lara-one Lara One

Anos 30. O detetive Fox Mulder precisa resolver um caso, envolvendo uma misteriosa viúva ruiva.


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S01#13 - IN THE MOOD


INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Fade in.

[Som: Glenn Miller - In the Mood]

Câmera de aproximação por um corredor iluminado apenas por pequenas luminárias nas paredes.

A câmera aproxima-se lentamente de uma porta com vidro, onde está escrito: “Fox Mulder – Detetive Particular”.

A porta abre-se.

Câmera de aproximação, dando detalhes da bagunça do escritório, com papéis por todos os lados. Revistas pornográficas pelo chão e calendários de mulheres semi-nuas nas paredes. O sofá de Mulder num canto. Ao lado, o cabide com um sobretudo.

Fecha a cena em Mulder, que está sentado, com os pés sobre a escrivaninha bagunçada, com o jornal na frente do rosto. Ele atira o jornal sobre a mesa. Está vestido com roupas dos anos 30, chapéu, fumando um cigarro e com uma garrafa de uísque sobre a mesa.

VINHETA DE ABERTURA: A VERDADE ESTA LÁ FORA... BEBENDO NUM PÉ SUJO AO SOM DO MILES DAVIS...


BLOCO 1:

[Som: Miles Davis – ‘Round Midnight]

Mulder caminha pela rua, debaixo de uma fina chuva, na Nova Iorque dos anos 30. Carros antigos pelas ruas, pessoas apressadas.

MULDER (OFF): - Meu nome é Fox Mulder. Todos na cidade me conhecem como Raposão, devido a minha fama com as mulheres. Digamos que eu tenha uma certa parte do meu corpo... Privilegiada em proporções matemáticas...

Mulder passa entre as prostitutas que mexem com ele. Ele sorri, sem dar bola pra elas.

MULDER (OFF): - Sou detetive particular. Nos últimos meses não tenho conseguido dinheiro nem para pagar um drinque. Parece que as pessoas desistiram de descobrir a verdade. Mas tudo bem, o aluguel da minha sala vence hoje, e fiz questão de não estar lá quando o senhorio chegar. Fui expulso de um pequeno apartamento pelo mesmo motivo. Agora divido aquele escritório com todas as baratas de Nova Iorque. Minha secretária desistiu de trabalhar porque não recebe seu pagamento há meses. É a grande depressão.

Mulder pára. Olha para o letreiro em néon do bar que diz: Jack’s.

[Corta]

[Som: Miles Davis – ‘Round Midnight]

Mulder entra no bar. Aproxima-se do balcão. Skinner atrás do balcão, vestido como barman, em roupas pretas e avental branco. Seca um copo com o pano.

MULDER: - Velho Jack!

SKINNER: - Como vão as coisas, Raposão?

MULDER: - De mal a pior.

Mulder coloca um dólar sobre o balcão. Skinner serve um uísque pra Mulder.

SKINNER: - Nenhum crime novo?

MULDER: - Nada. Parece que os bandidos dessa cidade tiraram folga.

SKINNER: - Acho que vai ter de mudar de profissão.

Mulder bebe o uísque num gole só.

MULDER: - E fazer o quê?

SKINNER: - Tem uma vaga pra fiscalizar a produção de pescados na Fishman...

MULDER: - Você está brincando comigo, Jack! Eu não vou desperdiçar meu talento limpando peixes! Tenho um faro aguçado pra resolver casos complexos.

SKINNER: - É, e tem uma conta enorme no meu bar. Talvez devesse usar esse seu faro pra sentir o cheiro dos peixes, a caminho do cais.

MULDER: - Velho Jack, as coisas vão melhorar. Tenha paciência.

Mulder sai do bar. Skinner o acompanha com os olhos, acenando negativamente a cabeça e vai atender um cliente.


Escritório de Mulder - 6:56 P.M.

Mulder tira as chaves do bolso, parado em frente à porta.

MULDER (OFF): - Eu estava arrasado naquele dia. Tudo estava indo pro buraco. E me levando junto.

Mulder entra. Tira o sobretudo e o chapéu, os pendura no cabide. Joga no chão uma pilha de papéis que estavam sobre o sofá. Atira-se no sofá. Fecha os olhos.

Batidas na porta.

Mulder levanta-se em silêncio.

SENHORIO (OFF): - (AOS GRITOS/ FURIOSO) Eu sei que está aí, Fox Mulder!!! Quero o dinheiro do aluguel ou vou colocar você e suas baratas no olho da rua! Abra já essa porta! Se não me pagar o que deve vou “cortar a sua fama” nessa cidade! Me entendeu?

Mulder fica em silêncio, numa cara de pânico.

SENHORIO (OFF): - (AOS GRITOS/ ESMURRANDO A PORTA) Tem duas horas pra desocupar essa sala! Vou atirar suas coisas pela janela! Seu caloteiro, bêbado e vagabundo imprestável! Eu vou buscar as chaves.

Mulder continua quieto. Senta-se no sofá. Coloca as mãos no rosto. Olha pras baratas sobre alguns livros atirados num canto.

MULDER (OFF): - Realmente as coisas estavam piorando. Agora eu não tinha mais nem onde deitar o esqueleto. Aquele italiano desgraçado, dono do prédio. Não perdoa nada, nem um miserável atraso de cinco meses no aluguel! Cinco meses não são nada! Eu já estava a ponto de matá-lo quando...

Batidas na porta.

[Som: Herb Alpert – Harlem Nocturne]

Mulder se irrita. Abre a porta, pronto para gritar com o senhorio.

MULDER: - (FURIOSO) Tudo bem, desgraçado! Eu sei das minhas...

Câmera baixa, focalizando os sapatos altos e pretos, subindo lentamente para as pernas, o vestido curto preto, um grande decote realçando os seios, uma pele de raposa ao redor do pescoço e o rosto de Scully, com um chapéu e um véu negro. Uma pintinha acima dos lábios vermelhos brilhantes.

SCULLY: - Detetive Fox Mulder, o Raposão?

Mulder fica de boca aberta olhando pra ela.

MULDER: - E-eu... S-sim, sou Mulder Fox, q-quer dizer Fox Mulder...

SCULLY: - Posso entrar?

Mulder abre mais a porta.

MULDER (OFF): - Era a boneca mais perfeita que eu já tinha visto na minha vida. Não sabia se era um anjo caído do céu ou um anjo vindo do inferno. Aquelas pernas bem torneadas, aquela cintura de violão. Ela passou por mim deixando um rastro de perfume caro no ar... Me embriaguei...

Mulder fecha a porta. Scully olha pelo lugar. Mulder corre e tira uma pilha de papel de cima da cadeira.

MULDER: - Pode sentar-se. Desculpe a bagunça, estou sem faxineira, senhorita...

SCULLY: - Senhora Scully. Dana Scully.

MULDER (OFF): - Foi então que ela tirou o chapéu e o véu que cobria-lhe o rosto, revelando os cabelos acobreados presos no alto da cabeça e uma pintinha sobre os lábios... Deus! Aquela pintinha!

Mulder vai sentar-se em sua cadeira, olhando fixo pra Scully. Quase cai no chão, segurando-se na mesa. Ela esconde um sorriso. Mulder fica embaraçado, disfarçando rapidamente.

MULDER: - O que veio fazer aqui, senhora Scully?

SCULLY: - Preciso de sua ajuda, senhor...

MULDER: - Pode me chamar de Raposão.

SCULLY: - Meu marido foi assassinado, detetive Raposão. Há uma conspiração da polícia e dos advogados. Eles dizem que eu o matei.

MULDER: - Amava muito o seu marido para querer esclarecer a morte dele...

SCULLY: - Nunca o amei. Aliás, o desgraçado muito me bateu e me maltratou, pra eu sair sem nada dessa história. Mas se não provar minha inocência, não terei direito ao seguro que ele fez. Preciso desse dinheiro.

MULDER: - E quem não precisa de dinheiro?

MULDER (OFF): - Aqueles olhos azuis estavam me causando uma forte dor lancinante no peito, e eu já a estava imaginando inteiramente nua ali na minha frente.

SCULLY: - Pagarei o que me pedir. Quero que descubra a verdade.

Scully abre a bolsa e coloca um maço de dinheiro sobre a mesa de Mulder.

MULDER (OFF): - Ela falou a palavra mágica. Só com aquele bolo de notas eu já me livraria do senhorio.

Scully retira uma cigarreira da bolsa. Pega um cigarro e coloca na boca. Mulder pula da cadeira, procurando o isqueiro nos bolsos. Acende o cigarro dela. Scully traga profundamente, soprando a fumaça, sensualmente, na direção dele.

MULDER (OFF): - Aquela boca vermelha... Parecia que eu havia levado um tiro no peito. Ela era quente. Muito quente... Meu corpo começava a reagir contra a minha vontade, quando ela levantou-se e pegou seu chapéu.

SCULLY: - Aqui está o meu cartão. Ligue... Não vai abrir a porta pra eu sair?

MULDER: - (HIPNOTIZADO) ...

SCULLY: - ???

MULDER (OFF): - Eu não tinha condições de levantar dali. Coloquei o jornal na frente das calças e abri a porta pra ela. Quando ela saiu, rebolando aquele traseiro dos deuses naquela roupa justa, me senti um pobre mortal, atordoado com o perfume dela que permanecia na sala e me fazia ficar mais doido do que eu já estava.


Mansão de Scully - 10:34 A.M.

Mulder parado em frente a porta da mansão, mãos no bolso.

MULDER (OFF): - No outro dia, me dirigi até a casa dela. Havia um portão dourado na frente da mansão. Os portões se abriram, e juro que fiquei com vergonha de entrar com o meu calhambeque naquele lugar. A empregada veio abrir a porta.

EMPREGADA: - A senhora Scully já vem recebê-lo. Gostaria de beber algo?

MULDER: - Um uísque.

A empregada afasta-se. Mulder caminha pela enorme sala de estar. Há quadros e móveis caríssimos pelo lugar. Um lustre de cristal. Mulder aproxima-se da lareira, onde há um quadro onde vê-se o retrato do Canceroso.

MULDER (OFF): - Ela vivia bem. Talvez tenha matado o velho pra ficar com a grana dele. Mas quem podia condená-la? Era mulher demais pra um homem só, quanto mais pra um velho. Senti novamente aquele perfume no ar. Olhei para trás e a vi, aproximar-se, num vestido longo, colar de diamantes e com aquela boca vermelha, aquela pintinha... Deus! Aquela pintinha!

Scully senta-se numa poltrona. Cruza as pernas revelando um corte ao lado do vestido longo, que deixa suas pernas aparecerem. Mulder fica estático.

SCULLY: - Sente-se, Raposão.

MULDER (OFF): - Sentei-me, embora o Raposão queria mesmo era se levantar... As palavras dela pareciam ordens e eu não tinha como reagir. Não conseguia desviar os olhos daquelas pernas...

SCULLY: - Acho que conheceu meu marido... Embora pareça estranho, não pense que sou uma oportunista que casou-se pelo dinheiro dele.

MULDER: - Não estou pensando nada, senhora Scully.

SCULLY: - Chame-me de Dana.

MULDER (OFF): - Ela queria intimidade... Dana... Eu poderia me danar por ela.

MULDER: - Certo, Dana. Primeiramente preciso saber as circunstâncias que envolveram a morte de seu marido.

SCULLY: - Ele morreu envenenado.

MULDER: - Tem algum suspeito?

SCULLY: - Fora eu?

MULDER: - ...

SCULLY: - Acredito que tenha sido o russo, sócio dele. Ele tem muitos interesses na empresa e também por aqui.

MULDER: - ... Que tipo de interesses?

SCULLY: - Nós tínhamos um caso. Meu marido descobriu. Ameaçou-o de morte.

MULDER: - Ah, você tem um amante! Um amante russo...

SCULLY: - Tinha, detetive Raposão. Não durmo com homens que são capazes de matar uma pessoa inocente. Embora meu marido não era nenhum inocente. Ele roubava do sócio.

MULDER: - E o sócio dormia com a mulher dele. Estavam quites.

SCULLY: - Não sou uma vagabunda como está sugerindo.

MULDER: - Não tive a intenção de chamar você de vagabunda.

Scully levanta-se. Caminha até a lareira. Olha pra foto do Canceroso.

SCULLY: - Eu não me casei por amor. Também não me casei por dinheiro. Quando o conheci, nem sabia quem ele era, nem o que tinha. Casei para fugir da vida que levava. Eu era uma prostituta. Claro, ele me dava presentes caros, mas isso nunca me fez imaginar quem ele era. Pra mim, ele era o meu melhor cliente. Depois fiquei assustada em saber que ele era dono de várias indústrias de pescados na região.

MULDER: - E como se envolveu com o sócio dele?

SCULLY: - Com o Alex? Bem, depois de anos de casamento, meu marido começou a procurar outras garotas. Eu estava carente, o Alex vivia por aqui... Você sabe como são essas coisas.

MULDER (OFF): - Não era difícil imaginar o que o sócio do falecido vira nela. Eu teria feito a mesma coisa. Ela era o tipo que poderia fazer qualquer homem arriscar o pescoço só por um toque!

SCULLY: - O que está pensando, detetive?

MULDER: - ... Que você tem motivos bem consistentes para ter matado o seu marido.

SCULLY: - A polícia também acha. Mas eu não o matei.

MULDER: - Talvez quisesse se livrar dele, ficar com o amante e o dinheiro...

SCULLY: - Não sou esse tipo de mulher! Está me ofendendo!

Scully começa a chorar.

MULDER (OFF): - Exagerei demais nas minhas teorias. Ela estava ali, frágil e indefesa, acusada de assassinato, correndo o risco de voltar pra pobreza e pra vida dura que levara. Talvez esse fosse o fantasma que a assombrava. Não podia ver aqueles olhos azuis chorando.

MULDER: - Me desculpe, senhora Scul... Dana.

Mulder levanta-se. Aproxima-se dela. Ela o abraça. Chora convulsivamente. Mulder afaga os cabelos dela.

MULDER (OFF): - Senti as lágrimas dela molhando o meu braço. Senti aqueles cabelos macios e acobreados por entre meus dedos... Ela me pegara. Eu não tinha como fugir. Agora, era questão pessoal provar sua inocência. Havia em mim uma certa desconfiança de que ela era a assassina. Mas o meu coração ficava contrariando a razão e eu não conseguia mais pensar com a cabeça.


BLOCO 2:

Escritório de Mulder - 7:47 P.M.

Mulder está sentado em sua cadeira, comendo sementes de girassol.

MULDER (OFF): - Voltei para o meu escritório. Bebi uma garrafa de uísque e fumei mais de um maço de cigarros. A imagem daquela boneca não saía da minha cabeça. Eu precisava pensar, mas era impossível. Meus hormônios não permitiam! Eu já estava ficando maluco quando bateram na porta.

Mulder abre a porta. Frohike entra, vestido com chapéu e sobretudo.

MULDER (OFF): - Era meu amigo, Frohike. O único amigo que ainda me restava. Ele trabalhava como detetive no departamento de polícia da cidade. Sempre me mantinha a par dos crimes que estavam acontecendo.

FROHIKE: - Muito bem, Raposão, sei que está metido com a viúva do velho industrial. Vim avisar para manter seu raposão longe de problemas... Em terra de poderosos, raposas não comem galinhas nobres, se é que me entende.

MULDER: - Seu instinto maternal sempre me surpreende.

FROHIKE: - Desista desse caso. É complicado demais pra você.

MULDER: - O que sabe sobre a morte do velho?

FROHIKE: - Ele não tinha amigos. A mulher dele é uma piranha. Qualquer um que use calças está correndo sério perigo nessa cidade.

MULDER: - Ela não me parece ser o que você está falando.

FROHIKE: - Pronto. Você caiu na dela! Raposão, aquela mulher é a principal suspeita de ter matado o ricaço.

Frohike pega a garrafa de uísque. Serve um copo e bebe.

MULDER: - Não creio que ela faria isso. Não seria tão burra de chamar a atenção pra si mesma.

FROHIKE: - O cara foi envenenado! Aposto que ela colocou estricnina no conhaque dele!

MULDER: - Algo me diz que o sócio é o principal suspeito.

FROHIKE: - O Alex Krycek? Está brincando! O cara só trepava com aquela vadia! E além do mais, o que ele poderia querer? Já é o dono de 50% da empresa!

MULDER: - E se ele quisesse ter 100% mais a viúva?

FROHIKE: - Não acredito nisso. Chame de instinto.

MULDER: - Seu instinto nunca funcionou, Frohike.

FROHIKE: - Siga um conselho: Afaste sua raposa de perto daquela piranha. Você pode ser o próximo na lista de envenenamentos dela!

Frohike sai, batendo a porta atrás de si. Mulder fica pensativo.

MULDER (OFF): - Fiquei pensando seriamente nas coisas que ele me falou. Resolvi pegar meu casaco e conhecer o tal Alex Krycek. Talvez pudesse obter alguma conclusão... O perfume dela ainda estava impregnado naquela sala. Eu não conseguia pensar ali dentro.


Indústrias de Pescados The Fishman - Cais do porto - 9:33 P.M.

Mulder com um isqueiro aceso, dentro de um galpão escuro. Máquinas e peixes por todos os lados. Ratos correm por entre os pés dele.

MULDER (OFF): - Entrei na indústria. O cheiro de peixe era inconfundível. Havia ratos por todos os lugares. As máquinas estavam paradas. Então ouvi ruídos...

As luzes se acendem. Marita observa Mulder.

MULDER (OFF): - Olhei para trás e havia uma loira me observando.

MARITA: - Posso ajudá-lo em alguma coisa?

MULDER: - (SAFADO) Boneca, você pode ajudar qualquer homem em qualquer coisa.

MULDER (OFF): - Ela sorriu pra mim. Perguntei por Alex Krycek. Ela disse que ele já havia voltado pra casa. Perguntei o que uma beleza como ela estava fazendo naquele lugar. Disse que estava recolhendo suas coisas, eles a demitiram. Perguntei o que ela fazia.

MARITA: - Sou secretária.

MULDER (OFF): - Bingo! Meus problemas com bagunça estavam resolvidos. Pelo menos até o dinheiro acabar.


Mansão de Alex Krycek – 10:01 P.M.

[Som: Glenn Miller – In the Mood]

Mulder escoltado por quatro seguranças enormes e mal encarados até a porta da mansão. O segurança com uma cicatriz no rosto o observa com olhos cerrados e desconfiados.

MULDER (OFF): - Deixei a loura em seu apartamento e fui até a mansão de Alex Krycek. Não fui bem recebido pelos guardas. Me perguntava o que um russo poderia querer naquele lugar e com seguranças como aqueles, que mais pareciam muros ambulantes do que gente...

Os seguranças acompanham Mulder até a sala e saem. Apenas o Cicatriz fica, observando Mulder sem descolar os olhos dele.

MULDER (OFF): - Sentei-me num sofá, enquanto o cara com uma cicatriz não tirava os olhos de mim. Eu já estava prestes a arranjar confusão quando o amante ricaço entrou.

Krycek entra num roupão de veludo vermelho com suas iniciais bordadas em ouro.

KRYCEK: - Sou Alex Krycek. Em que posso ajudar, detetive Raposão?

Mulder acende um cigarro.

MULDER: - Podemos falar a sós ou precisa da babá aí?

KRYCEK: - (SORRI) Butcher, pode sair.

Mulder arregala os olhos para o Cicatriz, que sorri e sai da sala. Krycek cruza os braços, se encostando na escrivaninha.

MULDER: - Conhece a senhora Scully há muito tempo?

KRYCEK: - Pra quem está trabalhando?

MULDER: - Pra ela.

KRYCEK: - Nós somos muito íntimos, eu diria. Quer beber alguma coisa?

MULDER (OFF): - Em meio a uísque e piadas sobre mulheres, ele me contou que tinha medo dela. Ela usava sua sedução para conseguir o que queria. Ele tinha certeza absoluta de que ela havia matado o marido.

KRYCEK: - Eu cheguei a propor para deixarmos tudo e irmos embora daqui. Foi quando ela disse que tinha ideia melhor. No outro dia, lá estava ele, sentado na poltrona da sala, com um copo de conhaque quebrado ao chão. Morto. Ela o matou para ficar com o dinheiro.

MULDER (OFF): - Olhei novamente para ele. Alguma coisa estava errada. E não era apenas o fato de eu não conseguir entender porque a ruiva mataria o marido pra ficar com um russo feio como aquele. Nada fazia sentido. Nem o que ela falava, nem o que ele me dizia. Levantei-me do sofá e fui embora. Quando estava passando pelo hall, senti o perfume dela. Procurei-a com os olhos, mas não a encontrei. Meu instinto começava a acusá-la. Ela estava ali na casa dele.


Jack’s - 11:54 P.M.

[Som: Frank Sinatra – As time goes by]

Mulder fumando e bebendo sentado ao balcão. Olhar ao longe. Skinner servindo drinks.

MULDER (OFF): - Resolvi tomar alguns drinques para pensar melhor. A ruiva havia dito que não tinha mais nada com o russo. Mas por que iria à casa dele durante a noite e se esconderia de mim? Eu começava a achar que ela estava me escondendo alguma coisa. Talvez estava conspirando com aquele Alex e os dois iriam me usar como bode expiatório.

[Corte]

Mulder aproxima-se do escritório pelo corredor.

MULDER (OFF): - Eu não sabia mais o que pensar, então voltei para o escritório. A porta estava aberta. Puxei minha arma e entrei chutando a porta. A loira deu um grito assustada, jogando pro alto toda a minha coleção de revistas pornôs.

MULDER: - O que está fazendo aqui?

MARITA: - Achei que podia começar a trabalhar hoje mesmo. Esse lugar está uma bagunça!

MULDER: - Tem baratas por aí.

MARITA: - Eu já percebi. O quê um cara bem apanhado como você faz num chiqueiro como esse?

MULDER: - (SORRI) Neném, eu gosto da vida que levo! Acredite.

MULDER (OFF): - Ela me sorriu amavelmente. Abaixei-me com ela para ajudar a pegar as revistas do chão, mas não podia tirar os olhos do decote dela. Ela levantou-se e meu olhar dirigiu-se para as pernas dela. Ela caminhou até a porta e a fechou. Me levantei e ela aproximou-se de mim, puxando-me pela gravata. Nos beijamos ardentemente. Ela começou a tirar minha roupa. Caímos no sofá.


1:46 A.M.

Mulder termina de vestir a roupa. Marita está dormindo no sofá, seminua.

MULDER (OFF): - Coloquei minha roupa e deixei-a dormir. Fazer amor com ela havia me iluminado. Eu precisava arriscar minha pele e entrar na casa do tal russo. Não queria acreditar que aquelas belas pernas estavam conspirando contra mim. Peguei meu chapéu e o sobretudo. Estava frio lá fora. Coloquei minha arma no coldre e dei uma última olhada naquele corpo que dormia no meu sofá. Minha vontade era de ficar ali. Mas os cabelos acobreados não saiam da minha cabeça. Ou melhor, do meu coração. Eu sabia que aqueles olhos azuis não seriam mais uma aventura. Eles me perturbavam demais.


Mansão de Alex Krycek - 2:04 A.M.

[Som: Glenn Miller – In the Mood]

Mulder pula o muro da mansão. O chapéu cai ao chão. Ele pega o chapéu e o limpa, colocando de volta na cabeça. Então vê algo e faz cara de pânico.

MULDER (OFF): - Entrei sorrateiramente, pulando o muro. Estava fugindo dos gorilas que ficavam no portão. Mas não contava com o grande cão de guarda que estava me encarando. Mostrava os dentes para mim, e não era um sorriso.

MULDER: - Quietinho, Lulu...

O cachorro rosna furioso.

MULDER (OFF): - Tentei revirar os bolsos, mas como de costume, havia apenas sementes de girassol. Se fosse um terrível e feroz papagaio, eu teria chance. Mas não costumava carregar filés no bolso. Eu estava perdido, num mato com cachorro.

O cachorro aproxima-se, rosnando. Mulder permanece estático.

MULDER (OFF): - Estava prestes a correr e pular o muro. Foi quando o cachorro começou a me cheirar. Comecei a suar frio. Acabei deixando cair uma garrafinha de vodca que levava comigo. O cachorro começou a lamber a garrafa. Então saí mansamente, enquanto ele ficava ali tomando um porre. Claro, como fui burro! Cachorro de russo só podia gostar de vodca!


2:10 A.M.

Mulder cai da janela pra dentro do porão. Novamente limpa o chapéu e o coloca na cabeça.

MULDER (OFF): - Passavam dez minutos das duas da manhã quando consegui entrar pela janela do porão. Subi as escadas até chegar na cozinha. Tudo estava escuro, isso ia a meu favor. Acendi meu isqueiro e comecei a procurar a saída daquela cozinha, que mais parecia um labirinto. Cheguei até a sala de jantar. Acendi a luz. Fiquei estático.

Close do cachorro encarando Mulder e rosnando.

MULDER (OFF): - Meu amigo estava ali de novo. Aproximei-me do bar.

MULDER: - Ok, “camarada”.

O cachorro late.

MULDER: - Ah, então esse deve ser o seu nome...

MULDER (OFF): - Servi duas doses de vodca, uma pra mim, outra pro “camarada”. Bebi a minha rapidamente e o deixei afogar suas mágoas sozinho, tomando o cuidado de fechar a porta.

Mulder acende o isqueiro e sobe as escadas, lentamente.

MULDER (OFF): - A casa mais parecia o castelo de um czar russo. Haviam brasões pelas paredes, quadros caríssimos, e um cheiro enorme de sonegação de impostos. Entrei numa sala. Para a minha sorte, era o escritório do russo. Fechei a porta. Acendi o abajur e comecei a revirar as gavetas em silêncio. Precisava de provas que o incriminassem. Eu já nem sabia o que poderia procurar quando ouvi um barulho...

Mulder corre até o abajur e apaga a luz. Corre pras cortinas.

MULDER (OFF): - Desliguei a luz e me escondi atrás das cortinas. Para minha surpresa, era o desgraçado do mordomo e a empregada, que resolveram justamente demonstrar seus sentimentos naquela sala.

A empregada senta-se na mesa, abrindo as pernas. O Mordomo sorri, tirando o casaco. Mulder suspira indignado. Vira-se pra janela.

MULDER (OFF): - Abri a janela lentamente e fui para a varanda. De lá pude observar os gorilas no portão, que bebiam e contavam piadas. Olhei para o lado. Havia uma sacada. Pendurei-me numa calha e apoiei meus pés na marquise estreita. Consegui chegar até a sacada. Havia uma meia luz que atravessava a porta entreaberta. Em silêncio olhei para dentro. Era o quarto do russo.

Mulder abaixa-se atrás de uma planta e olha pra dentro. Fecha os olhos, desconsolado.

MULDER (OFF): - Confesso que senti meu coração se quebrar. Meus lindos olhos azuis estavam por cima do corpo daquele russo, e ouvir os gemidos dos dois me fez ficar com muita raiva. Ela mexia seu corpo freneticamente por cima do dele, num êxtase completo. Fechei meus olhos. Havia sido traído. Ela estava com ele e os dois confabularam aquilo tudo. Queriam que eu provasse a inocência dela para poderem ficar juntos e fugir com o dinheiro. Levantei-me e desci pelos galhos de uma árvore, que ficava encostada na varanda. Quando cheguei em solo firme, meu amigo estava ali, com uma garrafa fechada de vodca na boca.

MULDER: - (TRISTE/ PERDIDO) Ei, Camarada... Também estou precisando disso. Eu só abro se você dividir.


Escritório de Mulder - 5:12 A.M.

[Som: Ella Fitzgerald & Louis Armstrong – Autumn in New York]

Mulder entra, completamente bêbado, derrubando o cabide. O cachorro ao lado dele, abanando o rabo.

MULDER (OFF): - Entrei com o Camarada, trocando as minhas pernas de tão bêbado. Me atirei no sofá. Ele se atirou no chão. Bom cachorro. Ele valia muito mais como companheiro do que qualquer mulher... Como pude me enganar com aquela vadia? Como pude me deixar pegar por um belo par de pernas? Por olhos azuis tristes? Por cabelos acobreados, da cor das chamas do inferno?


2:11 P.M.

O cachorro lambendo o rosto de Mulder, que dorme no sofá vestido, segurando uma garrafa vazia de uísque. A roupa e o sobretudo amassados.

MULDER (OFF): - Acordei com uma língua roçando o meu rosto. Já estava empolgado achando que a secretária havia voltado pra me consolar... Mas era o bom e fiel Camarada, demonstrando sua amizade. O telefone tocou. Atendi com uma voz ainda de quem sente gosto de cabo de guarda-chuva na boca. Era ela. Os cabelos acobreados. Disse que precisava muito falar comigo, que corria risco de vida. Eu sorri debochado. Marcamos à meia noite no Jack’s. Desliguei, tentando conter a raiva. O Camarada olhou pra mim como se quisesse ir até o Jack’s e tomar uma rodada.


BLOCO 3:

11:53 A.M.

[Herb Alpert – Harlem Nocturne]

A rua escura e silenciosa. Chuva fina. Os passos lentos na calçada, ao som do jazz. Os sapatos negros de Mulder. O rosto sonolento, o chapéu quase caindo aos olhos. As mãos nos bolsos do sobretudo amassado.

MULDER (OFF): - A chuva caía fina na rua escura e vazia, e eu podia escutar meus passos na calçada, enquanto me dirigia ao Jack’s. Foi quando comecei a escutar outros passos. Caminhei mais depressa, mas os dois gorilas foram mais rápidos e me atacaram pelas costas. Depois que descontaram sua raiva em mim, eu apaguei.


1:03 A.M.

Os ratos no lixo. Mulder jogado entre o lixo, ao lado das lixeiras do beco. Um corte no lábio. Roupa suja e marcas de socos. Mulder se acorda, levando a mão à cabeça. Os ratos correm.

MULDER (OFF): - Acordei jogado num beco, entre ratos e latas de lixo. Estava todo sujo. Minha cabeça doía e sentia como se tivesse sido atropelado por uma vaca. Meu lábio superior estava cortado. Me levantei com dificuldades, ainda zonzo. Foi quando uma porta abriu-se ao meu lado.

SKINNER: - O que está fazendo aí, Raposão?

MULDER: - (INCRÉDULO) Jack?

SKINNER: - Cara você realmente está na sarjeta! Entra aí, te dou um drinque.

MULDER (OFF): - Jack me ajudou a levantar. Eu fedia mais que um maldito gato morto.

[Corte]

Mulder e Skinner entram no bar.

MULDER (OFF): - Quando entrei no bar, percebi que os olhos azuis estavam num canto, me observando. Caminhei com dificuldades até ela. Sentei-me à mesa.

Scully sentada à mesa, observa Mulder com curiosidade.

MULDER (OFF): - Ela estava com os cabelos caídos sobre os ombros, num sensual vestido vermelho sangue. De pernas cruzadas, tragava um cigarro sedutoramente. Virei minha cara, para não ficar impressionado. Ela armara aquilo tudo contra mim. Dessa vez, aquela sua pintinha sobre os lábios não iria ajudar em muita coisa. A lembrança dela fazendo sexo com aquele russo, povoava meus pensamentos e alimentava meu ódio. Mas eu não conseguia desviar os olhos daqueles olhos azuis.

SCULLY: - Detetive, o que aconteceu com você? Parece um lixo!

MULDER: - (IRRITADO) Você sabe muito bem o que aconteceu comigo, sua piranha barata! Seu namorado mandou os gorilas dele me darem uma surra.

MULDER (OFF): - Percebi o medo dentro daqueles olhos azuis. Quando ela ergueu suas sobrancelhas, entendi que ela estava tão perplexa com aquilo quanto eu.

SCULLY: - Eu... Eu vim até aqui falar com você porque eles querem me matar.

Mulder ajeita o chapéu sujo na cabeça, olhando-a com ar de intriga.

MULDER (OFF): - Olhei fundo nos olhos dela. Só desviei minha atenção para o maldito decote daquele vestido. Era por isso que eu estava daquele jeito, atirado na vida. Toda vez que tentava progredir e jurava pra mim mesmo que nunca mais cairia na sedução feminina, eu terminava caindo de novo. A primeira levou tudo o que eu tinha. A segunda levou o resto. Eu não daria chances pra uma terceira. Mas estava ficando cada vez mais inebriado pelo perfume e pela voz dela. Eu não tinha mais nada para ser roubado. Mas ela achou a única coisa que as outras ainda não haviam levado: o meu coração.

MULDER: - Por que eles a matariam?

SCULLY: - Porque o Alex sabe que eu sei que ele matou meu marido.

MULDER (OFF): - Eu comecei a rir em voz alta. Todos no bar olhavam pra mim.

MULDER: - Por que ele mataria você? Não minta pra mim, boneca. Eu estive ontem na casa do russo e vi você trepando com ele! Não subestime a minha capacidade de raciocínio!

Scully cala-se, baixando o olhar enigmático.

MULDER: - Se quer que eu diga à polícia que você é inocente, é só me pagar uma boa quantia que eu minto. Então você e aquele russo safado poderão viver juntos.

SCULLY: - Você não acredita em mim...

MULDER: - Como poderia acreditar? Você é uma dessas cadelas baratas que se vendem por um vestido caro!

MULDER (OFF): - Ela meteu um tapa na minha cara que por pouco minha cabeça não desgrudou do meu pescoço. Movi meu maxilar e meus dentes e olhei pra ela. Meti um tapa na cara dela. Não gosto de bater em mulheres, mas ela havia pedido. Lançou-me um olhar de desprezo com aqueles olhos azuis, que atravessou o meu espírito. Ela levantou-se, ainda tonta com o tapa.

SCULLY: - Pensei que havia conseguido um amigo. Me enganei.

MULDER (OFF): - Ela pegou sua bolsa e saiu rebolando aquele traseiro maravilhoso. Levantei-me. Jack estava me encarando. Acendi um cigarro, mas a culpa estava ali, me rodeando como um bando de urubus famintos. Saí porta à fora. Ela estava entrando num táxi.

MULDER: - Olhos azuis, espere!

Scully pára. Olha pra Mulder.

MULDER: - Coloque-se no meu lugar. Como posso confiar em você, se estava com aquele russo que matou seu marido?

SCULLY: - ...

MULDER: - Olhos azuis, estou tentando entender.

Scully ergue a cabeça e entra no táxi, num gesto de dignidade. Mulder observa o táxi partir.

MULDER (OFF): - Ela entrou no táxi. Sumiu nas ruas escuras. Eu fiquei ali, parado, me achando o cara mais idiota do mundo.


Escritório de Mulder - 2:16 A.M.

Mulder caminha pelo corredor.

MULDER (OFF): - Caminhei até meu escritório, os pensamentos iam e vinham como facas afiadas atravessando meu cérebro. Abri a porta. Olhei para a minha mesa e vi a loira, sentada ali, com um vestido curto, me esperando. Fechei a porta num sorriso. Olhei para o lado e então vi aquele monstro do passado. Minha cara de pânico surgiu rapidamente.

Diana Fowley levanta-se do sofá. Mete um tapa na cara de Mulder.

FOWLEY: - Você é um ordinário, Fox! Quem é essa vagabunda loira?

MULDER (OFF): - Era minha ex-mulher, mas sempre se achava no direito de me dar um tapa na cara, quando me via com outra.

FOWLEY: - Estou esperando a pensão há meses! Agora entendo porque não tem mandado dinheiro!

MARITA: - (INDIGNADA) Ei, espera aí, boneca! Eu não sei quem você é, mas não pode bater no coitadinho do raposo desse jeito!

MULDER (OFF): - Pronto. Estava armada a confusão. O senhorio ia me correr dali naquele dia. Além de um cachorro, eu agora tinha duas mulheres brigando ali dentro.

FOWLEY: - Ouça aqui, sua loira vagabunda! O que pensa que é? Você não passa de uma burra! O que ele prometeu dessa vez? Casamento? Vestidos caros? Amor?

As duas encaram-se frente a frente.

MARITA: - Ouça aqui, sua morena pestilenta. Você não pode entrar aqui e bater no coitadinho do Raposão!

MULDER (OFF): - Senti que a coisa estava esquentando e que unhas e meias de seda voariam por todos os lados. O Camarada me entregou uma garrafa de uísque pelo gargalo. Achei que eu e o cachorro nos acalmaríamos, mas, qual foi minha surpresa quando os olhos azuis entraram por aquela porta.

Scully parada na porta, observa a situação.

SCULLY: - Volto outra hora. Não é um bom momento...

FOWLEY: - Mais uma? Pelo visto, Raposão, você não mudou em nada mesmo! Fica sustentando essas vagabundas enquanto eu, aquela que dedicou a vida à você, fica jogada num canto, sem o mínimo de consideração!

Scully olha pras duas, erguendo as sobrancelhas.

MULDER (OFF): - Olhos azuis permanecia calma, enquanto elas trocavam ofensas e a ofendiam. Até que perdeu a compostura e começou a discutir com elas. Estava eu ali, com três mulheres brigando por mim. Sentei-me no sofá e comecei a beber. No início, meu ego estava gostando de vê-las brigando por minha causa. Mas depois, a coisa começou a esquentar, e via meus objetos voando pela sala. O Camarada colocou as patas na frente dos olhos e deu uma choramingada, de quem não acreditava no que estava acontecendo.

[Som: Glenn Miller – In the Mood]

As três se agarram aos socos, chutes e puxões de cabelos. Sapatos que voam. Mulder intervém na briga e acaba apanhando das três, que continuam se socando e dando tapas e pontapés. Fowley puxa Mulder por um braço, Marita por outro e Scully o puxa pela gravata, o disputando.

MULDER (OFF): - A situação estava fora de controle. As três bonecas continuavam gritando e distribuindo bofetes e chutes. O cachorro latia sem parar. Consegui me soltar delas e puxei minha arma dando três tiros pra cima. Acertei a lâmpada, tudo ficou no escuro e no silêncio. Resolvi sair dali. Acho que não preciso dizer com qual delas. Entre a morena e a loira, eu fugi com a ruiva.


3:33 A.M.

[Som: Ella Fitzgerald & Louis Armstrong – Autumn in New York]

Chuva fina. Mulder e Scully caminham pela rua.

MULDER (OFF): - Caminhamos pelas ruas escuras, debaixo de uma garoa. Eu ainda estava tonto e sujo, de apanhar dos gorilas, e agora minha cabeça parecia que ia explodir por causa daquelas três malucas. Ela chamou um táxi e me levou pra casa dela. Disse que ia cuidar do corte que havia em minha boca. Eu confesso que a ideia era interessante. Mas mesmo assim, eu tinha medo dela. Não sabia até que ponto ela chegaria, afinal de contas, eu a via como uma assassina fria. Mas, mesmo assim, estava disposto a morrer se o preço fosse tocar naquele corpo cheiroso.


Mansão de Scully - 4:02 A.M.

Mulder desce do carro. Toma a mão de Scully e a ajuda a descer. O táxi sai. Scully abre a porta da mansão e eles entram. Ela tira seu casaco e o ajuda a tirar o sobretudo. Coloca-os no cabide do hall de entrada.

SCULLY: - Você precisa de um banho, detetive Raposão. Tenho algumas roupas que poderão servir em você.

MULDER: - Não vou ficar. Eu apenas quis acompanhá-la até aqui.

SCULLY: - Quero que fique. Estou com medo. Eu disse que eles querem me matar... Venha, vou preparar seu banho e depois conversaremos a respeito das coisas que eu ia contar a você, se não tivesse me insultado naquele bar.

MULDER: - Eu não queria chamá-la daquelas coisas, me desculpe.

SCULLY: - (OLHAR TRISTE) Tudo bem, detetive. Eu escuto essas palavras desde que optei por aquela vida. Elas vinham sempre do meu marido, quando ele arranjava suas amantes e me jogava para escanteio. Não se preocupe, estou acostumada a ser chamada de vagabunda por toda a alta sociedade de Nova Iorque.

MULDER (OFF): - Olhei para aqueles olhos azuis tristes. Meu coração começava a gritar ‘inocente’. Minha consciência dizia ‘cuidado’. Meu corpo dizia ‘o que está esperando’? Então ela me pegou pela mão e subimos as escadas. Entramos no quarto dela, que mais parecia o quarto de um daqueles castelos europeus. Ela foi até o banheiro. Aproveitei e comecei a bisbilhotar todas as gavetas dela, em busca de alguma prova, sei lá. Foi quando achei um vidro: Arsênico. Coloquei depressa de volta na gaveta de lingeries dela. Ela entrou no quarto.

SCULLY: - Seu banho está pronto. Deixei um robe pra você no banheiro.


BLOCO 4:

Mulder dentro da banheira, olhar intrigado, enquanto mordisca o polegar.

MULDER (OFF): - Enquanto estava dentro da banheira, não conseguia deixar de pensar no quanto ela havia me enganado. Por via das dúvidas, deixei minha arma ao meu alcance. Talvez ela fosse uma daquelas viúvas negras e eu seria a próxima vítima. Estava começando a temer. Eu deveria ter pensado com a cabeça, não com os hormônios. Agora era tarde. Precisava tomar cuidado.

[Corte]

Mulder sai do banheiro enrolado num robe. Scully está sentada na cama, com uma caixa de primeiros socorros ao lado e dois copos de vinho já servidos.

SCULLY: - Vem aqui, vou cuidar desse corte.

MULDER: - Estou bem.

SCULLY: - Não, você se machucou.

MULDER (OFF): - Sentei ao lado dela, enquanto ela cuidava da minha boca. Eu não conseguia desviar os olhos dos dela. Ela às vezes me pegava olhando em seus olhos e sorria.

SCULLY: - Você é um menino mau, detetive.

MULDER: - Ai! Isso dói.

SCULLY: - É para o seu próprio bem. Fique quieto... Pode me responder uma coisa?

MULDER: - Que coisa?

SCULLY: - Por que chamam você de detetive Raposão?

MULDER (OFF): - Tenho certeza de que ela adoraria saber a verdade, mas optei por mentir...

MULDER: - Porque sou muito astuto como uma raposa. O que você ia me dizer naquele bar?

MULDER (OFF): - Ela afastou-se de mim. Sua fisionomia mudou rapidamente. Ela me entregou uma taça de vinho. Eu fiquei assustado.

SCULLY: - Beba, você está precisando.

MULDER (OFF): - Olhei nos olhos dela. Larguei o vinho.

MULDER: - Acha que sou burro, olhos azuis? Pensa que vai fazer comigo o que fez com seu marido?

MULDER (OFF): - Levantei-me e abri a gaveta.

Mulder põe a mão dentro da gaveta, sem olhar pra gaveta, olhando pra Scully com raiva.

MULDER: - Foi assim que matou seu marido?

Mulder ergue uma calcinha. Scully ri. Mulder olha pra calcinha em sua mão, embaraçado. A põe de volta no lugar. Pega o vidro de arsênico.

MULDER: - Então, olhos azuis? O que tem a dizer em sua legítima defesa?

SCULLY: - Eu não sei o que isto está fazendo aí! Puseram para me incriminar.

MULDER: - Muito convincente, olhos azuis. Não quer que eu acredite nessa besteira!

MULDER (OFF): - Ela abriu sua bolsa. Imaginei que tiraria uma arma. Ela puxou um lencinho. Começou a chorar. Eu não contei à vocês que meu ponto fraco é... Eu não posso ver mulheres chorando. Eu choro também.

Mulder enche os olhos de lágrimas, culpado. Scully seca as lágrimas. Respira fundo.

SCULLY: - Tenho algo pra você.

MULDER (OFF): - Ela abaixou-se e ficou de quatro procurando alguma coisa debaixo da cama. Eu não sabia o que ela tinha pra me dar, mas a visão que eu tinha dela daquele jeito me fazia pensar em qualquer coisa, exceto na pasta de arquivos que ela retirou dali e me entregou.

SCULLY: - Aqui está a prova de que sou inocente. De que você pode confiar em mim. Eu só voltei a dormir com o Alex porque descobri a existência disso. Precisava pegá-la, mesmo tendo que fazer sacrifícios.

MULDER: - Você não estava com jeito de quem fazia sacrifício se mexendo em cima dele daquele jeito.

SCULLY: - Detetive, sabia que as mulheres fingem essas coisas?

MULDER (OFF): - Ela tinha toda a razão. Descobri isso com minha primeira mulher, quando nosso casamento terminou. Ela me enganou por anos, e eu achando que era o máximo! Pra depois ela dizer eu só tinha tamanho mas era um fracasso na cama. Abri aquela pasta. Era um testamento. Em caso da morte da viúva, o sócio ficaria com tudo.

SCULLY: - Ele quer me matar assim como matou o meu marido.

MULDER: - Olhos azuis, e o que o arsênico fazia em sua gaveta?

SCULLY: - Ele deve tê-lo posto aí, para me incriminar.

MULDER: - Ele não te ama? Por que faria isso?

SCULLY: - Ele ama o meu corpo. Não o meu coração. E você sabe que corpos existem aos milhares por aí, bem melhores do que o meu.

MULDER: - Não diga isso, doçura. Eu daria minha vida para ter esse corpo.

MULDER (OFF): - Maldita boca! Eu precisava ter dito aquilo? Ela se afastou de mim, como se estivesse vendo o diabo na sua frente.

SCULLY: - Saia já daqui! Pensei que fosse meu amigo!

MULDER (OFF): - Era tarde demais. Ou eu ia embora ou contava tudo o que sentia pra depois ir embora do mesmo jeito.

MULDER: - Olhos azuis, eu amo você. Desculpe falar essas coisas, mas é que você me causa um arrepio por dentro que eu não consigo controlar minhas palavras...

SCULLY: - Nem o seu corpo.

Mulder olha pra baixo. Puxa uma almofada da poltrona e a coloca na frente das calças. Ela começa a rir dele. Mulder fica corado. Scully pega uma taça de vinho e bebe num só gole.

SCULLY: - Receio que tenha mentido, detetive. Acho que o seu apelido não significa astúcia...

MULDER: - Acho melhor ir embora.

SCULLY: - Detetive, eu gosto de você também. Pena que nos conhecemos desta maneira. Por favor, eu quero que fique, estou com medo.

MULDER: - Não me peça pra ficar. Eu não vou conseguir me segurar.

Os dois ficam se olhando.

MULDER (OFF): - Ela aproximou-se de mim e tirou a almofada das minhas mãos. Encostou seu corpo no meu e trocamos um beijo. Ela começou a tirar meu robe e eu não conseguia reagir. Então ela beijou minha boca com os lábios molhados de vinho. Eu estava empolgado. Foi quando ela se afastou de mim, dizendo que não poderia fazer aquilo. Estava apaixonada e não queria que eu pensasse coisas ruins a respeito da reputação dela. Eu não estava nem aí pra reputação dela naquele momento. O que eu mais queria era quebrar qualquer resquício de reputação que ela ainda pudesse ter! Queria ir pra cama com aquela mulher, adora-la e leva-la à loucura! Ela não era a primeira cliente que caía nas minhas garras. Mas era a primeira vez que eu caía nas garras de uma cliente. Eu tentei me aproximar dela, mas ela se afastava.

SCULLY: - Eu não posso, Raposão. Não posso fazer isso! Eu não quero me apaixonar de novo! Isso dói muito. Eu sempre gosto dos homens errados.

MULDER: - Posso dizer à você que sou um desses homens “errados”. Só preciso do seu conserto para ficar “certo” novamente. Gosto de você também, Dana. Desde o dia em que você apareceu no meu escritório, eu só posso pensar em ter você.

SCULLY: - Eu não sou mulher pra você. Tenho um passado humilhante que as pessoas vivem jogando na minha cara.

MULDER: - Eu não me importo com o seu passado. Quero apenas o seu presente e fazer parte do seu futuro.

MULDER (OFF): - Ela sorriu pra mim. Eu sabia dizer as coisas certas nas horas certas, aquelas coisas que fazem as mulheres tremerem as pernas e derreterem feito chocolate no sol quente. Então me aproximei dela e beijei aqueles lábios vermelhos. Uma chama percorreu por todo o meu corpo. Eu só precisava acender o corpo dela. Erro meu. Ela afastou-se e soltou aqueles longos cabelos acobreados, que caíram em cachos por cima de seus ombros. Sacudiu a cabeça balançando-os. Deixou cair o vestido, num só gesto. Ela não tinha mais nada por baixo dele. E eu não tinha mais porquê sair dali.

SCULLY: - (SENSUALMENTE) Raposão, quero você.

MULDER (OFF): - Era tudo o que eu mais queria ouvir naquele momento. Aquilo era uma ordem. Ela pegou a garrafa de vinho e bebeu outro gole. Empurrei-a na cama e fizemos amor loucamente...

Corte.

[Som: Herb Alpert – Harlem Nocturne]

Mulder, sentado em sua escrivaninha nos Arquivos X, com uma caneta nas mãos e folhas de papéis à frente. Scully entra.

SCULLY: - Mulder, o que está fazendo?

Mulder guarda as folhas de papel rapidamente na gaveta.

MULDER: - (EMBARAÇADO/ PEGO DE SURPRESA) Nada.

SCULLY: - Nada?

MULDER: - E-eu estava escrevendo...

SCULLY: - Escrevendo? Escrevendo o quê?

MULDER: - Uma carta.

SCULLY: - Mulder, cartas geralmente não são tão grandes, ninguém te disse isso?

MULDER: - Ora, Scully, não me amole. O que estou fazendo não é da sua conta.

SCULLY: - Desculpe. É que nunca vi você, assim, compenetrado, escrevendo... É um livro?

MULDER: - Ora, eu escreveria um livro à mão? Estamos na era da tecnologia, Scully.

SCULLY: - Tá certo, Mulder... O que era?

MULDER: - Nada. Não insista.

SCULLY: - Mulder, conheço vários lados seus, mas nunca imaginei que tivesse dom para escrever.

MULDER: - Não estou escrevendo! Desde quando eu sou escritor?

Mulder levanta-se.

MULDER: - Não vi a tarde passar. Já são oito horas da noite! Venha, deixo você em casa.

SCULLY: - O Skinner quer vê-lo. Eu espero por você no carro.

Mulder abre a porta e sai. Scully corre até a mesa dele e abre a gaveta.


Arquivos X - 8:29 P.M.

Mulder entra na sala. Scully está sentada na cadeira dele, lendo os papéis e rindo. Mulder se indigna.

MULDER: - Jogo sujo, Scully! O Skinner já foi há horas! Quem te deu o direito de invadir minha privacidade?

SCULLY: - Você... Mulder, eu... (IMPRESSIONADA/ SORRI) Eu nunca podia nunca imaginar que você tivesse talento pra isso! Anos 30... Jazz, um assassinato, um detetive mulherengo, uma mulher suspeita... Uma atmosfera de filmes de Humphrey Bogart...

MULDER: - ... (EMPOLGADO) Gostou?

Scully larga as folhas sobre a mesa.

SCULLY: - Principalmente da parte em que você deixou a loira e a morena, fugindo com a ruiva.

Mulder dá um sorriso tímido.

SCULLY: - Como acaba?

MULDER: - O Krycek tenta matá-la, mas o Raposão mata ele antes. A Dana e o Fox ficam juntos e felizes para sempre.

SCULLY: - E por que parou de escrever justamente quando tudo entre eles estava pegando fogo?

MULDER: - Faltou inspiração.

SCULLY: - Mulder, vamos pra minha casa. Vou te dar inspiração.

Os dois saem da sala. Mulder tranca a porta.

MULDER: - Pena que amanhã é Sexta-feira, Scully. Só podemos ficar juntos no final de semana.

SCULLY: - Vamos arriscar, “detetive Raposão”... Mulder, como sabia da minha pintinha? Eu faço de tudo pra escondê-la!

MULDER: - (MALICIOSO) Scully, conheço pintinhas em você que até você desconhece a existência...

SCULLY: - Mulder, seu menino levado...

MULDER: - Eu sou um bom detetive, agente Scully. Gosto de descobrir coisas... Ah Deus! Essa pintinha...

Mulder aproxima seus lábios dos dela. Eles trocam um beijo.

Fade out.


07/12/1999

20 de Novembro de 2018 às 20:32 0 Denunciar Insira Seguir história
2
Fim

Conheça o autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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