O verão chegava e, com ele, muito do que eu não gostava. Não era fã de calor, não gostava muito de praia ou de me bronzear ao sol. Acreditava que só iria conseguir um câncer de pele se ficasse horas e mais horas exposta a um sol escaldante para, depois, parecer-me com um bife à milanesa. Nada daquilo era para mim.
Mas, naquele ano, as coisas seriam diferentes. Thais, minha amiga empresária que tinha mais dinheiro do que podia gastar com suas despesas pessoais, decidiu nos levar em uma viagem de férias para Cancún. Por que ela escolheu aquela cidade, não sei. Por que decidiu que bancaria mais da metade do passeio apenas para nos hospedar em um hotel caríssimo, também não saberia explicar. Apenas entendi que estávamos convocadas, eu mais duas outras amigas, a passar vinte dias em um paraíso tropical em busca de perspectiva.
Talvez eu precisasse. Odiava minha vida, achava tudo muito chato e enfadonho. Não gostava da minha profissão, que escolhi em um momento de burrice na adolescência - porque ninguém deveria ser obrigado a escolher nada tão importante aos dezesseis anos, certamente fará besteira. Não estava satisfeita em meu emprego, acreditava que abusavam de mim pois me obrigavam a trabalhar muitas horas por um salário ruim. Não estava feliz nem mesmo com minha vida pessoal, que parecia uma desordem completa.
Então, era hora de buscar perspectiva. Iríamos eu, Thais, a nossa benfeitora, Ana e Paula. Ana era violoncelista e tocava profissionalmente. Como toda artista, um pouco louca e um pouco instável, mas criativa e deliciosa de se conviver. Paula era o bicho-grilo do grupo. A mais jovem e determinada a mudar o mundo com suas atitudes. Trabalhava para uma ONG de preservação ambiental, pensava sempre coletivamente, vivia como se realmente fosse fazer a diferença. Talvez eu a invejasse mais do que tudo, pois Paula agia conforme seus valores e tinha atitude. Eu era apenas uma marionete do sistema.
Quando embarcamos para Cancún naquele mês de julho, achei apenas que fosse passar muitas horas na praia, beber bastante e conhecer alguns carinhas para dar uns amassos no verão. Afinal, eu gostava de sexo e com desconhecidos era sempre uma aventura. Nada daquilo me daria perspectiva, mas eu poderia me divertir bastante.
Não dava para adivinhar o que aconteceria naquele verão. Eu não fazia a menor ideia do que encontraria quando chegasse ao México, nem do que se seguiria durante minha estada do outro lado do planeta. Quando suas verdades são todas colocadas a prova, você obrigatoriamente tem que enxergar o mundo de forma diferente.
Era daquilo que Thais estava falando.
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