lara-one Lara One

Mulder e Scully são designados pelo FBI e pelo próprio governo!!! para investigarem a Área 51. Não será mais uma armadilha pra cima deles? E os alienígenas? Existem alienígenas em Dreamland? Se na Terra somos raças diferenciadas, no espaço não poderá haver muitas raças? Algumas concordam com abduções e conspirações? Scully nunca viu a verdade tão próxima de seus olhos.


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S03#19 - N* x Fp x Ne x F1 x Fi x Fc x Fl = N

O título é a Equação de Drake para o cálculo da existência de vida inteligente fora da Terra.



INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Imediações da Base Aérea de Groom Lake – Dreamland – 4:21 A.M.

Madrugada de lua cheia. Um grupo de pessoas, sentados ao redor de uma fogueira: Michael Terrebonne, jornalista. Phil Wilson, cinegrafista. Ida Fredman, ufóloga. James Stewart, fotógrafo. Os três homens conversam. Ida está sentada, de olhos fechados, meditando. Michael observa a montanha no horizonte.

MICHAEL: - Alguém também se interessa por aventuras em montanhas?

JAMES: - Tipo o quê?

MICHAEL: - Subir uma montanha, abrindo trilhas, na sensação incomparável de chegar ao topo e ver o mundo com outros olhos?

PHIL: - Gosta disso?

MICHAEL: - Meu esporte favorito. Quando saio de férias, pego o carro e procuro montanhas verdes. Montanhas são algo místico. Você sobe, atravessa lugares nunca explorados antes. Eu quero subir naquela montanha.

Ida está concentrada. Interrompe o assunto.

IDA: - Sinto a presença deles.

Os homens olham pro céu.

IDA: - ... Estão acima de nós... é o comandante Ashtar Sheram quem fala comigo... Não... Eu não estou entendendo... quem? ... quantos?

Eles ficam olhando pra ela, curiosos.

IDA: - Ele diz que não podemos fazer contato hoje. Pede que nos afastemos daqui, há espíritos maus. Há outros seres que estão próximos. Há homens também.

Ida levanta-se assustada. Pega a mochila e corre pra picape.

IDA: - (GRITA) Vamos embora.

PHIL: - O que aconteceu?

IDA: - Ashtar nos avisa que outros alienígenas estão aqui. E que não têm boas intenções.

Michael começa a rir. Olha pra Phil.

MICHAEL: - Eu sabia que você era uma fraude! Pessoas que alegam fazer contato com Ets e cultuam seitas apocalípticas. Você é uma farsante! Ufologia mística é um embuste! Não pode receber mensagens de Ets...

IDA: - (SÉRIA) Não cultuo seitas apocalípticas. Esses seres nos falam através da mediunidade também, pois são dotados de espírito como nós. Mas essa espécie que se aproxima não tem intenção alguma em mediunidade. Não tem grau espiritual elevado. Nos consideram animais. Vamos sair daqui. (NERVOSA) Vamos, depressa!

Os três homens se olham, meio incrédulos. Ida entra na picape.

MICHAEL: - Não. Não acredito nessas besteiras.

Uma luz fulgurante surge no céu, perto da montanha, revelando uma nave em forma de charuto. Phil liga a câmera e começa a filmar. A nave vai perdendo altitude e aproximando-se mais da montanha. Choca-se contra ela. Explosão e um estrondo. Michael sai correndo em direção à montanha. Phil o segue com a câmera ligada.

MICHAEL: - (CORRENDO) Pegou isso?

PHIL: - (CORRENDO) Peguei! Corre! (OFEGANTE) Será outro projeto secreto do governo?

Ida desce da picape, aos gritos.

IDA: - É Dreamland, vocês não podem passar por aquela cerca! Vão atirar em vocês!

Michael atravessa a cerca. Phil atrás dele. Ida olha pra James.

IDA: - Vamos sair daqui. Não sei o que está acontecendo e não estou gostando nada disso.

Uma luz projeta-se sobre a picape, revelando uma nave triangular. Phil e Michael param e viram-se.

MICHAEL: - (GRITA) Continua filmando! Cara, que diabos é isso?

PHIL: - (PÂNICO) Pelo amor de Deus, o que está acontecendo? Tem duas coisas dessas! Tem a que caiu na montanha...

MICHAEL: - (ESTARRECIDO) Esquece aquela e filma essa!

Michael olha pra nave que paira no céu. A nave flutua, sem sair do lugar. As luzes acendem-se, revelando o brilho do metal e a estrutura.

MICHAEL: - (EXCLAMANDO) Deus! Eles existem mesmo!

Uma terceira nave aproxima-se. Eles olham assustados. Uma nave em forma de disco. Fica parada ao lado da outra. Ida e James estão parados, olhando pra cima. A nave triangular emite um ruído que faz eles taparem os ouvidos. Uma luz projeta-se da nave triangular sobre Ida e James. A nave redonda emite um raio acertando a triangular que sacode de um lado para o outro.

MICHAEL: - (SURPRESO) Estão se atacando!

PHIL: - (PÂNICO) Cara, esquece essa reportagem e vamos dar o fora daqui! Isso não é feito pelo governo e eu não quero ficar na linha de fogo!

Um raio transversal surge do nada, bem à esquerda, acima das duas naves. Projeta-se sobre a luz da triangular, em Ida e James, que ainda continuam parados, em choque. O raio é mais forte que o da nave triangular, impedindo que ela puxe James e Ida. Michael olha pra direção do raio, mas vê apenas a constelação de estrelas ao fundo. Phil continua gravando com a câmera no ombro. É quando Michael percebe que a constelação não é uma constelação, são várias luzes, revelando alguma forma que se aproxima, muito grande. Está se movendo rapidamente.

MICHAEL: - (ATORDOADO) Meu Deus! São... são quatro!

Michael cai de joelhos no chão. Close da imensa nave achatada que paira sobre as duas, três vezes maior e sem consistência material. Apenas o contorno luminescente dourado da nave é percebido e as luzes laterais como se fossem estrelas. A nave triangular emite um ruído seco e acelera rapidamente, sumindo. A nave redonda também acelera, fugindo. Ida e James ficam parados. A nave maior suspende a luz dourada e desaparece, se confundindo com as estrelas. James cai desmaiado. Ida continua catatônica.

VINHETA DE ABERTURA:


BLOCO 1:

FBI – Gabinete do diretor-assistente – 8:03 A.M.

Mulder e Scully entram na ante-sala. A secretária olha pra eles, apreensiva.

SECRETÁRIA: - Ele está esperando.

Mulder entra na sala de Skinner, nervoso. Scully atrás dele. Skinner está em pé, escorado na escrivaninha. O diretor, um general do exército e um homem engravatado estão ali, tensos, nervosos, entre burburinhos. Scully fecha a porta. Skinner olha pra Mulder.

SKINNER: - Mulder, ainda bem que chegaram.

MULDER: - Aconteceu alguma coisa?

O homem engravatado aproxima-se de Mulder, furioso, aos gritos.

ASSESSOR: - (AUTORITÁRIO/ GRITANDO) Sou assessor da Casa Branca. O presidente exige imediatamente que o FBI mexa o traseiro e verifique que diabos existe em Dreamland!

Mulder olha pra Skinner, sem entender nada.

ASSESSOR: - (ENFURECIDO) Quero todo o contingente! Quero o FBI inteiro lá dentro, abrindo gavetas, revirando bolsos e levantando tapetes!

O general olha pro assessor.

GENERAL: - Não têm jurisdição em Dreamland! Estamos num país democrático e civis não podem invadir espaço militar! Isso é um ultraje!

O assessor esmurra a mesa de Skinner. Está vermelho de fúria.

ASSESSOR: - Não me diga isso, porque acabou a democracia agora! O presidente quer saber que merda foi aquela que aconteceu ontem, causando burburinhos na imprensa e assustando a população de Nevada! A imprensa internacional está na nossa porta, fazendo perguntas e acabando com a popularidade do regime democrata! Vi republicanos tomando cerveja em comemoração! Os telefones estão congestionados! São ONGs, embaixadores, assessores presidenciais do mundo todo, órgãos de direitos humanos, sindicatos, ufólogos, redes de TV, presidentes, cidadãos, ONU, tudo, tudo de uma vez só, incluindo curiosos, executivos de transnacionais e engravatados da bolsa de valores!

GENERAL: - (GRITA) São projetos militares secretos! Sabem que não podemos revelar informações! Isso pode vazar e teremos problemas com o inimigo.

ASSESSOR: - (GRITA) Dane-se o inimigo! Que droga de país é esse onde nem o presidente sabe que diabo de armas e aviões vocês testam por lá! Ficamos quietos até agora, mas depois dessa balbúrdia de vocês a coisa chegou ao caus!

GENERAL: - (GRITA) Fizemos isso em nome do nosso país! Temos liberdade pra fazer isso. Precisamos estar à frente em tecnologia de guerra. Ou russos e Iraquianos nos explodem! Chineses e japoneses, ingleses, franceses e sabe quem mais!

ASSESSOR: - É uma nova bomba atômica? É isso? Em pleno acordo de desarmamento nuclear e vocês expõe as nossas defesas secretas, nos mostrando como um bando de mentirosos pra um mundo medíocre e idiota que tem mais que comer na nossa mão? Que tipo de avião estão fazendo por lá? A imprensa está alvorotada e não há relações públicas que se ofereça pra explicar essa situação! O povo quer resposta, o congresso está pressionando e temos eleições em breve!

Skinner olha pra Mulder, fisionomia de ‘não acredite nesse cara’. Mulder está sério, observando a situação. Scully, no fundo da sala, de braços cruzados. O diretor aproxima-se do general e do assessor.

DIRETOR: - Senhores, precisamos de calma. Já está tudo resolvido. Deixe que o exército se manifeste, eles darão a explicação do fato.

ASSESSOR: - Não nos deram explicação alguma! Precisam de tempo pra elaborar mentiras convincentes? Pois que nos dessem a verdade e já teríamos mentido muito antes!

DIRETOR: - Por favor, acalme-se. Diga ao presidente que o Bureau ficará atento, mas não podemos invadir propriedade militar. Isso é entre vocês e o exército. O Bureau não tem nada a ver com o assunto e não vou colocar agentes meus lá dentro e começar uma guerra civil-militar. Portanto, general, dê sua versão à imprensa e livre a Casa Branca das explicações. E que vocês façam uma reunião entre si e decidam o que tem de ser feito. O FBI não se manifestará diante dessa situação.

O general sai da sala. O assessor olha pro diretor e sai, furioso. O diretor aproxima-se da porta e a fecha. Vira-se e olha pra Skinner.

DIRETOR: - Walter, quero que esses dois falem com o jornalista e o cinegrafista. Dê passagens de avião, pague o hotel mais caro que tiver e discrição completa. Conseguimos duas credenciais de acesso via Casa Branca, e eles precisam se passar por funcionários em Dreamland. Negarei o envolvimento do Bureau se os militares os pegarem e não farei nada pra safar os dois. Entenderam, não?

O diretor abre a porta. Olha pra Mulder.

DIRETOR: - Não me desaponte. Tenho amigos fiéis dentro da Casa Branca e quero meu cargo. Entendeu?

MULDER: - Sim, senhor.

O diretor sai. Skinner, suando tenso, olha pra Mulder. Olha pra Scully.

SKINNER: - Vocês tem a faca e o queijo nas mãos. E a bandeja pra colocarem seus pescoços.

SCULLY: - (PREOCUPADA) E se falharmos, senhor? Se nos pegarem? O diretor nos expulsa e encerra os Arquivos X?

SKINNER: - Provavelmente vai expulsá-los, alegando que agiram por conta própria, pra não implicar o FBI. Contudo, ninguém mais toca nos Arquivos X. Ordem expressa da Casa Branca. Aproveitem que os políticos estão em eleição e querem transparência de ações. Tem governador fazendo pista pra Óvnis...

Mulder balança a cabeça, incrédulo. Caminha de um lado pra outro.

MULDER: - (DEBOCHADO) Passaporte pra Dreamland! Só de ida! A volta não é garantida... Quanta gentileza da companhia de viagens... Meteram no nosso bem direitinho, sem vaselina e ainda vão gozar! Devia ter me encostado na parede antes de entrar aqui. Filhos da mãe, todos são da mesma corja! Só mudam de endereço.

SKINNER: - Tomem cuidado, por favor. Sabe que existem homens que matariam pra manter a informação longe dos ouvidos civis. E civis que matariam pra manter a informação longe de cidadãos.

SCULLY: - (NERVOSA) Senhor, isto é trabalho de espionagem! Estamos espionando nosso exército a mando do próprio governo ou é impressão equivocada minha?

MULDER: - Está certa, Scully. Os lobos estão se matando entre si.

SCULLY: - Mas por que não mandaram a CIA? Eles são a agência de espionagem, eles têm treinamento pra isso. Somos apenas policiais, nosso serviço não é espionagem!

SKINNER: - Informação não oficial: eles não confiam na CIA. E outra informação não oficial: mesmo que consigam provas, a verdade só será revelada ao presidente.

MULDER: - (INCRÉDULO) O quê?

SKINNER: - Terão de entregar as provas. Se negarem... Estamos numa democracia, Mulder. Mas não leve a palavra ao pé da letra. Ou vocês dois podem ser encontrados mortos com uma desculpa bem convincente do governo ou do exército. E não acredito que o governo não saiba do que acontece em Dreamland, bem como não acredito que estão protegendo os Arquivos X por bondade. Jogo de interesses seria a expressão apropriada.

Scully suspira. Olha pra Mulder, fazendo uma cara de deboche, erguendo as sobrancelhas.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Completamente sem vaselina e num empurrão contra a parede.

Skinner olha surpreso pra ela.

MULDER: - (INCRÉDULO) Estamos por nossa conta?

SKINNER: - Exatamente.

MULDER: - (INDIGNADO) Quer dizer que ou os militares nos pegam ou o governo. Mas a mentira permanece. Quer consigamos as provas ou não. Não faz diferença.

Skinner respira fundo.

SKINNER: - Posso convencer o diretor a designar outro agente pra ir com você. Sei que a Scully é mais indicada porque é médica. Mas temo porque está grávida e não quero colocá-la em risco.

SCULLY: - Vou com Mulder, senhor. Somos uma dupla. Nosso trabalho depende um do outro. Se temos que sair ilesos disto, que pelo menos fiquemos juntos. Há confiança mútua entre nós. Sabemos até onde podemos chegar.

MULDER: - Não confiaria em outra pessoa, Skinner. A Scully tem razão. Não podemos vazar isso pra fora dessa sala.

Skinner olha pro armário. Olha pra Mulder, debochadamente.

SKINNER: - E acha que a informação já não foi vazada? Por isso sigam meu conselho: Não se arrisquem. Se perceberem que algo está errado, dêem o fora, de mãos vazias mesmo. Passem por dois incompetentes, mas não apostem suas vidas nisso. Não ganharão nada. É um jogo de interesses e a corda sempre arrebenta do lado mais fraco.

Scully respira fundo, fazendo um beiço. Mulder abre a porta. Os dois saem da sala. Caminham pelo corredor.

MULDER: - (DEBOCHADO) Gostou dessa?

SCULLY: - Nem sei o que dizer, Mulder.

MULDER: - Mas eu sei o que dizer.

SCULLY: - O que vai fazer?

Mulder aperta o botão do elevador.

MULDER: - (DEBOCHADO) Ah, Scully, eu também quero gozar. Antes que eles nos virem contra a parede, eu vou fazer isso. Posso até levar umas, mas que vou dar em troca vou. Por via das dúvidas, deixe suas malas prontas, podemos ter de atravessar o oceano a nado e nos refugiarmos na América Central. Será que Fidel gosta de vinho tinto ou branco?

SCULLY: - Não confie em Fidel, Mulder. Ele é quem exporta ‘charutos’.

MULDER: - Me esqueci dos ‘charutos’, Scully... Sabe que você ficaria linda com aqueles véus islamitas na cabeça, guiando cabras pelo deserto?

SCULLY: - Tem camelinho?

MULDER: - Tem. Com direito ao Raposão todas as noites.

SCULLY: - Estou brava com o Raposão. Ele está meio desanimado.

MULDER: - Não confie nisso, Scully. O Raposão é traiçoeiro. Ataca no meio da noite.

SCULLY: - (SUSPIRA) Palavras, palavras, palavras... Ações, nenhuma. Mulder, você é como os socialistas. O discurso é um, a prática é outra.


Hotel Ranch – Nevada - 3:44 P.M.

Scully tira as roupas da mala. Mulder desliga o celular.

MULDER: - Falei com o Frohike. Michael Terrebonne vai contatar conosco. Vamos esperar.

SCULLY: - O Frohike? Mas o quê o Frohike vai fazer por nós?

MULDER: - Terrebonne é amigo do Frohike. O cara trabalha na CNN e foi pra lá com um cinegrafista só por diversão, achando que não pegaria nada. Que desmascararia uma famosa ufóloga mística, que afirma contatar com seres extraterrestres. Ele tem o hobbie de caçar reportagens dantescas e colabora com A Bala Mágica.

SCULLY: - O homem deve estar apavorado!

MULDER: - Acho que a vida profissional e pessoal dele terminou, Scully. Frohike disse que revistaram todo o apartamento de Terrebonne e do cinegrafista, e prenderam dois do grupo. Acho que não pegaram as fitas. Devem estar com Terrebonne.

Scully senta-se na cama. Espicha as pernas e afaga a barriga.

SCULLY: - Nem dar proteção nós podemos...

MULDER: - Vamos esperar.

Mulder atira-se na cama, ao lado dela. A puxa.

MULDER: - Vem aqui, vem...

SCULLY: - Hum...

Ela recosta-se nele. Mulder afaga seus cabelos.

MULDER: - Posso entrar lá sozinho. Nunca saberão. Você fica aqui e me apoia à distância.

SCULLY: - Não. Onde você vai eu vou, como uma sombra.

MULDER: - Acho tão perigoso pra vocês dois, Scully. Fica aqui, é melhor. Peço pra um dos rapazes vir e ficar com você.

SCULLY: - Não.

MULDER: - Teimosa.

SCULLY: - Sou. E daí? Não vou deixar o meu homem entrar naquele lugar sozinho.

MULDER: - (EMPOLGADO) Uau! ‘Meu homem’?

Ela sorri. Fecha os olhos, respira fundo. Aconchega-se nele.

SCULLY: - É. O meu homem... Só meu. Todinho meu. As outras o cobiçam, mas sou eu quem o leva pra casa.

Mulder a abraça.

MULDER: - Que tal dormirmos um pouquinho?

SCULLY: - Tá. Acho que precisamos.

MULDER: - Amanhã temos que trabalhar, Scully. Em Dreamland. Não tire nada de lá, eles revistam todos os funcionários civis quando saem. Esquema de segurança.

SCULLY: - Mulder, se Terrebonne nos der a fita, vai entregá-la?

Mulder pisca o olho pra ela. Scully entende.

SCULLY: - Gravadores e gravadores... Odeio gravadores!


BLOCO 2:

8:11 P.M.

Mulder sentado na cama, reclinado no travesseiro, assistindo TV. Scully, sentada numa poltrona, de sutiã e calcinha, passando óleo na barriga, com carinho. Alisa a barriga, numa fisionomia de realização completa, fica a admirando, como um sonho. Mulder olha pra ela, curioso.

MULDER: - O que está fazendo?

SCULLY: - Óleo de amêndoas. Previne estrias e rachaduras na pele.

MULDER: - Ah!

SCULLY: - Coisas de grávidas, Mulder.

Mulder deita-se na cama e apoia a cabeça na mão. Continua olhando pra ela. Ela não percebe. Mulder dá um sorriso.

MULDER: - Você está tão linda, tão iluminada, sabia? Nunca te vi tão feliz na vida.

SCULLY: - Estou feliz. (OLHA PRA BARRIGA, ACARICIANDO-A) Estou realizando um sonho. Um sonho que parecia inatingível.

Mulder levanta-se. Senta-se no chão, ao lado dela. Coração apertado de angústia.

MULDER: - Scully, eu...

SCULLY: - Eu...?

MULDER: - Nada não. Deixa pra lá. Quer ajuda?

SCULLY: - Impressão minha ou perdeu o medo de tocar na minha barriga?

MULDER: - ... Eu... eu quero viver essa emoção também, Scully.

Scully pega a mão dele e a coloca sobre sua barriga.

SCULLY: - Então, papai? Qual a emoção de um homem diante de um fato como esse?

MULDER: - ...

SCULLY: - ? (ESPERANDO RESPOSTA)

MULDER: - ... Como pai, Scully... é... é inacreditável ver a vida brotando dentro de você. Não de qualquer uma, mas da mulher que eu amo. É gratificante a emoção de saber que você tem alguém que vai depender de você, que tem seu sangue, que continuará seu nome... que a sua existência poderá passar, mas a de seus genes não. Isso me dá a sensação poderosa de ser eterno. Porque eu vou morrer, mas um pedaço de mim ficará para muitas gerações, entende?

Mulder afaga a barriga de Scully, com carinho. Scully respira fundo.

SCULLY: - Pra uma mulher significa que ela carrega dentro de si um pedaço seu, um pedaço do amor que ela tem por seu homem... é um novo ser, uma nova vida... quando ele se mexe aqui dentro, eu fico rindo sozinha. Eu falo com ele, e posso sentir que ele responde. Sinto que estamos sintonizados.

Mulder sorri.

SCULLY: - Sinto que sou mais responsável... pra dizer a verdade, antes eu queria que ele ficasse dentro de mim pra sempre, assim eu poderia protegê-lo. Agora, quero que ele nasça de uma vez, quero tê-lo nos meus braços, amamentá-lo, brincar com ele, aquecê-lo... Mulder, acho que estou apaixonada por ele.

Mulder sorri.

MULDER: - Quem não se apaixonaria por uma criança, Scully?

SCULLY: - Mulder, tenho de comprar sutiãs. Acho que estou virando uma das garotas das suas revistas...

MULDER: - Você tá linda.

SCULLY: - Estou ficando curvada pra frente, isso sim! Não tenho mais cintura, meus peitos parecem duas bolas de futebol e minha barriga tá ficando maior do que eu! Não consigo mais vestir meias! Não vejo mais os meus pés!

MULDER: - Mesmo assim, você continua linda. Eu te ajudo a vestir meias. Quer uma massagem nos pés?

SCULLY: - Ai, eu adoraria isso!

MULDER: - Deite-se na cama que o Dr. Mulder, quiroprático, vai fazer você relaxar. Óleo de amêndoas?

SCULLY: - Pode ser.

Scully deita-se na cama. Ele senta-se aos pés dela e os massageia.

MULDER: - Já que não posso ajudar a sustentar sua barriga, tenho que ser útil em alguma coisa.

SCULLY: - Vai ser útil. Terá muitas fraldas pra trocar e muitas madrugadas mal dormidas.

MULDER: - (SORRI) Isso é estranho, Scully. Pra mim é muito estranho. Nunca me imaginei nessa situação. Tudo é novo pra mim. Apesar das preocupações que eu tenho, eu me pego contemplado vocês dois e... (SEGURA AS LÁGRIMAS) ... e tenho vontade de chorar.

SCULLY: - Por quê?

MULDER: - ... (EMOCIONADO) É muita felicidade pra um coração que não sabia o que era isso há uns dois anos atrás. Pra um cara que acreditava que dormiria num sofá pro resto da vida, tendo como companhia peixes num aquário.

Scully olha pra ele ternamente.

SCULLY: - Vem aqui, vem, Mulder.

MULDER: - (DEBOCHADO) Acho que estou ficando sensível... Coisas de homem grávido...

Ele deita, se abraçando nela, derrubando lágrimas.


1:36 A.M.

Mulder pára o carro numa estrada deserta, cercada de floresta. Desce. Scully fica dentro do carro. Mulder coloca as mãos no bolso da jaqueta. Aguarda. Percebe uma luz surgindo entre as árvores. Michael e Phil aproximam-se, segurando lanternas.

MICHAEL: - Agente Mulder?

Mulder mostra a credencial.

MULDER: - Entrem no carro. Tenho medo de que estejam nos seguindo.

Eles entram no carro. Mulder dá a partida.

MULDER: - Podem falar aqui, o carro é alugado, não tem escutas.

MICHAEL: - Temos a fita. Só quero saber o que vão fazer com ela.

MULDER: - Mantê-la longe dos burocratas.

PHIL: - Agente Mulder, não sabemos o que era aquilo exatamente, mas há provas naquela montanha! Uma das naves caiu por lá. Precisa ir até a montanha e recolher provas mais materiais.

MULDER: - Temo em dizer que ninguém pode saber dessa fita. O ideal seria expô-la na TV.

PHIL: - Não farão nada. Nada que ameace o governo. Redes de TV trabalham pro governo. Precisam continuar suas licenças de radiodifusão.

MICHAEL: - O FBI não vai nos ajudar? É isso que está dizendo?

Scully olha pra Mulder. Ela está tensa.

MULDER: - Não. O FBI não vai ajudá-los e nem eu tenho pra quem entregar isso.

MICHAEL: - Mas que droga! Frohike disse que você nos ajudaria!

MULDER: - Mas eu vou ajudá-los. Vou tirar vocês do país, o combinado foi esse. Mas quero essa fita. Preciso ficar com ela. Vou usá-la no momento certo, acreditem.

Phil e Michael se olham.

MICHAEL: - Deixamos uma cópia com os rapazes. Vamos levar a original.

MULDER: - E se pegarem vocês? Sabem que estão com a fita. Eu não sou suspeito.

PHIL: - Ele tem razão, Michael. Melhor dar o fora daqui e deixar isso com ele. Frohike disse que ele saberia como usá-la.

Michael pega a fita do bolso. Entrega pra Scully. Scully a pega.

MICHAEL: - Tem a verdade em suas mãos. Saiba como usá-la.

MULDER: - O que viram naquela noite?

PHIL: - Quatro, cara! Quatro naves, uma diferente da outra. Tá tudo aí nessa fita.

MICHAEL: - O que fizeram com o James e a Ida?

MULDER: - Pelo que sei estão detidos. Mas vão ter de liberá-los ou a coisa ficará pior. Não contavam que muitas pessoas iriam testemunhar o fato.

MICHAEL: - E eu duvidei da Ida. Achei que ela não pudesse contatar com eles.

MULDER: - Ida é uma contatada. Já li seus artigos na rede, falando de seres angelicais, de deuses...

Scully olha pra Mulder.

SCULLY: - Como assim?

MULDER: - Seres que chamamos de extraterrestres, talvez os responsáveis por nossa criação. Eles têm uma espiritualidade tão avançada que podem se comunicar conosco através de mensagens telepáticas. Sempre chegam deixando mensagens boas e nos pedindo pra seguir os ensinamentos de Cristo, o mais perfeito dos seres. São geralmente comandantes de frotas que patrulham o universo. Se apresentam sob forma humana, são iguais a nós, mas de matéria menos densa. Geralmente esses seres são chamados de anjos. Algumas aparições religiosas são atribuída a eles, que se apresentam sob diversas formas, nas quais o contatado acredita. Podem ser a Virgem Maria, um santo, qualquer coisa. Deixam sempre a mensagem de que no dia D, na hora H, eles virão recolher os escolhidos para que não sofram nas mãos dos maus que tomarão a Terra, em cumplicidade com governos terrestres, homens de espíritos atrasados.

SCULLY: - Não está me dizendo que Ets vão salvar a humanidade de um apocalipse? Que recolherão os bons e deixarão os maus. Mulder, isso é crença, é mitificação. Não pode atribuir crença espiritualizada nisso ou criará uma legião de fanáticos religiosos que olham pros céus esperando ajuda de alienígenas. Seitas apocalípticas que levam ao suicídio coletivo e...

MULDER: - Sabe a verdade, Scully?

SCULLY: - ...

MULDER: - Então, não descarte possibilidades, por mais ridículas que pareçam.

PHIL: - Cara, uma das naves caiu. Outras duas ficaram brigando entre si até que surgiu a quarta. Era enorme, maior que as outras duas juntas.

MULDER: - Como eram as naves?

PHIL: - Uma um disco... a outra triangular.

MULDER: - Poderia ser uma nave militar e outra extraterrestre?

MICHAEL: - Eu não sei, mas acho que brigavam pra ver quem levava a Ida e o James. Até que a outra os salvou.

SCULLY: - Salvou? Como assim?

PHIL: - Uma luz, moça. Parecia um campo de força, coisa de filme de ficção científica. Não dava pra ver, era invisível. Só o formato dela reluzia.

MICHAEL: - Achamos que salvou os dois, porque a luz que emitiu sobre eles era mais forte. E quando as outras duas naves sumiram, aquela poderia tê-los levado, mas não os levou.

Mulder olha pra Scully.

MULDER: - O que estão armando agora, Scully? Ou nosso Deus está intervindo no caus ou têm uma boa agência de marketing.


Aeroporto de McCarran - 5:11 A.M.

Várias pessoas entrando no portão exclusivo de embarque. Parecem mais com robôs, pouco falam, fisionomia séria e distante. Usam crachás com data, nome completo, hora de entrada. Mulder e Scully entram, também com crachás da Área 51. Passam os crachás por uma máquina.

O guarda olha pras fotos dos crachás e olha pra eles. Pede que coloquem a mão sobre um leitor de digitais. Eles se olham, mas fazem. O leitor aceita as digitais.

Eles passam por um detector de metais. Há câmeras por todos os lados e soldados armados. Uma mulher revista Scully, um homem revista Mulder. Mulder olha pra Scully, erguendo as sobrancelhas. Eles caminham, seguindo as pessoas, em silêncio. Entram na pista. A polícia do exército, fortemente armada, faz vigilância ao redor da escada de acesso ao avião. Mulder e Scully entram no avião. Sentam-se em silêncio, um ao lado do outro.


6:31 A.M.

Mulder e Scully descem do avião, dentro da pista da Base Aérea de Groom Lake. Soldados se aproximam, escoltando as pessoas. Scully disfarça, mas observa tudo atentamente. Eles caminham em direção à um ônibus, cochichando.

MULDER: - (DEBOCHADO) Quanta burocracia pra chegar ao trabalho, não acha? Devem pagar muito bem por aqui.

SCULLY: - Mulder, estou com medo. Estamos sem armas, sem telefones...

MULDER: - Siga a regra: se a coisa ficar feia, corra.

SCULLY: - Como vou conseguir correr com essa barriga enorme?

Mulder segura o riso. Eles entram no ônibus.


6:46 A.M.

O ônibus pára nas margens do lago seco Papoose. Todos descem. Mulder olha pro lago seco, coberto de areia. Observa todos os lugares. Eles continuam caminhando. Uma mulher aproxima-se dele.

FUNCIONÁRIA: - Oi!

Mulder olha pra ela.

MULDER: - Oi.

FUNCIONÁRIA: - São novos, não são?

Scully olha pra Mulder.

SCULLY: - Na verdade, trabalhamos no mesmo projeto, em lugares diferentes.

FUNCIONÁRIA: - Ah, sim.

MULDER: - E você? Está aqui há muito tempo?

FUNCIONÁRIA: - Faz 3 anos.

Eles caminham até uma montanha, escoltados por mais soldados.

Há uma entrada na montanha, imperceptível de longe. Eles entram num túnel até um elevador. Entram no elevador. Há uma câmera que os filma. Scully olha pra Mulder, completamente nervosa. Mulder segura a mão dela. A mulher observa. O elevador desce.

FUNCIONÁRIA: - São casados?

SCULLY: - Sim.

FUNCIONÁRIA: - Ah, que casal bonito. É o primeiro?

SCULLY: - Sim, é o primeiro.

FUNCIONÁRIA: - Parabéns!

SCULLY: - (SORRI/ NERVOSA) Obrigada.

Mulder não tira os olhos do painel. Aperta a mão de Scully. Scully olha pra ele. Ele sinaliza com os olhos pro painel. Scully olha, erguendo as sobrancelhas. No painel, o número 7 aparece. Scully olha pra Mulder, boquiaberta. A porta se abre. Eles descem. Mulder solta a mão de Scully e faz uma fisionomia de espanto. Scully arregala os olhos, enquanto caminham por um extenso corredor cheio de portas. Scully olha pra Mulder. Um soldado os barra.

SOLDADO: - Você.

Scully fecha os olhos. O soldado olha pro crachá dela.

SOLDADO: - Doutora, me acompanhe por favor. Seu setor é dois andares acima, na biologia.

Mulder olha pra ela, tranquilizando-a com os olhos. Scully vai com o soldado. Mulder continua caminhando. Observa um dos funcionários passar o crachá numa fechadura magnética. Mulder olha pro crachá, olha pro código sobre as portas:0310. Um homem aproxima-se. Mulder percebe que é Morris Fletcher. Mulder pára na frente da respectiva porta. Tira o crachá e passa na fechadura, virando o rosto. Morris passa por ele, cuidando pras pernas de uma funcionária enquanto assovia uma canção. Mulder entra depressa. Fecha a porta. Respira aliviado. Coloca o crachá novamente. Vira-se.

Panorâmica. É um hangar subterrâneo. Há várias naves sendo montadas, em formatos triangulares e circulares. Mulder fica boquiaberto. Um sujeito aproxima-se.

ARMSTRONG: - Ah, você é o novo fiscal de operações. Pelo menos é o que o código diz em seu peito.

Mulder dá um sorriso nervoso, meio apavorado, louco pra sair correndo.

ARMSTRONG: - Davis? Richard Davis?

MULDER: - É o que diz o crachá.

ARMSTRONG: - (RINDO) Essa foi boa! Pelo menos mandaram alguém com senso de humor aqui pra baixo. Venha, vamos tomar um café e eu apresento o lugar pra você. Vou dar o relatório das atividades.

Mulder olha pro crachá dele.

MULDER: - Ken Armstrong? Parente do astronauta?

ARMSTRONG: - Primo-irmão.

Os dois caminham pelo enorme complexo. Mulder olha para os homens, enquanto eles montam naves, fazem reparos e testes em uma nave pronta, que flutua a poucos metros do chão. Mulder olha pra cima. Vê uma imensa superfície transparente.

MULDER: - Estamos embaixo do lago Papoose?

ARMSTRONG: - Lago... Essa também foi boa. Sabe que o lago só consta no mapa por medida de precaução. Na verdade é a cúpula da base subterrânea, por onde lançamos as naves. Tivemos alguns problemas por aqui ultimamente.

MULDER: - Fiquei sabendo por alto, não me explicaram nada. Por isso me mandaram pra cá.

ARMSTRONG: - Foi de lascar, Davis. Algumas vezes eles ficam rebeldes e começam a reagir contra nós. Ontem caiu outro anjo, com seis tipos esquisitos, nunca catalogados antes. Um deles está vivo. Ao mesmo tempo, um protótipo pilotado por um dos maluquinhos cinzas resolveu tirar sarro com um dos projetos experimentais guiado por um piloto nosso.

MULDER: - ...

ARMSTRONG: - Então surgiu aquela coisa enorme, que eu acho que devia estar com esses esquisitos que caíram na montanha. Apesar de que os radares constataram presença de radiação em proporções jamais vistas. Sei lá. Mas não era das nossas, isso é certo.

MULDER: - ...

ARMSTRONG: - Aviso você: tem que ter diplomacia com os sujeitos porque eles são invocados. Coisa de baixinho.

MULDER: - ???

Ken abre uma porta.

ARMSTRONG: - Bem, vou te apresentar o seu novo colega, o Chuck. A gente chama ele de Chuck, porque ele fica fascinado com TV, sabe? Adora aquele filme Brinquedo Assassino.

Mulder procura com os olhos.

MULDER: - E onde está o meu colega, o Chuck?

ARMSTRONG: - (GRITA) Chuck! ô, Chuck! ... (BALANÇA A CABEÇA) Eles não entendem bem nosso idioma, mas algumas vezes tentam pronunciar algo. A voz é horrível, parecem uma cantora desafinada de rock. Ah, lá está ele.

Mulder pára. As pernas não conseguem sair do lugar ao ver o ET acinzentado que se aproxima.

ARMSTRONG: - Ô, Chuck, esse aqui é o Davis. Vê se não vomita meleca verde nele se ele brigar com você.

Mulder olha pra Ken, em pânico completo.

ARMSTRONG: - (RINDO) Brincadeira, Davis.

Mulder não consegue tirar os olhos da criatura e não consegue se mover. Fecha os olhos.

MULDER (OFF): - Meu Deus, me ajuda! Isso não é real.

ARMSTRONG: - Ô, Davis, está bem?

MULDER: - É que... esse é o parceiro mais estranho que eu já tive.

ARMSTRONG: - Cuidado com ele. É extremamente científico.

MULDER: - Como eu vou falar com essa coisa?

ARMSTRONG: - Pensamento.

MULDER: - (PÂNICO) Ele lê a minha mente?

ARMSTRONG: - Tudo o que pensar.

O ET olha pra Mulder, inclinado a cabeça para o lado e estudando-o. Mulder olha pra ele, mais apavorado ainda. Ken sorri.

ARMSTRONG: - Brincadeira, Davis. Não vai trabalhar com ele. Chuck tem a equipe dele.

Mulder fica olhando pro ET, ainda pasmo. O ET parece saber quem ele é. Aproxima-se. Mulder arregala os olhos. O ET toca em Mulder e aponta para o céu. Mulder afasta-se com medo.

MULDER: - Vamos sair daqui, eu não gosto dessa coisa.

Mulder abre a porta. Sai da sala, tenso. Ken sai atrás dele.

ARMSTRONG: - O que foi? Nunca tinha visto um desses antes?

MULDER: - (NERVOSO) Pra dizer a verdade, já, num vagão de trem. Mas não tão de perto e sentindo o bafo dele. Olha, Armstrong, me deixe longe dessa coisa, tá legal?

ARMSTRONG: - Calma, rapaz. Calma. Precisa ver o que eles têm na Biologia! Aqueles sim é de dar medo.

MULDER: - (PÂNICO) Na Biologia? Há Ets na Biologia?

ARMSTRONG: - Mas não se preocupe, estão todos mortos. Eles entram em você como se fossem um líquido negro e transformam-se em coisas horrendas.

Mulder fecha os olhos, pensando no que Scully poderá ver.

MULDER: - E esse daí? Há quanto tempo está aqui?

ARMSTRONG: - Veio antes da queda em Roswell. Vieram outros mais. O que tá lá em cima é o mais velho. 1938, se não me engano. Esses cinzas têm interesses científicos. Aqueles lá são como um bando de predadores de raças. Acho que devoram até a própria mãe. Prestam serviço pra quem os contrata. Mas deixe eles de lado, vou te mostrar o lugar.


BLOCO 3:

8:47 A.M.

Scully entra por uma porta. Um médico vem até ela.

MÉDICO: - Deve ser a Dra. Davis.

SCULLY: - Sim. Eleonora Davis.

MÉDICO: - Precisamos urgentemente da sua ajuda. Nos disseram que era uma médica com experiência. O problema aqui é que nunca vi nada igual a isso. Me acompanhe, por favor.

SCULLY: - Nada igual a quê?

O médico abre uma porta. Os dois entram. Aproximam-se de uma parede, com a metade superior de material transparente, como um vidro à prova de balas. O médico olha pra Scully.

MÉDICO: - O problema é que ele é agressivo. Deve saber que os colegas morreram na queda da madrugada de ontem. Nem os cinzas conseguem comunicação com estes. Já viu um desses antes, Dra. Davis?

Scully pára. Fecha os olhos, como se pressentisse alguma coisa. Aproxima-se. Olha pra dentro, arregalando os olhos. Põe as mãos sobre os lábios.

SCULLY: - Oh, meu Deus!

MÉDICO: - Que pena, achei que poderia nos ajudar. Vai acabar morrendo, não conseguimos contato com ele. Fica sentado ali, e se nos aproximamos muito da janela, ele ataca.

Scully segura as lágrimas. Fecha os olhos. Começa a ficar tonta.

MÉDICO: - Está bem, doutora?

SCULLY: - Preciso me sentar.

O médico a ajuda a sentar-se.

MÉDICO: - Não lhe deram licença ainda?

SCULLY: - ...

MÉDICO: - Vou buscar um copo de água.

O médico sai da sala. Scully está em pânico, incrédula.

SCULLY: - (TENSA) Oh, meu Deus! Oh, meu Deus!

Scully levanta-se, apoiando-se nas paredes. Caminha até a parede de vidro. Olha pra criatura, que está sentada num canto da sala. É uma criatura humanoide, marrom, com uma longa cabeça oval, olhos grandes, sem cílios e sem nariz. Tem boca pequena. Muito magro. Veste um traje colado ao corpo. Olha pra Scully, mas os olhos não piscam. Apenas a retina troca de cor, de preto para cinza, indicando que ele a observa.

Scully põe as mãos no vidro, olhando com pena para a criatura. Ele olha pra ela, como se pedisse ajuda. Scully fica com uma das mãos apoiada no vidro, sentindo-se tonta. Segura a barriga com a outra mão. Fecha os olhos.

SCULLY: - Isso não é possível. Meu Deus, isso não é possível!

CANCEROSO: - Assustada, Dana?

Scully vira-se. O Canceroso está parado, apagando o cigarro.

CANCEROSO: - A primeira vez que se olha pra uma coisa dessas, realmente nos dá medo. Sei que está num estado muito vulnerável, mas acredite, acho que é hora de ver a verdade.

SCULLY: - ...

O Canceroso aproxima-se.

CANCEROSO: - Sei que pode descobrir o que é. Há mais cinco dessas lá embaixo, esperando um catálogo. Não lhe disse uma vez que confiava mais em você do que no Mulder?

Scully fecha os olhos e desmaia. O Canceroso a segura.


4:21 P.M.

Mulder procura Scully, na pista do aeroporto. Mas não a encontra. Começa a ficar nervoso. Ken aproxima-se.

ARMSTRONG: - Vamos pro avião?

MULDER: - Não vejo minha esposa.

ARMSTRONG: - Devem tê-la pego pra fazer hora extra.

MULDER: - Não vou sair daqui sem ela.

ARMSTRONG: - Não pode ficar. O que está acontecendo com você?

MULDER: - (NERVOSO) Eu não saio daqui sem ela!

Um soldado aproxima-se.

SOLDADO: - Engenheiro Davis? Nos ligaram de McCarran avisando que sua esposa está lá o esperando.

Mulder fica desconfiado.

SOLDADO: - Por favor, embarque logo.

Mulder fica tenso. Não sabe se corre, se foge. O soldado olha pra ele, desconfiado. Ken também fica desconfiado.

SOLDADO: - Algum problema, senhor Davis?

MULDER: - Não. Tudo bem.

Mulder sobe no avião, nervoso.


Gabinete do diretor-assistente – 5:23 P.M.

Skinner anda de um lado pra outro, nervoso. O telefone toca. Ele corre e atende.

SKINNER: - Walter Skinner.

KRYCEK (OFF): - Olá, Walter Skinner... Hora de pagar o que me deve.

SKINNER: - ...

KRYCEK: - Ou hora de morrer.

SKINNER: - Não sabe que esta linha é grampeada?

KRYCEK: - Não sabe de onde estou ligando. Precisamos conversar.

SKINNER: - ...

KRYCEK: - Sabe onde pode me encontrar.

Krycek desliga. Skinner desliga o telefone.

SKINNER: - Deus, acho que vou enlouquecer!

Skinner senta-se. Fica olhando pro nada.


Aeroporto de McCarran – 7:01 P.M.

Mulder sai do desembarque, procurando Scully com os olhos. Não a encontra. Está nervoso, desesperado. Olha pra um canto. Vê o Canceroso ao lado dela. Mulder perde a razão e caminha em direção à eles, fisionomia de raiva. O Canceroso vai se afastando de fininho. Dois soldados seguram Mulder. O Canceroso entra por uma porta.

MULDER: - (GRITA) Seu desgraçado! Não é homem o suficiente pra me encarar?

Scully segura Mulder.

SCULLY: - Mulder, vamos embora.

MULDER: - (PREOCUPADO) Você está bem?

Mulder olha pra ela, assustado, mas aliviado.

SCULLY: - (NERVOSA) Estou, Mulder. Vamos embora, por favor.

Mulder a abraça fortemente. Fecha os olhos.

MULDER: - Ele te machucou?

SCULLY: - Não. Mulder, não quero falar disso, me tira daqui, estou nervosa.

MULDER: - Tá.

Os dois saem abraçados dali.


Apartamento de Scully – 12:34 A.M.

Scully sentada no sofá, olhar ao longe. Mulder ajoelha-se ao lado dela, lhe entregando um xícara.

MULDER: - Chocolate quente. Vai te fazer bem.

Ela começa a chorar. Mulder olha apiedado pra ela.

SCULLY: - (CHORANDO) Mulder... eu... eu vi. Me perdoa por ter duvidado de você!

Mulder fecha os olhos.

MULDER: - Scully...

SCULLY: - Mulder, eu vi tudo! Como podem fazer essas coisas? Como podem mentir, esconder isso das pessoas! Mulder, não estamos sozinhos no universo! E acho que somos mais vulneráveis do que pensamos!

Mulder a abraça. Afaga seus cabelos.

SCULLY: - (NERVOSA/ CONTENDO AS LÁGRIMAS) Eles prenderam aquela criatura, sem ao menos saber o que era ou de onde vinha! ... Mulder, eu vi outros corpos. Ele me mostrou.

MULDER: - Scully, não acredite nas coisas que aquele homem diz! Ele está iludindo você. Não cai no jogo dele.

SCULLY: - Mas eu vi! Mulder, eu vi! Não era humano! Vi os outros corpos, ele permitiu que eu visse.

MULDER: - Scully, desconfio que ele ajudou a gente a entrar lá. Ele deu as credenciais. Portanto, tem coisa por trás disso. Ele deixou que víssemos o que ele queria que víssemos.

SCULLY: - (AINDA EM CHOQUE) A epiderme deles é similar a humana, mas a boca é diferente. E não parece ter função, além de uma nutrição limitada... Não têm dentes, o que sugere que só ingerem líquidos ou alimentos cremosos. Talvez a comida não é processada como no corpo humano... Mulder, aquilo não era humano. Nenhuma mutação genética provocaria tal anomalia!

MULDER: - Você autopsiou os corpos?

SCULLY: - Não, apenas fiz a autópsia com os olhos. Ele não queria que me aproximasse muito. As criaturas estavam num isolamento. O cheiro era horrível. Não sei se de putrefação ou se eles tinham esse cheiro mesmo...

Mulder levanta-se.

MULDER: - Scully, eu tô confuso. O FBI nos manda investigar Dreamland e o Canceroso nos ajuda. Isso não faz sentido algum pra mim, entende? Talvez ele não tenha te deixado fazer uma autópsia porque aquilo não era um ET de verdade.

SCULLY: - Ou por que era radioativo?

MULDER: - Acha que ele se importa com você? (INSIGHT) ... ou... (TEMEROSO) com nosso filho...

Scully bebe o chocolate, tremendo de nervosismo.

MULDER: - Foi tudo uma armação pra nos levar até lá. Pra pegar a fita. Mais e mais mentiras, Scully.

SCULLY: - ... Por que fariam isso? Usariam os meios federais pra obterem as provas? Mulder, eles nunca agiram dentro da lei, por que fariam isso agora?

MULDER: - Tem coisa grande aí, Scully. Muito, mas muito grande mesmo. E estou começando a ficar mais desconfiado. Estão armando algo grande e nos usando como peças de um jogo maquiavélico!

SCULLY: - ...

Mulder pega o celular. Aperta uma tecla. Scully está mais calma, mas abatida. Afaga a barriga.

SCULLY: - Pobre do meu filhinho... Nem sei como ele está suportando tudo isso.

Mulder olha pra ela ternamente. Desliga o celular.

MULDER: - Não consigo achar o Skinner.

SCULLY: - ...

Mulder senta-se ao lado dela e a abraça.

SCULLY: - Liga a TV, Mulder. Preciso me distrair ou vou enlouquecer.

Mulder pega o controle remoto. Liga a TV. Deita-se no sofá.

MULDER: - Deita aqui, Scully.

Ela deita-se quase sobre ele. Ele tenta distraí-la.

MULDER: - Hum, tá apertado pra três, não acha?

Scully sorri.

MULDER: - Garotão grande esse...

SCULLY: - É seu filho, Mulder. Vai ser grande como o pai.

Mulder beija os cabelos dela. Afaga seu braço.

SCULLY: - Me abraça?

MULDER: - Claro que te abraço.

Mulder a abraça.

MULDER: - Pensei que ia te perder de novo. Fiquei mais de uma hora naquele avião e parecia que dias estavam se passando. Nunca fiz uma viagem tão estressante quanto aquela.

Ela sorri, aconchegando a cabeça no peito dele, de olhos fechados.

MULDER: - Por que ele não te levou? Tinha você ali, nas mãos dele e sabia que eu não poderia evitar.

SCULLY: - E por que ele me levaria?

MULDER: - ...

SCULLY: - ... (ESPERANDO RESPOSTA)

MULDER: - (DESATINADO) Não sei de mais nada, Scully. Confesso que aquele sujeito é mais esperto do que eu. Não sei o que planeja, mas nunca é nada bom. Nada vem de bom daquele homem.

SCULLY: - Mulder, não está pensando que ele roubaria nosso filho porque é neto dele. É isso? Que essa criança seria o legado dele, sua vitória sobre você?

MULDER: - ...

SCULLY: - (NERVOSA) Mulder, se ele tocar um dedo nessa criança, eu mesmo o mato. Quando ela nascer, eu juro que vou sair do Bureau. E nada, nem você vai me impedir! Vou ficar com meu filho, mantendo ele afastado dessa gente toda!


Base Aérea de Wright-Patterson – Ohio – 3:34 A.M.

O Canceroso desce de uma limusine, estacionada na frente de um hangar. Acende um cigarro. Garganta Profunda aproxima-se.

GARGANTA PROFUNDA: - Sabe realmente o que está fazendo?

CANCEROSO: - Confie em mim.

GARGANTA PROFUNDA: - Não precisava armar tudo isso pra mostrar a verdade a ela.

CANCEROSO: - Ela precisa desconfiar, se desapegar da criança. Precisa sofrer. Não posso fazer nada. Se Mulder não tivesse confiado ao russo a informação de que eu era seu pai, as coisas não teriam ficado desse jeito.

GARGANTA PROFUNDA: - Você que prevê tudo, não poderia ter previsto esse caus?

CANCEROSO: - Entreguei a Fowley aos alienígenas. Estava pressionado. Iam começar a invasão. Nos ameaçaram. Pra ajudar, Scully roubou provas do Pentágono que eram muito importantes pro russo. Ele quer a tecnologia. Tive de negociar com ela, em troca de um filho. Foi quando vi a besteira que faria. Eu ia poupá-la, já estava tudo armado. Trocaria Diana por Samantha e Diana seria a mãe do filho de Mulder. Teríamos a vacina há mais tempo. Diana me traiu. Samantha escapou. Mulder abriu o bico e Scully se intrometeu. Agora estou num túnel, estressado, tentando sair da enrascada. E só você pode me ajudar.

GARGANTA PROFUNDA: - Por que confia em mim?

CANCEROSO: - Porque você sempre fez o que pedi. Você protegeu Mulder. Porque você é um dos poucos que ainda tem senso prático da situação.

GARGANTA PROFUNDA: - Acho que definiria o termo ser um humano.

CANCEROSO: - Humano não se aplica a este caso. Preciso da criança e só você pode me ajudar.

GARGANTA PROFUNDA: - Terá essa criança.

O Canceroso começa a tossir. Mas continua fumando.

CANCEROSO: - Algumas empresas estão auxiliando na divulgação das fotos da Área 51. Há uma página na rede, mostrando fotos tiradas por satélites. Deixe a coisa fluir e desvie todas as atenções pra 51.

GARGANTA PROFUNDA: - ...

CANCEROSO: - Transfira todas as operações para as outras 50 bases e deixe a 51 apenas com os projetos dos alienígenas invasores. Continuaremos a nos reunir aqui, ao lado do hangar 18. Não quero atenções desviadas pra cá. Vamos fazer a vacina aqui.

GARGANTA PROFUNDA: - Os rebeldes atacaram aquela nave. Mas não sabemos de onde surgiu a quarta.

CANCEROSO: - Você desconfia, assim como eu. Portanto, todo o cuidado é pouco.

GARGANTA PROFUNDA: - Matheson ligou, pedindo urgência.

O Canceroso continua tossindo.

CANCEROSO: - Fale com os cientistas da nanotecnologia. Preciso que resolvam o problema rápido. Mulder vai entregar a fita. Skinner vai dá-la ao russo.

GARGANTA PROFUNDA: - A CIA está de olho nos russos e temos quase toda a informação sobre os avanços deles nessa área.

CANCEROSO: - O russo vai usar isso pra ameaçar Skinner. Não podemos perder Skinner agora. No momento, o considero nosso homem no FBI. Precisamos dele lá dentro.

O Canceroso tosse de novo.

GARGANTA PROFUNDA: - (PREOCUPADO) Está bem?

CANCEROSO: - Eu sobrevivo.

GARGANTA PROFUNDA: - Por que não conta a verdade ao Mulder? Não acha que ele entenderia?

CANCEROSO: - Mulder não entende nada e não o culpo por ser um imbecil cego. Deixe-o fora disso. Mulder já trouxe encrencas demais.

GARGANTA PROFUNDA: - E ela?

CANCEROSO: - Ela não mentiria pra ele... Invejo aqueles dois.

Garganta Profunda sorri. Os dois saem caminhando.

GARGANTA PROFUNDA: - Ela é uma boa moça.

CANCEROSO: - É. Ela é uma boa moça.

GARGANTA PROFUNDA: - Seria uma ótima mãe.

CANCEROSO: - Concordo com isso. Por isso precisamos desapegá-la da criança.

GARGANTA PROFUNDA: - Tenho notícia de que estão trabalhando com aquela outra raça.

CANCEROSO: - Os russos?

GARGANTA PROFUNDA: - Acha que pretendem o quê?

O Canceroso atira o cigarro fora. Acende outro. Garganta Profunda balança a cabeça.

GARGANTA PROFUNDA: - Vai se matar mesmo. Por que não deixa disso?

CANCEROSO: - Sabe que vou morrer por causa de um tumor resultante do transplante que fiz.

GARGANTA PROFUNDA: - Não acredito que tenha feito aquilo para deixar Mulder sem desconfiar de quem seja, de sua importância dentro do projeto.

CANCEROSO: - ...

GARGANTA PROFUNDA: - Fez aquilo pra poupá-lo das experiências que sofreria. Mas infelizmente, algo saiu errado.

CANCEROSO: - ...

GARGANTA PROFUNDA: - ... Tem orgulho dele, não tem?

CANCEROSO: - Sempre tive orgulho de Mulder. E sei que ele continuará os meus genes, queira ou não. Só nunca imaginaria que eles testariam nele a mistura de genes. Confiei em Bill Mulder, mas ele era um idiota.

GARGANTA PROFUNDA: - Tem certeza de que Mulder é seu filho mesmo?

CANCEROSO: - A única certeza que tenho nesse mundo é essa. Não vou ser cínico ou altruísta a ponto de dizer que só estou até agora nisso por causa dele. Mas sei que ele precisa da minha ajuda neste momento. E que eu também preciso dele. Como até hoje precisei.

GARGANTA PROFUNDA: - ...

CANCEROSO: - Mulder está assustado como um gato. Fará qualquer coisa pra proteger o filho. Deixe um homem acuado e sabe bem o que ele é capaz de fazer.

Os dois saem caminhando em silêncio.


BLOCO 4:

FBI – Gabinete do diretor-assistente – 8:13 A.M.

Mulder entra na sala, segurando a fita. Skinner levanta-se da cadeira.

MULDER: - Procurei você como um louco ontem à noite. Onde estava?

SKINNER: - Resolvendo problemas particulares. Conseguiu alguma coisa?

MULDER: - Eles são mais loucos do que você pode imaginar! Há Ets trabalhando pra eles. Há naves alienígenas lá embaixo e o leito seco do lago Papoose não passa de uma plataforma de lançamento dessas aeronaves.

Mulder senta-se.

MULDER: - Não sei se faço um relatório do que vi. Não sei mesmo.

Mulder entrega a fita pra Skinner.

MULDER: - Use isso como quiser.

SKINNER: - ...

MULDER: - A fita que Phil Willians gravou. Se assistiu Pânico, considere isso mil vezes pior.

Skinner pega a fita.

SKINNER: - Mulder, isso é uma prova concreta. Tem ideia do que tem nas mãos?

MULDER: - Tire isso das minhas mãos, Skinner. Não saberia o que fazer com a verdade.

SKINNER: - ?

MULDER: - Não agora. Estou mais é preocupado com o que estão tramando contra meu filho. Essa fita, as naves... Tudo foi pra afastar as atenções do projeto verdadeiro deles. Ou essa criança é um híbrido alienígena ou é uma cobaia pra algum projeto deles. Na melhor das hipóteses, ele quer um herdeiro pro seu império de mentiras. Acho que está morrendo. Mas é utopia minha acreditar que ele sente alguma coisa por meu filho.

SKINNER: - ...

MULDER: - Guarde com você. Podemos precisar um dia.

SKINNER: - Poderia negociá-la com o Canceroso.

MULDER: - (RI) É isso o que ele espera. Mas eu não vou fazer isso.

SKINNER: - E a Scully?

MULDER: - A deixei dormindo. Está abalada com as coisas que viu. Langly está com ela... Skinner, ele estava lá. Ele facilitou o acesso. Ele entregou aquelas credenciais para Dreamland. Ele quis que víssemos o que ele queria. E a experiência me diz que o pior nós não vimos.

SKINNER: - ...

MULDER: - ... Você me parece estranho. Há algum problema?

SKINNER: - Nada. Agora volte pro seu trabalho que tenho coisas a fazer.

Mulder levanta-se.

SKINNER: - Mulder.

MULDER: - ...

SKINNER: - Preciso dessa fita.

MULDER: - ... Imagino o porquê.

SKINNER: - ...

MULDER: - Não julgo um homem por seus atos. Sei bem o que significa a palavra desespero.

SKINNER: - Não vou entregar nossos segredos ao Krycek.

MULDER: - Acho que vai.

Mulder sai. Skinner o acompanha com os olhos. Observa a fita. Guarda-a na gaveta. O Canceroso entra por outra porta.

CANCEROSO: - Tem algo pra mim, senhor Skinner?

SKINNER: - ...

CANCEROSO: - Ou tem algo para Alex Krycek?

SKINNER: - Sai da minha sala!

CANCEROSO: - Está assustado, não está?

Skinner levanta-se, furioso.

SKINNER: - (GRITA) Sai da minha sala agora!

CANCEROSO: - Se me der a fita, posso ajudá-lo a sair dessa com vida.

SKINNER: - ...

CANCEROSO: - Triste ver um americano, herói de guerra, entregando segredos americanos para os soviéticos. Entregando o ouro para os bandidos.

SKINNER: - Os bandidos incluem você também!

CANCEROSO: - A fita e eu livro você da morte.

SKINNER: - Não confio em você.

CANCEROSO: - Então confia em Krycek?

SKINNER: - Não confio em nenhum dos dois e essa rixa entre vocês não é problema meu! Você quer vingança, pois a faça com suas próprias mãos!

CANCEROSO: - Vingança? Quem falou em vingança? Senhor Skinner, não está entendendo nada.

SKINNER: - (DEBOCHADO) Então porque não senta, eu peço dois cafés e você me explica tudo?

CANCEROSO: - Está ficando muito engraçadinho, senhor Skinner. Isso é perigoso. Sabe que eu poderia ter pego essa fita. Mas preferi deixá-la com Mulder. Imaginei que ele a deixaria com você. E que o russo viria atrás. Senhor Skinner, tenho faro para as coisas. Acha que não sei de nada? Eu sempre sei de tudo. Tenho olhos e ouvidos por toda a parte.

SKINNER: - Está sempre um passo à frente de tudo, não é mesmo?

CANCEROSO: - Um passo não é a medida correta. Lhe dei a chance de salvar sua vida. Por que não aproveita?

SKINNER: - ...

CANCEROSO: - Não prometi uma vez que o salvaria? Não o livrei de morrer numa explosão?

SKINNER: - Não sei suas intenções reais, Canceroso.

CANCEROSO: - Tem minha palavra de que são melhores do que as de Alex Krycek.

SKINNER: - Palavra? (RI) Você não tem palavra! Você é um assassino frio e calculista. Faria qualquer coisa pra proteger seus segredos, pra ocultar a verdade. Você é um covarde e isso está estampado em sua testa.

CANCEROSO: - Se não me entregar a fita, eu mesmo a tomarei de você.

SKINNER: - Não. Você não tentaria nada contra mim porque agora precisa de mim aqui dentro. Está armando alguma coisa grande, seu bastardo. Por isso não fechou os Arquivos X, por isso trouxe Scully de volta e fez algumas pessoas por aqui ficarem cegas.

CANCEROSO: - ...

SKINNER: - Não menospreze minha inteligência. Já o avisei antes que não sou um dos seus capangas. Tire seus pés sujos da minha sala. Vou chamar a segurança. E apague esse cigarro. Eu não fumo.

CANCEROSO: - Sei que quer ajudar Mulder. Se quer ajudá-lo, me entregue essa fita.

SKINNER: - Você anda muito silencioso por aqui ultimamente e isso me preocupa. O que vai fazer contra Mulder?

CANCEROSO: - Acha que faria algo contra meu filho?

SKINNER: - (RI) Você é um cara de pau mesmo!

CANCEROSO: - O que Krycek quer com você?

SKINNER: - ...

CANCEROSO: - O que te pediu?

SKINNER: - Por que eu falaria?

CANCEROSO: - Tem algo a perder?

SKINNER: - Acho que não. Posso até causar uma guerra maior e ver o circo pegar fogo.

CANCEROSO: - ...

SKINNER: - Na verdade, Alex Krycek quer que eu entregue essa fita pro governo russo.

CANCEROSO: - (DESCONFIADO) Só isso? Acredito que está mentindo, senhor Skinner.

SKINNER: - Me dê a cura e eu lhe conto a verdade.

CANCEROSO: - Me dê a fita e eu lhe dou a cura. O trato é esse.

SKINNER: - Não quer saber o que Krycek me disse?

CANCEROSO: - Na verdade, senhor Skinner, eu sei o que Alex Krycek lhe pediu.

SKINNER: - Como pode saber?

CANCEROSO: - Deduzo que tenha lhe pedido pra ficar ao lado de Scully porque eu tomarei o filho dela. Lhe disse que os russos estão fora e discordam da invasão. Por isso, o governo russo precisa saber o que se passa lá em Dreamland.

Skinner fica tenso.

CANCEROSO: - Também deve ter lhe dito que Mulder é um híbrido. Que meu interesse é pegar seu filho e criar uma vacina. Senhor Skinner, lembre-se do ditado. Quem é que come criancinhas?

SKINNER: - ...

CANCEROSO: - Pense, senhor Skinner. Se quiser me entregar a fita, sabe como me encontrar.

SKINNER: - (ASSUSTADO) Se eu não entregar a fita, Krycek vai me matar.

O Canceroso puxa um fita do sobretudo. Larga sobre a mesa.

CANCEROSO: - Pois entregue os segredos de Dreamland. Agora me dê a fita.

Skinner pega a fita verdadeira. Entrega pro Canceroso.

SKINNER: - Não deveria confiar em você. E se essa fita não tiver nada?

O Canceroso dá as costas e sai. Skinner fica mais confuso do que está. Pega a fita nas mãos. Fecha os olhos.


Arquivos X – 8:52 A.M.

Mulder entra na sala. Senta-se em sua cadeira. Olha pro envelope pardo sobre a mesa. Pega-o. Está sem remetente. Mulder rasga-o, intrigado. Uma carteira de Morley Box e um bilhete caem sobre a mesa. Mulder pega o bilhete, onde está escrito: ‘Vai precisar disso’.


10:32 A.M.

Mulder digita um relatório.

MULDER (OFF): - Dreamland é um complexo militar que realiza experiências com seres alienígenas e naves extraterrestres. Estive no subterrâneo, às margens do lago Papoose, num lugar denominado como setor S-4. As naves alienígenas são guardadas ali. Haviam mais de dez naves alienígenas e outras fabricadas com o auxílio deles. Há uma equipe de 22 engenheiros contratados para estudar os sistemas de propulsão das naves.

Mulder respira fundo.

MULDER (OFF): - O setor S-4 é um subterrâneo que ocupa toda a área de uma cordilheira de montanhas. As naves não possuem juntas aparentes, nenhuma solda, parafusos ou rebites. Poderia se fazer um paralelo como algo feito com cera quente e submetido a um processo rápido de resfriamento. Minha parceira, a agente Scully, submeteu Michael Terrebonne e Phil Wilson a testes, onde detectou a presença de radioatividade desconhecida. Os objetos são máquinas aéreas criadas e manipuladas dentro dos chamados Black Programs, que fogem do conhecimento do Congresso. A verba é liberada pelo governo, mas o destino é desconhecido. O governo não questiona.

Mulder estala os dedos. Pensativo. Volta a digitar.

MULDER (OFF): - Assim como o caça Stealth, U-2, o SR-71 e o Aurora, eles são projetos secretos militares e realizam manobras a impressionantes velocidades e condições, levando muitas pessoas a acreditar que sejam discos voadores. O fato de ser uma base subterrânea os facilita em segurança contra satélites espiões.

Scully entra na sala. Mulder olha pra ela.

MULDER: - Por que não ficou descansando?

SCULLY: - Preciso trabalhar. Já fez seu relatório?

MULDER: - Estou fazendo o meu relatório agora. O relatório pro FBI eu já entreguei.

SCULLY: - ?

MULDER: - Não vi nada, Scully. Você viu alguma coisa por lá?

SCULLY: - Por que está mentindo descaradamente? Mulder, isso é ocultamento de informações!

MULDER: - Scully, deixa de ser ingênua. Acha que eles não estão nos usando pra alguma coisa? Acredita realmente que o governo desconheça as atividades da Área 51? Pode até desconhecer, mas não serei eu, um reles agente federal a falar isso!

SCULLY: - Acha que eles querem saber até que ponto nós sabemos da situação toda?

MULDER: - Bingo, Scully! Bingo!

SCULLY: - Acha que usariam isso contra nós?

MULDER: - Lembre-se do ‘não confie em ninguém’?

SCULLY: - ... Mulder, por que fariam isso?

MULDER: - Pra saber quando é a hora de cortar as verbas pros Arquivos X. Pode ter certeza que Dreamland terá verbas pra sempre.

SCULLY: - ... Vou fazer outro relatório.

MULDER: - Scully, faça o que quiser. Não interfiro no seu trabalho.

SCULLY: - Concordo com seu argumento, Mulder. Não pensei por esse ponto de vista. Me parece a justificativa mais plausível pra nos mandarem pra um complexo militar.

MULDER: - ...

SCULLY: - O que vimos ali dentro, ninguém acreditaria. Sabe Deus do que são capazes de fazer, Mulder. Acredito que não vimos nem a metade da sujeira toda.

MULDER: - (DESCONFIADO) Scully, o que ele disse pra você?

SCULLY: - Como assim?

MULDER: - Sobre o quê conversaram?

SCULLY: - Nada.

MULDER: - (IRRITADO) Scully, não minta pra mim! O que ele fez? Tentou te convencer a abraçar o jogo dele?

SCULLY: - (INCRÉDULA) Ora, Mulder, sabe que eu não faria isso!

MULDER: - Sei que faria qualquer coisa se ele te ameaçasse. Já vi você fazer.

SCULLY: - Mulder, não negociei com ele, se é isso o que quer saber. Já fui enganada uma vez. Não cairei de novo no jogo daquele homem.

MULDER: - ...

SCULLY: - Assistiu o noticiário da manhã?

MULDER: - Não tive tempo.

SCULLY: - Ida Fredman e James Stewart foram soltos. Deram depoimentos de que estavam mentindo, que não viram nada acontecer.

MULDER: - (INCRÉDULO) O quê?

Mulder levanta-se da cadeira.

MULDER: - Fizeram uma lavagem cerebral neles, Scully! Eles jamais mentiriam! Ida Fredman nunca faria isso!

SCULLY: - ... Ou algum dinheiro grande falou mais alto.

MULDER: - Não, não com Ida. Ela é uma conhecida ufóloga, uma profissional respeitada. Ela jamais mentiria por suborno. E Michael Terrebonne e Phil Willians?

SCULLY: - Frohike ainda não recebeu notícias e está preocupado com isso.

MULDER: - Será que os pegaram também?

SCULLY: - Acha que os matariam?

MULDER: - Agradeça à Deus se os matassem. Temo que aquelas pessoas todas são submetidas a lavagem cerebral para assumir suas funções. Que tipo de pessoa poderia ocultar segredos assim? Falo de pessoas comuns, Scully. Pessoas idôneas, de bom caráter, de boa índole.

SCULLY: - Ora, Mulder... Você vê conspiração em tudo também? Isso é ficção científica! Não se pode simplesmente retirar a memória de uma pessoa e implantar outra no lugar!


Aeroporto de McCarran - 5:16 A.M.

Phil e Michael, com crachás da Área 51 entram na sala de embarque. Fisionomia séria, parecem hipnotizados, como robôs. Caminham pela pista. A mesma mulher que falou com Mulder aproxima-se deles.

FUNCIONÁRIA: - Oi, são novos por aqui?

Os dois olham pra ela.

FUNCIONÁRIA: - Michael Terrebonne? Você não é jornalista?

Michael sorri.

MICHAEL: - Deve estar me confundindo. Sou auxiliar de serviços gerais na base.

Os dois entram no avião.


X


27/05/2000

5 de Agosto de 2019 às 14:01 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

Conheça o autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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