nonna.ayanny Nonna Costa

Campo d'Ouro, Siará, Brasil, Século XIX. O Império Brasileiro se encontra em pleno vapor, tentando acompanhar o ritmo crescente das fábricas e das indústrias londrinas, bem como a aristocracia francesa e os fervilhantes mercados orientais. Nobres tropicais e novos ricos tentavam por todos os meios se inserir no cenário de destaque imperial e internacional. Ao mesmo tempo, a Coroa lidava com problemas internos que desafiavam as crenças no sobrenatural, lendas e mitos que ganham vida e ameaçam a prosperidade do império. Nesse meio, vive Lis Maya, filha do Barão de Zelson, cuja vida se encontra em constante conflito: por um lado, sofre as inseguranças da falência de seu pai, trabalhando de forma humilde para saldar com as dívidas; por outro, sofre com o amargor da rejeição de inúmeros partidos e com um amor não-correspondido de sua infância. Também nesse meio, reside e se destaca, por sua postura pouco sociável e reclusa e por sua aparência exótica, seja nas sombras por seu estilo implacável e a extensa lista de derrotados, o Marquês de Castelbrar, um florista cujas flores expressam o que seu coração não diz e, por um acaso do destino, tem sua realidade cruzada com uma flor-de-Lis. O Enredo, os Personagens e Todo o Resto me pertencem. Evite plágio. Além de ser crime, é um atestado de babaquice. Romance de Época que se passa no Brasil, se não gosta, não leia. Essa história não tem compromisso em ser verdadeira com a História do Brasil, apesar de que algumas figuras históricas que de fato existiram serão mencionadas. Realidade alternativa, se não gosta, não leia.


Fantasia Épico Para maiores de 18 apenas.

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Prólogo - As Flores Caem no Outono

-Lis Maya! - aquela voz ecoando pela sua janela sempre lhe fazia rir e correr feliz.

-Senhorita! - gritou sua governanta, tentando lhe alcançar, mas ela era a garota mais rápida da cidade, segundo seu próprio conceito, e ninguém lhe pegaria, nem mesmo os seus irmãos mais velhos se eles estivessem a cavalo. - Senhorita! - novamente ouviu a voz da Senhora Eleanor, mas agora estava distante demais para parecer uma repreensão.

Assim que pôs os pés do lado de fora da casa dos Zelson, Maya se deparou com seu único amigo, e vizinho, Henrique. Ele estava “armado” de um pequeno punhal, muito simples, o que significava que iriam brincar de bandeirantes desbravando o Brasil. Por mais que fossem bem arteiros para a pouca idade, os dois não aprontavam peripécias que pudessem colocá-los em encrencas grandes demais.

Naquela manhã, os dois iriam até as profundezas da Grande Floresta Verde para encontrar os mais perigosos animais do mundo, como onças e lobos assustadores. Na verdade, os dois apenas adentrariam ao jardim nos fundos da propriedade Zelson, dotado de muitas árvores e muitos arbustos, e enfrentariam os gatos e os cachorros das redondezas. Mas na mente de duas crianças como Lis e Henrique, qualquer pequena história se transforma num grandioso evento e eles são os heróis dela.

Os dois se conheciam porque os pais eram companheiros de negócios de longa data, apesar do Barão de Zelson trabalhar com a pesca e o Conde de Antonele com transportes de mercadorias, e era de costume das duas famílias se reunirem em eventos ou se visitarem mutuamente.

Por aquela época, as governantas das casas fuxicavam que provavelmente os senhores arranjariam a promessa de casamento entre Lis e Henrique. Afinal, eram muito bons amigos e sempre que se viam, buscavam estar juntos para brincar e conversar. Nada seria mais natural que as mães começassem a pensar que seria vantajoso unir não só as famílias, como os negócios através do matrimônio.

Por volta das onze horas, a dupla voltou de sua pequena aventura e que susto tomaram as governantas quando viram-nos tão sujos que seriam irreconhecíveis se não fossem os sorrisos largos.

-Virgem Santíssima! - a Sra. Eleanor já havia ordenado que o banho de sua protegida fosse preparado. - Ainda bem que mandei ajeitar cedo a banheira, menina. - ela pegou-lhe pela orelha e a arrastou para o andar de cima.

-Ai! - Lis gemeu de dor e mostrou a língua para Henrique quando este começou a rir de seu sofrimento. - Está me machucando! Vai arrancar a minha orelha, Sra. Eleanor! - ela alertou.

-E seria bem merecido. Oras. - as duas chegaram ao banheiro e logo a menina estava despida de suas vestes. - Como conseguiu? Seu vestido rosa ficou marrom por completo. Seus cabelos estão duros como palha e sua cara parece a de um esmoleu. Menina arteira. - colocou-a na água quente e fez sinal para que as empregadas a esfregassem.

Mesmo com os resmungos de dor, por causa da força que elas usam para a escova por sua pele, Lis tomou seu banho e logo estava pronta para o almoço. Estava um tanto ansiosa pelo momento seguinte à refeição porque teria sua aula de piano. Desde bebê, Lis ouvia sua mãe dedilhar no piano como se tecesse as músicas para si e ela tomou gosto de ouvir.

Agora, com a saúde da Baronesa um tanto frágil, era sua vez de embalar sua mãe com as notas bem harmonizadas. Se esforçava todos os dias, praticando diariamente, para tocar boas músicas e assim deixá-la de bom humor, pois ouvira o médico dizer que quanto mais feliz sua mãe estivesse, mais saudável e forte ela ficaria. Mas apesar de ser o motivo principal, ajudar na melhora da saúde de sua mãe não era o único motivo pelo qual tocava.

Sempre que Henrique vinha lhe ver, desde que começou a tocar bem o piano, ele se impressionava e passava todo o tempo de sua prática sentado num banco perto da janela, apenas lhe assistindo com muita admiração e encanto, o que provocava uma comoção forte no âmago da menina.

Ela já contava com 13 anos, era bem letrada, conhecia um pouco das línguas modernas e das antigas, lia bem e tinha boa caligrafia. Não era muito boa com a agulha e nem com os bordados, mas se esforçava para ao menos realizar os trabalhos mais básicos, como os de remendar e de ajustar. Gostava da cozinha e todos diziam que além de herdar o dom da mãe para a música, herdara para os sabores.

Já considerada uma “mocinha” e sentindo seu coração sempre palpitar mais forte quando Henrique lhe sorria, Lis perguntou à sua mãe o que significava aquele sentimento e ela lhe disse que “o gostar de irmã se transformou no gostar de mulher”.

Havia dois anos que sentia seu coração assim, então naquele dia, Lis decidiu que se declararia para o seu amigo lhe entregando uma carta.

-E para quem é este escrito com a letra tão caprichada? - a Sra. Eleanor notou a menina muito concentrada em passar a limpo o rascunho que fizera com o lápis num papel amassado. Lis Maya ergueu o olhar e sorriu, corando sutilmente.

-É para Henrique. - confessou e viu a mulher se alegrar imensamente. Nem seria necessário que as mães fizessem coisa alguma, pois o amor nascera por si só nos corações juvenis. - Eu gosto dele.

-Oh, minha querida, pois será muito afortunada com tua escolha. Henrique é tão bom rapaz e vai muito em breve construir carreira pelo Exército. - ela explicou ao se sentar ao lado da jovem para revisar as palavras. Tão bem escritas. Demonstravam todo o esmero que a menina sente por ele. - Vai ser um ótimo marido para ti, meu bem.

-Obrigada. Me ajuda quando chegar a hora? Tenho medo de perder a coragem. - a mulher assentiu e Maya continuou escrevendo até o momento em que a criada veio chamar para almoçar.

A refeição se passou bem e Lis se sentia cada vez mais nervosa e motivada a se declarar. Henrique era como um anjo: olhos claros, cabelos com brilho dourado, ainda que escuros, já tão moço, com 15 anos, demonstrava que teria o corpo de um homem galante e bonito quando ficasse um pouco mais velho. Além de tudo, era alegre, simpático, gentil e muito educado, ainda que fosse um tanto teimoso e bobo às vezes.

Pensar nessas coisas só deixava a menina mais apaixonada e mais ansiosa pelo momento em que entregaria a carta. Por sorte, porém, enquanto tocava ao piano, sentiu aquele nervosismo passar e dar lugar à concentração e à sua paixão pela música. Quando terminou sua aula e recebeu as novas partituras para praticar, Lis Maya percebeu que Henrique não esteve na sala, como geralmente ficava.

Procurou-o pela casa para lhe entregar a carta antes que partisse e um criado a informou que o jovem estava do lado de fora, conversando com alguns amigos que vieram lhe visitar enquanto estava ali. Ela agradeceu, arrumou seu vestido para não parecer afobada, e foi até o hall, esperar pelo momento que Henrique entraria. Ficou vigiando-o pela fresta da cortina, se perguntando que conversas os homens teriam que sempre causam risos altos, então acabou por ter uma ideia muito arriscada.

Subiu ao andar de cima. Havia uma marquise, onde os jovens ficavam, e dali poderia ouvir a conversa. Fechou a porta para que ninguém visse o que faria e atravessou a janela, tomando cuidado com o seu vestido. Sempre fora um pouco mais “desajuizada” que Henrique, assim dissera a Sra. Eleanor, mas Lis Maya era uma aventureira de berço e somente por causa das regras sociais que não partia com seu pai para conhecer o mundo. Assim que se viu sobre a marquise, deitou-se ali para ouvir.

-Então, Seixas, - era assim que os outros rapazes chamavam Henrique. - Logo chega a idade de casar e você vai ter que escolher sua esposa. - o rapaz esfregou os cabelos por baixo de sua boina e suspirou. - Que tipo de garota você gosta?

-Que eu gosto? - Lis Maya ficou mais atenta àquela parte, sentindo que ouviria seu nome a qualquer momento. Não sabia se estava preparada para ouvir uma declaração assim, mas tentaria não denunciar sua presença bisbilhoteira.

-Sim. Que tipo de mulher imagina para ter como esposa? Eu prefiro as bem fartas. - os rapazes riram em concordância. - Com bastante carnes macias para as minhas mãos e sem tanta instrução. - acrescentou. - É um problema uma mulher mais inteligente que o marido. Nunca dá certo.

Os outros concordaram.

-Eu gosto… - Henrique pensou um pouco e Lis Maya sentiu seu coração acelerar. - De moças mais recatadas e pudicas. - ela franziu o cenho. - Mais delicadas e mais maternas. Que sejam mais caseiras, sem tanta ousadia. É como imagino minha esposa.

-E aquela tua amiga? A filha do Barão de Zelson. - um rapaz bem magro e usando óculos questionou. - Para todo lado vai com ela. Pensei que já fosse casar com Lis Maya. - sugeriu em tom de zombaria, o que fez a jovem se sentar na marquise e franzir o cenho, preocupada.

-Lis Maya? É só uma amiga. No máximo, uma irmã para mim. Nunca tive intenções amorosas para com ela. Somos bons amigos como dois homens. - admitiu em tom de franqueza. - Apesar de ter muita afeição por ela, não sinto atração alguma.

Ela não ouviu mais. Saiu dali com cuidado, desceu para a cozinha, pegou um pedaço de pão e saiu da casa pelos fundos. Precisava pensar e sempre que os pensamentos queriam bagunçar sua cabeça, ela caminhava por horas pelas terras de seu pai. Sua mãe a viu saindo e notou o olhar entristecido da menina, em seu coração soube o que se passou, mas nunca pôde dizer nada, pois não houve tempo. Quando Lis voltou, soube que sua mãe falecera.

Foram duas tristezas que fariam o coração de qualquer jovem se abater e perecer, mas ela buscou conforto na música e nos livros. A carta foi enterrada e Lis jurou que nunca diria nada sobre seus sentimentos para não estragar sua amizade. Nos livros, sonhava com a vida que não teria. Na música, buscava os conselhos de sua mãe para superar a tristeza e a solidão que se instalou em seu coração.

Com a morte de sua mãe, que mantinha toda a ordem e a harmonia em sua casa, seus irmãos exigiram suas partes da herança e partiram para a América do Norte tão logo receberam-nas: queriam viver os prazeres da vida ao invés de respeitarem o devido tempo pelo perda da mãe.

Seu pai adoeceu de tristeza a tal ponto de que não se importou entregar tudo o que eles pediam e continuar entregando ao longo dos anos. Parece que a morte levou muito mais que sua mãe, mas toda a felicidade e a paz de seu lar. Lis Maya via seu mundo de aventuras e suas perspectivas pessoais desaparecerem junto de sua meninez.

-Quem sabe tudo não se resolve quando o Sr. Seixas lhe fizer uma proposta, meu bem. - a Sra. Eleanor sugeriu quando as duas estavam no escritório do Barão. Lis Maya procurava por um livro para se distrair em mais um dia de apatia.

-Henrique nunca me fará uma proposta, Sra. Eleanor. - ela respondeu ao escolher uma história de ação e de aventura. “O Conde de Monte Cristo”, de Alexandre Dumas. Era a terceira vez que o leria. - Nenhum homem me fará proposta alguma.

-Por que diz isso, Lis Maya? - a mulher esperou por um semblante banho em lágrimas, mas se deparou com um semblante abatido pelo luto e pela decepção. - O que aconteceu?

-Não é nada, Sra. Eleanor. Tenho tantas coisas a me preocupar. - comentou e observou os papéis sobre a mesa de seu pai. Era os cálculos das dívidas que seu pai estava acumulando. Suspirou e saiu do escritório em silêncio e cabisbaixa. - Com 18 anos, com tantos problemas a resolver e com a minha aparência… - ela desistiu da leitura ao ver a cozinha para limpar e o almoço para preparar. - Não tenho tempo para pensar em casamentos.

Eleanor baixou o olhar quando percebeu a jovem vestir o avental e arregaçar as mangas para começar a varrer e a preparar a refeição. O que seria de sua protegida com as coisas se encaminhando para a ruína daquele jeito? A mulher seguiu para a sala, onde estava a pintura da finada Baronesa, e suspirou ao trocar as flores murchas por novas.

-Senhora… - suspirou ao observar as pétalas das Astromélias dentro do vaso branco. Comprava aquelas por indicação do florista, que dissera que significam saudade. Sentia saudade da patroa. - Oh, senhora, o que será de Lis Maya?

9 de Março de 2019 às 01:27 1 Denunciar Insira Seguir história
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Leia o próximo capítulo Cap.1 - A Peixeira da Rua 15 de Abril

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Olá, eu sou a MRz do Sistema de Verificação do Inkspired. :) Você escreve muito bem e sua história foi verificada, porém no título do capítulo 6 existe um errinho bem pequeno. No caso, o "por que?" teria que ser acentuado, pois é uma interrogativa com o "porquê" ao final da frase. Como eu disse é um erro muito pequeno. No mais, a história está ótima, parabéns!
April 29, 2019, 22:39
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