lara-one Lara One

Mulder e Scully investigam o aparecimento de um ET na garagem de um desafortunado cidadão chamado Al Bundy. A encrenca está feita. Mas será que o alienígena é de origem extraterrestre? Brigas, silicone barato, ‘sapatos’, besteiras, idiotices e confusão. Crossover com Married with Children (Um amor de família).


Fanfiction Seriados/Doramas/Novelas Para maiores de 18 apenas.

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S02#10 - THE THING


INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Fade in.

Residência dos Bundy – 6:21 A.M.

Al Bundy tira o carro da garagem. Sai do carro. Puxa a porta da garagem. A porta tranca. Bundy se pendura tentando puxar a porta para fechá-la. Nada. Bundy coça a cabeça, olhando pra porta. Pendura-se novamente, fazendo mais esforço, mas a porta não desce. Bundy desiste e entra no carro.

[Som: Theme of Movie Hellraiser]

Bundy liga o carro. Então percebe que no fundo da garagem há um ser translúcido, agachado atrás de um tonel. Bundy começa a rir. Desce do carro.

AL BUNDY: - Peggy, dessa vez você exagerou no bronzeamento artificial... Eu disse que esse negócio radioativo ia fazer mal à você algum dia...

A criatura sai de trás do tonel. Bundy arregala os olhos. Cai desmaiado.


VINHETA DE ABERTURA: [semelhante à vinheta da série Married with Children]

[Som: Frank Sinatra – Love and Marriage]

Al Bundy sentado no sofá. Segurando a carteira, entediado.

Bud, o filho, aproxima-se dele. Bundy entrega dinheiro. Bud sai.

Kelly, a filha, aproxima-se. Bundy entrega dinheiro. Kelly sai.

Peggy, a esposa, senta-se ao lado dele, sorridente. Bundy entrega dinheiro pra Peggy.

O cachorro pula no encosto do sofá. Bundy entrega dinheiro. O cachorro sai com o dinheiro na boca.

Mulder aproxima-se do sofá, mostrando a credencial do FBI. Bundy olha incrédulo pra Mulder.

AL BUNDY: - Incrível!!!!

Bundy dá dinheiro pra Mulder. Mulder sai.

Scully passa por lá e estende a mão. Bundy olha pra ela e ergue as sobrancelhas empolgado. Entrega a carteira inteira pra Scully.


BLOCO 1:

Estrada Interestadual – Chicago – 4:39 P.M.

[Som: Frank Sinatra – Love and Marriage]

Mulder dirige o carro. Scully ao lado dele.

MULDER: - Al Bundy, um simples vendedor de sapatos e pai de três filhos. Sujeito honesto, sem antecedentes criminais, exceto por rixas com o vizinho. Ontem pela manhã encontrou alguma coisa na garagem.

SCULLY: - (RINDO) “Bundy”? O nome dele é Bundy?

MULDER: - É. Bundy.

SCULLY: - E o que era essa coisa, Mulder?

MULDER: - Ele diz que era um extraterrestre.

SCULLY: - ... Ah! Um ET na garagem... O que ele queria? Roubar o carro pra voltar pra casa?

MULDER: - Sem graça, Scully.

SCULLY: - Ou talvez estivesse procurando ferramentas para consertar sua nave... Ou graxa para as engrenagens...

MULDER: - Esses seres têm alta tecnologia. Não precisam usar mecânica comum.

Scully olha pela janela. Começa a rir, bem quietinha.


Residência dos Bundy – 5:21 P.M.

Peggy abre a porta. Mulder faz sua cara de pânico ao ver a quantidade de spray fixador no cabelo dela. Scully puxa a credencial.

SCULLY: - Agentes Scully e Mulder, do FBI. É a senhora Bundy?

PEGGY: - Infelizmente sou. Podem entrar.

Mulder e Scully trocam olhares e entram na sala.

Peggy fecha a porta e arregala os olhos olhando pro traseiro de Mulder.

Al Bundy está sentado no sofá, catatônico, com a boca aberta.

PEGGY: - Eu resolvi chamá-los porque não sei mais o que fazer. Al está assim desde ontem, quando viu aquela coisa na garagem. É claro que até gosto que ele fique assim, mas e quem vai trazer o dinheiro pra dentro de casa?

Mulder aproxima-se. Senta-se ao lado de Al.

MULDER: - Senhor Bundy?

AL BUNDY: - ...

MULDER: - Senhor Bundy?

Al Bundy gira a cabeça e olha pra Mulder.

AL BUNDY: - Ele não queria comprar sapatos... Se visse os pés dele, ficaria com inveja! Porque de acordo com os estudos, o tamanho do pênis é proporcional ao tamanho do pé...

MULDER: - Senhor Bundy, esqueça o pé e me diga o que viu.

AL BUNDY: - (ESPANTADO/ OLHANDO PRA MULDER) Quem é você? (OLHA PRA PEGGY) Peggy, eu não pedi para chamar o “Baretta”.

PEGGY: - Al, ele é agente do FBI. De um departamento estranho chamado... Como é mesmo?

Al Bundy levanta-se desesperado. Cochicha pra Peggy.

AL BUNDY: - Esconda todo aquele contrabando de uísque que está no quarto do Bud.

Mulder levanta-se.

MULDER: - Senhor Bundy, o quê aconteceu exatamente na manhã de ontem?

Al Bundy coloca as mãos no bolso. Olha pra cima, como se recordasse o momento.

AL BUNDY: - Eu estava saindo para o trabalho. Era pouco mais de seis horas da manhã.

MULDER: - Sempre sai tão cedo para trabalhar?

AL BUNDY: - Amigo, se tivesse uma mulher como essa do seu lado, pularia da cama às 3 da manhã. E daria graças à Deus por cada amanhecer...

MULDER: - ... (RESPIRA FUNDO PRA NÃO RIR)

AL BUNDY: - Foi quando vi aquela coisa dentro da minha garagem. A princípio achei que fosse a Peggy. Mas era menos assustador do que ela. E também não usava laquê.

PEGGY: - (INDIGNADA) AL!

SCULLY: - Como era a criatura?

AL BUNDY: - Verde. Tinha uma luz verde, não dava pra ver como era. Parecia com o Peter Pan, mas... (COÇA A CABEÇA) O que o Peter Pan faria na minha garagem?

MULDER: - E depois disso?

PEGGY: - Depois disso, o herói aí caiu desmaiado.

Scully aproxima-se de Al.

SCULLY: - O senhor foi ao médico? Pode ter sofrido alguma lesão ao cair...

PEGGY: - Não, ele já é uma lesão da natureza.

SCULLY: - Ficou muito tempo desmaiado?

AL BUNDY: - Não sei... Você é médica?

SCULLY: - Sim.

AL BUNDY: - (FINGINDO) Ai, acho que estou morrendo!

PEGGY: - Al, ela não cura reumatismo... Muito menos impotência.

AL BUNDY: - Você é a doença, Peggy. Ela é a cura.

MULDER: - Sofreu algum lapso de tempo, senhor Bundy?

AL BUNDY: - Não sei...

PEGGY: - Encontramos o Al hoje à tarde. Senti que faltava alguma coisa nessa casa. Foi quando lembrei que o cachorro estava sem comida. Então liguei pro Al, mas me disseram que desde ontem ele não aparecia na loja. Foi quando meu filho Bud, que jogava basquete, percebeu que ele estava atrapalhando o caminho da cesta. Isso é um lapso de tempo?

Scully puxa Mulder pelo braço. Cochicha.

SCULLY: - Mulder, eles são completamente loucos! Como vai acreditar nisso?

MULDER: - Scully, se um dia nos casarmos, vai entender como tudo enlouquece de repente, principalmente se você usar spray fixador no cabelo.

SCULLY: - (ABORRECIDA) Mulder, mas eu uso!

MULDER: - (PÂNICO) ...


Residência dos D’Arcy – 6:17 P.M.

Scully está andando pela sala, observando o lugar. Jefferson fala com Mulder.

JEFFERSON: - Al Bundy? Olha, meu amigo, o meu vizinho é meio biruta, sabia? Ele pode ter visto um gato e achou que era um tigre!

MULDER: - Não notou nada estranho naquela noite?

JEFFERSON: - Não, nada. Sempre as coisas de sempre. A filha dele chegando tarde, o filho brincando de ‘boneca’ no quarto, a mulher dele passando creme na frente do espelho e fazendo caretas... O Bundy cortando a grama...

SCULLY: - (CURIOSA) À noite?

JEFFERSON: - É. Ele sempre faz isso nas quartas-feiras. É dia do ensopado da Peggy.

MULDER: - Ah, entendi. Sua esposa viu alguma coisa?

JEFFERSON: - Sim. Ela viu a filha do Al chegando num carro com três caras, bêbada e...

MULDER: - Não, me refiro ao incidente na garagem.

JEFFERSON: - Que eu saiba não. A Marcy está viajando, mas se quiserem ligar pra ela...

Mulder olha pra Scully. Suspira.


Motel John Travolta – 7:31 P.M.

[Som: Tracy Byrd – The Truth About the Men]

Mulder entra na recepção. A recepcionista aproxima-se. É uma mulher gorda, mascando chicletes e com um ar de deboche.

RECEPCIONISTA: - (MASCANDO) Sim?

MULDER: - Dois quartos, por favor.

RECEPCIONISTA: - (MASCANDO) Dinheiro ou cartão?

MULDER: - Cartão.

RECEPCIONISTA: - (MASCANDO) Passa.

Mulder pega o cartão de crédito.

MULDER: - Só uma curiosidade.

RECEPCIONISTA: - Sim?

MULDER: - Por que o nome do motel é John Travolta?

RECEPCIONISTA: - (MASCANDO) Gosto dele.

MULDER: - Ah!

RECEPCIONISTA: - (MASCANDO) Dois quartos?

MULDER: - Sim.

A recepcionista se inclina para olhar Scully do lado de fora da recepção.

RECEPCIONISTA: - (MASCANDO) Brigaram?

MULDER: - Não entendi.

RECEPCIONISTA: - (MASCANDO) Dois quartos???

Mulder vira-se e vê Scully pela janela.

MULDER: - (SORRI) Não, ela é minha parceira. Somos do FBI.

RECEPCIONISTA: - E daí? Muitos agentes do FBI alugam apenas um quarto por aqui. (MASCANDO) Ficaria surpreso de saber as coisas que seus coleguinhas fazem.

MULDER: - (CORTANTE) ... Senhora, estou com pressa.

RECEPCIONISTA: - (MASCANDO) Pelo menos ela é mulher. Até dá pra entender.

Mulder arregala os olhos. Pega as chaves da mão da recepcionista e vai de encontro à Scully do lado de fora da recepção.

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - Sabia que existem altos índices de homossexualismo no FBI?

SCULLY: - (NÃO ENTENDENDO) Ahn?

MULDER: - Nada, deixa pra lá.


10:26 P.M.

Scully assiste TV, sentada na cama. Mulder entra no quarto, com dois pacotes.

MULDER: - Só encontrei hambúrguer.

SCULLY: - Mulder, estava aqui pensando... Não acha que esse Al Bundy está tentando conseguir manchetes no jornal?

MULDER: - Manchetes? Ora, Scully, só porque o cara é um sujeito comum não quer dizer que tenha inventado tudo isso pra aparecer na imprensa...

Scully aponta pra TV. Mulder vira-se.

Na TV, vemos Al Bundy dando entrevista. Peggy ajeita o cabelo e tenta aparecer na frente dele, os dois ficam se empurrando. Bud, o filho, acena. Kelly, a filha, fica fazendo charme e atirando beijo.

SCULLY: - Então, Mulder?

MULDER: - Scully, tenho uma teoria.

SCULLY: - Que teoria, Mulder?

MULDER: - Essa é a legítima família americana... Espero que goste de mostarda. Não tinha catchup.

Mulder senta-se na cama. Entrega um pacote pra Scully. Scully olha pra Mulder, entediada.

SCULLY: - Mulder, acho que esse é o pior caso que já pegamos.

MULDER: - Relaxa, Scully. Pelo menos você ganhou descontos na loja do Bundy pra comprar sapatos...

SCULLY: - Não preciso de sapatos, Mulder. Preciso de gente normal por perto.

MULDER: - Ei, e eu?

SCULLY: - Desde quando você é normal, Mulder? Você se encaixa perfeitamente com aquela gente. Al Bundy é você no futuro... Até o nariz é enorme!

Mulder aponta pra Scully.

MULDER: - Isso aí, Scully. E você vai ficar tão linda com um cabelo enorme cheio de spray, tamanquinhos plásticos com florzinhas, unhas postiças vermelhas e um vestido “pega-qualquer-coisa-que-use-calças”...

Scully olha pra Mulder com deboche.

SCULLY: - Aposto que o vestido “pega-qualquer-coisa-que-use-calças”, funcionou. Você reparou bem, hein, Mulder?

MULDER: - (DISFARÇANDO) Scully, sou um agente federal. Você sabe como devemos prestar atenção em detalhes...

SCULLY: - Detalhes? Mulder, aquilo não era detalhe! Aquilo era o óbvio exposto para todo mundo ver!

MULDER: - Que culpa eu tenho? Você não usa vestidos “pega-qualquer-coisa-que-use-calças” pra que eu olhe...

SCULLY: - Gostaria que eu usasse? Eu não preciso disso pra pegar um otário. Já peguei um usando calças e blazer.

Mulder larga o pacote sobre a cama.

MULDER: - (BEIÇO) Perdi a fome. E meu orgulho próprio foi com ela.

SCULLY: - (RINDO) Mulder...

MULDER: - Não, não fale nada. O otário aqui ficou magoado.

SCULLY: - Mulder, prometo que vou usar uma camisola “pega-qualquer-coisa-que-use-calças”...

MULDER: - Qualquer coisa? Eu não sou qualquer coisa, não, entendeu?

Mulder estufa o peito.

MULDER: - Pois saiba que existem milhões de mulheres que dariam tudo pra  ter uma noite comigo!

SCULLY: - (OLHA DEBOCHADA PRA ELE)

MULDER: - E fique sabendo que eu sou um cara bonito, de porte atlético...

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - Alto, moreno, olhos verdes...

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - Sexy e gostoso.

SCULLY: - Mulder?

MULDER: - Fala.

SCULLY: - Você não tem porte atlético. Você tinha. Você era magro... (PENSA) Há uns... quatro anos atrás... Agora disfarça uma barriga. Você não está com essa bola toda, Mulder. Está ficando velho, com rugas, e cada vez mais neurótico e anti-social.

MULDER: - ... Por que você fica me jogando pra baixo?

SCULLY: - Porque eu não sou burra de ficar elogiando você. Homens não gostam de mulheres que ficam babando por eles. Gostam de sofrer. As más são as melhores, Mulder.

MULDER: - ...

SCULLY: - Agora coma o seu hambúrguer. Temos que vigiar a garagem dos Bundy.

MULDER: - Não quero mais comer. Você me chamou de gordo! Sua baixinha!


Residência dos Bundy – 1:17 A.M.

Mulder e Scully revistam a garagem. Mulder agacha-se atrás do tonel.

MULDER: - Scully, veja isso.

Scully aproxima-se. Olha pra uma mancha esverdeada no chão. Mulder tira um saquinho plástico do bolso e recolhe uma amostra.

SCULLY: - Mulder, talvez haja alguma substância química dentro desse tonel. Parece tinta...

Scully tenta abrir e não consegue.

[Som: Tracy Byrd – The Truth About the Men]

Mulder arregaça as mangas da camisa.

MULDER: - (MACHÃO) Isso é trabalho pra homem, Scully. O seu ‘otário’ aqui vai fazer pra você.

Mulder tenta tirar a tampa. Não consegue. Dá um sorriso sem graça pra ela. Scully segura os lábios pra não rir. Mulder continua fazendo força.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - (IRRITADO) Eu vou abrir isso!

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - Scully, isso é coisa pra homem, tá certo?

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - Não se meta. (FAZ FORÇA) é um assunto entre eu e esse maldito tonel...

SCULLY: - Mulder...

Mulder desiste. Cansado, arfando, suando. Puxa a arma e mira no tonel, nervoso.

SCULLY: - Ok, ‘mim Tarzan, mim pode tudo porque usa calças’. Eu abro.

Scully ergue duas trancas pequenas ao lado da tampa. Puxa-a. Mulder olha pra ela, perdendo a graça. Guarda a arma. Scully olha pra dentro do tonel.

SCULLY: - O que é isso?

Close do conteúdo do tonel. Uma substância amarelada. Os dois seguram o nariz.

MULDER: - Deus! Isso cheira mal! É cola de sapatos!

SCULLY: - Acho que vou ficar doidinha Mulder...

MULDER: - (DEBOCHADO) Scully, mergulhe a cabeça aí, depressa! Nem pense duas vezes! Fique doidona!

Scully fecha a tampa.

SCULLY: - Vamos mandar a amostra que você pegou pro laboratório. Aposto que vai encontrar o seu ET cheirando cola por aí.

Scully sai da garagem. Mulder olha debochado pra ela.

MULDER: - Dona da razão... Você sempre é dona da razão. Pois fique com a razão, Scully! Ela é toda sua!

Mulder sente uma mão tocando seu ombro. Dá um pulo. É Al Bundy.

MULDER: - Puxa, você me assustou.

AL BUNDY: - O que está fazendo na minha garagem, homem do FBI?

MULDER: - Buscando provas... Não deveria estar dormindo?

AL BUNDY: - Trinta anos de casado e trinta anos sem dormir.

MULDER: - ...

AL BUNDY: - Ela é bonita. Mas não se iluda, amigo. Todas elas são assim até que agarram você por uma aliança e pegam o seu contra-cheque no final do mês... Que tal uma cerveja?


BLOCO 2:

3:21 A.M.

[Som: Tracy Byrd – The Truth About the Men]

Bundy e Mulder, sentados num sofá velho na garagem, bebendo cerveja e assistindo uma TV velha. Bêbados, completamente. Bundy levanta-se e bate sobre a televisão.

AL BUNDY: - Essa porcaria sempre sai do ar. Acho que são os homenzinhos verdes tentando me contatar.

Bundy ajeita a antena da TV.

MULDER: - E o que eles iriam querer com você?

AL BUNDY: - Não sei. Mas se quiserem a minha mulher, eu pago as despesas de viagem!

Os dois riem. Bundy senta-se.

AL BUNDY: - Aposto que nem os marcianos iriam querer a Peggy. Teriam que gastar horrores com cremes de beleza! A despesa seria alta demais! O retorno... nenhum.

MULDER: - Bundy, você tem razão. Mulheres não prestam!

AL BUNDY: - Não, companheiro. Elas só servem pra passar roupa e fazer o jantar. Com exceção da Kim Bassinger.

MULDER: - É. Concordo com isso.

AL BUNDY: - (ESTUFA O PEITO) Você tem que fazer como eu, impor respeito!

Peggy entra na garagem.

PEGGY: - (GRITA) Al Bundy!

Bundy levanta-se e faz continência.

AL BUNDY: - S-Sim, Peggy, querida?

PEGGY: - Não vai dormir?

AL BUNDY: - Estou prestando depoimento pro agente federal.

Peggy volta pra dentro. Bundy senta-se.

AL BUNDY: - Viu? Temos que nos impor! Elas precisam saber quem é o homem da casa!

A porta da garagem levanta-se. Eles olham assustados. Jefferson entra com meia dúzia de latas de cerveja.

JEFFERSON: - Ok, Bundy, eu ouvi suas piadas lá de casa. E você não me convida pra festa?

AL BUNDY: - (DEBOCHADO) Pra que convidar? Você entra aqui a hora que quer, pensa que minha casa é sua. Tem cerveja aí?

JEFFERSON: - Tem batatinhas?

Jefferson senta-se ao lado dele.

AL BUNDY: - Onde está aquela coisa que você chama de mulher?

JEFFERSON: - Na casa dos pais dela.

AL BUNDY: - Deus! Criou coragem pra devolver?

JEFFERSON: - Não. Eu já tentei mandá-la pelo correio. Voltou com um carimbo dizendo: Destinatário desconhecido.

Bundy levanta-se. Sobe num caixote, segurando uma lata de cerveja.

AL BUNDY: - Homens da América! Precisamos nos unir para reivindicar nossos direitos!

JEFFERSON: - Isso aí!

MULDER: - Tá certo, Al!

AL BUNDY: - A partir de hoje, vamos começar a colocar ordem nas coisas! Elas precisam saber que seu espaço se limita da cozinha pra cama!

Mulder e Jefferson aplaudem.

AL BUNDY: - Nada mais de piedade! Não seremos complacentes! Como retribuição pelo serviço prestado poderão receber algumas bijuterias baratas. Primeiro mandamento: Todos os homens terão direito a trazer seus amigos nas sextas-feiras para assistir jogos, beber cerveja e espalhar migalhas de salgadinhos pela sala, falar sobre mulheres gostosas e assistir filmes pornôs! Mandamento dois: elas ficarão fritando pastéis na cozinha!

Peggy entra na garagem.

PEGGY: - Al Bundy, se não parar com essa arruaça eu vou chamar a polícia.

AL BUNDY: - (DEBOCHADO) A polícia já está aqui, Peggy. E também não gosta do seu cabelo.

PEGGY: - Muito bem, Al Bundy. Vou contar até três e depois vou pegar o rolo de macarrão, mais conhecido popularmente como ‘amansa marido’.

Al desce do caixote. Entra na casa cabisbaixo.

PEGGY: - E vocês dois, dêem o fora da minha garagem! Não há ETs por aqui. O único ET que havia já está subindo pra dormir!


4:11 A.M.

[Som: Tracy Byrd – The Truth About the Men]

Mulder entra silenciosamente no quarto, se arrastando de bêbado. Scully acende o abajur.

SCULLY: - Onde esteve até agora?

MULDER: - (PÂNICO) In... investigando extraterrestres...

SCULLY: - Ah!

Scully mexe o nariz.

SCULLY: - E eles estavam dentro de latas de cerveja?

MULDER: - Do que está falando?

SCULLY: - Do seu cheiro! Mulder, você está bêbado!

MULDER: - Eu? (ENROLANDO A LÍNGUA) Eu não tô bêbado, não. Eu tô é... Sobre o que eu estava falando?

Scully olha pra Mulder como se o fulminasse com os olhos.

SCULLY: - Vá tomar um banho, Mulder! E vá pro seu quarto!

MULDER: - Pro meu quarto?

SCULLY: - É.

Scully levanta-se. Abre a porta.

SCULLY: - Saia já daqui!

MULDER: - Mas, Scully...

SCULLY: - Sai, Mulder! Eu não vou dizer duas vezes!

Scully o empurra pra fora do quarto. Fecha a porta numa batida.


7:16 A.M.

Scully abre a porta. Caminha até o quarto de Mulder. Pára. Vê Mulder deitado no capacho, do lado de fora da porta, todo encolhido de frio. A chave no chão.

Scully faz um beiço de indignada. Sacode o ombro dele com seu pé.

SCULLY: - Mulder.

MULDER: - ...

SCULLY: - Mulder!!!

Mulder abre os olhos. Tenta se levantar, mas o máximo que consegue é sentar-se escorado na porta, com a mão na testa, gravata frouxa, cabelos revirados e a maior cara de ressaca do mundo.

SCULLY: - Deus, Mulder! Vivendo e aprendendo! Eu nunca imaginei que você tivesse esse lado de adolescente irresponsável!

MULDER: - Ai, minha cabeça tá doendo!

SCULLY: - Pois tem mais que doer mesmo! O que foi? Por que não foi dormir no seu quarto?

MULDER: - ...

SCULLY: - Responda, Mulder!

MULDER: - Porque eu não consegui colocar a chave na fechadura...

SCULLY: - Vamos esclarecer uma coisa.

MULDER: - Tá, fala, mas não grita... Tô com dor de cabeça...

SCULLY: - Se quiser que as coisas andem entrem nós, você vai ter que ser responsável! Puxa vida, Mulder! Estamos nos descobrindo, descobrindo a vida privada de cada um e confesso, preferia o meu parceiro, porque era menos maluco do que o meu amante!

MULDER: - ... Desculpe, Scully. Eu exagerei.

SCULLY: - Vem, levanta.

Scully pega a chave do chão. O ajuda a se levantar.

SCULLY: - Vá tomar um banho.

MULDER: - Quero dormir.

SCULLY: - Não vai dormir, vai trabalhar. Enfrente as conseqüências de seus atos, Mulder. Você me disse que havia crescido, quero ver se amadureceu mesmo!

MULDER: - Eu disse que não era mais criança...

SCULLY: - E quanto tempo vai ficar na adolescência?

Scully abre a porta. Mulder entra apoiado nela.

SCULLY: - Absurdo! Não pense que vou juntá-lo do chão todos os dias!

MULDER: - Scully, eu não sou assim, você sabe disso. Eu só tava bravo com você, comecei a beber de farra e...

SCULLY: - Tá, dessa vez vai passar. Na próxima, você vai conhecer mais um pouco da minha intimidade. Vai ver como eu posso ser capaz de sair da minha razão e descer do salto.

Mulder se arrasta pro banheiro. Scully fica do lado de fora da porta, com os braços cruzados.

SCULLY: - Tem meia hora. Ainda precisamos interrogar a família Bundy.

MULDER: - Não pode fazer isso sozinha?

SCULLY: - Não, afinal você é quem sempre está com a razão. Você é o bom detetive. Você é o ator principal e eu sou a mera coadjuvante desconhecida. Não vou segurar essa por você, Mulder. Não mesmo. Você vai crescer, vai ter que crescer um dia.

MULDER: - (MANHOSO) ... Minha médica! Pode me receitar alguma coisa pra parar com a dor de cabeça?

SCULLY: - Posso. Pare de beber!

MULDER: - Tô mal.

Scully entra no banheiro. Mulder está no chuveiro. Scully abre o box. Mulder está escorado na parede, ainda vestido, com a água caindo sobre a cabeça.

SCULLY: - O que bebeu, Mulder?

MULDER: - Umas 25 latinhas de cerveja... Pelo menos foi o que contei até quando deixei de conseguir contar...

SCULLY: - Mulder, tome um banho, deite-se naquela cama e eu trago um remédio pra você. Vá dormir e depois a gente conversa sobre isso.

MULDER: - Mas você vai sozinha...

SCULLY: - Vou enviar a amostra pra Washington e interrogar alguns vizinhos. E você vai pra cama. Vou esperar você sair daí e buscar um remédio. Não pode ficar aí sozinho.

MULDER: - Scully, me perdoa?

SCULLY: - Claro que perdoo, Mulder. Agora pare de ficar choramingando! Você é um chato quando bebe! Não presta nem pra... fazer coisinhas...


Residência dos Bundy - 8:21 A.M.

Peggy está sentada no sofá. Fala ao telefone. Brinca com o fio enrolado no dedo.

PEGGY: - Não... Precisa voltar, Marcy! É um caso de emergência... Al viu um ET na garagem... É claro que não acredito nele, mas o melhor da história não está aí. O melhor é que o FBI esteve na minha casa... É, eles vão voltar... Sabe o homem dos nossos sonhos? ... Ele trabalha no FBI! ... Se ele é bonito? Ora, Marcy, por que acha que estou te chamando de volta? ... Um metro e oitenta e poucos, uns 90 quilos, moreno, olhos verdes, e...

Peggy olha pro telefone incrédula. Desliga.

PEGGY: - Apressada. Nem deixou eu terminar de falar...

Kelly entra na sala. Toda arrumada, com um vestido curto e justo. Segura uma bolsa.

KELLY: - Mãe, você viu o Bud?

PEGGY: - Não acordou ainda, querida...

Kelly a beija. Sai.

Bud desce as escadas de cuecas. Vai direto pra cozinha. Peggy levanta-se do sofá.

PEGGY: - Bud, mamãe precisa sair. Não demoro. Talvez o FBI apareça. Diga que fui ao instituto de beleza me arrumar para ser interrogada.

BUD: - FBI? Ah, não! ... Mãe, por que chamou o FBI?

PEGGY: - E por que não deveria?

BUD: - Eu não quero o FBI vasculhando o meu quarto! Pensa que constrangedor seria!

PEGGY: - Eles não estão atrás da sua garota de borracha, Bud querido. Nem da sua coleção de revistas pornôs.

BUD: - FBI...

PEGGY: - É, um grandão e uma ruiva baixinha.

BUD: - (EMPOLGADO) Ruiva? Uma ruiva? É peituda? Ela é bonita?

PEGGY: - Não faz o meu tipo.

BUD: - Não se apresse, mãe. Pode demorar o quanto quiser...

Peggy abre a porta. Sai. Bud abre um armário e retira uma caixa de cereais. Abre a geladeira e pega uma caixa de leite. A campainha toca.

BUD: - Ah, eu não acredito. Esqueceu a chave de novo?

Bud atravessa a sala com a caixa de leite na mão. Abre a porta.

BUD: - Mãe, você...

Scully olha pra ele. Puxa a credencial.

SCULLY: - Desculpe, sou a agente Scully, do FBI.

Bud fica olhando pra Scully de boca aberta. Desce o olhar pros peitos dela. Mas se dá conta que está de cuecas. Puxa um casaco do cabide e enrola na cintura, todo constrangido.

SCULLY: - Posso entrar?

BUD: - Me dá licença... Preciso me vestir. Fique à vontade.

Bud sobe as escadas, carregando o leite, não percebendo que as cuecas ficaram à mostra. Scully olha pra ele e segura o riso. Anda pela sala, olhando os porta-retratos.


15 minutos depois...

[Som: Tracy Byrd – The Truth About the Men]

Bud desce, vestido de terno e gravata, fazendo charme. Scully olha incrédula. O perfume é tanto que ela sente coceira na garganta.

SCULLY: - Tem um irmão pequeno?

BUD: - É, está na casa dos meus avós...

SCULLY: - E esta da foto deve ser sua irmã. Ela é bonita.

BUD: - É, parentes não se escolhe...

SCULLY: - Sua mãe está em casa?

BUD: - Ela teve compromissos para resolver. Parece que foi até o chapeador... Problemas na lataria...

SCULLY: - Você deve ser o Bud.

BUD: - É, deve ter ouvido falar muito de mim... (ARROGANTE) Sou famoso no bairro. Não quer se sentar?

Scully senta-se. Bud senta-se ao lado dela, bem grudado. Scully afasta-se, desconfiada. Ele aproxima-se. Ela afasta-se. Ele aproxima-se. O sofá acaba e Scully fica prensada entre Bud e o braço do sofá.

SCULLY: - Poderia me falar sobre a noite em que seu pai viu a estranha criatura?

BUD: - (CONQUISTADOR) Poderia te falar tantas coisas...

SCULLY: - Não, esta já é o suficiente.

BUD: - Sempre quis trabalhar no FBI. Tenho porte atlético pra isso.

SCULLY: - (DEBOCHANDO) Ah!

BUD: - Seu nome é Scully?

SCULLY: - Dana Scully.

BUD: - Dana...

Bud começa a olhar pra Scully, sonhando.

BUD (OFF): - Ela é policial, deve adorar aquela coisa de algemas... Vai, Bud, ela é quente!

Scully olha pra ele. Bud pros peitos dela.

SCULLY: - Pode me dizer o que viu naquela noite?

BUD: - Nada de tão importante como o que estou vendo agora.

Scully fecha o blazer.

SCULLY: - Seu pai, ele costuma beber muito?

BUD: - (SUSPIRA)

SCULLY: - Bud?

BUD: - Sim, Dana...

SCULLY: - Seu pai?

BUD: - Ora esqueça o meu pai. Que tal jogarmos um joguinho que conheço. Fizemos perguntas e de acordo com as respostas, quem errar tira uma peça de roupa e...

SCULLY: - (INDIGNADA) Aviso garoto: estou armada.

BUD: - Não sou mais garoto, mas se quiser fingir, eu topo...

Scully levanta-se.

SCULLY: - Acho melhor voltar depois.

Bud levanta-se e a segura pelo braço.

BUD: - Não, fique por favor...

SCULLY: - Garoto, isso é desacato. Posso levá-lo preso, sabia?

BUD: - Onde estão suas algemas, ruivinha?

Scully caminha até a porta.

BUD: - Ei, agente Scully, eu estava brincando...

Scully sai.

BUD: - Droga! Ela não era de borracha!

Bundy entra na sala.

[Som: Frank Sinatra – Love and Marriage]

AL BUNDY: - O que a mulher do FBI fazia aqui?

BUD: - Deveria perguntar o que ela não fez...

AL BUNDY: - (DEBOCHADO) Ora, você deve se acostumar. Mulheres como aquela não caem assim nas nossas mãos. Você é um Bundy. O máximo que pode conseguir é uma mulher como a sua mãe. (PENSATIVO) Não temos tudo na vida...

BUD: - Mas eu nem tenho o nada!

AL BUNDY: - Na sua idade, garoto, eu saía com todas as mulheres do bairro. Dormia com todas elas... (PENSATIVO) Pelo menos não tínhamos que transar emborrachados naquela época...

Bud sobe as escadas. Bundy pega o telefone. Disca.

AL BUNDY: - (AO TELEFONE) ... Jefferson? Que tal assistir “Peitowatch”? Não, a Peggy foi ao instituto de beleza. É que ela ainda não achou o caminho do instituto de feiura... O quê? Como assim ‘a Marcy está voltando’? ... (INCRÉDULO) Festinha? Jefferson, como pode fazer festinha com uma coisa daquelas?

Bundy desliga.

AL BUNDY: - Há gosto pra tudo nesse mundo! Fazer sexo com a Marcy. Argh! Preferia tomar uma injeção de benzetacil no traseiro!

Bundy senta-se no sofá. Liga a TV. Espicha-se no sofá.

Kelly entra, loira e burra como sempre.

KELLY: - Papai, acho que consegui um emprego!

AL BUNDY: - Deus existe... Onde conseguiu emprego?

KELLY: - Vou ser modelo de uma loja de biquínis.

AL BUNDY: - Não acha que já está velha pra isso? Por que não arranja um emprego como dona de casa?

KELLY: - E elas ganham bem?

AL BUNDY: - Pergunte à sua mãe. Não encontrei meu salário desse mês.

KELLY: - Me empresta o carro?

AL BUNDY: - Se não me emprestar dor de cabeça com isso.

Kelly o beija. Al entrega as chaves. Ela sai.

AL BUNDY: - (GRITA) Não se esqueça, dirija pela direita! Se estiver indo, siga os carros que estão indo, não os que estão voltando! E o sinal vermelho significa que é pra parar. Não significa emergência, evacuem a área.

Bundy muda de canal. Jefferson entra.

JEFFERSON: - Começou?

AL BUNDY: - Ainda não. Não vi nenhum pico montanhoso na tela.

JEFFERSON: - Afinal, o que o FBI quer com você?

AL BUNDY: - A Peggy inventou de chamar os tiras porque eu vi um ET na garagem.

JEFFERSON: - Você viu um ET? Pensei que fosse besteira!

AL BUNDY: - (DEBOCHADO) E daí? Você vê um ET todos os dias dormindo do seu lado.

JEFFERSON: - Você é burro, Al Bundy! Poderia vender sua história pra alguma revista.

AL BUNDY: - Não!

JEFFERSON: - (SORRI) Eles pagam bem.

AL BUNDY: - (EMPOLGADO) Onde eu encontro uma editora?

JEFFERSON: - Tem um amigo de um primo de um amigo de um parente meu que trabalha na Show de Horrores. Assim, você escreve sobre a misteriosa criatura horrenda...

AL BUNDY: - Posso escrever uma matéria sobre a Peggy? Vai vender mais do que o ET.

JEFFERSON: - Pense, Al, vai poder ganhar um extra.

AL BUNDY: - ... Já tenho um extra. Está na casa da avó. Ligou querendo a mesada. Acho que vou acertar a mesa na cabeça dele.


BLOCO 3:

Motel John Travolta – 12:21 P.M.

Scully entra no quarto. Mulder está se vestindo.

SCULLY: - Melhorou?

MULDER: - ... (OLHANDO ATRAVESSADO PRA ELA)

SCULLY: - Ou os ‘embalos de sábado à noite’ te afetaram?

MULDER: - Sem piadinhas, Scully. Estou de mal humor.

SCULLY: - Encontrei seu irmão caçula hoje. Chama-se Bud Bundy. Consegue ser mais tarado do que você.

MULDER: - Não vai conseguir me irritar hoje.

SCULLY: - Onde vai?

MULDER: - Almoçar.

SCULLY: - Não me convida?

MULDER: - Pra você dizer que eu estou gordo?

SCULLY: - ... Precisamos tentar interrogar aquela gente, Mulder. Você fica com os homens, eu com as mulheres. Medida de segurança.

MULDER: - É remotamente plausível que alguém, além de mim, te ache quente.

Scully faz beiço.

Batidas na porta.

Mulder caminha até a porta, ajeitando a camisa pra dentro das calças. Abre a porta.

[Som: Tracy Byrd – The Truth About the Men]

Kelly está parada ao lado de uma amiga, Janet. Esta mais se parece com uma garota de Baywatch.

KELLY: - Senhor Mulder?

Close das pernas de Janet subindo até os peitos e terminando no rosto. Usa um vestido justo. Mulder fica boquiaberto, olhando pra Janet.

MULDER: - (TARADO) Entrem, entrem.

Scully fica furiosa. Senta-se na cama, com os braços cruzados.

KELLY: - (SORRINDO) Sou Kelly Bundy. Esta é minha amiga Janet.

JANET: - Olá!

Cumprimentam-se.

MULDER: - Muito prazer, prazer imenso, Janet... Ah, e você deve ser a filha do senhor Bundy.

Kelly afirma com a cabeça. As duas entram. Mulder fecha a porta olhando descaradamente pro traseiro de Kelly. Scully está prestes a explodir, com um beiço quilométrico. Kelly e Janet sentam-se no sofá.

KELLY: - Vim prestar meu depoimento.

MULDER: - (ABOBALHADO) Que depoimento?

KELLY: - Sobre o caso. Sobre o que meu pai viu na garagem... Espero que não se importe por ter trazido minha amiga...

Mulder não tira os olhos dos peitos de Janet.

MULDER: - Grande depoimento... (DEBOCHADO) Scully, me faz um favor? Me traz um pacote de bolachas.

Scully ergue as sobrancelhas, cerrando os pulsos. Mulder senta-se entre as duas.

MULDER: - Esta é minha parceira...

SCULLY: - (CORTANDO/ ENCIUMADA) Sou a mulher dele, Dana Scully.

Mulder olha pra Scully, arregalando os olhos, incrédulo.

SCULLY: - (CORTANTE) O que viu naquela noite, senhorita Bundy?

KELLY: - Bem, eu... Eu e Janet chegamos tarde, estávamos numa festa e...

Mulder cruza as pernas, se fazendo de interessado no assunto. Apóia o cotovelo sobre a perna e a cabeça na mão, olhando fixamente pra Kelly. Fazendo charme. Provocando Scully.

MULDER: - (SENSUAL/ INTERESSADO) E como estava a festa?

KELLY: - Fantástica. Sabe, teve música, doces...

SCULLY: - (CORTANTE) Salgados, rapazes, garotas...

JANET: - ... É. Como você sabe disso? Você estava na festa?

Mulder abaixa a cabeça, ficando sem reação, frustrado. Scully segura o riso, olhando debochada pra Mulder.

KELLY: - Bem, então eu voltei da festa. A Janet estranhou porque não encontramos o Buck na sala. Não foi?

JANET: - Foi.

SCULLY: - Quem é Buck?

JANET: - O cachorro.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Ah! O cachorro! E o que o Buck estaria fazendo, encéfalos letargos?

JANET: - Ahn?

Mulder olha pra Janet.

MULDER: - Não ligue pra ela. É que está com saudades do seu cachorrinho.

KELLY: - Qual a raça do seu cachorrinho?

SCULLY: - (DEBOCHADA) Fox. Fox ‘Terriblier’.

KELLY: - Ah, eu conheço. São tão bonitinhos!

Mulder olha pra Scully, dando um sorrisinho debochado. Scully respira fundo, tentando se controlar.

MULDER: - Tá, e quanto ao seu pai? Viram alguma coisa estranha perto da casa, dentro da casa...

KELLY: - Vi uma coisa, sabe. Parecia com alguma coisa, que não sei bem o que é... Era estranho... A coisa mais feia que já vi...

JANET: - Ele tinha luzes... Ao redor do seu corpo (E PASSA AS MÃOS AO REDOR DO CORPO) Assim... Era baixinho. Pulou a cerca dos D’Arcy e depois...

SCULLY: - Deixe-me adivinhar: Sumiu!

KELLY: - (ADMIRADA) Puxa, você é vidente? Que coisa impressionante! Sempre sabe as coisas antes da gente falar...

Scully faz um beiço, balançando a cabeça negativamente.

SCULLY: - Mulder, massa encefálica não combina com massa física.

KELLY: - Também gosto de macarrão.

Scully segura o riso. Levanta-se da cama. Olha pra Mulder.

SCULLY: - Vou sair daqui, pode ser contagioso.

Scully sai. Mulder olha pra elas.

MULDER: - Não liguem pra ela. É irônica demais! Gosta de fazer piadas fora de hora. Inclusive a de que é minha mulher. Ela adora fazer isso. (NA MAIOR CARA DE PAU) Mas não temos nada um com o outro. Não mesmo. Sou solteiro, livre, desimpedido...

KELLY: - (SORRINDO) Ah! Gostei dela. Ela é tão atenciosa e brincalhona.

JANET: - Concordo. Acho que ela gostou da gente.

Mulder põe as mãos no rosto.

MULDER: - Perfeição... Conceito que não existe!


Residência dos Bundy - 2:17 P.M.

Bud abre a porta. Scully ao vê-lo, esconde-se atrás de Mulder e disfarça que olha pro jardim.

MULDER: - Sua mãe está em casa?

BUD: - (PROCURANDO SCULLY COM OS OLHOS) É claro. Onde mais ela está, se não com a bunda colada naquele sofá?

Mulder entra. Scully entra colada nele. Mulder fica olhando pra Scully sem entender sua atitude. Scully não desgruda de Mulder. Bud fica olhando-a de cima a baixo. Peggy ao ver Mulder, abre um sorriso.

PEGGY: - Agente Mulder! Que prazer em vê-lo!

Al sai da cozinha. Kelly ao lado dele.

AL BUNDY: - Não acredite. Prazer é uma coisa que ela não conhece.

MULDER: - Senhora Bundy, achamos uma substância estranha na sua garagem...

KELLY: - Ah, perdoem o Buck, mas nunca aprendeu a usar a caixa de areia.

MULDER: - Não, não foi isso. Mandamos pra análise e teremos uma resposta amanhã.

AL BUNDY: - Por que não mandam analisar essa substância estranha que me venderam como esposa?

PEGGY: - Porque precisariam mandar você, substância mais estranha, que topou casar comigo.

AL BUNDY: - Eu era cego. Cego e burro.

PEGGY: - Agora ficou frouxo e imprestável.

MULDER: - Bem, senhora Bundy. Seu filho viu alguma coisa naquela noite?

Bud não escuta, está prestando atenção em Scully, que já está constrangida. Mulder olha pra Bud e percebe. De vingança, afasta-se de Scully. Scully aproxima-se de Mulder. Mulder afasta-se novamente. Ela aproxima-se dele. Parecem que estão dançando.

MULDER: - (DEBOCHADO) Não liguem, é uma dança ritualística que aprendemos na academia do FBI e precisamos executá-la antes do interrogatório.

BUD: - (SUSPIRA, OLHANDO PRA SCULLY) Vou entrar pro FBI.

AL BUNDY: - (DEBOCHADO) Vai. Vai fazer um teste e vão te mandar pro Bureau Federal de Idiotice.

KELLY: - Pai, gostei da ideia. Quero ir pra esse tal de bure... esse lugar aí.

AL BUNDY: - Não vai dar filha. Seu QI é inferior ao mínimo aceitável.

KELLY: - O que quer dizer com isso?

AL BUNDY: - Que você é burra!

KELLY: - E daí? Estamos no século 21, posso ser o que quiser e você não tem nada a ver com isso!

Al Bundy olha pra Mulder.

AL BUNDY: - Tá vendo? Se procura a verdade, meu amigo, a verdade está aqui dentro. Tenho três alienígenas de estimação. Se quiser pode levá-los. Pago o carreto.

PEGGY: - Oh, Al, deixe de ser mal educado! Ofereça uma bebida para as visitas.

Peggy olha pra Mulder piscando os olhos.

PEGGY: - Aceita uma bebida, agente Mulder?

MULDER: - Não, senhora, obrigado.

PEGGY: - No que trabalha mesmo?

MULDER: - Nos Arquivos X.

KELLY: - Arquivos X? Puxa, que legal!

MULDER: - (EMPOLGADO) Você conhece?

KELLY: - Não. E ela trabalha nos Arquivos W ou Y?

BUD: - (INDIGNADO) Mas como você é burra! Se pagássemos impostos sobre burrice, você nos levaria à falência! Não tá vendo, que pela inteligência dela, deve trabalhar nos Arquivos A?

Mulder tenta segurar o riso, abrindo a boca, olhando pra cima. Bundy coloca a mão no ombro dele.

AL BUNDY: - Amigo, vamos conversar na garagem. Ou vai entupir seus ouvidos com tanta besteira. Quando Deus distribuiu cérebros, eles juntaram as sobras e conseguiram fazer um. Infelizmente, tiveram que reparti-lo em três.


Motel John Travolta - 7:33 P.M.

[Som: Frank Sinatra – Love and Marriage]

Mulder deitado na cama. Scully no banheiro.

MULDER: - Tem alguma coisa estranha que não está se encaixando...

SCULLY: - Os seios no sutiã da ‘Janet’?

MULDER: - Tô falando sério. Não acredito que Al Bundy viu um ET. Talvez alguém lhe pregou uma peça.

SCULLY: - Aquele vizinho, o tal Jefferson, que é mais burro e convencido do que uma toupeira?

MULDER: - Não, ele não faria isso.

Scully sai do banheiro passando creme no rosto.

SCULLY: - Por que ele não faria isso?

MULDER: - Isso é creme?

SCULLY: - É.

MULDER: - Hidratante?

SCULLY: - Anti-rugas.

Mulder levanta-se. Pega o pote de creme das mãos dela e entra no banheiro. Scully fica parada, incrédula. Entra no banheiro.

SCULLY: - Mulder...

Mulder está passando creme no rosto, na frente do espelho.

SCULLY: - (INDIGNADA) Ei, ei, ei! O que está fazendo?

MULDER: - Tratamento facial.

SCULLY: - Por que não falou antes? Hoje, enquanto falava com aquele par de peitos sem cérebro, e aquela magrela loirosa também sem cérebro, eu estava doida pra fazer um tratamento facial em você. Na base da porrada!

MULDER: - Uau! Estamos com um repleto dicionário de baixo calão na ponta da língua, não é mesmo?

SCULLY: - Me dá meu creme.

MULDER: - Não.

SCULLY: - Mulder!

MULDER: - Não.

Scully vai pegar o creme. Mulder levanta o braço pra cima. Scully pula, mas não alcança.

SCULLY: - Seu idiota! Enfie esse creme sabe onde!

MULDER: - (DEBOCHADO) Aiiiiii!!!!! Com pote e tudo?

Scully sai do banheiro e atira-se na cama. Mulder sai do banheiro, com uma cara de deboche.

MULDER: - Onde quer que eu passe o creme em você, querida?

Scully cruza os braços e faz beiço.

MULDER: - Tá bravinha, é? Vem aqui que eu vou te amansar.

SCULLY: - Afaste-se de mim, Mulder!

MULDER: - Ah, Scully, eu passo creme em você, você passa creme em mim, e a gente vai ver onde termina essa sacanagem toda...

SCULLY: - Não tem sacanagem nenhuma! Vá pro seu quarto. Está invadindo a minha privacidade, usando meu creme e se eu duvidar, vai usar as minhas lingeries!

MULDER: - Ah, eu ia ficar uma gracinha de cinta liga.

SCULLY: - Você está ficando naquela maldita crise de meia idade, Mulder! Não tem senso do ridículo? Elas são garotas pra você, seu velho asqueroso e tarado!

MULDER: - Sem graça, Scully. Pode me chamar de tudo, menos disso.

SCULLY: - Sai do meu quarto!

MULDER: - Não.

SCULLY: - Vou chamar a polícia!

MULDER: - Somos da polícia.

SCULLY: - ...

MULDER: - ...

SCULLY: - Tô enfurecida! Mulder, você ainda vai morrer por ingestão de silicone barato! E engasgado com suas bolachinhas! Acha que não entendi a piada machista e hipócrita? Fui criada com homens, Mulder! A senha para peitos grandes é ‘pacote de bolachas’. Leite e bolachas são uma dupla inseparável!

MULDER: - Mas Scully, eu só queria te fazer ciúmes...

SCULLY: - Tarado! Depravado! ... Bolachas... Ahn! Vou te dar é uma bolacha nessa sua cara de sem vergonha!

MULDER: - Eu não tenho cara de sem vergonha.

SCULLY: - Ah, não? Olhe-se no espelho, Mulder. Você é um sem vergonha!

MULDER: - (CARA DE CACHORRINHO PIDÃO) ... Eu não presto mas eu amo você...

SCULLY: - Vá pro seu quarto, Mulder!

Mulder abre a porta e sai. Scully pula da cama. Tira a blusa. Olha-se no espelho. Respira fundo, ergue os ombros e levanta os seios com as mãos.

SCULLY: - Droga! Poderiam ser maiores...

Mulder entra no quarto. Scully disfarça, colocando os cabelos pra trás das orelhas. Mulder olha pra ela rindo.

MULDER: - (DEBOCHADO) Já assistiu Os Piratas de “Sylicon” Valley?

SCULLY: - (IRRITADA) O que quer aqui? Humilhar meus seios?

MULDER: - (DEBOCHADO) Não. Quero dizer para os seus seios que minhas mãos adoram peitos que caibam nelas. O que é grande demais perde a graça, não dá pra segurar e elas não gostam. E que a minha boca está doidinha pra...

Scully atira um travesseiro nele. Mulder fecha a porta rapidamente.


1:11 A.M.

[Som: The Pink Panther Theme]

Mulder entra no quarto na ponta dos pés. Fecha a porta. Caminha lentamente e em silêncio até a cama. Levanta o lençol. Deita-se ao lado de Scully. Agarra-a. Scully acende o abajur.

SCULLY: - (FURIOSA) Uma vez levou um soco por causa disso. Podia levar outro!

MULDER: - (MEIGO) Não consigo dormir.

SCULLY: - (IRRITADA) Ah, não consegue? Tome pílulas.

MULDER: - (CARENTE) Já tomei. É que não consigo dormir sozinho.

SCULLY: - Dormiu sozinho muitas vezes.

MULDER: - Mas isso era antigamente. Agora tô acostumado.

SCULLY: - Vá atrás do silicone.

MULDER: - Não gosto de silicone. Não tem gosto nenhum.

Scully mete um tapa de leve na cara dele.

MULDER: - Ai! Por que fez isso?

SCULLY: - Porque estava merecendo! Você não me respeita! Não respeita o relacionamento que temos! Ia gostar que eu desse em cima dos homens por aí? Hein? Fala, seu porco!

MULDER: - (DEBOCHADO/ FUNGANDO NO PESCOÇO DELA) Oinc, oinc, oinc...

SCULLY: - Mulder, por favor! Não pode ser sério uma vez na vida?

MULDER: - Pra quê? A vida já não é séria demais?

Scully olha pra Mulder e começa a rir. Mulder olha pra ela sem entender.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - Mulder, você... Você me faz rir! Você não existe, Mulder! Está na profissão errada, deveria ser comediante.

MULDER: - Acha que ainda tenho tempo? Tenho uma peruca do Bozo perdida lá em casa.

Mulder aproxima-se para beijá-la. Scully afasta-se.

SCULLY: - Não se aproveite, Mulder. Você me faz rir, mas isso não significa que vou te perdoar tão fácil!

MULDER: - Você pensa maldades sobre mim. Hoje à tarde, eu só estava querendo fazer ciúmes... Te provocar. Sabe que eu gosto de deixar você furiosa. Agora eu só quero te fazer rir.

SCULLY: - Não vai ouvir minha risada desse jeito hoje, Mulder.

MULDER: - Ah, mas eu gosto tanto de ouvir sua risada desse jeito.

SCULLY: - Não. Sai da minha cama, seu monstro repulsivo!

MULDER: - (SE FAZENDO DE CARENTE) Ah, não faz assim com o teu monstro repulsivo... (DEBOCHADO) Passei tanto tempo da minha vida pensando em você enquanto ficava ‘fazendo justiça com as próprias mãos’...

SCULLY: - (ESCANDALIZADA) Mulder! Pára de dizer bobagens!

MULDER: - Por quê? Não gosta que eu diga bobagens no seu ouvido?

Mulder vai se aproximando. Scully não tem mais como recuar sem cair da cama. Mulder começa a beijá-la.

SCULLY: - Mulder! Não, pára!

MULDER: - (DEBOCHADO) Não pára?

SCULLY: - Não! Eu disse não vírgula pára.

MULDER: - Tem certeza... (BEIJOS)

SCULLY: - Tenho...

MULDER: - Absoluta? (BEIJOS)

SCULLY: - ... Droga, Mulder!

Mulder enfia-se embaixo dos lençóis.

MULDER: - Scully?

SCULLY: - Que é, Mulder?

MULDER: - Nada como a natureza das coisas... A natureza é perfeita...


BLOCO 4:

3:09 A.M.

O telefone toca. Mulder estende o braço, ainda sonolento. Scully acende o abajur. Esfrega os olhos. Mulder pega o telefone.

MULDER: - Alô?

AL BUNDY: - Senhor Mulder, é Al Bundy!

MULDER: - Aconteceu alguma coisa?

AL BUNDY: - Vi aquela coisa de novo. Dessa vez estava dentro da minha casa, revirando a geladeira. Mas já foi embora. Tive uma ideia. Vamos espreitá-la. Talvez volte novamente.

MULDER: - Estou indo pra aí, senhor Bundy.

Mulder desliga.

SCULLY: - O que foi?

MULDER: - Tenho que ir até a casa dos Bundy. A coisa apareceu de novo.

SCULLY: - Hum, Mulder, deixa pra amanhã.

MULDER: - Você fica aqui, eu vou sozinho. Vou ficar a noite toda com o Al.

SCULLY: - Vai trocar a minha companhia pela de Al Bundy, Mulder?

MULDER: - Scully, preciso trabalhar sabia?

SCULLY: - (IRRITADA) Mas que droga! Trabalhar, trabalhar e trabalhar! E seu trabalho como...

MULDER: - Scully, prometo que vamos ‘trabalhar’ a noite toda quando isso acabar.

SCULLY: - (EMBURRADA) Quero trabalhar hoje.

MULDER: - (SORRINDO MALICIOSO) Está me propondo uma rapidinha?

SCULLY: - Não. Não gosto disso, já disse.

MULDER: - Pois na nossa profissão deveria se acostumar com isso!

SCULLY: - Pois na sua profissão como amante deveria se desacostumar disso.

MULDER: - Vou caçar ETs, Scully.

Mulder levanta-se.

SCULLY: - Vá, vá caçar ETs. Eu quero distância deles!

MULDER: - Você nunca viu um deles.

SCULLY: - Tem certeza disso?

MULDER: - ?

SCULLY: - Descubra essa verdade, detetive. Porque vou morrer com ela. Boa noite!

MULDER: - Boba! Feia! Chata! Não me chame mais pra vir pro seu quarto, tá legal?

SCULLY: - (INCRÉDULA) Eu? Eu te chamei pra vir aqui? Você é que corre atrás de mim feito um cachorro sem dono!

MULDER: - É? Não parece. (DEBOCHADO) Os leitores são testemunhas, Scully. A maior parte das legendas nestes roteiros dizem: Apartamento de Mulder, tal hora: Scully entra.

SCULLY: - (IRRITADA) Boa noite. Vá caçar seus ETs!

Mulder veste a roupa e sai. Scully apaga o abajur e vai dormir.


Residência dos Bundy – 3:37 A.M.

[Som: Tracy Byrd – The Truth About the Men]

Close do sofá. Surge o rosto de Bundy por trás dele. Depois o de Mulder. Os dois espiam por sobre o encosto.

MULDER: - Acha que ele vai voltar?

AL BUNDY: - Se não voltar foi porque se assustou com a cara feia da Peggy.

Os dois sentam-se no chão. Abrem cervejas.

MULDER: - Por sua causa, minha mulher está furiosa... Tá de cara feia comigo.

AL BUNDY: - E daí? A minha tem cara feia desde que a conheci!

MULDER: - Vocês brigam tanto... Não há nada mais entre vocês?

AL BUNDY: - Há. O meu salário.

MULDER: - Por que não pede divórcio?

AL BUNDY: - Você é inocente... Não sabe que as sogras não aceitam devolução? Pegou, levou. Não tem troca...

MULDER: - Eu não quero devolver a minha. Demorei tanto tempo pra conseguir ‘agarrar’.

AL BUNDY: - Você nunca as agarra. Elas é que te pegam. Há quanto tempo estão juntos?

MULDER: - Assim, juntos? ... Há um ano.

AL BUNDY: - É cedo. Ainda não acordou com a cara dela cheia de creme de abacate.

MULDER: - (PÂNICO) O que tem isso?

AL BUNDY: - Ainda não viu a sua mulher maravilhosa de bobs na cabeça, máscara facial e pijama de poliéster dormindo do seu lado...

MULDER: - ...

AL BUNDY: - Quando elas lavam as calcinhas e penduram no box do banheiro, você sabe que é o fim!

MULDER: - Ah, meu Deus!

AL BUNDY: - O que foi?

MULDER: - Um ano... Droga! Eu esqueci nosso aniversário.

AL BUNDY: - Parabéns! Você ganhou de mim. No primeiro ano, eu ainda sabia a data!

MULDER: - Ela deve estar furiosa por causa disso.

AL BUNDY: - Deixe ficar furiosa. Se morder é só ir até o posto de saúde e tomar uma anti-rábica. Tire uns dias de atestado... Acidentes domésticos acontecem...

Al abre outra cerveja.

MULDER: - Al, eu sou o cara mais desleixado do mundo! Esqueci o aniversário dela, o nosso aniversário... E acho que deixei a geladeira aberta.

AL BUNDY: - Vou te contar um segredo! Não se case. Casamento é igual à loucura. Você nunca sabe como deixou isso acontecer. Quando percebe, tem filhos e uma mulher desconhecida do seu lado. Passa os finais de semana fazendo consertos pela casa e com sorte, ganha um pudim só pra você!

MULDER: - Nós temos um acordo: Não queremos casamento.

AL BUNDY: - Eu tenho um acordo com a Peggy: Nada de sexo. Uma vez ela me ligou e propôs uma rapidinha.

MULDER: - E o que fez?

AL BUNDY: - (SÉRIO) Vim correndo pra casa.

MULDER: - ... (RINDO) Seu safado...

AL BUNDY: - (SÉRIO) Pensei que rapidinha significasse um lanche rápido. Se soubesse, não teria vindo...

Os dois suspiram. Bebem um gole ao mesmo tempo.

AL BUNDY: - Ela só fala besteiras, besteiras...

MULDER: - A Scully quando abre a boca pra me criticar parece um disco arranhado. Fala, fala, fala... Me deixa tonto!

AL BUNDY: - Bem vindo ao clube, companheiro. Ela já pegou sua carteira?

MULDER: - Não. Mas me levou 30 dólares numa piada ingrata!

AL BUNDY: - (RINDO) Ahá! A história das duas mãos e da língua? Essa é velha!

MULDER: - (RESSENTIDO) Ela vai me mandar dormir no sofá.

AL BUNDY: - Não se preocupe, isso será uma benção. Daqui à alguns anos, você vai implorar pra dormir no sofá.

MULDER: - Sério?

AL BUNDY: - (SONHANDO) Vai ver que coisa boa é ficar de cuecas, bebendo cerveja e arrotando pra cima, coçando as bolas, comendo batata frita, assistindo jogos do campeonato. Soltando ‘pums’ debaixo das cobertas. Ah! Nada como ser um homem livre!

Al suspira.

AL BUNDY: - Sem ter ninguém cutucando você do seu lado. Obrigando você a fazer coisas que seu corpo não consegue fazer por falta de estímulo visual e auditivo!

MULDER: - Mais eu gosto dela. Gosto que ela fique me ‘cutucando’.

AL BUNDY: - É, ela é bonita pelo menos. Mas se algum dia ela passar creme verde no rosto, é hora de cair fora.

MULDER: - Mas ela passava creme verde no rosto antes da gente ficar junto.

AL BUNDY: - (INCRÉDULO/ ASSUSTADO) Começou um relacionamento de trás pra frente?

MULDER: - Pode ser. Afinal ficamos tantos anos juntos, brigando, se evitando...

AL BUNDY: - (EMBURRADO) Você é um idiota, sabia? Você não tem graça. Você é igual ao Jefferson. Que aliás, não sei como pode estar numa hora dessas fazendo sexo com a Marcy. Ela parece um homem!

Bundy pega uma revista.

AL BUNDY: - Dá uma olhada na garota do mês.

MULDER: - ... Não, acho melhor não. Já arranjei encrencas hoje por causa de silicone.

AL BUNDY: - Ah, então conheceu a Janet!

MULDER: - ... (DEBOCHADO) Não. Os seios dela é que se apresentaram aos meus olhos.

AL BUNDY: - Conselho. Tape a boca com esparadrapo. O que os ouvidos não escutam, a inteligência não sente. E depois, pra que mulher inteligente? As boas são melhores!

MULDER: - (RINDO) Tá, Al. Vou concordar pra não perder o amigo. Aliás, eu não vou concordar não! Hoje estou me sentindo o velho Mulder asqueroso, tarado e irritante!

AL BUNDY: - Psiu, não fale a palavra ‘tarado’ tão alto. Minha mulher pode ouvir. E se ouvir vai se empolgar. E quando se empolga quer sexo. E ir pra cama com ela é como ir para a cadeira elétrica. Eu prefiro a morte.

MULDER: - ... Ir pra cama com a Scully é como um ritual de exorcismo.

AL BUNDY: - Nossa! É tão ruim assim?

MULDER: - Não. Ela quer que eu tire o diabo do corpo dela. Porque ela vira o próprio! Grita como uma louca, arranca pedaços das minhas costas, murmura um dialeto que eu não conheço e sacode a cama enlouquecidamente. Sem falar que me deixa acabado, como se eu tivesse corrido atrás de um criminoso por horas sem parar. Estou vendo o dia em que vai girar o pescoço a 380 graus!

AL BUNDY: - No seu caso até eu queria ser padre! Só não a deixe vomitar uma substância verde na sua cara. E não se esqueça de rezar antes de ir pra cama. Leve a Bíblia com você e esqueça os preservativos. A Bíblia será mais útil.

MULDER: - Tive uma ideia, Al. Ela é católica. Acha que vai me matar se eu me fantasiar de padre?

AL BUNDY: - Não faça isso. Acho melhor pegar sua arma e meter um tiro na cabeça. Pelo menos vai morrer... Não vai ficar vegetando numa cadeira de rodas e castrado.

Mulder olha pra Al em pânico.

Barulhos na cozinha.

Al agacha-se.

AL BUNDY: - Vou até o balcão da cozinha dar uma espiada.

MULDER: - Vou com você.

Os dois arrastam-se de quatro até o balcão. As luzes se acendem. Peggy desce as escadas e olha pro dois naquela posição.

PEGGY: - Quem diria!

Os dois levantam-se assustados.

PEGGY: - Al Bundy... Muito bem, está explicado porque deixou de ser homem há muito tempo! Mas você? Ah, FBI, me decepcionou! Tão bonitinho, com um gosto tão estragado!

AL BUNDY: - Não é o que está pensando. Viemos pegar o ET que está na cozinha.

Mulder olha pra geladeira. Está aberta. Um rastro esverdeado sai pela porta dos fundos. Pegadas pequenas. Mulder puxa a arma.

MULDER: - Fiquem aqui, o ET está lá fora.

Peggy abraça-se em Al, assustada. Al solta-se de Peggy, assustado com ela.

AL BUNDY: - Nem que fosse o fim do mundo, nunca mais faça isso! Quero morrer sossegado!!!!!!

Mulder abre a porta dos fundos. Segue as pegadas. Caminha até o quintal. As pegadas terminam num arbusto. Mulder aponta a arma. Bundy aproxima-se lentamente por trás dele. Cochicham.

AL BUNDY: - Onde está?

MULDER: - Psiu! Ali, atrás dos arbustos.

AL BUNDY: - Atire!

MULDER: - Não posso! Por que atiraria num ET que rouba geladeiras?!

AL BUNDY: - Não há nada na constituição americana que diga que pode fazer isso?

Mulder aproxima-se com cautela. Olha atrás do arbusto. Abaixa a arma, frustrado.

MULDER: - Al, venha aqui.

AL BUNDY: - O que é? Ele morde?

MULDER: - Talvez. Venha ver o seu ET.

Al aproxima-se do arbusto.

Close de Buck, o cachorro, todo sujo de tinta verde fosforescente, com uma coxa de frango na boca.

BUCK (pensando): - Não atire, sou inocente. Só queria fazer uma boquinha.

AL BUNDY: - (PERPLEXO) Isso daí é o ET?

Kelly aproxima-se, de camisola.

KELLY: - Pai, o Buck é um cão extraterrestre? Que maneiro!

AL BUNDY: - Cala a boca, sua anta! Atire nela, Mulder, atire, por favor!

Peggy aproxima-se.

PEGGY: - (DEBOCHADA) Oh, Al! Então era o Buck. Eu falei pra você que alienígenas não existiam e...

AL BUNDY: - (IMPLORA DE JOELHOS) Mulder, atire em mim! Por favor, me mate! Me poupe dessa mulher! Me poupe dessa família!


Estrada Interestadual – 11:34 A.M.

[Som: Frank Sinatra – Love and Marriage]

Mulder dirige o carro. Sério. Scully segura o riso.

SCULLY: - Bem, não deveríamos ter prendido o cachorro por falsidade ideológica?

MULDER: - ...

SCULLY: - O que vai dizer no seu relatório, Mulder?

MULDER: - ...

SCULLY: - ‘Cachorro marciano assusta moradores de Chicago’?

MULDER: - ...

SCULLY: - Mulder?

MULDER: - (IRRITADO) Não fale comigo, está bem? Essa viagem foi um desastre! Foi o pior pesadelo de um homem!

SCULLY: - ... Pelo menos comprei sapatos novos... Altos, pretos e sensuais...

MULDER: - Não vai conseguir me amansar. Você ficou rindo e fazendo piadinhas o tempo todo! Como eu iria adivinhar que era o cachorro?

SCULLY: - (DEBOCHADA) Como você diria: Que totózinho malvado!

Mulder olha pra Scully. Começa a rir.

SCULLY: - Podia ser pior, Mulder. Podia ter levado uma mordida e entrar em coma, sugestionando-se em desgraça por ter sido mordido por um ‘alienígena’...

MULDER: - Se não parar de me irritar, eu é que vou morder você!

SCULLY: - Hum, isso seria interessante. Quer a perna ou prefere o meu bumbum?

MULDER: - ... Eu vou começar a latir...

SCULLY: - Nossa! Que cãozinho malvado! Quando chegarmos em casa vou te dar um prato de ração e jogar frisbee com você.

MULDER: - Vai ouvir... Tô avisando... Começa a deixar furo e eu vou dizer besteira... Sabe que não perco a oportunidade...

SCULLY: - Quer ganhar um osso, quer?

MULDER: - Pára, eu tô avisando...

SCULLY: - Se rolar no chão e fingir-se de morto ganha.

MULDER: - Scully...

SCULLY: - Podemos brincar no tapete...

MULDER: - (SEGURANDO-SE, LOUCO PRA DIZER BESTEIRA)

SCULLY: - Posso dar banho em você, colocar um talco contra pulgas... Catar suas pulgas...

MULDER: - ...

SCULLY: - Escovar seu pelo...

MULDER: - ...

SCULLY: - Colocar sua licença no pescoço...

MULDER: - Se você ficar de quatro pra fazer todas essas atividades eu prometo que serei um bom cachorrinho.

Scully olha pra Mulder, assustada. Mulder respira aliviado.

MULDER: - Você quem pediu. Eu avisei.

SCULLY: - De quatro?

MULDER: - ...

SCULLY: - Mulder, gostaria de rolar no tapete? Eu posso latir se quiser...


Residência dos Bundy – 12:06 A.M.

[Som: Frank Sinatra – Love and Marriage]

Al assiste TV. Peggy ao seu lado, lixando as unhas.

AL BUNDY: - Peggy, falei para o Mulder que não se preocupasse. Nosso relacionamento é diferente do relacionamento deles. Mas pensei que o alienígena era você.

PEGGY: - Sério? Ora, Al, bem que eu gostaria de fazer amor com um extraterrestre...

AL BUNDY: - (DEBOCHADO) Acho que tenho uma fantasia de Darth Vader no porão...

PEGGY: - Se me deixar pegar na espada... Por falar nisso, a espada não é fosforescente?

[Som: Star Wars Theme]

Peggy e Al Bundy trocam olhares safados. Levantam do sofá ao mesmo tempo e correm pra garagem.

Fade out.


12/03/2000

1 de Dezembro de 2018 às 19:44 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

Conheça o autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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