mulder, vem.

MULDER: - (SONOLENTO) Ahn? Eu...

SCULLY: - Mulder, vem. Precisamos fazer uma coisa.

MULDER: - Tá...

Mulder levanta-se, meio atordoado. Skinner olha pra ele, nervoso.

MULDER: - Que coisa, Scully? O que temos que fazer?

SCULLY: - Buscar provas, Mulder.

Os dois saem. Skinner abaixa a cabeça, tenso, agitado.

SKINNER: - Meu Deus!

Skinner esmurra a mesa. Pega o telefone.


4:47 P.M.

Scully, deitada numa cama, no hospital. O médico faz uma ecografia. Mulder olha pelo monitor. O médico mostra pra ele.

MÉDICO: - Estão vendo?

MULDER: - (FELIZ/ SORRINDO EMOCIONADO) ... Ele... ele é perfeito.

MÉDICO: - Claro que é.

Mulder olha pra Scully, com um sorriso misturado em lágrimas. Scully sorri pra ele. Mulder fica olhando pra tela, fascinado.

MULDER: - (SEGURANDO AS LÁGRIMAS) É o meu... é o meu filho.

Scully olha pra Mulder, feliz pela empolgação dele. Mulder não consegue desgrudar os olhos da tela. Aponta pra tela.

MULDER: - O que é isso?

MÉDICO: - São os pés dele.

MULDER: - (QUASE CHORANDO) Tão... tão pequeninos, não?

Scully olha ternamente pra Mulder. Olhos cheios de lágrimas. Mulder parece hipnotizado de tanta felicidade.

MÉDICO: - A criança está bem, Dana. Você está bem... Não há nada de errado.

SCULLY: - Tem certeza?

MÉDICO: - Absoluta. Vocês são um casal saudável, têm uma vida saudável...

Mulder olha pra Scully, debochando. Scully entende e sorri.

MULDER: - Nem tão saudável quanto deveria ser.

MÉDICO: - Podem ficar tranquilos. Não querem saber o sexo?

SCULLY: - Não... Quer saber, Mulder?

MULDER: - Não. Eu só quero que seja uma criança normal e saudável. Pouco me importa se os sapatinhos serão azuis ou cor de rosa.

Mulder sorri, mais aliviado.

MULDER: - Eu... eu tinha medo de ver isso... se soubesse, já teria visto antes.

O celular toca. Mulder sai do consultório. Atende.

MULDER: - Mulder.

SKINNER: - Mulder, parece que temos mais testemunhas. Talvez uma prova. Um outro casal afirma ter visto alguma coisa estranha saindo pelo vaso do banheiro.

MULDER: - Estou indo, Skinner.

SKINNER: - Mulder, se quer deixar isto com a Scully e comigo, vou solicitar uma dispensa pra você.

MULDER: - Não, eu quero ficar.

SKINNER: - Mulder, não está em condições de trabalhar! Você está acabado, Mulder! Anda tomando alguma droga?

MULDER: - Não, é só cansaço... isso passa logo.

SKINNER: - Mulder... Veja o que vai fazer.

Mulder desliga. Scully sai da sala, vestindo um casaco. Olha pra ele.

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - (ENTUSIASMADO) Achamos as provas, Scully.


FBI - Gabinete do diretor-assistente – 5:34 P.M.

Skinner pega sua valise. Abre a porta da sala. Dá de cara com o Canceroso, fumando. O Canceroso entra. Skinner fecha a porta.

CANCEROSO: - Algum problema, senhor Skinner?

O Canceroso traga o cigarro.

SKINNER: - Diga o que quer pra deixá-los em paz!

CANCEROSO: - Comovente... Muito comovente. Sei que há muito tempo você coopera com os dois, mas saiba que também cooperou comigo.

SKINNER: - Nunca ajudei você!

CANCEROSO: - (SORRI DEBOCHADO) Ajudou muito. O que hoje está vendo aconteceu porque você ajudou. Vocês forçou as coisas entre eles, você os uniu. Quem deve favores aqui sou eu. Muito obrigado pela cabana no Himalaia.

SKINNER: - Desgraçado!

CANCEROSO: - Na verdade, senhor Skinner, Mulder já tentou isso, mas... Não posso fazer nada. Existem homens que me matariam se eu fizesse algo. Posso morrer de câncer, mas quero viver o resto de vida que tenho. Se morrer será por minhas mãos. Não por um tiro vindo de alguém.

SKINNER: - Pelo amor de Deus, essa criança é um alienígena?

CANCEROSO: - A pergunta encerra a resposta.

Skinner atira a valise pro outro canto da sala, enfurecido. Puxa a arma. Pega as algemas.

SKINNER: - Vire-se contra a parede. Tem o direito de ficar calado ou tudo que disser poderá será usado contra você num tribunal.

O Canceroso está sério. Traga o cigarro.

CANCEROSO: - Acha que pode prender um homem que nem existe?

SKINNER: - Vou fazer você existir. Sabe que posso. (AMEAÇADOR) Sabe que posso fazer uma ficha quilométrica e culpá-lo até mesmo pela explosão do Oklahoma Center! Ou acha que apenas você pode forjar provas falsas? Sou um diretor-assistente do FBI! Minha palavra vale muita coisa.

CANCEROSO: - Senhor Skinner, está sendo injusto. Policiais não devem mentir.

SKINNER: - Errado, Canceroso. Antes de ser policial, sou um ser humano.

CANCEROSO: - Também sou um ser humano, senhor Skinner. Tenho meus direitos.

SKINNER: - Direitos? (INCRÉDULO) Que direitos? O de estressar Mulder e usar Scully como cobaia? E essa criança? Se realmente for uma criança. Vai tomar uma criança dos braços da mãe? Vai ter coragem de usar um pobre inocente que nem pode se defender ainda? Não venha me falar de direitos, seu miserável! Você não tem direitos!

CANCEROSO: - Não vim aqui pra ser insultado.

O Canceroso dá as costas. Skinner aponta a arma.

SKINNER: - Mais um passo e juro que atiro.

CANCEROSO: - Se atirar, não terá com quem negociar.

SKINNER: - Tenho. Tenho sim.

O Canceroso vira-se pra ele, incrédulo.

CANCEROSO: - Está me ameaçando?

SKINNER: - Posso parecer um bobo engravatado sentado atrás de uma pilha de papéis. Mas não chegaria até aqui em cima se fosse um idiota.

CANCEROSO: - ...

SKINNER: - (IRADO) Um verme come o outro. Se não abrir a sua porta, 'porquinho', eu vou bater na porta do 'porquinho russo'. Aposto que ele vai abrir.

O Canceroso traga o cigarro, debochado.

CANCEROSO: - Aposto que baterá na minha porta primeiro, senhor Skinner. Porque eu sei que o 'porquinho russo' tem o controle remoto da sua vida.

SKINNER: - ... (FECHA OS OLHOS)

CANCEROSO: - Acredite, ele vai usar. Só está esperando a hora.

SKINNER: - ...

CANCEROSO: - Não espere demais, senhor Skinner. Ele virá cobrar o favor. Então, descobrirá que eu posso ser um santo a vista dele.

O Canceroso caminha alguns passos. Vira-se pra Skinner, que está imóvel, com a arma abaixada.

CANCEROSO: - Se precisar, sabe onde me encontrar. E vai precisar.

O Canceroso sai. Skinner fica parado, impotente.



BLOCO 3:

Apartamento dos Barkagan – Richmond – Virgínia – 7:49 P.M.

Mulder, em pé, cabisbaixo. Desiludido. Scully olha pra ele, com pena. Há dois corpos, um homem e uma mulher, no chão, ambos com uma bala na cabeça. A polícia revira o lugar.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - ... (REVOLTADO) Pra mim chega!

Mulder sai do apartamento. Scully vai atrás dele. Os dois caminham pelo corredor. Mulder apoia-se na parede. Fecha os olhos.

MULDER: - Toda as vezes que chegamos perto, alguém chega antes e leva as provas.

SCULLY: - ...

Mulder esmurra a parede com fúria. Scully fica nervosa, olhando compadecida pra ele. Mulder segura as lágrimas com ódio e revolta.

MULDER: - (GRITA) Droga! Será que não há justiça nesse mundo? Será que mentiram pra mim dizendo que o bem sempre vence o mal? Será que tudo isso é necessário?

SCULLY: - ...

MULDER: - Scully, estávamos bem perto!

SCULLY: - ... Mulder, não é a primeira vez que...

MULDER: - Foi a última, Scully.

SCULLY: - ??

MULDER: - (CONVICTO) Foi a última.

Mulder sai pelas escadas. Scully fica parada no corredor, intrigada.


Corta para o carro em frente ao prédio. Scully entra. Mulder está sentado, com a cabeça abaixada sobre o volante. Scully acaricia seus cabelos. Tenta animá-lo.

SCULLY: - Mulder... Você está nervoso, cansado. Vamos pro seu apartamento, tá? Você cuida de mim.

MULDER: - ...

Mulder ergue a cabeça. Fisionomia de ódio. Não olha pra ela, fica olhando pro vidro do carro.

MULDER: - (SÉRIO) Scully, vamos dormir.

Mulder liga o carro. Dá a partida. Silêncio entre os dois. Scully olha preocupada pelo vidro da janela. Percebe o reflexo do anjo, que desaparece rapidamente.


8:19 P.M.

Mulder para num cruzamento. Uma placa indica Washington e Ohio (direções opostas). Mulder permanece com o carro parado. Olhando pra frente. Num impulso, vira o volante e toma a direção de Ohio. Scully olha pra ele.

SCULLY: - Mulder, Washington fica pra direita.

MULDER: - ...

Mulder estaciona o carro no acostamento. Desliga. Scully olha pra ele, em silêncio. Mulder fica olhando pra estrada escura.

MULDER: - Scully, quantas vezes nós dois estivemos em estradas como essas?

SCULLY: - ... Tantas que nem posso contar.

MULDER: - ... Uma vez você me perguntou se eu não tinha vontade de parar... Eu disse que não.

SCULLY: - ...

MULDER: - Scully, olha pra essa estrada escura. Isso é a nossa busca. Essa estrada representa nossa vida. Nós tomamos a direção que eu escolho, seguimos pelo escuro, em busca de um horizonte que nem sabemos como é, o que vamos encontrar... Não sabemos nem se tomamos o caminho certo, se alguém não inverteu as placas.

SCULLY: - ...

Mulder liga o carro. Entra na estrada. Cumplicidade no silêncio. Scully está pensativa. Mulder também. Scully fecha os olhos, estende o braço e toca sua mão na mão dele. Mulder está distante, preocupado. Scully afasta sua mão de Mulder e a coloca sobre a barriga. Vira o rosto pra janela, observando a paisagem escura, distraída. Mulder olha pra ela, enquanto ela afaga a barriga. Olha pra estrada. Lembranças vêem em sua mente.

Fade out.


FLASH BACK:

Mulder desce as mãos pelo corpo de Scully. Agarra seu bumbum. A levanta. Scully enlaça suas pernas na cintura dele. Ele olha nos olhos dela.

SCULLY: - (ESPANTADA) Nossa!

MULDER: - Eu prefiro as baixinhas. Porque posso fazer isso com você, jogá-la pra cima, atirá-la na cama, colocar na mala, levar pra onde quiser... E você não pode reagir.

Os dois encostam suas testas. Olham-se nos olhos.

SCULLY: - Queria que o telefone não tocasse... Que o mundo desaparecesse!

Mulder encosta-a na parede.

MULDER: - Quero tanto que tenho até medo. Não é bem medo. É... é respeito. Eu conheço você há tanto tempo, somos tão amigos que... Eu tenho medo de que não dê certo entre a gente, de que nossa amizade termine...

SCULLY: - Por que não daria certo? Não quer tentar?

MULDER: - Eu quero, mas...

Mulder larga-a. Senta-se na cama.

MULDER: - Eu não consigo, Scully. Pensei que o mais difícil fosse dizer o que sinto por você, mas... Agora é mais difícil ainda. Se o telefone ou as pessoas não atrapalhassem, acho que a gente se atrapalharia.

Scully senta-se ao lado dele.

SCULLY: - Eu também não consigo, Mulder. É por isso que estou furiosa. Comigo mesmo, não é com você. Você deu o primeiro passo e eu deveria dar o próximo, já que você não consegue...

MULDER: - É melhor a gente ir devagar, como os nossos avós faziam... Começar pelo buraco da fechadura... Depois nós namoramos no sofá da sua mãe, na presença dela. E quando ela for buscar chá, eu passo minha mão nas suas pernas...

Scully ri. Ele também.

MULDER: - Depois de anos, eu peço a sua mão...

SCULLY: - Como meu pai morreu, você tem que pedi-la pro meu irmão.

MULDER: - O Bill? Ah, não! Eu me esqueci que ele e eu não temos um relacionamento amistoso. Ele não vai permitir.

SCULLY: - Eu fujo com você e deixo um bilhete na geladeira da mamãe.

Os dois riem. Scully fica séria.

SCULLY: - Mulder, estamos voando longe demais...

MULDER: - Acha que eu não me casaria com você?

SCULLY: - Eu não sei... Dê tempo ao tempo...

MULDER: - Scully, supondo que amanhã tudo acabe. Que eu encontre a Samantha, que a conspiração do Canceroso termine, que as pessoas possam saber que estamos juntos. O que você faria?

SCULLY: - Eu não sei, Mulder...

MULDER: - Se eu pedisse pra casar comigo? Pra viver comigo. Pra dividir nossas diferenças, nossa vida?

Scully abaixa a cabeça.

SCULLY: - Mulder, eu... Eu não poderia aceitar.

MULDER: - Por quê? Não sente nada por mim? Tem medo?

SCULLY: - Não é isso, Mulder. Tudo está muito bonito, muito gostoso, mas temos que pensar no futuro.

MULDER: - Estou pensando. E não vejo motivos pras coisas darem errado. É a minha mãe? A sua família?

SCULLY: - Não, não é isso. De onde tirou a ideia de que não gosto da sua mãe? O que não gosto são das atitudes dela. Parece que você é culpado de tudo, inclusive do desaparecimento da Samantha... Mulder, se ficarmos juntos, se decidirmos ter uma vida... Vamos pensar como adultos: Você vai querer filhos. E eu não posso tê-los. E não é justo deixar você sem o pequeno Mulder pra jogar beisebol nos fins de semana.

MULDER: - Eu não ligo pra isso. Eu quero você. Do jeito que você é.

SCULLY: - Eu sei, Mulder. Mas...

MULDER: - Não pense nisso, tá? Não fique se atormentando, me promete?

Fade in.

TEMPO REAL:

Mulder olha pelo retrovisor. Olha pra Scully. Ela está quase dormindo. Mulder olha pra estrada novamente, relembrando o passado.

Fade out.


FLASH BACK:

Mulder sai de cima de Scully. Deita-se, o corpo tremendo. Fecha os olhos. Respira fundo. Scully fecha os olhos, numa atitude desconsolada. Mulder olha pra ela. Ele estende o braço até o telefone. Arranca-o da parede. Scully olha-o surpresa.

SCULLY: - Não vai ir até lá, Mulder?

MULDER: - Não, Scully. Hoje não. Hoje, realmente não.

Scully sorri. Mulder a puxa de encontro a seu corpo e a abraça. Faz carinhos nos cabelos dela. Ela recosta sua cabeça no peito dele, trêmula.

SCULLY: - Por que seu coração está disparado?

MULDER: - Pela mesma coisa que o seu. Que loucura, Scully!... E-eu... Acho que você me pegou.

Scully sorri.

MULDER: - Tem uma coisa que eu não disse pra você.

SCULLY: - E o que é?

MULDER: - ... Foi bom. Muito bom mesmo.

SCULLY: - Hum...

MULDER: - (SÉRIO)Tem outra coisa.

Mulder abre a gaveta da cômoda. Entrega uma caixinha pra Scully.

MULDER: - Venho guardando isso há muito tempo, e se quiser ficar brava comigo porque eu não falei antes, tem todo o direito.

SCULLY: - O que é?

MULDER: - Abre.

SCULLY: - Mulder...

Scully abre a caixinha. Vê uma chave.

SCULLY: - O que é isso, Mulder?

MULDER: - É a chave de um recipiente metálico que está guardado num laboratório de criogenia.

Scully olha pra ele, intrigada.

SCULLY: - Você sempre me dá presentes estranhos, mas agora...

MULDER: - É uma coisa que eu consegui pegar do Canceroso. E é muito importante pra você... E-eu não entreguei antes, porque... Eu tinha medo que morresse de câncer e... Além de te perder, eu perderia um pedaço de você...

SCULLY: - Mulder, você tá me assustando. O que tem lá?

MULDER: - Seu filho, Scully. O filho que você pensa que não pode ter mais.

Scully olha-o sem entender.

MULDER: - Roubei alguns óvulos seus, que estavam de posse deles.

SCULLY: - (EMOCIONADA) Mulder... E-eu...

Scully o abraça. Chora. Ele fecha os olhos e a envolve em seus braços.

MULDER: - Amo você... Faria qualquer coisa por você...

Os dois olham-se no olhos. Ele sorri.

MULDER: - Deus, eu nem acredito que isto esteja acontecendo, Scully... E-eu... eu sonhava com isso... eu amo você. Eu sempre amei você.

SCULLY: - ... Eu já sabia, Mulder. Sabia que um dia isto teria de acontecer. Não dava pra fingir mais. Nenhum de nós aguentaria...

Eles trocam um beijo. Mulder sobe sobre o corpo dela, ela o agarra com força.

Fade in.


TEMPO REAL:

Scully olha pra Mulder.

SCULLY: - Por que está tão pensativo?

MULDER: - ... Estou lembrando.

SCULLY: - Lembrando do quê?

MULDER: - (SORRI) Da nossa primeira vez. Se lembra?

Scully sorri.

SCULLY: - Acha que eu esqueceria a melhor noite da minha vida? Que a melhor coisa que fiz até hoje foi ter ido até o seu apartamento?

MULDER: - Foi difícil. Muito difícil. Mas quando rolou, a sanidade mental foi pro espaço.

Mulder fica em silêncio. Scully olha pra estrada, pensativa.

SCULLY: - ... O peixe e o gato... (SORRI)

MULDER: - ... (SORRI)

SCULLY: - Começou bonito. Tivemos calma para esperar o momento certo, mas quando o momento surgiu eu precisei fugir dos meus medos, precisei criar coragem e fiz aquelas coisas estranhas demais pra Dana Scully...

MULDER: - Faria diferente?

SCULLY: - (RI) Não.

MULDER: - (SORRI)

SCULLY: - ...

MULDER: - Não sei como você vai interpretar isso, mas... Pra mim, Scully, não faria diferença alguma.

SCULLY: - Como assim?

MULDER: - Pra mim, aquela noite foi só um complemento. O amor já estava ali há muito tempo. Tanto que o desejo pôde esperar. Se foi louco, se foi falho, se foi confuso...

SCULLY: - Foi confuso.

MULDER: - (RI) Foi. Foi muito confuso.

SCULLY: - Eu não queria ir embora. Que chato isso, não achou?

MULDER: - Não. Foi intenso.

SCULLY: - (SORRI) ...

MULDER: - ... E se não tivesse que trabalhar, estaria ali até hoje... Naquele quarto, naquela cama... Hum... Pra dizer a verdade, acho que estaria naquela cabana no Himalaia. Acho que viraria um monge budista, pra ficar longe de todo mundo e só pertinho de você. Eu, você, neve, incenso e o Pé Grande. Mas se você tiver um filho de pele amarela, nós vamos ter de conversar sério sobre isso...

SCULLY: - (SORRI) Você, Mulder? Não o imagino num vestido e comendo comida vegetariana...

MULDER: - Me lembre que temos que nos casar num templo budista. Foi Buda quem nos uniu. (DEBOCHADO/ FAZENDO POESIA) O ar oriental, que atravessou o Himalaia vindo do Tibete, me inspirou a dizer as coisas que sentia por você. E acabou no meu apartamento com a conclusão do maior Arquivo X da história: Como duas pessoas podem reprimir o tesão por tanto tempo?

SCULLY: - .... (RINDO) Mulder, por que estamos lembrando tudo isso?

MULDER: - (SÉRIO) Por que me lembrei de uma promessa que não cumpri.

SCULLY: - Que promessa?

MULDER: - Ficar com você. Quando a minha busca terminasse, eu ficaria com você.

SCULLY: - Mas sua busca não terminou.

MULDER: - ... Scully, minha busca terminou. Encontrei minha irmã. Agora, depois dessa noite, dê adeus a tudo. Porque vamos embora. Se me disser que não quer, eu fico por você. Mas se quer deixar tudo, vamos agora.

SCULLY: - ... Pra onde?

MULDER: - Não sei. Tá com seu passaporte?

SCULLY: - Sempre o carrego.

MULDER: - ...

SCULLY: - Vamos embora, Mulder. Onde você for eu vou.

MULDER: - Há muito já não somos dois. Agora somos três. E não podemos mais arriscar a vida dele. Se podíamos brincar com nossas vidas, agora tudo mudou. Temos um filho e não queremos isso pra ele. Ele não vai ter de passar a vida toda numa busca, trancado em casa, com o pai dele armado pra levá-lo à escola e com um segurança ao lado dele. Não, eu não quero isso pro meu filho. Pra mim, a estrada acaba aqui, Scully.

SCULLY: - Ela já acabou pra mim há tempos, Mulder.

Scully fica em silêncio. Mulder olha pra estrada. Close no painel do carro. Embaixo do painel há um transmissor e um microfone.


9:34 P.M.

Mulder dirige. De repente, entra rapidamente no acostamento, freando o carro. Scully ergue as sobrancelhas.

SCULLY: - Mulder, o que aconteceu?

MULDER: - Fique aqui.

Mulder desce. Caminha até a beira do acostamento. Olha pro horizonte. Scully desce do carro.

SCULLY: - O que foi?

Mulder aponta pra uma montanha.

MULDER: - Tá vendo?

SCULLY: - O que tem?

MULDER: - Não sei. Parece que já estive aqui. A mesma sensação de quando vi aquela planta na casa dos Beaver.

SCULLY: - Não me parece uma nave.

MULDER: - Eu sei. Mas sinto uma sensação estranha. E se não estou enganado, aquela área pertence à Base Aérea de Wright-Patterson.

SCULLY: - Mulder, vamos dormir. Você está cansado... hum?

Mulder sorri.

MULDER: - É... acho que estou.

Os dois caminham abraçados até o carro.



BLOCO 4:

Motel Country – Ohio – 11:57 P.M.

Scully vestida num pijama, passando creme no rosto, na frente do espelho. Vê o reflexo do anjo pelo espelho, apontando pra alguma coisa sobre a pia. Scully vira-se rapidamente, mas não o vê mais. Olha pro espelho. Percebe que seu nariz começou a sangrar. Scully procura um lenço e vê a necessaire de Mulder sobre a pia. Pressente o aviso. Fica intrigada. Abre-a. Vê o frasco de comprimidos. Tira-o. Lê o rótulo. Fecha os olhos.

[Imagem lenta, como se o tempo custasse a passar, simulando o nervosismo dela.]

Fisionomia de preocupação. Scully limpa o nariz. Mulder entra no banheiro.

MULDER: - Que tal um chocolate quente e ... (OLHA PRA ELA/ SENTE-SE CULPADO) Está bem, Scully?

SCULLY: - ... (SÉRIA) Estou.

MULDER: - ...

SCULLY: - ... (SÉRIA) Mulder... é hora da verdade.

Scully mostra o frasco. Mulder fecha os olhos.

SCULLY: - Desde quando está tomando isto?

MULDER: - ...

SCULLY: - Mulder, eu conheço você. Sei que não é do seu costume tomar drogas. Deduzo então que precisa ficar acordado.

MULDER: - ... (ABAIXA A CABEÇA)

SCULLY: - Deduzo que as algemas não foram suficientes, porque se implantaram um chip em meu nariz, me levaram mesmo algemada. Então você prefere ficar acordado esperando, por que não sabe nem a hora nem o dia.

MULDER: - ...

Scully segura as lágrimas.

SCULLY: - Mulder, há quanto tempo você não dorme normalmente?

MULDER: - ... Não diz nada, Scully.

SCULLY: - ...

MULDER: - ... Isso não importa.

SCULLY: - ... (SEGURANDO AS LÁGRIMAS) Não era câncer, não era o chip... E a idiota aqui não percebeu! A cobaia estúpida e cega. E você se matando pra me proteger...

Mulder cai de joelhos no chão e começa a chorar, agarrado nela. Scully segura as lágrimas, com ódio. Afaga os cabelos dele. Olhar distante, de revolta. Mulder agarra-se mais forte nas pernas dela. Scully tenta não chorar, apenas o acaricia.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - ...

SCULLY: - Acabou, Mulder. Nunca mais vai derramar uma lágrima por causa daqueles desgraçados. Há muito eu já não sou aquela Scully que discordava de você. Eu cresci. E me perdoa se não entendi sua aflição. Se tornei isso mais difícil por causa da minha teimosia.

MULDER: - ... Eu tenho muito pra te dizer, Scully. Não quis falar pra não te ferir, pra não te preocupar. Precisava poupá-la... Eles atacaram seu ponto fraco. Eles virão tomar essa criança, Scully.

SCULLY: - Vai ter tempo pra me dizer tudo o que sabe, Mulder. Agora, vamos dormir. Amanhã, estaremos bem longe daqui, nós três...

Scully o ajuda a se levantar. Os dois olham-se nos olhos, derrubando lágrimas. Scully aproxima seus lábios dos dele, e o beija com amor. Abraça-o, acariciando-lhe os cabelos, como se o protegesse.


1:19 A.M.

Há um carro parado na frente do motel. Krycek observa o quarto de Mulder.


Corta para o outro lado da rua. Garganta Profunda e três homens observam o motel, de dentro de um carro. Um deles, segura um microfone de longo alcance. Garganta Profunda vigia Krycek com um binóculo. Pega um rádio.

GARGANTA PROFUNDA: - (INDIGNADO) Ele está do outro lado. Vigiando como um maldito lobo sorrateiro. Esperando o momento.

CANCEROSO (OFF): - (TENSO) Não o deixe sozinho. Fique até se completar o acordo. Não confie nele.

GARGANTA PROFUNDA: - (NERVOSO) Pelo amor de Deus, por que não desiste disso? A ideia me assusta!

CANCEROSO (OFF): - Não podemos desistir. Sabe disso.


Corta pra dentro do quarto.

Mulder quieto, em silêncio, sentado na cama. Olhos pesados, cansado, segurando a arma. Scully olha pra ele. Está tensa também.

SCULLY: - ... Mulder, precisa dormir.

MULDER: - Não, eu não vou dormir. Eu não vou entregar nosso filho pra eles.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - Não fale nada, Scully, eu sei o que vai acontecer.

Scully abraça-se nele. Beija seu ombro. Tenta convencê-lo a se deitar.

SCULLY: - Mulder, me esquenta.

Mulder larga a arma na cômoda e deita-se. Puxa o edredom. A abraça.

SCULLY: - Mulder, eu fico acordada. Você dorme.

MULDER: - Não. Você pode dormir.

SCULLY: - Não vou dormir.

MULDER: - Scully, por favor. Você precisa descansar, é para o bem do nosso filho.

SCULLY: - Filhinho diz que dorme o dia todo e que papai é quem precisa dormir um pouquinho.

Mulder sorri.

MULDER: - Papai diz que mamãe precisa dormir.

SCULLY: - Mamãe e filhinho dizem que se papai não dormir, vão ficar de beiço pro resto da noite.

MULDER: - Papai insiste que mamãe precisa ter uma gravidez tranquila, sem preocupações. Deixe isso pro papai, é departamento dele.

SCULLY: - Mamãe diz que papai tá sendo egoísta.

Scully senta-se na cama. Mulder aconchega-se nela, estendendo seu braço sobre a barriga de Scully. Scully afaga seus cabelos. Mulder acaricia sua barriga.

MULDER: - Gosto disso, Scully... Mas isso me deixa calmo e se eu ficar calmo, vou dormir.

SCULLY: - Precisa dormir, Mulder.

MULDER: - Meu dever é proteger vocês dois. Scully, eles vão tirar vocês de mim.

SCULLY: - ... Mulder, seu dever é proteger você. Sabemos que a criança é 'normal'. Mas até que ponto?

MULDER: - ... É nosso filho, Scully. Acredito nisso. Eles querem meus genes.

SCULLY: - Psiu! Dorme.

Scully continua afagando os cabelos dele. Mulder fecha os olhos.

MULDER: - (MURMURA) Não quero perder vocês... eu os amo.

SCULLY: - Não vai nos perder. Relaxe. Ninguém me tira daqui, Mulder. Sabe que eu posso gritar tão alto que acordaria o motel todo.

MULDER: - ... Pela primeira vez na vida eu sinto que a felicidade vai se completar, que eu tenho uma mulher, tenho um filho. Que eu posso dar prazer aos meus olhos, vendo duas pessoas tão belas e que me fazem esquecer das desgraças que vejo todos os dias.

SCULLY: - Vai se esquecer delas, Mulder. Uma família traz conforto, traz alegria. Dá problemas, com certeza, mas ter uma família é como se você tivesse o seu mundo particular, fora do mundo dos outros.

MULDER: - ...

SCULLY: - Mulder?

Scully olha pra ele. Mulder dorme. Scully sorri. Beija-lhe a testa.

SCULLY: - Dorme, Mulder. Dorme. Divide o fardo comigo. Entre dois, tudo é mais fácil.


3:11 A.M.

Scully acordada, olhando pro teto. TV ligada, som baixo. Mulder dormindo agarrado em sua barriga. Scully olha pra ele. Começa a derrubar lágrimas. O abraça com força e o beija.

SCULLY: - Eu... eu nunca fui tão importante pra alguém... como o sou pra você, meu amor. Por que fica sofrendo sozinho? Você evita que eu me machuque e se machuca no meu lugar... Mulder, você é a pessoa mais pura e mais linda que eu já conheci.

Scully vê o anjo novamente, apontando pra Mulder. Scully solta-se de Mulder. O anjo sumiu. Scully fica intrigada. Deita-se de costas pro colchão. Olha pro teto. Está angustiada. Mulder, mesmo dormindo, coloca sua mão sobre a dela, enlaçando seus dedos nos dela. Scully fica olhando pro teto, contando os encaixes da madeira.

SCULLY: - 1,2,3,4... 1,2,3,4...

A TV fica fora do ar. Scully ergue a cabeça e olha pra TV. Sente a cama tremer. Os objetos caem dos móveis, tudo parece estar sacudindo como num terremoto. Um som seco e abafado envolve o silêncio. Scully tenta se mexer e não consegue. Fica em pânico. Tenta gritar, mas a voz não sai. Uma luz azulada envolve o ambiente. Scully se desespera. Olha com o canto dos olhos e vê três criaturas cinzas e baixas a seu lado. O medo é visível nos olhos dela.

SCULLY (OFF): - (DESESPERADA) Não... meu filho não!!! Não levem meu filho!!! Mulder!!!!

Scully desvia a atenção ao sentir que os dedos de Mulder deslizam por seus dedos, desprendendo-se da mão dela. Scully arregala os olhos ao ver o corpo de Mulder flutuando na luz. Percebe-se o pânico e o desespero em seu olhar impotente, sem poder fazer nada.

Fade out.


6:49 A.M.

Som de sirenes de carros de polícia.

Fade in.

Skinner anda de um lado pra outro, dentro do quarto, com o celular no ouvido. Agentes do FBI vasculham todo o lugar. Scully, sentada numa poltrona, com uma das mãos sobre a barriga enorme, olhando pro nada, em estado de choque. Skinner desliga. Olha pra ela.

SKINNER: - Scully, onde está o Mulder?

SCULLY: - ...

SKINNER: - (NERVOSO) Scully, você me ligou dizendo que ele estava em perigo! Onde está o Mulder?

Scully sem piscar os olhos, olhando para o nada ergue a mão. Aponta com o dedo pro céu. Skinner fecha os olhos.

SKINNER: - Chamem uma ambulância. Ela precisa de cuidados médicos, está em choque.

Um dos agentes puxa um celular e sai pra fora do quarto. Outro agente entra no quarto.

AGENTE: - Senhor, encontramos isto no carro do agente Mulder.

O agente mostra uma escuta e um dispositivo de rastreamento.

SKINNER: - Recolham todas as provas que encontrarem. Ninguém sai desse hotel sem me dizer o que viu ou ouviu!

AGENTE: - Sim, senhor.

Skinner ajoelha-se ao lado da poltrona.

SKINNER: - Scully, por favor, fale comigo.

Scully só derruba lágrimas.

SKINNER: - Scully...

SCULLY: - (CULPADA) Ele me protegeu. Eu não consegui protegê-lo. Eu deixei que o levassem.

SKINNER: - ... Scully, você não podia adivinhar que levariam Mulder. Era você e a criança que eles queriam.

SCULLY: - Mentiram pra ele de novo... Usaram o bom coração que ele tem, as virtudes dele. A vontade que ele tinha de ter um filho... (CHORA) A culpa é minha! Eu não o protegi!!! Ele sempre faz tudo por mim, eu nunca consigo evitar que machuquem ele!!!

Ela se abraça em Skinner, chorando convulsivamente. Skinner tenta acalmá-la.

SKINNER: - Scully, acho melhor ir pra um hospital...

SCULLY: - (CHORANDO) Não, eu quero ficar sozinha! Me leve pra casa...

Scully abaixa a cabeça, acariciando a barriga, ainda chorando. Skinner levanta-se. Olha pra ela compadecido.

SKINNER: - Vem, Scully. Vou pedir pra alguém levar você. Preciso ficar aqui e descobrir o quê ou quem levou Mulder.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Ainda não sabe?

SKINNER: - Vai fazer um relatório sobre isso. O que vai dizer?

SCULLY: - A verdade. Que Mulder foi levado por extraterrestres que trabalham com homens do governo.

SKINNER: - ...

SCULLY: - Nem sempre a ciência pode explicar a verdade.

Scully sai do quarto. Skinner pega o telefone.

SKINNER: - ... Desliguem essa gravação. Sou eu, Skinner. Algum dos três pode ir até o apartamento da Scully e ficar com ela? ... Mulder foi abduzido.


Apartamento de Scully - 8:39 A.M.

Scully abre a porta, num ímpeto. Entra. Fecha a porta batendo-a. Corre até o quarto. Revira o armário. Batidas na porta. Scully finge que não ouve. Abre uma gaveta e retira uma caixa. Batidas. Scully pega uma tesoura. Vai pro banheiro.

Corta pro lado de fora. Frohike e Byers batem na porta.

FROHIKE: - Tem alguma coisa errada. Nós vimos ela entrando, por que não atende?

BYERS: - E se ela for fazer besteira?

Os dois se olham assustados. Arrombam a porta. Frohike corre pro quarto. Byers a procura pelos outros cômodos. Vê a porta do banheiro semi aberta. Empurra a porta lentamente. Arregala os olhos.

BYERS: - Scully...

Corta pra Scully. Ela segura a tesoura, apontando pra barriga.

SCULLY: - (GRITA) Sai daqui! Não é problema seu!

Frohike aproxima-se.

FROHIKE: - Scully, não faça isso. É o filho de vocês.

SCULLY: - Não, isso não é uma criança, essa droga não é meu filho! É um parasita!

BYERS: - Scully, pense bem, não faz besteira.

Scully começa a chorar. Byers entra no banheiro. Tira a tesoura de suas mãos. Scully abraça-se nele.

SCULLY: - (CHORANDO) Preciso matá-lo ou ele vai me matar! Eu sei disso! Eu vi o que aconteceu com aquela mulher! Eu não quero morrer!!!

BYERS: - Scully, por favor, não há nada de errado...

SCULLY: - Não entendem? Era isso o que Mulder queria me dizer, mas que não tinha coragem! Eles o levaram antes, pra que eu não soubesse a verdade e não tentasse destruir essa aberração!

Scully sai do banheiro, nervosa. Eles a seguem.

FROHIKE: - Scully, o que está nos dizendo?

SCULLY: - Que Mulder disse que tinha algumas coisas pra me contar. Eu fui usada! Não estou gerando uma criança, estou gerando um alienígena que tem forma humana!

FROHIKE: - Como pode saber disso?

SCULLY: - Acham que eles colocariam uma coisa disforme dentro de mim, uma médica, para que eu suspeitasse? Não! Eles colocaram um bebê aparentemente normal pra que eu nunca questionasse nada! Se não matá-lo, ele vai sair e me matar!

Frohike olha pra ela, apiedado.

FROHIKE: - Scully, também duvido da natureza dessa criança.

BYERS: - Mulder não falou nada?

SCULLY: - Ele ia falar, por isso o levaram! Pra ganharem tempo! Eu preciso de vocês dois, eu só posso confiar em vocês!

FROHIKE: - Mas como vai fazer um aborto? Scully, está em estágio avançado de gravidez, vai morrer junto se fizer isso. E nenhum médico vai querer tirar a criança de você!

Scully senta-se no sofá. Segura as lágrimas.

SCULLY: - Preciso que me ajudem!

BYERS: - Scully, não pode fazer isso. É muito arriscado.

FROHIKE: - Acho que deveria pensar nisso, Scully. Talvez Mulder quisesse dizer outra coisa.

SCULLY: - ... (FINGINDO) Tá... Acho que vocês têm razão, estou nervosa, sem condições pra pensar... preciso descansar... Acho que vou pegar minhas coisas e ir pra casa da mamãe.


Apartamento de Mulder – 11:19 A.M.

Scully entra. Tranca a porta. Vai até a sala. Está tensa, nervosa. Pega o catálogo telefônico. Senta-se no sofá e o folheia.

CANCEROSO: - Procurando ajuda? Há boas clínicas de aborto, mas eu não aconselho.

Scully ergue a cabeça. O Canceroso está parado na porta da cozinha. Não está fumando. Scully olha-o com ódio, fechando o catálogo. Atira-o sobre a mesa de centro. Levanta-se.

SCULLY: - (GRITA) Maldito desgraçado!!!! O que fez com ele, seu miserável desumano?

CANCEROSO: - ...

Scully puxa a arma. Mira no canceroso.

SCULLY: - Tira essa droga de dentro de mim! (GRITA COM ÓDIO) Tira!!!!

CANCEROSO: - ...

Scully engatilha a arma. Treme.

SCULLY: - (NERVOSA) Se eu tirar essa coisa, vou morrer também? É isso? É isso o que você planejou? Quer se ver livre de mim? Acha que sou um transtorno pra você porque eu dou ouvidos ao seu filho?

CANCEROSO: - ...

SCULLY: - Que espécie de pai é você, seu cachorro?

CANCEROSO: - Dana, abaixe essa arma e vamos conversar.

SCULLY: - (GRITA COM ÓDIO) Não me chame de Dana! Não pronuncie meu nome com sua boca infame e mentirosa! Eu sei a verdade!!! E quero Mulder de volta! Agora!

CANCEROSO: - Não posso fazer nada.

SCULLY: - Último aviso, eu juro que vou atirar! Pra onde levaram Mulder?

CANCEROSO: - ... Acho que tive uma ideia errada de você. Pensei que fosse mais crítica do que Mulder. Mais racional.

Scully está tremendo de ódio. Mal consegue apontar a arma.

SCULLY: - Onde está o Mulder?

CANCEROSO: - ... Não vai atirar em mim. Sabe que se eu morrer, nunca mais terá Mulder de volta. Não pode me pegar.

Scully aponta a arma pra barriga.

SCULLY: - (CEGA DE ÓDIO) E agora? Ainda acha que não posso te pegar?

O Canceroso arregala os olhos.

SCULLY: - (GRITA) Onde está o Mulder?

CANCEROSO: - Não vai atirar em você mesma!

SCULLY: - Não, acredite nisso! Uma bala bem colocada e mato essa coisa... Ainda posso ter chances de sobreviver.

CANCEROSO: - ... Não faça isso.

SCULLY: - Por quê? Por que vai perder sua experiência?

CANCEROSO: - ... Porque vai matar o filho do meu filho.

Scully continua tremendo. Olha nos olhos dele. Solta a arma no chão. Começa a chorar, nervosa, confusa.

SCULLY: - (CHORANDO/ GRITANDO) Não acredito mais em você! Você não se importa com Mulder, por que se importaria com essa criança?

CANCEROSO: - Porque é meu neto, Dana. Porque um homem sempre quer ver sua descendência.

SCULLY: - Você mente! Há algo que eu não sei! Tem algo de errado nessa criança!

CANCEROSO: - Não há nada de errado com ela.

SCULLY: - Então por que quer tirá-la de mim?

CANCEROSO: - Não vou tirá-la de você.

SCULLY: - Como posso acreditar nisso?

O Canceroso aproxima-se dela. Scully olha pra ele, chorando.

CANCEROSO: - Dana, você, muito mais do que Mulder, sabe quem eu sou. Eu sei que sabe.

SCULLY: - (IMPLORANDO EM LÁGRIMAS) Me devolve o Mulder... por favor!!!

CANCEROSO: - ... Posso devolver Mulder. Mas precisa esperar um pouco. Se eu não entregasse Mulder, eles já teriam tirado essa criança de você.

Scully derruba lágrimas, olhando pra ele.

SCULLY: - Não... não...

CANCEROSO: - Dana...

Scully abraça-se no Canceroso, chorando, desesperada. O Canceroso a princípio fica pasmo com a reação dela. Lentamente ergue as mãos e a abraça. Afaga-lhe os cabelos, ternamente. Abraça-a como se abraçasse uma filha. Scully continua chorando, sentindo-se impotente. O Canceroso afasta-se dela.

CANCEROSO: - Cuide bem do seu filho, Dana. Proteja-o.

SCULLY: - E Mulder?

CANCEROSO: - ... Deixe Mulder comigo. Não vão matá-lo.

SCULLY: - Você mentiu uma vez pra mim. Por que vou confiar em você?

CANCEROSO: - Porque não tem outra alternativa.

O Canceroso dá as costas. Sai. Scully senta-se no sofá, segurando a barriga. Chora calada. O telefone toca. A secretária atende. Scully, ao escutar a voz de Mulder na gravação, chora mais ainda.

KRYCEK: - Sei que está aí, agente Scully, e sei que está desesperada, perdida no meio das mentiras desse velho sujo.

Scully levanta-se.

KRYCEK: - Olhe pela janela. Estou na frente do prédio e deixei uma coisa pra você na caixa de correio do Mulder. Não confie nesse velho. Ele está por trás do sumiço de Mulder e da sua gravidez.

Scully atende o telefone.

SCULLY: - E devo confiar no homem que matou minha irmã?

KRYCEK: - Fiz muitas besteiras no passado, Scully. Agora é hora de corrigi-las. Não acredite, essa criança é alienígena. Pegue o que deixei pra você. E não me exponha. Vai achar a verdade. Mas saiba como usá-la. Não seja como Mulder, um impulsivo louco e cego. Você é a única que pode evitar a desgraça.

Krycek desliga. Scully corre pra janela e vê um carro saindo.

Corta para Scully, no hall do prédio, na frente das caixas de correspondências. Ela segura um envelope grande nas mãos. Abre-o. Há uma pasta de papel com o nome de Mulder. Scully abre a pasta. Olha os papéis rapidamente. Põe a mão sobre os lábios. Fecha os olhos, derrubando lágrimas. Abre-os. Vê o anjo, estendendo os braços pra ela, envolvendo-a numa luz clara. Scully fecha os olhos.

Fade out.


X


03/06/2000

5 de Agosto de 2019 às 14:22 3 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

Conheça o autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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Karimy Lubarino Karimy Lubarino
Olá, autora! Está faltando o texto da obra. :)
January 07, 2020, 13:42

  • Lara One Lara One
    Você tá me ajudando muito garota! Resolvendo... :D January 07, 2020, 23:50
  • Karimy Lubarino Karimy Lubarino
    Imagina! Tô aqui pra isso! <3 January 08, 2020, 14:20
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