“Tell me how you feel about me
Do you like or like-like me
Tell me what you really feel
Do you like me
Just say you do”
Saudades.
Era ela agora que o fazia encolher debaixo das folhas que foram improvisadas como abrigo. Era a saudade que o fazia notar que sentia-se frio, talvez fosse a chuva que lhe molhava as vezes, talvez fosse a ausência daquela companhia que mesmo quando calado, era perceptível ao seu lado. Era isso que o fazia se agarrar ao colete, mantendo os dedos aquecidos.
Faltava pouco, obrigava seu cérebro a focar nessa parte. A missão já havia chegado ao seu fim, e tão logo ele e os demais ninjas regressariam ao lar, à Vila. Era a sua vontade de ir logo que os colocou naquela ‘enrascada’ sem um abrigo decente por perto, quando era claro que choveria. Ele queria chegar em casa, ele queria ouvir o som do mastigar que para muitos era tão irritante, para ele era como se sentir exatamente onde deveria estar.
Já havia ponderado, na verdade ainda vagava por um ou outro ponto em sua mente, buscando o momento exato que aconteceu. Não, nada ainda havia acontecido, não de forma explícita e que envolveria mais que um Shikamaru apenas se perguntava ali, em meio à chuva e naquele abrigo precário, como havia se encantado. Fora quando caíram no riacho na pegadinha de Ino e tiveram que ir se trocar, chegando a encarar o amigo? Não, para encarar já devia tá acontecendo a mais tempo. Não?
Havia começado de forma tão sutil, que ele não saberia delimitar onde a amizade havia virado amor. E estava adquirindo coragem para dizer isso à Chouji, se a senhora Tsunade não o tivesse chamado para aquela missão. Recordava ainda do dia que havia partido para a missão, a forma como Chouji parecia abatido, comendo um pacote de batatas sabor churrasco, suas preferidas. A voz que vez em quando ecoava em sua mente:
“Ninguém vai me querer assim, gordo?”
Por que se apegar tanto àquilo? E Shikamaru já havia alertado Ino para que parasse com as piadas sobre o peso, ou as implicâncias descabidas! Só porque ela havia metido naquela cabeça que deveria ser magra, não deveria invejar Chouji por comer o quê e quando sentisse vontade!
“Esquece isso, peso não é nada!”
“É, mas a Ino estava falando que se ela não ficar magra, não será suficiente para-”
“Para! Você é suficiente, Chouji!”
E bem, para a infelicidade dele havia parado o assunto ali, com o chamado da Hokage, para que se encontrasse com ela em sua sala. Se a reunião não fosse tão urgente, o Nara teria concluído que Chouji era suficiente para ele, muito mais que isso. E ali no frio ele estava começando a achar que talvez ele que não fosse merecedor de alguém como Chouji. Ele era um amigo de verdade, daqueles que está ao seu lado à qualquer tempo. Claro, nunca te deixa ficar com a última batatinha do pacote, mas quem não tinha defeitos, não é?
— Shikamaru, vamos? — a voz do companheiro de equipe o tirou de seu devaneio.
Talvez fosse a emoção tomando conta do momento, a adrenalina tomando-lhe o corpo conforme se aproximava dos contornos de Konoha, vista já ao longe. E a cada passo dado naquela direção, sentia o coração espancar-se contra o peito. Era necessário muito mais controle do chakra para continuar a saltar de galho em galho, para que não empregasse força demais e acabasse caindo, ou acabasse tomando uma dianteira quanto aos outros, tamanha sua ansiedade em ir a certo lugar.
O relatório fora passado sem grandes delongas, sucinto como de praxe, Nara narrou o que era essencial. Não era de se demorar em explicações desmedidas e desnecessárias ao relatório, tampouco era o cara que contava histórias dos melhores ou piores momentos. Com isso a Hokage estava mais que acostumada. Ele tinha sim, muito a dizer, mas em momentos específicos.
Quando fora dispensado, não correu para casa. Seguiu para onde - pelo horário - deveria achar Chouji. Comendo churrasco. Fora surpreendente não tê-lo achado lá? Muito! Mas não havia desistido de encontrá-lo, talvez aquela fosse uma tentativa de fazer dieta, talvez Ino o tivesse importunado de novo, mesmo que indiretamente, como quando fazia ao comentar que admirava o tipo físico do Sai, ou qualquer outro cara.
— Achei! — Shikamaru mal se conteve ao vê-lo onde a mãe dele havia informado que estaria.
— Shikamaru, me assustou! Achou o quê?
— Você!
— Mas eu não estava escondido. — Chouji estava perdido. Não literalmente, mas com tudo o que Shikamaru estava dizendo enquanto se aproximava quase sorrateiro demais, fazendo-o notar algo de diferente. — O que aconteceu?
— Procurei você na churrascaria, e não achei. — Shikamaru parou, a distância não era muita entre eles. Não que naquele terreno alguém fosse de fato vê-los. Não com as rochas que cobriam boa parte. — Não está fazendo dieta, está?
— Shikamaru, veio aqui pra saber se estou fazendo dieta? Você não estava em missão? Pelo o que posso ver, mal chegou e veio aqui só perguntar de dieta? — os olhos deixavam sua confusão clara, assim como as maçãs que adquiriam um tom mais escarlate.
— Não. Vim para te falar algo que eu já deveria ter falado… — a pausa era quase dramática, enquanto aproximava-se mais um passo. Olhava-o como a quem olha algo precioso, e era. E quando levou a destra a acariciar-lhe a bochecha, fora tão involuntário quanto o sorriso que agora desenhava seus lábios. — Não tente mudar, eu gosto de você exatamente assim. E você é incrível desse jeito.
— Gosta…?
— Gosto-gosto. — Como responder que não daquela forma?
Que não selando os lábios aos dele da forma mais 'casta' que a atitude permitia?! A carícia suave que irradiava da bochecha esquerda à nuca de Chouji, enquanto os lábios ainda mantinham-se pressionados.
— Ah, esse gostar. — Havia vergonha, não pelo ato em si, mas uma vergonha de quem sente o mesmo e temia deixar claro.
Por fim Shikamaru notou que Chouji queria saber se no fundo ele o achava suficiente. Era sim.
Obrigado pela leitura!