auraetheral aura etheral

Determinado a provar sua capacidade para a comunidade cientifica, Yoongi, um gênio da tecnologia, cria um Android perfeito. Porém, as coisas ficam do avesso quando ele se apaixona por sua criação e percebe um calor diferente irradiando do corpo de Namjoon.


Fanfiction Bandas/Cantores Impróprio para crianças menores de 13 anos.

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Capítulo único

Calor é energia relacionada a temperatura. Este se move de um corpo ao outro através de transmissão conduzida, convencionada ou irradiada. O ser humano tem em média trinta e seis vírgula cinco graus celsius em seu interior, variando de acordo com o ambiente ou com invasores que podem deixa-lo febril ou hipotérmico.


Relembrar mentalmente o básico de física não torna a situação melhor. A figura a minha frente me encarando apresenta quarenta graus celsius de temperatura corporal, o que a levaria para um hospital se fosse feita de carne e osso. Porém, não é o caso.

As grossas ligas de prata com cobre são a base esquelética. São preenchidas por filamentos de alumínio e revestido por estes, encapados com conduites de borracha elástica que seguem para os dois núcleos de prata, um no meio do tórax e outro na cabeça, dividindo as funções. Pequenas placas finas e quadrangulares de vidro, com leitores de código em ouro e agrupadas ao redor da esfera de energia que dão vida ao androide, armazenam as informações obtidas e aprendidas. O plasma translúcido ocupa os espaços vazios e é contido pelas fibras de carbono que moldam o corpo. São cobertas por silicone e tintura de mesma base, que a tornou uma camada lisa e macia, boa de tocar e continuar para sempre com o ato.

Assim, de forma simples, porém técnica, descrevo Namjoon. A inteligência artificial em corpo humanoide. Minha bela e mais perfeita criação que me estuda com seus olhos de vidro e silicone, as pupilas metálicas crescendo e diminuindo, e as íris do mais belo tom de castanho escuro que encontrei para tingi-las com minhas próprias mãos.

Enquanto devolvo o olhar, a tela do monitor ao nosso lado pisca em vermelho indicando aumento gradativo de temperatura no mais alto. Mas não sei o que fazer, ele parece bem. O diagnóstico sistêmico não apresentou erros. O calor emanando de seu peito não o está causando danos. Não há sobrecarga. Eu só não sei o que é.

Namjoon nunca demostrou erro grave algum, fora falhas padrões e a destruição que já causou por não ter noção de seu peso e força mais densos que de um humano a princípio, ele é realmente perfeito.

Quem cometeu um grave erro, foi eu.

Depois de tanto ser subestimado, lutar pelo que acredito, ultrapassar meus próprios limites; passar noites em claro desenhando cada detalhe, conexão, material necessário, imaginando como devia ser cada movimento mínimo e o que facilitaria para que se sentisse bem consigo; me estressar com os “não”, com os que me abandonaram, com a falta de dinheiro para continuar, situações fora do planejado, atrasando o projeto, e cada gota de sangue, suor e lágrimas que derramei nestes seis anos se desfizeram a primeira reação de Namjoon ao acordar para o mundo.

Passei por tantos percalços que os pormenores ao monta-lo eram prazerosos. Os dedos encaixados nas articulações pastosas e fiadas, os fios escuros de seu cabelo postos um a um, as rosadas unhas de gel siliconado, cada pedacinho de pele falsa ganhando cor acastanhada, byte por byte delicadamente formando seu cérebro vasto e curioso por conhecimento. Tudo feito com amor excessivo da minha parte. E, ao abrir os grandes olhos indiferentes, não contive a emoção de finalmente tê-lo comigo, então segurei suas mãos macias e o admirei choroso, dizendo que ele é o ser mais perfeito e precioso que já pus meus olhos sobre. Sem ter feito uma análise heurística ainda mais profundada e sem me preparar para qualquer coisa que pudesse dar errado.

Um grande erro.

Apesar de que, durante todo o processo, eu já o amava. Por ser o resultado extremamente positivo de algo fadado ao fracasso, por ser a criação que me exigiu dedicação de duzentos por cento. Ensina-lo e observa-lo somente contribuíram para que eu notasse meus sentimentos latentes meses atrás.

Estou apaixonado pelo que criei.

Amo minhas criações. São únicas e valiosas, mas não me arrancam sensações estranhas como Namjoon. Ele não é apenas algo revolucionário, ele é real. Coloquei qualidades simplórias nele, entretanto, poucas se destacam e gentileza é uma delas.

O moreno sorri para todos que vê, expondo seus dentes brancos de carbono, compondo o lindo sorriso que eu nem acredito as vezes que foi eu quem o fez. As covinhas não intencionais que se formam nas bochechas por causa do vácuo do plasma que se move com o deslocar das fibras sob o silicone, dão um charme bem fofo e hipnotizante. Sorrio atoa com os olhos que quase se fecham pelo excesso do mesmo plasma que abandona as bochechas temporariamente. E, é claro, as pintas. São o detalhe mais natural que quis passar do mais alto. Embaixo dos lábios – que fiz questão que fossem carnudos –, nas bochechas – de alguma forma, elas me atraem bastante –, uma na pálpebra direita e outra perto da mesma, uma no nariz e a do pescoço, que chama muito minha atenção. Às vezes me arrependo de tê-la colocado ali, mas em outros momentos agradeço.

A intensão não era fazer Namjoon ser bonito e desejável. Entreti-me demais durante o design que acabou saindo algo fora do normal de tão belo que ficou. Suas proporções corporais e personalidade são surreais. É como um sonho em que se espera muito e quando se realiza, excede a expectativa.

Namjoon está além da imaginação de qualquer um.

É respeitoso e responsável, autodidata e determinado. Prestativo e cuidadoso, desde que conseguiu controlar sua força. Admito que gosto quando ele me surpreende de com um abraço e o silicone acaricia a minha pele como uma massagem suave. Quando corre atrás de mim animado, querendo mostrar o que aprendeu ou aprimorou. Em dias de chuva, gosta de deitar a cabeça em meu colo, de frente para a janela, e observar as gotas caindo em silêncio. Seus orbes aumentam como se analisassem algo que eu não posso ver como ele. Um dia, o perguntei despretensiosamente se gostava da chuva e ele me respondeu, sem hesitação, que sim, gosta da chuva. Agora, eu vejo que devia ter dado mais atenção a isto.

Como Namjoon pode saber o que é gostar? Ele não tem sentimentos, sequer uma alma. Impossível imaginar tal sensação. Os próprios humanos não a entendem e nem sabem descrever ao certo, porque só as sentem. Alguém criado em laboratório não poderia entender. Será que leu em algum livro?

— Yoongi — a voz grossa e firme, porém calma, me chamou. Especificamente um barítono que eu mesmo programei com o auxílio de meu fiel companheiro, o piano. Tive de suspirar, seu pronunciar sempre abaixa no início e sobe no final, gerando a onda que amei ouvir pelas teclas. — Está quieto demais — acrescentou e continuei perdidos em meio às suas notas vocais.

Pigarreei, direcionando-me ao monitor. Estagnou em quarenta e dois graus. Pelo menos isto.

— Eu me sinto bem, não se preocupe — assegurou.

Encarei-o novamente, agora, ligeiramente assustado. Ele “sente”? Está mesmo usando tal palavra para descrever seu estado?

— Sente-se bem? — perguntei, para confirmar que não escutei errado.

— Sim — assentiu, sorrindo de lado e piscando, lubrificando os globos oculares com o plasma.

Ah, covinha a vista. Maldita seja, numa hora dessas.

— Namjoon, — engoli em seco, tentando ignorar cada detalhe em seu rosto que pudesse me distrair — você sabe o que é sentir?

— Não — negou com a cabeça. Os olhos escuros me perfurando ainda mais.

Fiquei aliviado. Se não sabe, apenas usou a palavra por tê-la visto em algum lugar. Da mesma forma que eu, aos poucos, fui adicionando fios metálicos quase microscópicos entre o silicone externo para que o moreno tivesse conhecimento do que é o tato, ele pode ter encontrado um jeito, através da leitura, de se aproximar dos sentimentos. É normal, qualquer pessoa faz o mesmo para experimentar algo que não pode alcançar.

— Como eu poderia saber algo indescritível? — continuou. — Yoongi sabe descrever o que é?

— Bom, eu não sei — me perdi um pouco. — Vai de cada um, mas não acho que para sensações existam palavras certas que as definam com precisão.

— Sim, também penso assim — ele abriu mais os olhos e se lançou para a frente, sorrindo reluzente. — Eu só deixo as descargas elétricas fluírem. Não consigo explicar, só sinto e é bom.

Está longe de ser bom. É péssimo. Apresentar a Academia de Ciências uma “máquina” que tem sentimentos, arruinará todo o meu trabalho árduo.

Obviamente que imaginei eles o tomando de mim só pelo fato de se parecer exatamente com um homem adulto que passou por todos os estágios de crescimentos desde um ventre materno, mas se souberem que existe algo imaterial em seu interior, o tornando mais humano ainda, piora e muito a situação.

Alcancei o inesperado. É como um milagre. Não, é um milagre. E me orgulho disso. Eu poderia chorar. Não, já estou chorando. Meu milagre está secando minhas lágrimas com seus polegares aveludados e as írises preocupadas. Puxou-me para um abraço, por mais que os fios colados em seu peito nu e têmporas pudessem atrapalhar. Estava quente, muito quente. Algo parecia pulsar, mas era só o som do descocar da energia por seu corpo.

— Está tudo bem — me tranquilizou. — Sinta tudo que está em seu coração, extravase o quanto quiser. Sei como é não demostrar para não ser enxergado como estranho e fraco.

Seu carinho me confortou, entretanto, suas palavras me afastaram abruptamente. A quanto tempo ele tem “sentido” e escondeu de todos? De mim?

O calor é, então, sobrecarga emocional? Céus, o que ele fez? Isto não faz bem nem a um humano que já carrega consigo emoções desde o nascimento, que dirá um corpo construído em laboratório que nem devia ter sentimentos.

Agarrei suas mãos firmes. O mais alto não entendeu minhas ações. Fitei suas pupilas metálicas inquietas, sem piscar.

— Nunca mais esconda nada de mim. Me prometa — esperei sua resposta positiva, mas esta não veio.

— Eu fiquei com medo, Yoongi — desviou do contato visual, remexendo as esferas de um lado para o outro, totalmente incerto. Tão humano. — E se você também não entendesse? O que seria de mim? Não queria ser rejeitado por quem amo.

“Amo”. Dizer algo assim tão livremente. O que responder? Ele disse que me ama. Com certeza não é do modo como eu o amo, mas é recíproco de alguma forma. O sentimento de afeição é mútuo. Chorei novamente. Namjoon é o melhor que a vida poderia me dar. Nada que tenho e tive ou passou durante minha trajetória foi tão significativo quanto ele é.

Meu doce e inocente Namjoon.

— Quando percebeu que me ama? — indaguei, secando minha face com uma mão e afagando seus fios de carbono escuros com a outra.

— Desde que nasci? — voltou a me mirar, entortando o crânio metálico de leve. — Yoongi tem uma aura brilhante sobre si, como néon. Eu já tentei estuda-la, mas é impossível. Não tem como pegar — esticou o braço além de mim, tentando alcançar. Porém, o depositou em meu ombro. — Li em um livro que “pessoas” tem aura e são tipo a energia que tenho aqui — apontou para o próprio peito. — Mas pessoas são quentes por causa dela — subiu a mão, alisando meu pescoço. Prendi a respiração com seu toque levemente morno. — Eu não a tenho. Só humanos têm, mas a sua é diferente da de qualquer outro. Então, Yoongi é especial. E se uma pessoa especial me criou e cuida de mim com tanto amor, é difícil não transbordar e afetar alguém.

Fiquei atônito processando tudo que estava dizendo. O meu amor foi transmitido ao ponto de ele conseguir amar? E me amar?

Eu acredito que cozinhar com amor dá um sabor diferente a comida, mas não imaginava que poderia ocorrer o mesmo na ciência. É inacreditável, contudo, real.

Ajeitei-me na cadeira, tirei os fios nele e envolvi sua mão ainda em meu pescoço.

— Namjoon, lembra-se de quando te falei que conheceria pessoas como eu, do ramo científico, em setembro? — umedeci meus lábios e ele pareceu prestar atenção ao movimento.

— Sim — retornou aos meus olhos. — Eles irão me estudar porque sou “único”.

— Não irão mais — garanti. O moreno não entendeu. — Seu aniversário de um ano é em setembro, não pode passa-lo trancado num laboratório. Vamos viajar, que tal? Onde quer ir? Tem algo em mente? Nunca saiu daqui, com certeza quer conhecer algum país.

— Yoongi, não podemos. Já está marcado a meses. Está muito em cima para adiar — acompanhou com as írises meu balançar de cabeça.

— Está muito em cima para planejarmos a viagem, isto sim. Três semanas é pouquíssimo. Eu devia ter tido mais tato e negado a apresentação na semana do seu aniversário.

— Eu não me importo — sua feição ficou branda.

— Mas eu me importo. Não se preocupe, resolverei tudo — apertei suas mãos, sorrindo gentil e me levantando. — Escolha para onde vamos. Voltarei logo.

Atravessei a porta automática e suspirei quando fechou. Ninguém tocará em nele com suas mãos sujas de ambição científica. Ninguém além das outras cinco pessoas envolvidas no projeto sabe que deu certo. O protegerei com tudo que tenho.

Passei pelo outro compartimento do laboratório e o corredor, rumando para o elevador. Desci para o andar dos escritórios, fui até minha secretária.

— Ligue para a Academia e os informe que meu projeto não deu certo — fui enfático.

— Hã... Mas, senhor... — ela também sabe que deu certo.

— Faça, agora — ordenei. — E devido a tanto esforço e tempo perdido, eu decidi tirar férias sem previsão de retorno para esfriar a cabeça.

— Sim, senhor — assentiu.

— Diga o mesmo para os acionistas. Eu cuido dos meus colegas.

— Sim, senhor — concordou novamente.

Dei-lhe as costas e entrei na sala. Sentei na cadeira estofada e cocei os olhos. Meus companheiros estranharão e odiarão a ideia.

Min Yoongi, o renomado cientista tecnológico desistindo de um desafio que ele mesmo criou.

O que um ser humano sensível não faz por amor?

25 de Fevereiro de 2019 às 22:17 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

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