zephirat Andre Tornado

Depois da destruição aparece a criação. Do Nada se faz o Tudo e o Universo surge em toda a sua maravilha. A criatura renasce e descobre que o fim não significou a morte, que existiu um outro princípio num novo nascimento, mais completo e imortal.


Fanfiction Filmes Para maiores de 18 apenas. © Star Wars não me pertence. História escrita de fã para fã.

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Capítulo único


Tudo ficou aceso.


A extensão era impossível de definir e de quantificar, de perceber na sua real amplitude. Era até estranho conceber que haveria essa faculdade, no extremo da ambição, da loucura e da empáfia, de compreender a magnífica e incomensurável magnitude daquilo que se denominava de Universo. O conjunto de todas as coisas.


O tempo existia eterno e o espaço era ilimitado.


Onde estava o fim e onde tinha existido o início?


Ela era o Todo.


Podia rir e chorar ao mesmo tempo, ser e não ser.


A filosofia era estranha, porém ela compreendia o intervalo dos seus gestos enormes e da sua presença dividida por cada pedaço ínfimo de matéria. Ela conseguia efetivamente compreender. Esticar-se para sempre, tocar numa extremidade que se fundia numa outra que recomeçava o processo. Encolher-se até à anulação e viver acomodada num núcleo minúsculo que se subdividia em milhentos núcleos.


Ser grande e ser pequena. Abrir-se, fechar-se. Explodir, implodir.


Não era para ter sucedido dessa forma. Ela tinha conhecido o desaparecimento total, a destruição derradeira sem possibilidade de apelo para uma reconstrução posterior. Ela sentira-se a diluir, a dividir-se em nada, a separar-se, átomo por átomo, num limbo estéril onde ninguém estacionava e que ninguém conhecia, entre murmúrios soprados por criaturas mudas que apenas existiam nas bainhas das várias dimensões, invisíveis, mistificadas. Ela tinha morrido e tinha sido despedaçada pelas circunstâncias extraordinárias da sua essência especial e do seu destino.


De repente, reviveu transmutada em Universo.


Aquela fabulosa criação da luz.


Sim, luz.


Lembrou-se do brilho negro de quando existira, limitada dentro de um espaço, dentro de um tempo. Houvera um nascimento, um percurso de vida e depois uma escolha que a levara à morte. Houvera memórias, felizes e aziagas, próprias e impostas. Houvera amigos, inimigos, interesses, desígnios, honra, ambição, perdição, delírio, desilusão, paixão, tristezas, amarguras e esforço. Houvera o toque físico e a carícia espiritual.


Muita luz.


Espalhada daquela maneira, sem existência mas a existir, sem um corpo mas a sentir, era capaz de experimentar tudo com demasiada potência ou com uma atroz indiferença. Ora sofria com as dores globais, ora flutuava alheia aos pesos mundanos. Significava que, naquele estado, era finalmente e na completitude da noção, luz?


Um ente original. Único, sem que tivesse existido alguém antes, não existiria ninguém depois. O molde de onde brotara fora quebrado no momento em que ela emergiu, mulher adulta, fêmea completa. Quase… Porque não tinha sentimentos, nem conseguia perceber as emoções humanas no dia em que abriu os olhos ávidos para o mundo.


A luz persistia… Viajava na sua esteira, penetrando todos os cantos com a sua insinuante presença.


Criação da luz, ente original. Cleo. Era um nome, podia ser uma lembrança.


No entanto, ela desdenhou desse nome, dessa pessoa que um dia fora, há muito, muito tempo, numa galáxia muito, muito distante…


Se se detivesse no que antes tinha sido, se se concentrasse nessa mesquinha realidade que fora a sua quando era perecível e fraca, permeável a influências externas que enchiam-na de maleitas que nenhum remédio curava, porque eram doenças insidiosas que não podiam ser diagnosticadas, entregando-a à destruição que ela acabou por sofrer, não queria, verdadeiramente, voltar a sê-lo e esquecia esse nome, tão insignificante como o tempo que passara no mundo físico.


A Cleo fora efémera.


Ela, classificando-se à mesma como ela, era eterna.


O Todo. A espantosa manifestação dos mistérios globais.


Ela era chuva livre aguando os campos sequiosos, era pétalas de flores voando no ar quente, era a vibração dos risos apaixonados, era todas as lágrimas derramadas.


Já antes, quando era a mortal Cleo, tinha vivido uma experiência semelhante. A forma que o feiticeiro de Ekatha usara para lhe inculcar na mente vazia as memórias da guerra nas estrelas foi fazê-la protagonista dessa guerra. Ela lutara dos dois lados da contenda, ela tinha sido Sith e Jedi, tinha sido imperial e rebelde, tinha vivido no deserto e na floresta, tinha voado no espaço e tinha caminhado sobre a neve. Foi todos e não foi nenhum.


Agora, em todos os minutos, para além das horas e num nanossegundo exato, sentia-se igual. Sendo uma multidão e não sendo ninguém. Irónico.


Procurou por ele, curiosa, divertida, desinteressada, movida pela sua superioridade divina.


Procurou por ele escavando a eternidade, fechando uma hipotética mão sobre o relógio universal, esmagando as horas e os nanossegundos. Tinha de abdicar desse Todo que a alongava para além das fronteiras físicas para conseguir descobri-lo, concentrado num único ponto que enformava o espaço e o tempo. Ali e agora. Ser forte para não se distrair. Ser pequenina novamente. Ser… Cleo, a criação da luz, o ente original.


A Força guiou-a.


A luz e a energia, o vácuo dessa brancura abençoada, criaram o caminho que ela percorreu, o caminho que era ela própria.


E foi assim que o encontrou. Oh, felicidade!


Mas…Havia um mas… Ela derreteu-se em sofrimento.


Ele estava sozinho numa ilha, lastimoso e derrotado. O calor que o caracterizava, a frescura, as convicções, a esperança que se mantinha acesa quando o temporal convertia os dias em noites tenebrosas, era frágil naquele espírito alquebrado.


Não o quis ver assim, tentou afastar-se das suas penas e da imensa tristeza. Depois soltou o tempo, viu-se diante da magnífica vitória, deixou-se desvanecer nos brilhos cálidos que a envolviam. E ele estava lá, outra vez, sorrindo.


Tocou-lhe no rosto com as mãos puras moldadas em vento marítimo, regressando a ele quando vivia solitário naquela ilha verde e fria. Sussurrou-lhe as maravilhas do Todo. Ele confortava-se na Força, acenava mansamente com a cabeça de cabelos grisalhos desgrenhados.


A Força era ela.


Luke Skywalker… Luke Skywalker…


Se tivesse voz soprava-lhe o nome dele como um beijo, contudo ela conseguia cantar com o silêncio porque ela era o Todo.


Vais vencer e vais sorrir. Estou a ver-te, na glória da tua vitória.


Se pudesse falar contava-lhe sobre o futuro, contudo ela conseguia falar todas as palavras já inventadas e por inventar porque ela era o Todo.


Deixou-o. Nunca o abandonou. Foi com ele até ao fim.

20 de Julho de 2019 às 00:00 0 Denunciar Insira Seguir história
3
Fim

Conheça o autor

Andre Tornado Gosto de escrever, gosto de ler e com uma boa história viajo por mil mundos.

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