Erik praguejou ao ver através do vidro da janela pequenos flocos de neve. Baseando-se em seus conhecimentos adquiridos pela experiência em passar a estação inteira detestando o inverno, sabia que uma tempestade de neve poderia começar ainda naquela noite. Péssimo dia para substituir a última aula de um professor faltoso no departamento de química da universidade onde lecionava, mas seu orgulho lhe impedia de se justificar para ir embora e deixar a promessa – embora não houvesse prometido – para trás. Se não houvesse se envolvido nisso, poderia ir embora naquele momento.
Após 3 horas ministrando química analítica prática para alunos que demonstravam em suas feições estarem tão exaustos do dia quanto o professor, liberou a turma, quase saindo antes que a própria. No corredor, fingiu não ouvir o chamado de um estudante com uma grande sede de conhecimento inadequada para o momento, apressando o passo. Vestiu o sobretudo e foi embora, deixando para trás um aluno frustrado.
Enfrentou a neve que caía, embora ainda não fosse uma tempestade. Talvez o ódio atrelado à carranca fosse sua melhor proteção, afinal de contas. Antes de entrar em casa, precisou tirar o excesso de neve que se acumulou em tão pouco tempo frente à porta. Proferiu todos os palavrões existentes na língua alemã enquanto pendurava o sobretudo pesado no suporte colocado à parede assim que se adentrava, virando-se no instante seguinte e sendo surpreendido por uma caneca fumegante de glühwein. Assim que a segurou, Charles pegou sua outra mão, guiando-lhe para a sala, onde a mesinha de centro abarrotada por provas e relatórios esperava a ambos. Sentaram-se no tapete, Charles retomando ao trabalho e Erik apenas começando.
Há três anos, o inverno era assim. Gühwein e montanhas de provas e relatórios para corrigir e se livrar dos alunos o mais rápido possível para as férias. E, claro, a companhia de Charles. Geralmente, no dia das entregas, havia algum relatório de química trocado com uma prova de psicologia. O preço que pagavam por misturarem seus trabalho, mas que não se comparava ao modo como a situação era aproveitada por ambos. Vez ou outra, uma pausa era feita e podiam simplesmente esperar cada minuto passar ao que dedos se tocavam sobre o tapete.
Neve, roupas pesadas e bebidas quentes nunca compactuaram uma estação agradável para Erik. Há algum tempo, poderia dizer que o inverno bem que não devia existir, mas, de alguma forma, aprendeu a gostar dele. Aprendeu, também, que o calor emanado por duas mãos ao mínimo contato era mais eficaz do que qualquer sobretudo.
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Gühwein é vinho quente alemao porque o Charles é um nenê que faz esse tipo de coisa.
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