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O olhar de Kagami sobre seu filho, Shisui, desde a infância ao casamento e paternidade.


Fanfiction Anime/Mangá Impróprio para crianças menores de 13 anos.

#naruto #shiita #kagami #shisui #itachi #paternidade #pai-e-filho #família #fluffy
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Capítulo Único - Ciclo

NOTAS INICIAS:

Essa fic foi feita para o Desafio de Dia dos Pais do Ink, eu não postei na época por causa do limite de palavras. Bem, a ideia era fazer a fic acompanhando o olhar do Kagami sobre o Shisui, como ele via ShiIta. Essa fanfic faz menções às fics: Savin Us da Flora/Carol e a minha "Promessas". Não precisa de leitura prévia, mas é uma articulaçao de ambas. 

Estava mexendo no meu drive e a vi lá, adulterei umas partes, mas eu ainda gosto dela e vim postar. É isto, espero que gostem. 

Flora, eu dedico a fic à vc pelo seu aniversário de tempos atrás, quem sabe assim vc não atualiza SU?

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Kagami sempre soube que Shisui tinha tendências homossexuais.

Ele não era como os garotos da sua idade e qualquer um poderia notar isso. Shisui era um Uchiha diferente. A começar por quando ele retornou para casa depois de uma missão chorando e com o Mangekyou ativado. Kagami soube naquele dia que o suposto amigo do filho havia morrido, que Shisui não conseguiu salvá-lo e como consequência seu Sharingan tinha evoluído. Aquilo poderia ser uma informação para se vangloriar, como muitos outros Uchihas o fariam, mas para Kagami, o filho tinha perdido um de seus laços mais importantes e ele sabia disso porque o seu próprio Mangekyou somente despertou quando sua amada esposa faleceu, dando à luz ao primogênito deles. E aquilo não era motivo de comemoração.

No entanto, quando Shisui conheceu Itachi e praticamente começou a viver para ele, Kagami teve a certeza de que seu filho era gay.

Mais especificamente, ele era gay por Itachi. Muito gay. Gayzíssimo, aliás.

Shisui era Itachissexual.

O Uchiha mais velho soube disso desde a primeira vez que o filho havia cruzado a porta da residência com um sorriso resplandecente enquanto era acompanhado por um garoto franzino, que logo reconheceu ser Itachi Uchiha, filho de seu companheiro de batalha e atual líder do clã.

- Itachi? – Kagami questionou com o cenho franzido.

Shisui já era um gennin formado e, pelo que sabia, o mais novo sequer havia entrado na Academia Ninja, por isso estava curioso para saber porquê ele estava ali em sua casa.

- Você conhece meu amigo, otou-san?

- Sim. Conheço seu pai, garoto – disse à Itachi, olhando-o desconfiado.

Itachi não esboçou reação diante de sua fala. Afinal, para ele, todos no clã deveriam conhecer seu pai, uma vez que Fugaku era o líder deles.

- O que ele está fazendo aqui, Shisui?

- Vim pegar meu kit de kunai’s e o Itachi-kun está me acompanhando. Nós vamos treinar juntos! – respondeu animado.

- Tome cuidado, ele é apenas uma criança – Kagami disse com seriedade, repreendendo tal animação do menor.

Não precisava que Mikoto viesse depois à sua porta lhe cobrar explicações sobre possíveis cortes no primogênito.

- Ele não é só uma criança! – Shisui defendeu o outro eufórico, atraindo a atenção do pai – Ele é excepcional, otou-san!

Kagami voltou a franzir o cenho. Sabia que Shisui era carismático e tinha a tendência de defender os mais fracos, porém o brilho determinado nas íris escuras lhe diziam que havia algo a mais ali. Uma admiração inestimável. A mesma admiração que Shisui lhe direcionava quando contava suas memórias da guerra.

Optou por não dizer nada e em seguida deu às costas aos mais novos, já que no momento era requisitado na Estação Policial. Antes de sair, no entanto, ele viu os meninos descendo a escada do segundo andar e Shisui sorrindo enquanto arrastava Itachi pelas mãos, outro detalhe que o chamou atenção.

Kagami suspirou e decidiu que depois investigaria aquela amizade repentina e, principalmente, qual era o interesse de Shisui nela

Quando retornou à sua casa, deparou-se com um estranho silêncio vindo do interior – apesar de sentir os chakras de ambos – mas decidiu que deixá-los a sós poderia ser uma boa experiência para Shisui, ter algum amigo o faria bem, sobretudo após a morte de seu antigo companheiro de equipe.

Decidiu então que deveria preparar o jantar e que dessa vez haveria um prato a mais à mesa, porém ao retirar os ingredientes dos armários da cozinha, ouviu batidas à porta e se surpreendeu por encontrar Mikoto ali.

- Vim buscar o Itachi-kun! – ela disse alegre enquanto segurava o pequeno Sasuke nos braços.

- Vou chamá-lo. Entre e sinta-se à vontade – Kagami falou, a deixando sozinha na sala.

Kagami não entendia muito bem como e quando Shisui havia se aproximado de gênio Uchiha, mas imaginava que para estarem tanto tempo juntos naquele dia, ele deveria ser alguém importante para sua criança, e por isso não queria ter que ver o filho desolado com a partida de seu novo amigo. Por esse motivo estava receoso em intervir, mas após alguns segundos sem ouvir qualquer movimentação ou cochicho dos dois, um pressentimento aflito preencheu seu peito. Desconfiado, Kagami abriu a porta do quarto num rompante.

Qualquer coisa que sua imaginação pudesse ter criado naqueles míseros cinco segundos era menos chocante do que o cenário que estava presenciando no momento: Itachi estava sentado na cama de Shisui, vestindo um de seus pijamas que lhe eram muito folgados, e tinha sua atenção voltada para um pergaminho do primo. Enquanto isso, o mais velho estava sentado atrás dele, uma das mãos segurava as mechas úmidas e a outra segurava uma escova com delicadeza para pentear o cabelo longo.

- Otou-san? – Shisui questionou intrigado pela presença repentina do mais velho.

- Sua mãe está aqui, Itachi – disse simplório e só assim os olhos do gênio Uchiha repousaram em si. Ele anuiu com um movimento rápido de cabeça e em seguida saltou da cama, focando sua atenção no primo.

- Eu te acompanho! – Shisui se prontificou animado, saltando da cama também, e ganhou um pequeno sorriso satisfeito de Itachi como resposta.

Kagami arqueou uma sobrancelha quando Shisui sorriu radiante, jogando a escova já esquecida sobre a cama, pegou uma sacola de roupas que provavelmente pertenciam a Itachi e então saiu do quarto apressado, passando por baixo de seu braço estendido. Itachi o seguiu com pacificidade, parou no batente da porta de frente para si e então se curvou numa mesura educada.

- Obrigado pela hospitalidade, Kagami-san – ele disse monótono, como se não estivesse realmente agradecido e apenas falasse aquilo para manter o respeito do tio, depois arrumou a postura e continuou o caminho.

O mais velho suspirou e por fim focou sua atenção na cama. A escova roxa com as iniciais de sua falecida esposa refletiam a luz amarelada do quarto, o fazendo se sentir perdido. Naquele dia havia descoberto que Shisui não era somente amigo de Itachi, mas que ele também penteava o cabelo do mais novo com cuidado.

 Ele jamais havia imaginado tal aproximação e zelo vindo de seu filho... como poderia pensar aquilo, afinal? Shisui sequer penteava o próprio cabelo! Considerar ainda que ele havia achado aquela escova era outro detalhe importante. Ele sabia a quem pertencia o objeto e usá-lo em Itachi tinha um grande significado.

Kagami respirou fundo mais uma vez e decidiu ignorar a cena tendenciosa que havia visto, cogitando se tratar apenas de uma convivência intima de primos.

Desceu as escadas a ponto de ver Shisui abraçar Itachi rapidamente e sorrir feliz enquanto se despedia. Mikoto os olhava com carinho e acenou para si assim que Itachi pegou o irmão no colo, já saindo de sua casa.

- Até mais, Tachi!

O “apelido” foi mais um sinal de que a figura de Itachi era deveras importante para seu filho. Kagami colocou uma mão sobre o ombro de Shisui e quando os olhos grandes e vivazes repousaram em si, sorriu cúmplice.

- Eu gosto dele – Shisui declarou convicto.

Kagami arregalou o olhar, indeciso sobre a declaração se referir apenas aos sentimentos fraternos que havia adquirido recentemente ou algo mais. Mas no fundo sabia que as tendências homossexuais de Shisui só iriam ampliar dali em diante.

- É claro... ele é um bom garoto. Vamos jantar.

- Sim, otou-san.

Antes de dormir, Kagami passou no quarto de Shisui para desejar-lhe uma boa noite de sono e aproveitou a oportunidade para descobrir mais detalhes sobre a recente amizade. Foi dessa forma que soube que eles haviam se conhecido na floresta enquanto Itachi treinava, que tinha uma boa pontaria segundo Shisui. Após ambos conversarem e treinarem juntos, eles foram nadar no rio do clã e por isso ele estava penteando o cabelo úmido do primo mais tarde.

Kagami assentiu durante todo o relato animado de Shisui e depois se despediu. A escova de sua esposa já não era mais um assunto pertinente. Agora, Itachi o era.

E isso se mostrou cada vez mais importante com o passar dos dias, semanas e meses. Kagami chegou a notar que onde Itachi estivesse, Shisui estava ao seu lado e vice-versa, tanto que a presença de Itachi passou a ser comum em sua casa e o principal tema da vida do filho ao ponto de deixá-lo desnorteado às vezes. 

“Tachi fez um clone das sombras!”

“Tachi conseguiu atingir os alvos vendado!”

“Tachi avançou um ano na Academia!”

“Tachi tem um chute forte, otou-san!”

“Tachi e eu fomos comer dangos”

“Tachi estava esquisito hoje…”

Kagami se limitava a observar os sinais. Não bastava Shisui programar toda sua rotina em conjunto com a rotina do primo, ele também passava cada vez mais tempo fora de casa com o amigo e no jantar contava-lhe os feitos do seu dia, sempre mencionando Itachi, mesmo que o dito cujo não estivesse presente.

Aquela devoção do filho era divertida. Claro que Itachi era um gênio e atraia os olhares de todos, mas Shisui falava dele como a própria Mikoto em reuniões do clã, com orgulho e paixão. Por isso foi se convencendo de que seu filho era um devoto de Itachi, tanto quanto o pirralho Sasuke era.

Uma vez, Kagami recordava-se de chegar à sua casa e ouvir um barulho vindo da cozinha. Interessado, aproximou-se do cômodo iluminado e então viu o filho rindo enquanto Itachi estava coberto de farinha de arroz com a expressão irritada.

- O que estão fazendo?

- Otou-san! – o riso de Shisui cessou no mesmo instante, dando lugar a uma expressão preocupada.

- Shisui quis fazer dangos – Itachi respondeu, fulminando o amigo com o olhar, e depois voltou-se para Kagami – Desculpe pela bagunça, Kagami-san. Iremos limpar sua cozinha – e então ele fez uma mesura educada, logo recolhendo o saco de farinha aberto do chão.

- Hey! – Shisui se inclinou e recolheu o pacote das mãos de Itachi – Vá se limpar, eu cuido disso – sorriu enquanto bagunçava o cabelo do mais novo espalhando a farinha, enquanto a expressão de Itachi era de claro desagrado.

Toda a movimentação era observada por Kagami, que interiormente se questionava quais eram as reais intenções do filho uma vez que Shisui era um desastre cozinhando.

Aquilo jamais daria certo.

- Vá junto com ele, Shisui – interviu sério – Itachi não sabe onde estão as toalhas da casa.

Os grandes olhos negros do menor piscaram animados e então ele correu para junto de Itachi e o puxou pelo pulso até o andar superior. Kagami sorriu ao ouvir a voz animada do filho e os resmungos baixos do outro garoto enquanto os passos se distanciavam da cozinha. Em seguida, deu de ombros e limpou a bagunça que os menores haviam feito.

Foi assim, aos poucos, que o Uchiha aceitou a presença soturna de Itachi em sua casa, principalmente na vida de seu filho. Conforme eles cresciam e passavam mais tempo juntos, ele tinha certeza de que aquela reação ainda iria trazer muitas emoções.

O clã não tinha uma posição muito tolerante quanto à relações homossexuais, ainda mais considerando que Itachi era o primogênito de Fugaku, por isso que Kagami ainda tentava se iludir com o pensamento de Shisui considerar o primo apenas como um amigo.

Sua criança era doce apesar da vida ninja e ele não queria que enfrentasse os percalços de uma vida amorosa tão cedo. Foi por pensar assim que anos mais tarde bateu à porta do quarto de Shisui e esperou ser atendido. O chunin estava trancafiado no quarto desde o dia anterior em que entrara na casa resmungando impropérios, dentre os quais Kagami reconheceu apenas “Itachi”.

- O que foi?! – ele disse do lado de dentro do quarto.

- Essa é minha casa, abra a porta quando eu bater! – falou ríspido, e logo em seguida ouviu o trinco girando.

Shisui estava sem o protetor de testa e olhava cabisbaixo para os próprios pés.

- Desculpe, otou-san...

- Escute, Uchihas não abaixam a cabeça assim – ditou, elevando o queixo dele – assuma seus erros e desejos! – Shisui piscou e depois acenou positivamente em concordância – Agora saia da frente.

O adolescente deu passagem ao mais velho e o olhou constrangido quando o pai sentou-se em sua cama e o fitou com a expressão séria, digna de uma análise detalhada contra um oponente em batalha. Shisui apertou as mãos em punhos, sem saber ao certo o que fazer, e Kagami, por sua vez, não sabia como iniciar aquela conversa constrangedora para ambas as partes de qualquer forma.

- Vou ser direto – começou após pigarrear – Esse momento é complicado, mas vai passar.

- O que? – Shisui enrugou o cenho, tombando a cabeça para o lado.

- Os hormônios nessa idade...

- Otou-san, eu estou bem... – tentou cortá-lo, mas o olhar autoritário que recebeu o fez se encolher.

- Então por que está trancafiado nesse quarto?!

Ele deu de ombros e Kagami arqueou uma sobrancelha em resposta. Sem muito o que pensar, Shisui suspirou audivelmente e elevou as mãos, como se desistisse de se manter na defensiva.

- Itachi e eu sempre treinamos juntos. Terça-feira é dia de treinar lançamento de kunais! Eu estava lá no nosso lugar e ele não chegava... fui atrás do Tachi e o vi acompanhado de Izumi! A garota sempre está atrás dele... – as sobrancelhas escuras se uniram num claro sinal de desagrado, mas logo os olhos tornaram-se pidões de novo – Terça-feira é dia de lançar kunais, nadar no Nakano e comer dangos! Nós comemos juntos! Itachi come dangos comigo, otou-san! Por que ele estava comendo com ela?

A última pergunta havia sido um sussurro derrotado e então aquela foi a primeira vez que Kagami notou como os sentimentos do filho eram transparentes, tão límpidos quanto as águas do rio do clã. Uchihas eram passionais e amavam como nenhum outro clã era capaz e a prova estava bem ali, diante de si.

No seu próprio filho idiota e apaixonado.

De certa forma, Kagami ficava feliz pelo seu garoto ter aquela conquista e ao mesmo tempo sentia por ele, já que o alvo de seu afeto parecia não lhe corresponder à mesma medida.

O patriarca focou sua atenção na expressão desolada à frente que agora tinha os olhos escuros cintilantes pelas lágrimas acumuladas. Shisui era bonito, seus traços lembravam a si próprio no passado, mas o formato dos olhos, os cílios longos e a boca cheia eram heranças de sua falecida esposa que davam ao jovem chunnin um charme único. Além claro, dos cachos desordenados que emolduravam o rosto e o faziam diferente de tantos outros Uchihas

- Está trancafiado nesse quarto porque Itachi estava comendo dangos com outra pessoa? – questionou com seu tom sério de sempre.

Os olhos do filho se arregalaram.

- Não! – no primeiro momento negou com entusiasmo, mas assim que o silêncio se estendeu entre eles, Shisui suspirou – ... sim?

- Um Uchiha conquista suas batalhas. Não aprendeu nada com as histórias que lhe contei?!

Shisui abaixou o olhar, franziu as sobrancelhas e se sentou na cama ao seu lado.

- O que me aconselha, otou-san?

Kagami colocou a mão sobre o ombro do filho num pequeno gesto solidário e depois sorriu cúmplice.

- Conheça seus inimigos e o território deles, se infiltre para descobrir as fraquezas e então aniquile-os por dentro – disse como o exímio estrategista que era.

Shisui balançou a cabeça, ponderando a questão.

- Isso é uma metáfora, certo?

- Sim.

- Obrigado por sempre me dar os melhores conselhos, otou-san! – ele disse alto ao passo que enlaçava a cintura do pai num abraço apertado e enterrava a cabeça no seu tronco.

O Uchiha escondeu o sorriso que adornava seus lábios enquanto afagava o cabelo cacheado do mais novo. Em seguida, o empurrou com delicadeza e olhou no fundo dos seus olhos.

- Vá dormir e pare de pensar besteiras. Itachi é seu amigo e gosta de você.

Kagami viu o sorriso radiante característico do filho se fazer presente e então soube que tudo estava bem. Saiu do quarto com a sensação reconfortante de dever cumprido.

Por causa de seu conselho, Shisui se mostrou mais receptivo à figura de Izumi nos meses seguintes. Aos poucos, ele realmente se aproximou dela, de modo que Kagami conseguiu notar os olhares analíticos e enciumados que o filho dirigia à garota se tornarem amistosos ao manterem uma conversa saudável em pauta. E assim a dupla Itachi-Shisui, se tornou um trio bastante unido que passou a frequentar sua casa e seus jantares. Itachi-Shisui-Izumi era a nova combinação Uchiha nos fins de tarde, para o desapontamento de um Shisui apaixonado.

Mas, felizmente, Kagami notou quando a preferência do gênio Uchiha foi se mostrando. Eram pequenos sinais, muito menos expressivos que os de Shisui, mas Itachi procurava pelo primo de uma forma quase dependente e quando era deixado de lado um semblante melancólico se apossava dele.

- Shisui está em reunião, Itachi – disse ao se deparar com o jovem à sua porta.

O adolescente colocou a franja longa que atrapalhava sua visão atrás da orelha e em seguida assentiu com lentidão.

- Por favor, avise-o que estive aqui – e assim que terminou de falar, Itachi caminhou para longe em seu estranho modo robótico de andar.

Realmente, de todas as pessoas do clã que Shisui poderia ter se apaixonado, ele havia escolhido logo a mais inusitada.

Três semanas se passaram sem que Kagami tivesse notícias do filho, a única coisa que sabia era que ele estava em missão pela Vila. Sentia-se tenso a cada novo dia que o primogênito não aparecia e foi por isso que se permitiu inflar o peito saudoso e abraçá-lo com força quando encontrou o sorriso abobalhado à sua frente.

- Seu moleque!

- Hey! Uou! – Shisui exclamou divertido e se afastou para fitar o mais velho com carinho – Eu também estive com saudades, otou-san.

Kagami torceu a boca em desagrado. Odiava se sentir vulnerável daquela forma, mas seu filho ainda era um pirralho, ao menos, ele se comportava como um. Os 16 anos de Shisui eram somente um número. Ele era um exímio ninja, digno de todas as honrarias, como o título jounin recém conquistado, contudo, ainda era seu filho e por isso era impossível não se preocupar com ele.

- Estou orgulhoso, Shisui – comunicou afagando a bochecha dele, e recebeu um sorriso aberto em resposta.

- Eu preciso falar com o Itachi-kun, otou-san. Mas volto para o jantar! – emendou rapidamente ao ver a expressão do pai. Kagami suspirou conformado e então se encaminhou para a cozinha.

- Ele esteve te procurando, Shisui – disse dando às costas ao filho; porém, mesmo sem vê-lo, Kagami sabia que o sorriso aberto havia aumentado de tamanho.

A volta de Shisui demorou mais do que pensara. Já estava comendo sozinho quando o moreno cruzou a porta da casa com uma expressão contente e apologética.

- Desculpe...

Kagami lançou-lhe o pior de seus olhares, contudo não lhe dirigiu a palavra. Estava com saudades de seu filho, não dos sumiços na surdina que ele dava com o primo mais novo, sabe-se lá para fazerem o quê.

- Eu tinha que entregar um presente ao Itachi-kun, otou-san... – Shisui ainda tentava se justificar, mesmo sabendo que Kagami não o ouviria de qualquer maneira.

Viu-o se sentar à mesa e se servir dos onigiris preparados. Não demorou muito para que o seu silêncio fosse preenchido pelos fatos heroicos realizados por Shisui em sua última missão, assim como todos os pensamentos e dramas que acompanhavam aquele discurso empolgado, principalmente a menção ao colar de ônix ganhado como recompensa pela missão.

- Trouxe para o Itachi-kun... – Shisui confessou.

Kagami arqueou uma sobrancelha. Até onde sabia, eles não eram acostumados a trocarem presentes, mas preferiu não confrontá-lo sobre aquilo.

- E para o seu pai? Esqueceu-se de mim?

- Otou-san!

Os sintomas da paixonite do filho só pioraram dali em diante.

Kagami recordava-se do dia em que estava com Fugaku em sua casa, numa visita cordial sobre os afazeres do clã, quando de repente o filho cruzou a porta da sala rapidamente. A velocidade de Shisui era algo invejável para qualquer shinobi, mas o patriarca tinha ciência de que ele não se comportava assim em dias comuns.

O mais curioso, porém, foi que ao ver Fugaku na sala, Shisui parou subitamente e, por consequência, permaneceu encarando-o em completo silencio por longos segundos. Kagami, muito astuto, percebeu a coloração adornar as bochechas de Shisui e logo soube que algo havia acontecido entre ele e Itachi. Naquele momento, Kagami fez questão de bloquear qualquer pensamento impróprio de sua mente e pigarreou, chamando a atenção do filho.

- Shisui?

- Hey... Oi... Otou-san? – ele continuava aéreo, com os olhos fixos no líder do clã, mas a postura agora era mais relaxada.

- Estamos ocupados, Shisui – dispensou-o, com seriedade.

Num piscar de olhos, o filho já não estava mais lá. Kagami fitou Fugaku e assim que notou o olhar questionador do amigo, deu de ombros.

- Jovens...

- Hm.

A conversa retornou ao tópico da patrulha do clã, mas a mente de Kagami já estava em outra esfera.

O que havia acontecido com seu filho afinal?

A resposta – e confirmação de sua suspeita – veio anos depois. Shisui estava esquisito há muitos dias, parecia irritado com Itachi embora não apresentasse motivos explícitos e quando o observou com o olhar perdido à sua frente, Kagami sentiu o peso nos ombros do filho, como se tal peso estivesse sobre seu próprio corpo.

 - Otou-san...

- Shisui – sorriu breve e em seguida voltou a estudar o filho com o olhar – Como vai?

- Bem... – o jovem anbu pegou o bule e serviu chá para o patriarca e para si também – Preciso da sua ajuda... estou aflito e gostaria de saber se poderia contar com o senhor...

- Você, além de meu filho, é um homem integro e por isso sempre o apoiei – Kagami cortou sua fala – Sua mãe estaria orgulhosa de ver o grande homem que se tornou, Shisui – Kagami viu o mais novo engolir a seco, num sinal de constrangimento e felicidade – Então, me diga, sobre o que devo apoiá-lo agora? 

Shisui bebericou um pouco de seu chá quente e Kagami, por sua vez, notou toda a aflição passar pelo rosto do filho enquanto esperava paciente pela declaração que logo viria.

- Eu quero me casar com Itachi. E preciso de seu apoio junto aos conselheiros.

Ao compreender as palavras do mais novo, a expressão de Kagami se tornou dura, incrédula e até desapontada. Imaginava que o filho estivesse num relacionamento escondido com o primo, mas não esperava que fosse algo tão sério ao ponto de cogitarem um casamento real. Além disso, por que Shisui nunca havia lhe falado nada sobre aquilo antes? Cruzou os braços num estado contemplativo e manteve os olhos fixos no filho, que ficava cada vez mais ansioso com o passar dos segundos angustiantes.

 - Fugaku sabe disso? – perguntou direto. Essa era a verdadeira questão afinal.

Ele sustentou seu olhar, tentando ler sua expressão e falhando miseravelmente. Kagami sorria internamente por reconhecer as manias do filho porque, no fim, Shisui se revelava o mesmo Shisui de sempre.

- Itachi disse que contou hoje a ele – respondeu, completamente desconfortável.

Kagami continuava com sua posição estoica, deixando o outro mais e mais nervoso. E seu intuito era realmente deixá-lo daquele jeito, uma espécie de castigo por não ter se aberto consigo antes. Quando Shisui fez menção de falar novamente, o patriarca fez um gesto negativo com a cabeça e voltou a lhe questionar:

- Qual a posição dele sobre isso?

- Seremos deserdados.

Kagami sentiu um aperto no peito. Já imaginava que Fugaku adotaria tal posição, mas esperava que ao menos não ofertasse uma punição tão severa assim ao próprio filho. Expulsar Shisui por ter hábitos indecentes e incestuosos era “aceitável”, mas destituir o próprio primogênito do clã era algo notável.

Fitou Shisui com atenção mais uma vez e ao perceber o olhar determinado nas íris escuras, sorriu internamente. Seu olhar vagou pela sala até encontrar o quadro da esposa na parede oposta... O que Yumi pensaria sobre a vida amorosa dele? Respirou fundo e com o questionamento em mente, decidiu ouvir o filho para ter certeza da decisão que tomaria dali em diante.

- É isso mesmo que quer? Viver longe da família e isolado do clã?

- Eu quero ficar com o Itachi – Shisui arregalou os próprios olhos quando percebeu quais foram suas palavras, e Kagami se limitou a sorrir orgulhoso.

Um Uchiha. Definitivamente, Shisui era um Uchiha e nunca mais abaixaria a cabeça contra seus desejos. Suspirou pesadamente sabendo que aquilo significava viver longe de sua criança e depois o olhou compadecido, ainda que decepcionado por tê-lo partindo por algo tão desnecessário a seu ver.

- Eu já sabia – falou simplório, revelando pela primeira vez seu conhecimento da relação proibida.

- O QUÊ?! – Shisui se precipitou, bateu o joelho na mesa e consequentemente fez sua xícara virar, molhando o móvel – Oh, merda!

- Shisui – Kagami repreendeu seu vocabulário chulo, mas continuou a fitá-lo se desesperar para limpar a mesa de madeira polida.

- Oh, desculpe... – ele correu até a cozinha, pegou um pano e limpou sua bagunça.

- Tsc – Kagami resmungou antes de beber seu chá com tranquilidade.

- Otou-san... – Shisui o observou de esguelha, engoliu a seco e depois voltou a focar no pano úmido – Como o senhor sabia?

- Não me tenha por um idiota, Shisui! – bradou, irritado de verdade. Como seu filho duvidava de suas capacidades e sanidade assim tão descaradamente? – Você nem ao menos teve uma namorada nesses anos!

Kagami viu o mais novo corar em silêncio, recolhendo o pano úmido e o levando para a cozinha em seguida. Quando retornou com uma expressão aflita, Kagami viu-se mais uma vez como o centro da vida do filho, àquele cuja verdade absoluta era sempre ouvida e nunca questionada.

- E o que o senhor pensa disso? – ele pigarreou – Digo, o que pensa sobre o meu noivado?

Kagami suspirou derrotado. O que poderia dizer? Era sua criança ali. Queria a felicidade dele e sabia que isso só seria possível se ele estivesse ao lado de Itachi... limitava-se a desejá-lo saúde e prosperidade.

Entretanto, era óbvio que não o responderia tão sentimental assim, ainda tinha seu orgulho e sua imagem para zelar.

- Eu poderia expulsá-lo dessa casa, mas sua mãe me fez prometer que cuidaria de você e um Uchiha nunca quebra suas promessas.

Shisui fitou o pai por alguns instantes, sentindo os olhos arderem e então se levantou para abraçá-lo, derrubando-os ao chão. Kagami sorriu levemente e afagou os cachos do filho da mesma maneira que fazia quando ele era apenas um garotinho.

- Eu estarei aqui por você, falarei com Fugaku, mas não será fácil. E mesmo que seja expulso do clã, não duvide do meu amor por você, Shisui – disse convicto, apertando o corpo musculoso contra si.

- Otou-san! – Shisui abraçou-o ainda mais forte e lhe sorriu emocionado.

Os dias seguintes àquele foram caóticos. Reuniões foram feitas para determinarem a decisão final acerca daquele relacionamento e foi com grande pesar quando Kagami ouviu a sentença da deserção do filho.

A reunião do clã tinha sido aberta e ele pode ouvir o urro revoltado de Sasuke do outro lado do salão. O adolescente só não contestou a ordem por causa do sussurro de Mikoto em seu ouvido, do contrário, Kagami tinha certeza de que ele incitaria uma revolta. Os cochichos que se seguiram a isso foram abafados pelo comando autoritário de Fugaku e após ele expulsar por definitivo ambos os jovens, Shisui olhou para o pai desolado, ainda que sustentasse um sorriso discreto.

- Eu amo você, otou-san – ele sussurrou apesar da distância, e Kagami pôde entendê-lo ao fazer uma simples leitura labial.

Assentiu devagar e então o viu dar às costas ao clã ao lado de Itachi para enfim viverem sua vida a dois.

Sasuke foi o segundo a sair do local com rapidez, claramente irritado. Os outros seguiram seu exemplo e, aos poucos, o salão se esvaziou. Entre a multidão, Kagami reconheceu a imagem chorosa de Mikoto e ao seu lado Izumi que a amparava.

Duas semanas após o ocorrido, Kagami foi surpreendido com a figura de Izumi à sua porta. Ela trazia consigo um recado escrito a mão por Shisui, recolheu o bilhete e o leu rapidamente enquanto chamava Izumi para o interior. A mensagem era clara e objetiva, mas Kagami conseguia sentir a felicidade de Shisui ao ler que eles haviam assinado a certidão do casamento no dia anterior no escritório de Minato.

- Eu amo Itachi, sei que sabe disso – Izumi proferiu após olhá-la intrigado – Mas queria que soubesse que Shisui é meu amigo também.

Kagami a perscrutou com o olhar e por fim assentiu, ainda com desconfiança.

- Escreva uma resposta! Entregarei a ele assim que tiver oportunidade – ela falou com um sorriso pequeno.

Desse modo, Kagami manteve contato com o filho. Os anos se passaram e quando pensou que não poderia mais se surpreender com as façanhas de Shisui, foi surpreendido. Fugaku ficou furioso quando soube que Itachi e Shisui haviam feito um procedimento de fertilização em Izumi para gerarem uma criança. O mais curioso fora que aquilo tinha sido ideia dela! O clã, ele, Mikoto e Sasuke só ficaram sabendo de tal fato quando a barriga de Izumi já não tinha mais como ser escondida.

Reuniões, reuniões e mais reuniões. Tudo para decidirem o que fariam naquela situação: expulsavam Izumi também? E o bebê? Era um Uchiha, certo? Deveria ficar com a mãe, mas na verdade os pais eram Itachi e Shisui. Reuniões e mais reuniões.

Naquele mês, Kagami quis surrar Shisui por não tê-lo contado com antecedência suas peripécias para que se preparasse. No fim, Izumi permaneceu no clã e os “pais” da criança tinham liberdade para visitas semanais e assim o convívio continuou. Os jantares em sua casa com o trio Itachi-Shisui-Izumi passaram a ser almoços familiares nos quais até Sasuke e Mikoto participavam aos fins de semana.

- Otou-san, Itachi não gosta de nenhum nome que eu penso e Izumi não quer me ajudar... – Shisui se pronunciou constrangido, numa tarde de domingo qualquer.

- E você quer minha ajuda, moleque?

- Otou-san, é a sua netinha – Kagami arqueou uma sobrancelha com a voz manhosa do filho.

Como a sua criança teria uma criança? Era um mistério.

Aliás, como a sua criança cuidaria de outra criança? Kami, Shisui não tinha parâmetros. E pela primeira vez, Kagami ficou aliviado por ele estar casado com Itachi. Ao menos um deles tinha um pouco de juízo...

- O que acha de Sora? – Shisui perguntou, abraçando-o pelo ombro.

- Não.

- Kin?

- Não.

- Emi?

- Não.

- Tem alguma ideia melhor?! – questionou revoltado.

Kagami o fitou com atenção e após pensar por alguns segundos, falou:

- Yuli.

Shisui arregalou os olhos e então testou o nome, o repetindo algumas vezes. O som era agradável, o significado era literalmente fofo, talvez com aquele nome sua filha iria nascer com uma pele sedosa tanto quanto o cabelo de Itachi. Shisui esperava veemente que sim.

E, então, quando o sorriso resplandecente enfeitou seu rosto mais uma vez, Kagami soube que era o responsável pelo nome da neta. Mesmo que Itachi não gostasse, seria impossível tirar a ideia de Shisui a partir daquele momento.

O parto de Yuli não foi felizardo. Kagami tinha horror à hospitais após o trauma de perder sua esposa, então quando chegou à instituição no início da tarde e soube da notícia de que o parto de Izumi estava com complicações sentiu náuseas. No entanto, ele não podia ir embora... Shisui precisava dele ali. Havia acompanhado toda a excitação do filho em saber que seria pai, os planejamentos e sorrisos que vinham quando a pequena chutava a barriga de Izumi... por isso, ele tinha que ser o pilar do filho mais uma vez. Àquele que o sustentaria a qualquer custo.

- Eu não quero perdê-la, otou-san! – sentiu o aperto forte do abraço enquanto o choro desolado de Shisui molhava sua blusa.

Não havia o que responder, não poderia prometê-lo que teria sua filha nos braços no futuro, porque no fundo sabia que era arriscado, era um promessa que não podia cumprir e isso fazia seu peito doer por dentro. Kagami se limitou a abraçá-lo com força de volta e a orar para que tanto Izumi quanto Yuli saíssem com vida daquela sala cirúrgica. Ao final, souberam que Izumi não aguentou e foi quando Kagami viu Itachi ceder às lágrimas pela primeira vez. Shisui separou-se de si e abraçou o marido, sussurrando-lhe palavras gentis para acalentar o coração sôfrego ao passo que todos na recepção sentiam-se tristes pelo falecimento de Izumi e ao mesmo tempo felizes por Yuli estar viva, ainda que com a ajuda de aparelhos.

O processo do luto e da paternidade foi acompanhado de perto por Kagami. Ele era o que diziam ser o estereótipo de avô babão. Yuli era realmente uma garotinha linda, tinha os olhos vivazes de Shisui que o fizeram se apaixonar logo que a viu pela primeira vez e por isso se recusava a perder qualquer momento do desenvolvimento da neta.

E foi naquela manhã ensolarada que Kagami se pôs a analisar que Shisui não era apenas devoto a Itachi como pensara no início da vida do filho, ele era o companheiro ideal para o futuro Hokage.

Shisui vinha em sua direção com um sorriso estonteante enquanto carregava a filha no colo e tinha Itachi a poucos passos atrás deles.

- Otou-san! – ele acenou com a mão livre para si.

- Shisui... – fez um meneio de cabeça.

Kagami pegou Yuli no colo, que começou a brincar com seus cachos grisalhos, enquanto ele observava Shisui unir sua mão a de Itachi.

- Hey, otou-san, obrigado.

Sorriu. Shisui não havia especificado ao que exatamente estava agradecendo, mas o mais velho tinha uma certeza: ele havia feito apenas o seu papel como pai e agora Shisui começaria a entender isso porque Yuli precisava dele tanto quanto Shisui havia precisado de si.

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NOTAS FINAIS:

Espero que tenham gostado. Eu achei que o Kagami merecia uma fic depois de Promessas, que ele tinha a aparencia muito rigida lá.

24 de Novembro de 2018 às 19:22 1 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

Conheça o autor

Vany-chan 734 Fada do Fluffy e maluca dos angst. Luto pelo fim dos leitores fantasmas, por SasuSaku e por ShiIta, meus OTPs! "KakaSaku - Uma Chance para Nós" não será repostada aqui até ter sido devidamente betada, assim como "O Caminho que Trilhamos".

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n a n a
Eu tô chorando, que coisa mais linda. Queria que o anime tivesse terminado assim, SE O KISHIMOTO SE DEMITIR FICA COM A OBRA.
January 11, 2022, 22:44
~