serenichen Thay

O crime de Junmyeon foi contrabandear alimentos de fora da bolha, e o crime de Jongdae foi amar.


Fanfiction Bandas/Cantores Para maiores de 18 apenas.

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Danificados

                A mata era fechada e ele não conhecia aquele local.

Era estranho sentir pela primeira vez seus pés pisando na grama, machucando com os gravetos espalhados pela terra e até mesmo sendo picados por insetos que ele nunca tinha visto. Os insetos tinham sido banidos da bolha em que vivia.

Nos livros de história censurados, estava presente que o mundo antes da Nova Era vivia sem bolhas de proteções, um mundo onde os animais viviam junto aos humanos, e alguns deles conseguiam ter uma inteligência avançada ou serem domesticados, e que a população não precisava que o governo controlasse o Ar, mas após a Terceira e a Quarta Guerra Mundial, respirar poderia ser letal.

Mas mesmo assim ele se arriscou. Correu quando não tinha ninguém o observando. Nenhum humano o observando, pois as câmeras estavam observando todos. Levou menos de um minuto que fossem notificado a sua fuga e ele não sabia ao certo como conseguiu desviar de todos. Seu corpo estava fraco pela falta das capsulas alimentares, mas seu cérebro raciocinava, ele conseguia entender o que o governo estava fazendo... Como o governo estava o controlando.

Como tudo era controlado.

Do lado de fora da bolha era difícil respirar, mas ainda assim podia sentir o oxigênio entrando em seus pulmões e como doía o sentir. Doía como seu coração.

Ele subiu em uma árvore meio incerto, queria descansar um pouco, seu corpo não aguentava mais correr, seus pés sangravam – algo que seria curado facilmente dentro da bolha – e sua respiração estava ficando cada vez mais pesada, e sua roupa branca estava completamente pintada com as cores da floresta e o vermelho do seu sangue.

Jongdae pegou em seu bolso a última barrinha de proteínas que Junmyeon tinha lhe dado antes de serem capturados e tentou devorar o mais lentamente possível, mas seu estomago continuou gritando por mais quando terminou o alimento.

- Kim Jongdae! – O fugitivo escutou aquela voz tão conhecida, e no fundo sentiu-se aliviado por ele estar vivo. E por mais que o seu desejo fosse descer e o abraçar, sabia que não poderia.

Não poderia enquanto Junmyeon não voltasse a ser o seu Junmyeon. O mais velho caminhava entre a floresta com uma arma em mãos, e ele não sabia se existia munição para o matar ou dardos para o tranquilizar. Suas roupas brancas estavam limpas como se estivesse caminhando dentro da bolha, e lá estava os fios cinzas do seu cabelo... O seu último ato de rebeldia, aquele que o governo não se preocupou em apagar.

- Jongdae, renda-se. – Gritou novamente, e Jongdae desejou que ele se lembrasse do que tinham vivido. – Nós queremos o reabilitar. Você sabe o que é o melhor.

Reabilitação. Essa era a palavra que eles usavam para o controlar... Modificar seus sentimentos e esconder suas memórias.

Qual tinha sido o seu pecado afinal? Teria sido ama-lo? Não era o que o governo dizia? Que todos deveriam amar os outros dentro da bolha? Mas ele não entendia o motivo de amar um homem poderia ser tão errado... Não entendia o motivo de ter sua companheira definida pelo governo logo ao nascimento. Não queria se casar com SooHee, e sabia que Junmyeon não queria se casar com a menina que tinha sido destinada para si.

Não queria que sua vida fosse definida por uma loteria de genes, um banco de dados o qual definiria que a junção dos genes de duas pessoas forneceriam cidadãos melhores... Cidadãos mais obedientes.

Kim Jongdae gostava de Kim Junmyeon.

E Kim Junmyeon gostava de Kim Jongdae.

Isso era o certo.

Quando Junmyeon lhe entregou uma barrinha de proteínas e tomou de sua mão as capsulas de alimentos, Jongdae gritou que aquilo era errado. Que aquelas capsulas o manteria forte, inteligente e que o governo queria o seu melhor. Era a sua única convicção: o governo existia para o proteger. Foi naquele dia que Junmyeon o amarrou em uma cadeira, e passou cerca de uma semana ao seu lado para o desintoxicar com a lavagem cerebral que o governo realizava. Escutando cada um dos seus surtos, dos seus berros e ameaças que iria denuncia-lo ao Poder Maior.

Aquele lugar ninguém poderia o escutar, muito menos uma das câmeras estavam lá para fiscalizá-los como em toda a bolha.

Incrivelmente, naquele lugar não existiam câmeras.

A primeira vez que o Kim mais novo pensou sem ser manipulado pelo governo foi a respeito das câmeras. Elas estavam em todos os lugares, e pareciam o observar a todo momento com medo que ele fugisse da normalidade, da mesma forma que o intimidava. Jongdae ajeitou a postura rapidamente, e seguiu em frente como todos os demais na rua. Nunca observe a câmera por mais de cinco segundos, tinha sido recomendação de Junmyeon, sussurrado ao seu lado.

Não se sinta intimidado, finja que não percebe a presença delas. Ele dizia para si mesmo, mas era enlouquecedor saber que esteve toda a sua vida monitorado, que uma ação sua poderia desencadear consequências como a manipulação de sua mente.

A segunda coisa que Jongdae pensou sem ser manipulado foi como Junmyeon conseguia aquelas barras de alimento, que não o deixava fraco quando não tomava as capsulas do governo. Junmyeon explicou que recebia elas vindas do lado de fora... E que ambos eram especiais de certa forma, que fazia valer a pena correr o risco. Foi nesse momento que o mais novo descobriu que tudo que tinha aprendido na escola era mentira, dava para viver fora da bolha.

Nem tudo era branco. Existia uma liberdade a qual ele decidiria o que queria fazer, existiam também outras formas de vidas, ele aprendeu sobre as plantas, sobre os animais e se encantou ao saber que a milhões de anos existiam dinossauros na Terra, o lado de fora era coberto de cores e até mesmo sabores que ele nunca conseguiu imaginar. E Junmyeon o prometeu que se caso eles conseguissem ir embora – esse passou a ser um sonho dos dois – da bolha, eles cuidariam de um gatinho.

A terceira coisa de Jongdae descobriu após controlar seus pensamentos foi que era apaixonado por Junmyeon. Não foi fácil admitir aquilo, nunca tinha pensado na possibilidade de gostar de alguém além da menina a qual lhe foi prometida, principalmente essa pessoa ser um homem. Segundo o governo, seus filhos seriam fortes e inteligentes, e para ele isso bastava mesmo encontrando a menina algumas poucas vezes.

Ninguém contrariava o governo, ninguém se casava sem a sua permissão, muito menos namorava.

Se existia alguém que ele gostaria de beijar, esse alguém era Junmyeon. A cada dia ele sentia ainda mais forte o desejo de saborear seus lábios, e toca-lo.

Ao descobrir que o que o mais novo sentia, Junmyeon respirou aliviado. Ele não era o único que pensava daquela maneira. Forçar Jongdae a parar de comer os alimentos do governo tinha sido algo arriscado, mas ele precisava tentar... Precisava saber se o outro o corresponderia, precisava saber se sua mente não estava louca quando o outro gostava e agia de forma mais carinhosa consigo.

Naquela noite eles se confessaram e se amaram em segredo.

Fora do pequeno apartamento que compartilhavam perto do centro de estudos, o qual cursavam um ensino profissionalizante escolhido pelo governo, eles andavam de olhos baixos e rosto sem expressão. Misturavam-se no meio da multidão fingindo serem bons cidadãos. E isso aconteceu durante três meses, até que uma noite Junmyeon não voltou para casa. E ao invés do companheiro, guardas do governo apareceram na porta do pequeno apartamento o prendendo enquanto reviravam tudo em busca de objetos ilícitos.

Junmyeon tinha sido preso enquanto buscava os alimentos junto ao contrabandista. E naquele momento descobriram que seu companheiro de apartamento não era apenas um colega.

– Você está preso pelo crime de homossexualismo – Ele nunca tinha ouvido falar esta palavra, mas pelo ‘ismo’ no final sabia que era considerado alguma doença – E será encaminhado para um centro de reabilitação por atos contra as leis. – Disse um dos agentes.

Enquanto Junmyeon estava sendo preso por contrabando, ele fora preso por amar.

A primeira vez que viu Junmyeon após a prisão, ele lhe deu um sorriso torto, mesmo completamente ensanguentado, enquanto era carregado no corredor em que ficava a cela de Jongdae em direção a uma pequena salinha no final. Em poucos minutos, o mais novo Kim escutou os gritos aflitos do companheiro. E ele sabia que aquele era o seu destino.

Mas algo deu errado. Jongdae não soube ao certo, mas permaneceu dias preso naquela cela. Recusava-se alimentar com as capsulas e a cada dia ficava mais e mais fraco, mas fingia as morder na frente dos guardas, e por fim, as cuspia e as escondia junto ao seu travesseiro. E, um dia, milagrosamente algumas barrinhas surgiram embaixo do seu travesseiro certa noite. Ele queria poder sorrir, mas não possuía forças suficientes, aquilo era obra do Junmyeon.

Mesmo quando ele apareceu a sua frente gritando que eles eram repugnantes, Jongdae dizia para si mesmo que aquele não era o seu Junmyeon... Não com aqueles olhos raivosos e palavras que ambos consideravam mentirosas, ele tinha sido reabilitado.  

Os oficiais decidiram que ele deveria ser transferido para uma base externa da bolha, e aquela foi a sua chance de fuga. Estava junto a mais 7 pessoas sentados acorrentados, ninguém ousava a dizer nada, muito menos encarar o outro nos olhos... Todos ali eram fugitivos e tinham ido contra o governo, todos tinham crimes a serem pagos. E foi no meio da estrada com desnivelamento que ocorreu uma explosão frente ao caminhão que eram transportados.

Foi mais rápido que conseguiu acompanhar, homens vestidos de roupas pesadas e escuras invadiram o caminhão e os libertaram... No meio daquela confusão Jongdae conseguiu fugir... Correu como nunca na vida, com seus pés descalços sobre a mata que nunca antes tinha visto... Nunca tinha sentido... Estava impressionado como era o mundo do lado de fora, mas ao mesmo tempo não poderia admirar. Eram tiros para todos os lados, e desejou que ninguém sentisse a sua falta no meio da confusão.

 Não procurou o mais velho que estava junto as tropas do governo, sabia que ele estava fora de si. Não teria como o obrigar a fugir no meio daquele caos, e mesmo quando o encontrou na floresta, não pode correr até si. Não poderia o obrigar a ir contra o governo. Não naquele momento.

E meio ao frio, Jongdae chorou no topo da árvore após escutar os gritos pelo seu nome cada vez mais distante.

...

Jongdae acordou com uma luz na sua cara.

Seu corpo inteiro doía, seu corpo por dentro ardia, e por fora o sangue tinha secado enquanto se abraçava no meio ao frio.

Estava muito frio. Aquela também era uma sensação nova, a bolha deixava a temperatura constante... Não era frio, nem quente. Era o ideal, como seu amor pelo Junmyeon. Mas do lado de fora, Jongdae tremia durante a noite.

A luz forte em seu rosto o cegou momentaneamente. E naquele momento temeu ter sido encontrado, era como se todos seus esforços por permanecer vivo tivessem sido jogados fora. Droga... Não poderia acabar daquela maneira.

Quando conseguiu observar quem estava com o feixe de luz, percebeu que não estava sozinho. Eram três rapazes vestidos de negro... Nunca tinha visto roupas como aquelas, e correntes com caimento a partir do ombro.

– Viemos lhe resgatar, Kim Jongdae. – O mais baixinho disse gritando. – Somos de fora do complexo.

– Confie em nós. – Disse o outro, e Jongdae se recordou de vê-lo conversando com Junmyeon uma vez... Ele era o contrabandista.

Seus olhos se voltaram para o terceiro homem, e o reconheceu. Era o mesmo rapaz que estava junto a si na transferência de base, porém, vestia roupas mais fortes contra o frio e a mesma expressão de cansaço.

Com os pés doloridos, Jongdae desceu lentamente. Se todos eles eram fugitivos, provavelmente estariam do mesmo lado. Pelo menos um pouco poderia confiar neles momentaneamente. Quando seus pés tocaram o solo, seu corpo caiu junto. Estava completamente dolorido e o mesmo rapaz que estava no comboio jogou uma manta sobre seus ombros.

– Vamos. – O contrabandista disse, enquanto o segurava pelos braços o ajudando a movimentar. – Estávamos procurando você. Você era o último que faltava ser resgatado.

- Resgatado? – Sua voz saiu como um fio. – Por que seria resgatado?

– Mesmo após a lavagem cerebral, Junmyeon ainda cuida de você. – O mais baixo disse, seu rosto estava ensanguentado, mas mesmo assim seus traços eram delicados. – Ele lhe deu um localizador para comer, e conseguimos o achar com isso. – Ele mostrou um aparelho onde indicava um ponto vermelho.

E antes mesmo que ele pudesse voltar a perguntar, acabou desmaiando.

...

Acordar foi difícil.

Seu corpo inteiro estava pesado como pedra e suas pupilas lutavam para permanecerem fechadas.

Ao seu lado, ele conseguia escutar uma máquina ao seu lado apitava com seus batimentos cardíacos, e quando teve sua consciência recobrada, começou a tossir fortemente. Jongdae arqueou o corpo e saiu sangue pela sua boca.

Uma mulher com jaleco laranja florescente veio correndo em sua direção e o ajudou a se posicionar na cama. Ela era bonita, Jongdae tinha que admitir, com rosto sério e expressão compenetrada, ela limpou seu rosto e sorriu quando o paciente voltou a respirar novamente.

– Você acabou pegando uma pneumonia, dormiu por uns dias e estamos tratando, mas nossos recursos são poucos. – A enfermeira disse se afastando. – Está melhor, Senhor Kim?

– Já não sinto mais tanto frio. – Respondeu com a voz meio falha. – Que lugar é esse?

Os olhos da enfermeira vagaram a pequena enfermaria pintada em cores fortes buscando algo que o Kim imaginou ser alguém que pudesse falar daquilo, alguma permissão. E por fim, quando ela se voltou disse:

- Não tenho permissão de lhe contar essas coisas. Mas o Comandante Kyungsoo deve vir falar com você em breve.

– Eu não tenho direito a saber o motivo de estar aqui? – Jongdae sentiu uma dor em seu supercilio, provavelmente estaria cortado. – Pelo menos isso. O motivo de nós estarmos aqui?

A outra desviou o olhar em uma luta interna. Mas o paciente precisava saber onde estava, precisava saber se tudo estava bem com Junmyeon. Se tinham o encontrado! Droga, ele estava o protegendo desde o início e ele se sentia um invalido por não conseguir o ajudar.

Antes que ele pudesse perguntar novamente, uma maca entrou as pressas na pequena enfermaria e céus, Jongdae reconheceria aquele cabelo em qualquer lugar do mundo. Em meio a xingamentos e ameaças praguejadas por Junmyeon enquanto seu corpo era amarrado e lentamente a sua voz mesmo distante ficava cada vez mais mole. Tinham lhe dado um tranquilizante.

Antes que o Kim mais novo corresse em direção ao seu companheiro uma pessoa encontrou na sua frente. O mesmo baixinho que tinha encontrado na floresta, o que tinha lhe dito que Junmyeon estava sempre o zelando.

- Kim Jongdae. Meu nome é Do Kyungsoo, e precisamos conversar sobre onde estamos. E o que fazemos. – Sua voz era firme e calma, e no fundo Jongdae temeu aquilo. Como alguém conseguia se portar daquela maneira naquela circunstância? – Somos um grupo que buscamos a destruição do governo atual, e você está aqui hoje pois não segue os moldes que foram estabelecidos após a Nova Ordem Mundial.

Kyungsoo tinha o rosto cortado na altura da bochecha, e lábios inchados provavelmente por uma luta corporal. Era baixinho e magro, e Jongdae provavelmente riria ao pensar que ele lutava... Mas com a sua pose e tom de voz firme, Kyungsoo era a cabeça e idealizador daquele lugar.

– Precisamos de sua ajuda. E da ajuda do Junmyeon quando ele voltar em si. – O menor continuou dizendo. – Precisamos que vocês se infiltrem novamente na bolha.

 

 

Jongdae estava preso em um acampamento pró-revolucionário, e mesmo que Junmyeon gritasse que eles eram errados, gritasse que todos ali deveriam morrer, ele não abandonou o companheiro. Não o abandonou quando o comandante Kyungsoo veio atrás de si explicando que precisava que os dois se infiltrassem na bolha.

Não abandonou quando a sua pneumonia piorou.

Sua maca continuo ao lado da sua, sussurrando os pequenos momentos compartilhados que lentamente voltavam a mente do mais velho.

Lentamente a sua consciência voltava. Alguns momentos de lucidez e até mesmo que ódio extremo norteavam Junmyeon, não dava para saber o quanto tinha sido afetado mas dava para perceber que no meio daquilo tudo, ele ainda o amava... Era uma briga interna, regada a choques elétricos para ‘limpar’ o seu cérebro, como a equipe dos pró-revolucionários diziam que funcionavam.

E Junmyeon apertava a sua mão como se confirmasse que estava ali, ao seu lado. Enquanto a sua voz fraca contava o que tinha vivido, e raiva crescia dentro de Jongdae.

Apesar de todos os danos causados, Jongdae nunca abandonaria Junmyeon. E nunca renunciaria ao amor dos dois.  

19 de Novembro de 2018 às 00:14 2 Denunciar Insira Seguir história
3
Fim

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Thay Escritora originalmente no spiritfanfics. PERFIS NO SPIRIT: https://www.spiritfanfiction.com/perfil/yehunnie https://www.spiritfanfiction.com/perfil/serenichen

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Anna Luisa Anna Luisa
Awn, que maravilha <3 beijos :3
November 19, 2018, 14:58

  • Thay Thay
    awwww obrigada por ler <3 November 19, 2018, 17:57
~

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