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‘’De todos os caminhos do mundo Escolhestes o mais sombrio Um gole do líquido escarlate E três gotas do cristal puríssimo que dos olhos desolados transborda Em vinte anos a alma será levada Alma daquele que possuir no sangue a semelhança E este contrato só será quebrado Se por uma gota brilhante do sofrimento do encarregado For molhada a mão pálida do que por elas foi tocado Pelas asas da dama de negro E este contrato só será quebrado Se por uma gota brilhante do sofrimento do encarregado For molhada a mão pálida do que por elas foi tocado Pelas asas da dama de negro E tal infeliz serviçal Do inferno será exceptuado.’’


Fanfiction Bandas/Cantores Para maiores de 18 apenas.

#exo #seho #sehun #suho #sobrenatural #ficção #fantasia #pacto
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Capítulo único - Por partes de ti

‘’De todos os caminhos do mundo

Escolhestes o mais sombrio

Um gole do líquido escarlate

E três gotas do cristal puríssimo que dos olhos desolados transborda

Em vinte anos a alma será levada

Alma daquele que possuir no sangue a semelhança

E este contrato só será quebrado

Se por uma gota brilhante do sofrimento do encarregado

For molhada a mão pálida do que por elas foi tocado

Pelas asas da dama de negro

E tal infeliz serviçal

Do inferno será exceptuado.’’

 

Oh Hunjoo andava sem destino pelas ruas escuras daquele bairro humilde da capital; grossas lágrimas corriam por seu rosto pálido e ele deixava seus soluços altos ecoarem soltos pelo ambiente que seria deserto se não fosse sua presença ali.

‘’Minha Seah... Meu Sehun...’’, choramingava em desespero.

Caminhou tropegamente pelas calçadas até entrar num beco largo, mal iluminado e sujo. Já sem forças e sem esperança alguma, encostou-se à uma das paredes imundas e escorregou até o chão, jazendo ali e chorando alto, desolado.

‘’Não sabemos se sua esposa irá resistir e as chances de seu filho chegar a nascer com vida são mínimas’’, a voz pesarosa do médico ecoava em sua cabeça, a cena de sua mulher quase inerte sobre a cama lhe sorrindo minimamente era reproduzida como se passasse diante de seus olhos repetidamente, partindo seu coração em mil pedaços pequenos. Chorava com dor, desespero, pesar. Secou as lágrimas insistentes e respirou fundo na tentativa – bem falha, deve-se ressaltar – de se acalmar, afinal, se desesperar não resolveria nada.

‘’Olá, Hunjoo’’, a garganta do homem secou e seu corpo tremeu em pânico ao focar na figura que surgira em sua frente. Um garoto aparentemente pequeno, pálido como defunto, trajando regata e calça igualmente pretas e sapatos de couro, cabelo totalmente escuro como piche brilhoso, liso e penteado para cima com capricho. Seus olhos eram o que mais se diferiam dos humanos.

Eram negros, totalmente negros. Não havia diferença entre pupila, esclerótica ou íris, era apenas uma imensidão negra, como o poço mais fundo do qual não se tem conhecimento do fim, onde se sente que pode-se mergulhar até a imensidão do desconhecido. Preto, fosco, sem brilho ou vida. Eram olhos de morte.

O garoto o encarava com um pequeno sorriso de canto nos lábios cheinhos e de pele ressequida. Abriu a boca para falar, e naquele momento Hunjoo esperava sua sentença, mas para sua surpresa, o outro não disse nada. ‘’Q-quem é você? Como... Como sabe meu nome?’’, questionou assustado, sentindo uma mistura de todos os sentimentos mais obscuros e ruins que conhecia se apossando de seu corpo, tomando seu ser de tal forma que sentiu-se enjoado.

‘’Nossa, sempre as mesmas perguntas... ‘’, o garoto resmungou, revirando os olhos e estalando a língua contra o céu da boca antes de olhar para o outro e sorrir. ‘’Vou direto ao ponto... ‘’, disse antes de se aproximar, seu rosto entrando sob um feixe de luz vindo de um dos postes de rua. ‘’Eu sou um demônio, me chame de Suho. E eu... Bom, eu sou seu salvador’’, abriu os braços e sorriu. Os braços brancos e descobertos eram iluminados de mesma forma que seu rosto, quase se assemelhando a angélicas asas.

‘’Salvador? Não preciso ser salvo’’ Hunjoo resmungou com grosseria.

‘’Oh sim, você não precisa... Mas e sua mulher? E o filho que ela carrega?’’, Suho sorriu maldosamente. ‘’Como seria o nome dele mesmo? Sehun?’’, o humano viu algo semelhante à empolgação preenchendo os olhos até então inexpressivos, e também, o quão difícil seria interpretar os sentimentos contidos naquele olhar? E como se decifraria o olhar de um demônio?

‘’Você pode ajudá-los?’’, perguntou, se levantando do chão num rompante e tentando ao máximo não deixar nenhum pingo de esperança se acomodar em seu peito.

‘’Claro que posso!’’, o demônio deu de ombros antes de encarar o mais alto a sua frente. ‘’Mas haverá um preço’’, completou.

‘’Preço?’’

‘’Evidente que sim! Sou um demônio, não um anjo milagreiro’’

‘’O que tenho que fazer?’’, Hunjoo questionou com determinação em sua voz.

‘’Nada... ‘’, Suho encolheu os ombros. ‘’Sua esposa fica bem, seu filho nasce total e inteiramente saudável, vocês voltam para casa e vivem felizes com o outro garoto... ‘’, explicou, caminhando em círculos pelo local mal iluminado. ‘’E em vinte anos, eu volto, e eu e você desceremos juntos para o inferno’’, encolheu os ombros como se fosse a coisa mais simples de todas.

‘’Vinte? Sempre ouvi dizerem que demônios costumam oferecer dez anos apenas... ‘’, o mais alto perguntou com um misto de curiosidade e desconfiança.

‘’Demônios diferentes, interesses diferentes, formas de trabalho distintas’’, Suho apenas encolheu os ombros. ‘’Diferentemente do que o ensinaram no cursinho de padres que frequentou, Hunjoo, o inferno não é apenas caos e desordem’’, sorriu. ‘’Mas o assunto não é meu lar-nem-tão-doce-lar. E então, aceita minha oferta?’’

‘’Serão vinte anos?’’, o humano perguntou num tom baixo, acanhado.

‘’Sim. Vinte longos anos para viver com sua esposa e ver seu filho crescer’’, a voz do demônio soava calma, gentil, doce como mel. Jamais seria dito que tal timbre tão acolhedor pertenceria a um demônio. Se bem que, demônios deviam ser persuasivos, perspicazes, enganadores. Talvez o tom suave não fosse tão destoante do ser em si. ‘’Ah claro, devo dizer que, se por algum acaso você tentar me passar a perna, quebrar o pacto ou fugir da sentença, seu filho Sehun e sua preciosa Seah caem mortos no mesmo instante e vão parar direto no lugar para onde deveriam ir esta noite’’, falou ameaçador.

‘’Como saberei que manterá a promessa? Demônios mentem’’

‘’Reafirmando o que eu disse anteriormente: inferno não é bagunça. Temos leis, não podemos fugir aos termos do contrato, é a sua alma pela sua vontade. Se eu não cumprir, morro’’, ergueu os ombros ao dizer a última palavra, como se não fosse nada demais.

Hunjoo ficou em silêncio por alguns longos minutos, e o demônio respeitou seus pensamentos, sabendo o que viria a seguir.

‘’Eu topo’’

Então Suho sorriu largamente, erguendo a mão pálida até o outro até quase encostar-lhe a testa.

Hunjoo  de repente se viu numa local amplo, sem portas ou janelas, parcamente iluminado por velas amareladas que possuíam um cheiro forte e desagradável, as paredes pareciam ser de uma cor que um dia fora vermelho, mas já estavam encardidas e sujas. Uma mesa redonda estava colocada no centro, uma toalha num tom carmim a cobria e bordados dourados no tecido contavam histórias. Uma moça de aparência jovem, pele amorenada, de sorriso maléfico nos lábios negros, longos cabelos brancos e vestido comprido vermelho estava postada atrás da mesa, olhava para o homem que como se o aguardasse.

‘’Nexum*’’, Suho cumprimentou com um sorriso animado e a mulher lhe sorriu da mesma forma.

‘’O que fazemos aqui?’’, o humano perguntou assustado

‘’Não sei se percebeu, meu caro, mas minha forma aqui é imaterial. Não posso tocar você ou nenhum objeto deste plano, logo, não consigo selar o pacto’’, o de olhos negros explicou. ‘’Esta é Nexum, a materialização do portal que conecta o seu mundo humano com o meu mundo sobre-humano, ela me fará o favor de realizar o feitiço que selará nosso pacto’’

‘’C-certo... ‘’

‘’Prontos?’’

‘’Prontos’’, as duas figuras masculinas responderam ao mesmo tempo

Um olhar penetrante de Nexum e a luz provinda das velas diminuiu, o clima se tornou mais mórbido, se é que poderia ser possível, o único ser humano ali presente sentiu uma mistura de desespero e sofrimento preenchendo seu âmago.

Ela dizia palavras em uma língua estranha.

Latim, talvez.

Possuía uma pequena tigela cheia de um líquido negro que estava colocada no centro da mesa, e tal líquido passou a borbulhar ao passo que o canto maligno da mulher se tornava mais alto.

‘’Aproxime-se’’, ela sussurrou, o som da letra S em sua boca saindo como o sibilar de mil e uma víboras famintas.

O humano não teve opção, pois logo se sentia impulsionado por forças das quais desconhecia a origem que o empurravam contra a mesa, sentia como se alguma criatura grande e forte o segurasse com violência, esticando forçadamente.

‘’De todos os caminhos do mundo

Escolhestes o mais sombrio’’

Os lábios marcados pronunciavam as palavras com calma, como se contasse uma história à uma criança pequena.

‘’Um gole do líquido escarlate’’

Uma pequena adaga de lâmina visivelmente afiada foi erguida aos olhos humanos, e Nexum não esperou antes de partir-lhe a pele da palma da mão, deixando com que o líquido rubro escorresse até cair no recipiente ao centro da mesa, e Hunjoo se viu chorando em desespero.

‘’E três gotas do cristal puríssimo...’’

Estendeu os dedos na direção do homem, este sentindo suas lágrimas soltando de sua face

‘’...que dos olhos desolados transborda’’

Continuou com um sorriso no rosto, as gotas brilhantes levitando até caírem como peso morto dentro do líquido borbulhante.

‘’Em vinte anos a alma será levada’’

‘’Alma daquele que possuir no sangue a semelhança’’

Cantarolou como um aviso, seus olhos se tornando avermelhados. Naquele momento, Suho, já satisfeito, esticou seu braço em direção ao humano até quase lhe tocar a cabeça.

E ele desapareceu dali.

O demônio sorria contente até Nexum continuar seu encanto.

‘’E..’’

‘’Isso é mesmo necessário?’’, ele encarou a antiga amiga com uma sobrancelha erguida.

‘’Sabe que preciso colocar uma brecha. É a lei’’

‘’Apenas finalize isso...’’, Suho disse impaciente depois de suspirar contrariado.

 ‘’...este contrato só será quebrado

Se por uma gota brilhante do sofrimento do encarregado

For molhada a mão pálida do que por elas foi tocado

Pelas asas da dama de negro

E tal infeliz serviçal

Do inferno será exceptuado.

Carmine fit. Aeternum carmine*’’ Ela finalizou com um sorriso, e o líquido negro e espesso queimou, soltando pequenas chamas e faíscas até se consumir por completo.

‘’Exceptuado? Não é essa a regra!’’ Suho protestou indignado ao que o ritual terminou.

‘’Você está sem subir há muito tempo, Junmyeon... ‘’, a mulher falou num tom baixo, mas risonho. ‘’Muita coisa mudou... ‘’

 

 

세호

 

 

Quando Hunjoo abriu seus olhos, se viu num corredor de paredes e chão brancos, silencioso. Reconheceu rapidamente o local, visto que seus últimos dois meses haviam se passado praticamente com ele morando naquele hospital. Andou rapidamente pelo corredor até que encontrou a recepção. Conhecia o caminho de como a palma da mão – esta que permanecia ferida e respingando sangue pelo caminho que passava – por isso não demorou em encontrar o quarto onde sua esposa estava.

Já estava quase com a mão ensanguentada na maçaneta da porta quando viu o médico que já conhecia bem saindo dali. O homem baixinho e careca se aproximou, o afastando da porta e parando no meio do corredor.

‘’Sr. Oh... ‘’, este saudou num tom baixo ao ver o homem. ‘’Finalmente apareceu’’, completou com um pequeno sorriso

‘’Ah, doutor Kang... Eu precisei... Dar uma volta’’, respondeu inconclusivo. ‘’Como está a minha esposa? Quero vê-la’’, pediu enquanto já se encaminhava para abrir a porta

‘’Espere, Hunjoo!’’, o médico o impediu, o segurando pelos ombros. ‘’Eu preciso... Conversar com você’’, informou num tom temeroso, desviando o olhar para baixo. ‘’Oh... O que foi isso na sua mão?’’

‘’Me cortei na rua, não é nada... ‘’

‘’Então porque não conversamos enquanto eu dou uma olhada nisso?’’, Kang sugeriu, vendo o outro apenas assentir hesitantemente

Já no ambulatório, o médico se concentrava em limpar o ferimento grande mas não muito profundo enquanto o paciente o encarava seriamente.

‘’O que quer conversar?’’, Hunjoo perguntou impaciente.

‘’Algo aconteceu enquanto você estava fora...’’

‘’Onde está minha mulher?’’, perguntou já com a voz embargada. ‘’Demônio maldito, disse que eles ficariam bem... ‘’, praguejou mentalmente

‘’Ela está bem... ‘’

‘’E meu filho?’’

‘’Ela entrou em trabalho de parto enquanto estava fora, sr. Oh’’, o médico informou enquanto terminava de enfaixar a mão agora já limpa e tratada. ‘’Ela está bem, porém seu filho nasceu muito pequeno e fraco, mas estamos cuidando dele e estamos otimistas quanto ao caso’’, falou num tom gentil, erguendo os olhos para o homem que já chorava. ‘’Queria dizer-lhe que considero um verdadeiro milagre. Nenhum dos meus colegas que também cuidavam de sua esposa estavam muito otimistas. Na verdade achávamos que ela perderia o bebê e morreria... Eu não vejo nenhuma explicação lógica para o que houve, foi apenas... Um milagre’’, encolheu os ombros, pousando gentilmente uma de suas mãos no ombro do mais alto.

‘’Eu quero vê-lo! Meu filho!’’, Hunjoo pediu nervosamente, vendo o médico sorrindo para si de forma doce.

‘’Eu só o trouxe para conversar para que preparassem o menino e sua esposa, os dois estão na sala de incubação esperando por você’’, ele informou após uma risada curta. ‘’Vamos, o levarei até lá’’

A caminhada até a dita sala fora longa e torturante para Hunjoo, que não parava de suar e estalar as juntas dos dedos em nervosismo. Parou em frente à porta de vidro, vendo dezenas de incubadoras colocadas lado a lado com distâncias razoáveis entre uma e outra. Poucas máquinas eram ocupadas, mas não se ateve a esse detalhe, pois focava-se na figura de sua esposa sentada confortavelmente em uma poltrona de aparência macia, com uma mão acariciando o pequeno serzinho adormecido dentro de um dos aparelhos por uma das aberturas laterais. Seus cabelos longos e negros estavam arrumados numa trança firme e ela parecia feliz, mas exausta e visivelmente debilitada. Enxugou como pôde as lágrimas que já corriam por seu rosto e adentrou à espaçosa sala, caminhando apressado até sua esposa.

Seah sorriu abertamente para o marido ao vê-lo se aproximando, algumas lágrimas podiam ser vistas em seus olhos. Não tinha forças o suficiente para se levantar e recebê-lo, mas abriu os braços e riu sonoramente ao que o mesmo se ajoelhou à sua frente, a abraçando como pôde em meio ao choro de alívio.

‘’Olhe, Hunjoo... Nosso segundo menino’’, falou ao que o homem se afastou, enxugando-lhe as lágrimas antes de apontar para o ser diminuto que dormia calmamente. ‘’Ele não é lindo?’’, perguntou retoricamente, vendo o marido assentindo enquanto se levantava, olhando curioso para dentro da redoma transparente que protegia o pequeno menino. ‘’Eu queria tanto segurá-lo de novo, mas disseram que ele tem que ficar aí por enquanto... Mas eu vou poder amamentá-lo mais tarde’’, ela falou num tom animado.

‘’Por que ele tem que usar respirador?’’, o pai perguntou preocupado, colocando uma de suas mãos por uma das aberturas laterais da máquina e acariciando o pezinho que parecia minúsculo em comparação à mão grande.

‘’Como ele nasceu com sete meses, todos os órgãos estão formados, mas não totalmente desenvolvidos. No caso dele, os pulmões são os que estão mais frágeis e parece que a comunicação entre o sistema nervoso dele e os órgãos ainda está debilitado, por isso o aparelho o ajuda a manter o ritmo da respiração dele sem prejudica-lo’’, o médico, que até então apenas observava à cena, informou.

‘’Ah sim... ‘’, Hunjoo assentiu, focando-se em tocar seu novo filho com carinho

‘’Meu outro filho... Ele pode vir me ver? E ver o irmãozinho? ’’ Seah perguntou ao médico com um olhar esperançoso.

‘’Bom... Ele é muito pequeno... ‘’, o médico ponderou, mas acabou por suspirar ao que viu o olhar suplicante que a mulher lhe direcionava. ‘’A-acho que... Não deve ter problema...’’

‘’Ah, que bom! Hunjoonnie, traga-o amanhã!’’, ela pediu com um sorriso, segurando a mão do marido

‘’Tudo bem, vou buscá-lo na casa da sua irmã e trazê-la para passar a noite contigo, tudo bem?’’, Hunjoo perguntou, vendo sua esposa sorrir. ‘’E amanhã cedo venho com o Jooah para vermos vocês’’, finalizou com um sorriso largo.

Hunjoo passou mais alguns minutos ao lado da esposa e do pequeno filho, fazendo planos, conversando sobre como queriam o futuro dali em diante, ambos felizes com a vida que queriam construir juntos.

E Hunjoo quase se esqueceu do peso que teria que aguentar em suas costas pelos próximos vinte anos.

 

 

세호

 

 

Sehun corria desajeitadamente e animado pelo jardim, Jooah corria atrás dele com uma arminha plástica que atirava água, molhando completamente a camiseta que o menino vestia. Ambos riam sonoramente, corriam feito loucos, e só se animaram mais ao que Kyu, a cachorrinha de estimação de ambos, passou a correr junto dos dois pelo quintal. Sehun corria tão entusiasmado que não viu uma pedra mediana em seu caminho, acabando por tropeçar na mesma e cair no chão.

‘’Hunnie!’’, Jooah gritou ao ver o pequeno irmãozinho caindo, não demorando a alcançá-lo e puxá-lo para seus braços. ‘’Machucou?’’, perguntou preocupado, vendo o menor resmungar baixinho e chorar. Viu alguns pequenos cortes no joelho de Sehun, dos quais saía uma pequena quantidade de sangue, porém, era criança como o irmão, e para ele, aquele pequeno machucado era a coisa mais horrível do mundo.

‘’Hyung, machucou!’’, Sehun falou entre lágrimas, olhando de forma dramática para o mais velho.

‘’PAPAI!’’, este gritou o mais alto que pôde. ‘’Calma, Hunnie, eu ‘tô aqui com você’’, confortou, passando a mão suja de terra pela testa do menor, afastando os fios escuros de seu cabelo que cobriam os olhinhos miúdos.

‘’O que houve?’’, Hunjoo perguntou ao se aproximar dos dois.

‘’Papai, ele caiu e machucou!’’, o filho mais velho falou com um biquinho, segurando o irmão nos braços como se este estivesse à beira da morte.

‘’É mesmo? Ohh, olhe só, esse é o machucado mais horrendo da história dos machucados, parece que a doutora mamãe terá que fazer um curativo aí!’’, o pai falou num tom sério, pegando o filho mais novo em seus braços enquanto estendia a mão para que o mais velho a segurasse. O pequeno passou as pernas pela cintura do pai, envolvendo sua cabeça com os braços e pousando a própria nos ombros largos, olhando para o caminho atrás de si enquanto ainda chorava baixinho.

‘’Papai, a doutora mamãe pode me examinar também?’’, Jooah perguntou animado

‘’Mas você não se machucou!’’, o mais velho acusou com um sorriso

‘’Ahn, mas eu sinto minha barriga doer... ‘’, o menino fez manha

‘’Ah sim, eu entendo... Sendo assim, acho que a doutora mamãe pode dar uma olhada’’, confortou, levando os dois meninos até os fundos da casa, onde era montado um espaço para refeições ao ar livre. ‘’Doutora mamãe, tenho dois meninos precisando de sua ajuda aqui!’’, falou alto ao avistar sua esposa lavando algumas verduras na pia externa da casa.

‘’É mesmo? Deixe-me vê-los’’, Seah sorriu, pegando Sehun no colo e o colocando sobre a mesa. ‘’Olhe só, esse é o machucado mais horrendo da história dos machucados, mamãe vai ter que dar um jeito. Me dê um minutinho apenas’’, falou num tom surpreso, entrando na casa para buscar algodão e um vidro de antisséptico para ferimentos. ‘’Prontinho, bebê, agora deixe a doutora mamãe limpar isso’’, falou sorridente ao voltar com os objetos, vendo o filho a encarando com um bico nos lábios. ‘’Não fique assim, se doer, eu assopro’’

‘’Eu seguro sua mão, Hunnie!’’, Jooah ofereceu, vendo seu irmão estender a mãozinha magra para entrelaçar os dedos. Sehun fez uma breve careta ao sentir o medicamento sendo colocado em seu joelho, apertando a mão de seu irmão mais velho, mas logo passou a sorrir ao sentir sua mãe assoprando a região antes de deixar um beijinho estalado ali.

‘’Prontinho, agora está ótimo’’, ela falou, bagunçando os cabelos do filho.

‘’Agora eu, mamãe!’’, Jooah chamou dengoso.

‘’Ok, o que meu príncipe tem?’’, perguntou ao se abaixar em frente ao garoto, que também estava sentado sobre a mesa, as perninhas finas balançando no ar.

‘’Dor na barriga’’, ele falou com um biquinho

‘’Hm... A mãe colocou a mão sobre a barriga do filho, fingindo examiná-lo. ‘’Eu acho que essa dor na barriga é fome’’, falou seriamente, beijando a barriguinha desnuda do menino. ‘’Então porque não vai com seu irmão ao banheiro e o ajuda a se lavar para o almoço?’’, sugeriu com um sorriso, beijando a testa do pequeno.

‘’Vamos Hunnie!’’, Jooah chamou animado, pulando da mesa e ajudando seu irmão a fazer o mesmo. Os pais sorriram docemente para a cena meiga, se abraçando enquanto encaravam os filhos.

Os irmãos se encaminhavam para o interior da casa quando Sehun se deteve, olhando curioso por cima do muro até a janela da casa do vizinho. ‘’Papai?’’, chamou curioso. ‘’Quem aquele?’’, perguntou com seu jeitinho embolado de criança de quatro anos, apontando para o local de onde o garoto estranho o olhava com um sorriso no rosto.

‘’Onde, Hunnie?’’, seu irmão questionou, olhando para o local e não vendo nada.

‘’Ali!’’ o pequeno volto a apontar, olhando para o local mas percebendo que o garoto já não estava lá. ‘’Ah, sumiu’’, fez um bico. ‘’Vamos, Joonnie hyung’’, chamou, voltando a caminhar com seu irmão para dentro de casa.

E Sehun não viu o semblante desesperado de seu pai enquanto este observava a janela, onde um ser pequeno e pálido permanecia parado, o fitando com um sorriso diabólico nos lábios.

 

 

세호

 

 

‘’Shh, hyung!’’, Sehun repreendeu ao ouvir seu irmão resmungar algo ao seu lado.

‘’Hunnie, eu estou entediado... ‘’, Jooah reclamou

‘’Se rezar ao invés de reclamar o tempo passa mais rápido’’, o mais novo falou irritado e o outro apenas revirou os olhos antes de fechá-los novamente, acompanhando os outros fiéis ali presentes na reza que faziam.

‘’Amém’’, um coro de vozes foi ouvido e logo os dois irmãos finalizavam as próprias orações, levando uma mão à testa, depois ao peito, depois de um ombro ao outro

‘’Ai, finalmente’’

‘’Hyung, seja mais respeitoso na casa do Pai!’’, Sehun repreendeu irritado, puxando o irmão mais velho para fora dali, seguindo o fluxo de pessoas que saía da igreja

‘’Olha, eu só venho porque a mamãe e o papai ficam felizes, se não fosse por isso...’’, o mais alto deu de ombros

‘’Então é melhor não vir, ou você acha que Deus fica feliz com isso?’’, o mais novo cruzou os braços em frente ao irmão, o encarando com seriedade.

‘’Aish Hunnie... Olhe, eu te admiro muito e tudo mais, mas não entendo como consegue gostar tanto dessa coisa de igreja... ‘’ Jooah falou frustrado, alcançando uma das mãos do mais novo e juntando à sua, o puxando pela rua.

‘’Não é questão de apenas gostar. Eu me sinto bem, sinto prazer em seguir os ensinamentos da bíblia’’, ele explicou pacientemente, enlaçando seus dedos aos do mais velho. ‘’Eu é que não entendo como você e a maioria dos jovens de hoje conseguem sentir tanto prazer em fazer o que é errado, pecar...’’, murmurou com um bico.

‘’Se pecado fosse ruim, bebê, ninguém faria’’, o mais velho sorriu jocoso, direcionando um olhar malicioso pro irmão.

‘’Faz sentido... ‘’, Sehun concordou. ‘’Mas eu faço o possível para não cair em tentação’’, falou com orgulho de si mesmo.

‘’Sabe o que eu acho, Hun-ah?’’, Jooah perguntou insinuante, vendo o outro apenas o olhando de soslaio enquanto ainda caminhavam. ‘’Acho que isso tudo é pose pra disfarçar que gosta do filho dos Byun’’, falou sorridente, rindo alto ao ver o irmão engasgar com a própria saliva antes de encará-lo raivoso.

‘’Não diga besteiras! Homossexualismo é pecado!’’, falou alto, quase gritando, ficando enfurecido ao que o irmão continuou a rir. Passou a puxá-lo com violência pelo caminho que os levaria até a casa que moravam, já que, no ‘’código de conduta de irmãos’’ que praticavam mesmo que inconscientemente, largar a mão de seu irmão para andar sem ele seria um ato horrível, poderia magoar o mais velho. ‘’Cale a boca’’, resmungou

‘’Oh, respeito ao mais velho não está na bíblia?’’, Jooah perguntou ao se recuperar da crise de risos. ‘’Sério, fale comigo!’’, puxou o menor pela mão, o fazendo parar de andar. A casa de ambos não estava muito longe, podiam ver a mãe os esperando no portão enquanto conversava amistosamente com uma das vizinhas. ‘’Seja honesto comigo, somos irmãos e você é meu melhor amigo, você já está beirando os vinte e nunca se relacionou com ninguém’’, falou mais baixo, levando uma de suas mãos para empurrar a franja longa e escura do mais novo para longe de seus olhos pequenos. ‘’Você olha para o Baekhyun como se ele fosse a pessoa mais linda da face da terra... Gosta dele, não gosta?’’

‘’Pare com isso, eu não sou gay!’’, revirou os olhos, voltando a puxar o irmão pela calçada até que chegassem em casa. ‘’Oi mamãe, oi Sra. Kim’’, cumprimentou educadamente, deixando um beijo na bochecha da mãe, vendo seu irmão fazer o mesmo antes de ambos entrarem em casa.

‘’Pai! Chegamos!’’, Jooah anunciou ao passarem pela porta, subindo as escadas rapidamente à procura de seu velho. ‘’Papai?’’, continuou a procurar. ‘’HUN, PAI TÁ AÍ EM BAIXO?’’, berrou do topo da escada.

‘’NÃO!’’, o mais novo respondeu, mordendo uma maçã que encontrara sobre a mesa da cozinha. Mordia a fruta com vontade enquanto mantinha o quadril encostado na pia. Se sobressaltou ao ouvir o rádio velho colocado sobre o balcão começando a tocar repentinamente, uma melodia suave e romântica tomando conta do local. Largou a maçã sobre a pia, se aproximando do aparelho e o observando atentamente. Era um aparelho velho, então julgou normal ter problemas como ligar e desligar sozinho, ou sintonizar diferentes estações de rádio das habituais. Pelo menos, foi o que disse a si mesmo.

Sua atenção foi desviada ao ouvir o barulho de alguma televisão antiga chiando e, com o cenho franzido, se encaminhou na direção do barulho. Parou na ponta do corredor, podendo ver ao fim desde a porta do escritório de seu pai ainda aberta e a imagem do mesmo adormecido em sua poltrona. Se aproximou vagarosamente com um sorriso brincalhão no rosto, pretendia dar um susto no homem. Porém, seu sorriso se desmanchou e um semblante amedrontado tomou seu rosto.

Uma figura não muito alta, magra, de pele pálida e braços à mostra estava parada em frente à poltrona.

Era um garoto.

Um garoto o qual Sehun se lembrava de já ter visto diversas vezes em sua vista.

Tentou correr em direção ao local, mas o garoto apenas levantou uma de suas mãos, e a porta do cômodo bateu com violência contra o batente.

‘’PAI!’’, Sehun berrava desesperado, tentando a todo custo abrir a porta. ‘’PAI!’’, voltou a chamar.

‘’O que tá havendo?’’, Jooah surgiu assustado no topo da escada

‘’O pai estava dormindo, um homem estranho entrou e fechou a porta!’’, falou assustado, e logo seu irmão se juntou a si na tentativa de arrombar a entrada. Ambos chamavam pelo pai, gritavam, e logo a mãe assustada surgia pelo corredor.

Mal eles sabiam o quão calmo estava aquele cômodo.

 

 

세호

 

 

Hunjoo roncava alto sobre a poltrona, profundamente adormecido até que uma batida alta o assustou. Encarou à porta de seu escritório e franziu o cenho ao vê-la fechada.

‘’Será o vento?’’, questionou a si mesmo e, ao direcionar seu olhar para a janela, sentiu seu coração disparar dentro do peito, bem como um peso enorme preenchendo seu corpo, uma sensação ruim. ‘’Você’’, sussurrou. ‘’O que faz aqui?’’

‘’O que eu faço aqui? Ora Hunjoo, eu vim te buscar!’’, Suho riu sonoramente. ‘’Bom, não agora. Mas daqui a alguns dias, no dia doze de abril, às nove e quarenta e sete da noite... Esteja esperando por mim. Eu vim mais cedo porque vir assustar o contratante um pouco antes da data faz parte do pacote’’, falou num tom maldoso, rindo mais ao ver o homem à sua frente se desesperar. ‘’O que? Vai me dizer que passou todos esses anos mentindo para si mesmo e dizendo que tudo não passou de um sonho? Que o que salvou sua mulher e seu filho foi realmente um milagre?’’, olhou um homem com um semblante falsamente surpreso. ‘’Relaxe, eu te levo de forma rápida e calma. Agora... Acho bom colaborar comigo, ou senão seu querido filho pode acabar vendo coisas que não quer... Ou talvez sua esposa ache seu corpo mutilado por cães do inferno na banheira?’’, sugeriu, seus olhos negros cintilando em um sádico entusiasmo.

‘’N-não...’’ , o humano resmungava, sentindo uma forte dor tomando seu peito

‘’Você pode ouvir isso? Eles estão gritando... ‘’, o menor sorriu maldosamente, usando de suas habilidades para permitir que um pouco do barulho externo adentrasse o local. Hunjoo pôde ouvir seus meninos gritando por ele.

‘’Jooah... ‘’, tossiu fortemente, sentindo seu coração disparando. ‘’S-Sehun... ‘’, chamou num tom baixo, sentindo o desespero tomar conta de si.

‘’Eu percebi em minhas observações que você... Bom, você não cuidou muito bem de sua saúde... ‘’, o demônio falou num falso tom preocupado. ‘’E sabe.. Sinto por aqui’’, passou a mão por sobre a área do coração alheio, mas sem tocá-lo. ‘’Que seu coração está bem fraco... ‘’, estalou a língua com pesar. ‘’Relaxe, te faço ter um infarto e ninguém desconfiará de nada... ‘’, sorriu, vendo o homem levar a destra até o peito, apertando a camiseta que vestia com força.

Hunjoo parecia estar tendo o ar espremido para fora de seus pulmões. Seu peito doía infernalmente e ele sentia palpitações em seu coração. O suor frio descia por sua testa e têmporas, o desesperando. Sua mão livre agarrou o braço da poltrona na qual até então estivera recostado, um desespero palpável tomando seu ser. ‘’Hunjoo?’’, Suho chamou alarmado. ‘’Merda, homem! Não é pra morrer de infarto agora!’’, praguejou, sem ter muito o que fazer. Seus novos poderes o permitiam controlar alguns elementos no mundo humano, como correntes de ar e objetos mais leves, mas ainda não o permitiam influenciar diretamente em corpos humanos.

Hunjoo tossiu mais uma sequência de vezes, ainda agarrado ao próprio peito. Suho levantou o olhar, vendo atrás do homem a imagem de um espírito da morte, observando a cena com serenidade estampada nos orbes esbranquiçados.

‘’Sou eu quem vai levá-lo!’’, repreendeu raivoso ao ver a figura de aparência feminina se aproximando do corpo em colapso.

‘’Desculpe, filho. Não pode o levar antes da data contratada, mas sua hora já chegou’’, sussurrou num tom sereno, tocando o ombro do humano ali presente. Imediatamente, este deixou de mover-se, caindo inerte sobre a poltrona.

O demônio suspirou longamente, encarando o corpo desfalecido. Os olhos abertos emanavam uma frieza de morte, o ambiente pesava. Tocou ali com a ponta dos dedos, reunindo suas forças para baixar as pálpebras moles. Retraiu-se tornando-se invisível aos olhos humanos, e permitiu que a porta do cômodo fosse aberta.

Sem demora, os dois jovens adentraram ali desesperados. O mais novo chacoalhava o pai pelos ombros enquanto o chamava e o mais velho gritava para que a mãe chamasse uma ambulância. Suspirou novamente, decidindo por se retirar dali.

‘’Terei mais trabalho do que imaginava’’

 

 

세호

 

 

Sete dias.

Era esse o tempo que já havia se passado desde a morte do patriarca dos Oh.

Família, parentes mais próximos e amigos íntimos estavam presentes na igreja a qual a família costumava frequentar, a missa de sétimo dia sendo feita num clima mórbido.

Oh Seah chorava desesperada, soluçava sentada num dos bancos duros e frios com um filho de cada lado seu. Segurava as mãos dos dois meninos com firmeza, e ambos os garotos não cabiam em si tamanha a tristeza que os acometia.

Em determinado momento, Sehun ergueu seus olhos para o alto, encarando fixamente as cenas pintadas no teto da bela e simples igreja. Lágrimas grossas desciam por seu olhos e ele sentia o coração doer.  Voltou seus olhos para a imagem do padre à frente do público, mas logo sua atenção fora capturada por uma figura estranha parada ao lado de uma das pilastras rentes à parede.

Era ele, aquele garoto.

Vestia as mesmas roupas de sempre, uma regata preta e jeans escuros surrados. Os olhos totalmente negros pareciam enxergar através de sua pele, pareciam tocar seus pensamentos, alcançar sua alma. Seu corpo inteiro se retesou e ele desviou o olhar, focando no clérigo que redigia a missa por alguns segundos antes de voltar a encarar o garoto, mas ao fitar olhar o local onde este antes estava, não o encontrou.

 Ao fim da cerimônia, as pessoas foram aos poucos deixando a igreja, parando para deixar suas condolências à viúva e aos filhos.

Os três caminhavam juntos pelo curto caminho que separava a igreja da residência que moravam, lado a lado. A mãe não deixava de segurar nos braços de ambos os filhos como se precisasse de apoio para andar. Adentraram a casa em silêncio, Seah prontamente se colocando a mexer nas panelas na cozinha dizendo querer preparar algo para que comessem, mas logo se deteve ao que seu filho mais velho a disse que deveria ir dormir e descansar.

Sehun e Jooah permaneceram sentados lado a lado no sofá macio e confortável da sala, quietos, sem dizerem uma palavra que fosse. Em determinado momento, Sehun se afastou do mais alto, sentando-se num extremo do sofá enquanto seu irmão permanecia no outro extremo, e o mais velho já estava pronto para perguntar o que se passava quando viu o irmão deitando-se com a cabeça em suas pernas e o corpo comprido mal esticado no resto do sofá. Com um suspiro longo e um mínimo sorriso, Jooah passou a acariciar os fios escuros e macios de Sehun, ouvindo este chorar baixinho enquanto suas próprias lágrimas desciam por seu rosto fino e pálido.

Choraram por alguns minutos, o mais novo sentia os olhos pesando e estava à beira do sono quando ouviu seu irmão o chamar com voz suave.

‘’Sim?’’, respondeu no mesmo tom.

‘’Por que disse aquilo para os policiais?’’, perguntou curiosamente, sem deixar de tocar os fios sob seus dedos. ‘’Digo... Sobre o homem no escritório com o papai?’’

‘’Porque foi o que eu vi’’, Sehun falou pacientemente. Já havia ouvido tal pergunta de sua mãe diversas vezes. Os policiais diziam que não havia sinal de arrombamento e ninguém com a descrição do ‘’suspeito’’ havia sido visto pelos arredores da casa, os médicos diziam que a causa da morte era de certo um infarto, o qual muito bem justificado pelo passado de saúde mal cuidada.

‘’Tem certeza que viu mesmo alguém?’’, Jooah perguntou preocupado. ‘’E se for mais uma daquelas visões? Como as que você tinha quando criança?’’, argumentou, sentindo o outro remexendo-se no sofá.

‘’Não foi uma visão, hyung’’, ele respondeu irritado. ‘’Eu o vi no escritório, foi ele quem trancou a porta. O vi no enterro... E o vi hoje, na missa’’, falou baixo, alcançando o longo e delicado terço que mantinha pendurado em seu pescoço, alisando as contas bonitas com os dedos. Tal gesto sempre o acalmava.

‘’Na missa?’’, o mais velho perguntou sem querer parecer muito surpreso, mas falhando miseravelmente. ‘’Como ele é?’’

‘’Não parece ser muito mais velho do que você... Pálido como doente, pequeno, mas não com aparência frágil... Cabelos escuros e lisos penteados para cima, e seus olhos... ‘’, perdeu-se por alguns segundos, lembrando-se da profundidade frívola e antônima de seu olhar que expressava tanto ao mesmo tempo em que parecia seco e indiferente. ‘’Eram negros. Total e inteiramente negros’’, seu corpo tremeu ao que uma sensação fria se apossou de seu corpo magro.

‘’Você é doido ‘’, Jooah riu baixo, apertando a bochecha alheia. ‘’E eu estou tão assustado... ‘’, completou.

‘’Eu também’’, Sehun concordou com a cabeça, ouvindo o mais velho suspirar.

‘’Se importa se eu for para o meu quarto? Não dormi bem noite passada’’, este falou baixo, recebendo um aceno positivo do mais novo assim que este se sentou no sofá, o dando espaço para que levantasse. Deixou um beijo carinhoso no topo da cabeça do irmão mais novo antes de seguir em direção às escadas, alegando que pretendia dormir o resto do domingo todo.

Sehun permaneceu mais alguns longos minutos sentado no sofá confortável, observando o ambiente a sua volta, sorrindo saudoso ao que cada memória contida em cada cantinho tomou sua mente; seu coração doía imensamente ao lembrar que seu pai não estaria ali na manhã seguinte para puxar seu pé e dizer que deveria levantar ou se atrasaria para a faculdade; não estaria na mesa esperando os dois filhos para tomarem café da manhã; não estaria sentado na poltrona confortável de seu escritório enquanto analisava papéis.

Chorou baixinho, contido, dolorido. Sabia que tal hora chegaria, mas esperava que ao menos tivesse mais tempo com seu velho.

Teve sua atenção desviada de si mesmo ao ouvir um barulho estranho vindo do segundo andar – mais precisamente, da área de seu quarto. Sentiu seu estômago revirar bem como uma sensação ruim subindo por seu corpo, seus olhos se estreitaram em raiva.

Ele conhecia aquela sensação

Tomando para si uma coragem que não sabia de onde vinha, seguiu até a cozinha da casa, abrindo a primeira gaveta do gabinete sob a pia e tomando dali um objeto pontiagudo. Subiu as escadas com um cuidado desmedido, se preocupando em não deixar as solas frias de seus pés provocarem nenhum barulho e respirou profundamente ao ver a porta de seu quarto totalmente escancarada.

Aproximou-se da passagem, parando à porta e olhando com fúria para a figura ali dentro. ‘’Quem é você?’’, perguntou num tom ameaçador, vendo a figura pálida a mexer em seus livros sobre a escrivaninha parar de se movimentar. ‘’O que quer?’’, continuou a olhar para o garoto que agora virava para si com um sorriso nos lábios.

‘’Sehun... ‘’, ele proferiu, abrindo um sorriso ainda mais amplo. ‘’Você parece péssimo’’, se aproximou do outro, visualizando sua imagem deplorável. Os olhos estavam fundos e contornados por uma sombra escura. Parecia mais magro, mais fraco, seus lábios estavam secos e rachados.

‘’Eu só irei perguntar mais uma vez. Quem é você e o que quer?’’, fechou a porta atrás de si com o pé, permanecendo de frente para o estranho. Suas mãos atrás de suas costas seguravam a faca afiada que pegara na cozinha.

‘’Vamos evitar maiores transtornos... ‘’, o outro falou com impaciência, colocando-se de frente para o mais alto e imitando sua posição, ereto e com as mãos para trás. Os olhos de Sehun se abriram em espanto ao sentir algo faltando entre suas mãos, e ele viu o mais baixo imitar sua expressão ao tirar as mãos de trás de seu corpo, revelando a faca que antes estivera com o outro. O demônio largou o objeto sobre a escrivaninha antes de se direcionar ao mais alto. ‘’Não tenho paciência para contar historinhas, então... ‘’, deu de ombros, se aproximando  da figura humana já amedrontada e temerosa, tocando-lhe a testa com o indicador.

No momento em que foi tocado, Sehun observou sua visão se tornar turva e desfocada, e logo sua mente era preenchida por uma espécie de filme que continuava sendo reproduzido com velocidade.

Viu seu pai a chorar num beco sujo, viu sua mãe à beira da morte e um pacto sendo selado. Ouviu o canto maldito sendo proferido pelos lábios negros da mulher vestida de vermelho, a voz preenchendo seus ouvidos e os fazendo zunir.

Sua visão não demorou a clarear, e então Sehun encarou atônito o garoto à sua frente. ‘’Não... ‘’, riu incrédulo.

‘’Sim’’, o outro encolheu os ombros. ‘’Como pôde ver, meu nome é Suho, selei um pacto com seu pai pela sua vida e a de sua mãe, e como ele morreu... Devo levar a alma do filho mais velho no lugar’’, disse simplista.

‘’Mas você o matou’’, o tom do maior saiu fraco, choroso, quase um miado.

‘’Não, menino... ‘’, Suho sorriu, tocando a lateral do rosto alheio com leveza. ‘’Seu pai morreu por um infarto natural... A hora dele realmente já havia chego’’, explicou como se falasse com uma criança.

‘’Não me toque!’’, Sehun bradou raivoso, estapeando a mão que o tocava.

‘’Perdão, perdão... ‘’, o menor riu, afastando-se. ‘’É que eu costumava ser imaterial aqui na terra e há pouco consegui manter essa forma palpável, então entenda-me, há muitos e muitos anos que não toco nada... Vivo’’, encolheu os ombros novamente.

‘’Eu não sou o filho mais velho’’, o humano murmurou desconexamente, sem dar atenção à explanação sobre seu passado que a criatura infernal dava.

‘’Como?’’, esta franziu o cenho.

‘’E-eu... Eu tenho um irmão mais velho’’, sussurrou já com a voz embargada, imaginando que o demônio teria que então levar seu irmão.

‘’Espere um segundo... ‘’, Suho pediu desaparecendo do cômodo logo em seguida. Procurou por cada alma viva na casa, chegando até a outra figura masculina adormecida no quarto ao lado do que estava anteriormente. Passou a mão aberta por sobre o corpo embrulhado em cobertores, mas não sentiu nada de especial.

Não era ele.

Com um sorriso maldoso nos lábios, mudou de cômodo, chegando à mãe adormecida sobre a própria cama enquanto algum filme qualquer era reproduzido pelo DVD dali.

Tocou-lhe a testa, absorvendo parte de suas memórias, seu sorriso se tornando mais largo. Não demorou à voltar para a companhia do mais novo, o olhando de forma enigmática e, em seu interior, Sehun se questionava sobre como um ser com olhos daqueles conseguia expressar tantas coisas pelos orbes totalmente enegrecidos.

‘’Sabe, Sehun... ‘’, ele começou, sorrindo minimamente ao ver o garoto se sentando na cadeira da escrivaninha, ficando de costas para si. ‘’Eu venho te observando há muito tempo’’, prosseguiu, sentindo o corpo alheio se retesar sob seus dedos ao tocar-lhe os ombros largos.

‘’Quando vai levá-lo?’’, o humano perguntou choroso.

‘’Eu já disse, Sehun. É você quem eu tenho que levar’’, Suho falou baixinho. ‘’Mas sabe, você é bom demais, puro demais... ‘’, estalou a língua em falso desagrado. ‘’O maior pecado que cometeu não dá pra nada... Eu devo desconstruir você’’, completou com uma tentativa falha de fazer sua voz parecer pesarosa, contornando o garoto para ficar à sua frene, encostando o quadril na beira da escrivaninha.

‘’O que quer dizer?’’, Sehun questionou com curiosidade, engolindo em seco ao subir o olhar pelo corpo pequeno e definido à sua frente.

‘’Quanto falta até seu aniversário?’’

‘’Três dias’’, o maior sussurrou, se irritando pelo fato de que o demônio nunca respondia suas perguntas, mas sabia que reclamar não adiantaria de muita coisa.

‘’Sendo assim, eu tenho três dias humanos para desvirtuar você... ‘’, ponderou, encarando intensamente o garoto, o prendendo em seus olhos. ‘’Eu poderia fazê-lo hoje, porém, receio que assim eu perderia toda a parte divertida’’

‘’O que vai fazer comigo?’’, uma lágrima grossa caiu por seu rosto, um medo intenso tomando cada centímetro de seu corpo e arrepiando sua pele.

‘’Ahh, pequeno Hun. Durma e descanse por hoje, você não demorará a me encontrar outra vez’’, sorriu enigmático, se aproximando do mais novo e lhe acariciando a cabeça antes de desaparecer completamente, deixando o espaço que ocupava vazio, a janela aberta e uma quentura desagradável na pele alheia irradiando do ponto onde havia tocado.

Pelo menos, Sehun tentava convencer a si mesmo que havia desgostado do calor no toque.

 

 

세호

 

 

Sehun dormia tranquilamente havia algumas horas, seu corpo todo se mantinha enrolado por cobertores para protegê-lo do frio cortante. Suho o observava com admiração nos olhos, fascinado pela forma que o humano ressonava baixinho, soltava leves suspiros e se remexia ocasionalmente. Não dormia haviam tantos anos que estranhava tal coisa.

‘’Papai, quando eu crescer, quero criar uma família bonita e feliz como a que você criou!’’, lembrava-se da vozinha aguda do menino ditando as palavras alegremente à seu pai, pulando como pipoca para chamar sua atenção.

‘’Eu sonho em ser enfermeiro, para poder cuidar das pessoas. Eu acho um trabalho muito nobre e quero trabalhar nisso quando ficar mais velho’’, um Sehun de doze anos respondeu ao ser questionado sobre o que queria fazer quando ficasse mais velho.

Calmamente, o demônio se aproximou do garoto, abaixando-se ao seu lado e aproximando seus lábios do ouvido do mesmo.

‘’Hoje, levarei seus sonhos’’, sussurrou, e logo a mente de Sehun foi tomada por sonhos confusos que aos poucos se organizavam.

Viu a si mesmo, ainda quando criança, escalando as pernas de seu pai e dizendo que gostaria de ter uma família como a dele e sorriu pela cena adorável, mas logo em seguida o ambiente pareceu se desintegrar. Viu-se então de pé no centro da sala de sua casa e, ainda confuso, ouviu gritos histéricos pela casa. Seus pais passaram por si furiosamente e sem o verem, ambos pareciam mais jovens, muito mais jovens. Os dois discutiam nervosos, Sehun não ouvia o que diziam, mas notou por seu olhos que seu pai parecia bêbado.

Viu o homem passar por si e sumir porta afora, e sua mãe desabou no chão a chorar, e logo a cena não demorou a se desfazer novamente, e então estava no quarto de seus pais.

Havia um homem, estranho e totalmente nu deitado na cama. Ele ofegava. Os olhos de Sehun dobraram de tamanho ao visualizar sua mãe ao lado do desconhecido, respirando da mesma forma e sorrindo satisfeita para este. Seus lábios tremiam em choque e suas mãos suavam em nervosismo, as figuras sobre a cama se dissolveram e o ambiente se tornou mais claro. Ouviu barulhos no banheiro do quarto e seguiu até lá, vendo sua mãe encostada na pia, segurando um papel em mãos e chorando desesperadamente.

Se aproximou o suficiente para enxergar o que havia escrito ali, engasgando de susto ao ver que se tratava de um exame de sangue, apontando um resultado positivo para gravidez.

‘’Jooah é... De outro homem?’’, pensou inconformado.

Afastando-se da figura de sua mãe, viu o ambiente à sua volta se desfigurar, se transformando numa sala claríssima e limpa, logo percebendo se tratar de um quarto de hospital. Viu dois homens ao pé de um leito, conversando de forma sussurrada.

‘’Ele não vai sobreviver à cirurgia, de qualquer forma... ‘’, um deles falou, e Sehun não demorou a reconhecer a voz de seu professor de farmacologia geral. O homem era um dos melhores da área, sendo chefe dos enfermeiros de um dos melhores hospitais de Seul.

‘’Sr. Hoon?’’, Sehun estranhou

‘’Tem certeza?’’, o segundo homem questionou

‘’Sim, a família já está desiludida. Diremos que ele não resistiu e então é só passar umas notas para a funerária para que não comentem a falta de órgãos’’, o médico completou com um sorriso. ‘’Um rim e teremos quase quinhentos mil, o fígado nos dá quase trezentos. Não há como se arrepender’’, falou maldoso, e Sehun sentiu sua boca secar.

Num rompante, se sentou sobre a cama, respirando pesado. Passou a mão pelos cabelos castanho escuros ao notar que tudo não passou de um simples sonho. Bom, pelo menos era o que acreditava.

‘’A verdade dói, Sehun?’’, uma voz na escuridão o chamou, e desesperado, acendeu o abajur ao lado de sua cama, se assustando ao se deparar com a figura pálida encostada à sua cômoda, ao lado de sua cama.

‘’O-o que... ‘’, Sehun questionou confuso. ‘’F-foi você q-que... ‘’

‘’Que te fez ter esses sonhos?’’, Suho completou, vendo o outro assentir. ‘’Sim. Quero dizer... Não foram sonhos, foram visões’’, falou enigmaticamente.

‘’O que quer dizer?’’

‘’São vislumbres do passado, Sehun. Minha missão hoje é te mostrar que seus meigos sonhos humanos são total e inteiramente vazios. A família como a do seu pai, a qual você tanto almeja construir, é baseada em uma mentira, e o tão sonhado cargo de enfermeiro é sujo pelos homens que se aproveitam da fragilidade alheia’’, disse maldosamente, vendo o mais novo balançar a cabeça em negação

‘’Não! É mentira!’’, bradou irritadiço, levantando-se da cama e se arrependendo momentaneamente pelo ato ao sentir o ar frio contra seu tronco nu. ‘’Você é um demônio, criatura maldita, está dizendo essas coisas para me enganar!’’, acusou, apontando um dedo na face do mais baixo.

‘’É? E porque acha que eu estou aqui e não no quarto do seu irmão então? A lei é clara: se a alma do contratante não puder ser levada, deve ser tirada a alma do filho mais velho independente de idade ou sexo, mas a lei também diz que almas puras não entrarão no inferno, e é por isso que te mostrei tudo isso’’, Suho rebateu nervoso, empurrando a mão de Sehun para longe de si. ‘’Eu fui até seu irmão e o senti. Não é ele, ele não tem o sangue do seu pai! Ele é bastardo’’, completou num tom baixo, mas duro. ‘’Eu só quero que você entenda que eu não estou aqui plantando milhões de maldades na sua cabeça, se fosse assim, seria tudo falso... ‘’, prosseguiu mais suavemente, se aproximando do mais alto. ‘’Não estou plantando coisas na sua cabeça, estou apenas te revelando o mundo como ele realmente é’’, explicou, tocando o peito nu à sua frente com a ponta dos dedos, dedilhando a pele macia e levemente arrepiada com suavidade.

‘’Não quero que me toque’’, Sehun falou ríspido, mas sem mover um músculo sequer.

‘’Não está em condições de fazer exigências’’, Suho sorriu, mas tão logo seus dentes cândidos surgiram entre os lábios, voltaram a desaparecer, seu rosto tomando uma linha mais séria. ‘’Quando eu vier te buscar... Você sofrerá muito, e a única forma de amenizar essa dor é se eu enfraquecer sua alma’’, falou baixo. ‘’Quanto mais pura a alma, por mais dor e sofrimento passa a caminho do inferno’’, explicou.

‘’E por que se importa?’’, o mais novo questionou confuso, encarando o mais baixo intensamente. ‘’Que diferença faz pra você se eu sofrer ou não? O seu trabalho estará sendo feito’’, sua voz saiu tão baixa quanto a do outro. Sem que percebessem, seus corpos se aproximavam gradativamente até o ponto em que o menor pôde sentir a respiração alheia batendo contra seu rosto.

‘’Eu estou tentando aliviar o seu lado e você me contesta, huh?’’, brincou, querendo desviar de assunto. A verdade é que nem mesmo Suho sabia a razão pela qual desejava zelar tanto pelo bem do garoto ao qual já sabia estar condenado ao sofrimento do inferno. ‘’Deixe-me levar seus segredos esta noite’’, pediu num tom enigmático e Sehun hesitou.

Já havia chorado, gritado, havia buscado na bíblia e em sites religiosos algo que o pudesse livrar de tal pena, mas nada havia surtido efeito. As palavras do demônio ecoavam em sua mente e permitiu-se se orgulhar por ter conseguido conservar sua alma pura pelo tempo em que esteve pela terra.

Não havia mais o que fazer além de aceitar;

‘’Leve-me em pedaços para o inferno, Suho’’

E com um sorriso nos lábios, a criatura o fez. Subiu os dígitos frios pela pele quente do humano, passando pelo pescoço até apoiar a palma sobre a face corada. Seus olhares se conectaram com intensidade e Sehun fechou os olhos.

E mais de uma parte de sua alma foi levada naquela noite.

 

 

세호

 

 

‘’Sehun? Está tudo bem?’’, a voz agradável do garoto preencheu os ouvidos de Sehun, fazendo este despertar de seu devaneio.

‘’Hum? Baekkie hyung... ‘’, cumprimentou ainda meio perdido, corando ao notar que havia passado a aula toda com os pensamentos focados numa certa criatura das trevas, mas fora total e inteiramente desconcentrado quando Baekhyun surgira em sua frente e passara tanto tempo encarando a face bonita do amigo que não o ouvira chamando. ‘’Desculpe, estou distraído’’, pigarreou, se levantando da cadeira onde estava sentado e juntando todo seu material, o jogando de qualquer forma dentro da mochila.

‘’O que houve? Você parece meio estranho. Sei que é normal visto o que aconteceu, mas... É um estranho diferente’’, o pequeno perguntou preocupado, segurando o braço do amigo com gentileza, querendo que este o olhasse. Assim que conseguiu o que queria, sorriu docemente, soltando o braço alheio para levar a mão até a bochecha macia. ‘’Sabe que pode me contar tudo, não sabe?’’

‘’E-eu sei, Baekkie’’, sorriu de volta, tirando a mão pequena de seu rosto para segurar entre as suas. ‘’Eu só estou cansado, a missa ontem mexeu comigo e minha mãe está muito mal’’, não era de todo uma mentira. Apenas não era a total verdade.

‘’Tudo bem, se é isso...’’

‘’Baekhyun!’’, ambos se sobressaltaram ao ouvirem uma voz grossa e rouca chamando na porta da sala, e Baekhyun não demorou ao puxar sua mão que estava entre as do mais novo.

‘’Chanyeol... Eu não vou demorar, pode me esperar lá embaixo?’’, ele pediu, vendo o outro assentir a contragosto antes de se retirar.

‘’Ele parecia irritado’’, Sehun falou baixo.

‘’Ele deve estar... Falo com ele depois’’, o menor deu de ombros, voltando seu olhar par ao mais jovem. ‘’Na verdade, Sehun... Eu queria te contar uma coisa’’, mordeu o lábio inferior em nervosismo, gesto que fez Sehun se prender ao detalhe por alguns segundos. ‘’Por que não se senta?’’

‘’Diga de uma vez’’, pediu, vendo o mais velho respirar profundamente.

‘’Ontem, após a missa do seu pai, Chanyeol me levou até em casa... ‘’, enrolou um pouco para falar. ‘’Nós dois conversamos, ele me pediu em namoro e... E eu aceitei’’, finalizou, erguendo o olhar para captar a reação do melhor amigo.

Sehun o encarou atônito por alguns segundos, antes de esboçar um imenso sorriso e abraçar o outro. ‘’Wow, Baek isso é incrível! Nossa, eu estou tão feliz por você!’’, riu sonoramente, apertando o menor em seus braços com força antes de soltá-lo. ‘’Não entendi a razão de tanto nervoso só pra dizer isso, eu já esperava que ele fizesse algo assim’’, falou honestamente, enganchando o braço de seu amigo com o seu e o puxando para fora da sala.

‘’M-mas... V-você... E-eu achei q-que você...’’

‘’Que eu ficaria com raiva de você?’’, Sehun falou em tom de incredulidade, vendo o menor assentir. ‘’Claro que não, e se quiser, ainda dou minha bênção’’, riu. ‘’Por que motivo eu ficaria irritado a final?’’, deu de ombros, andando pelos corredores com o menor ao seu lado.

‘’Você não ficou nem... Magoado?’’, Baekhyun perguntou baixo, vendo o outro parando de andar para ficar de frente para si. ‘’Pode falar... Eu não quero machucar você’’

‘’Baek, eu já disse milhares de vezes, o que aconteceu naquela vez foi uma coisa do momento. Serviu pra você perceber que gosta de garotos e para eu perceber que isso não é pra mim, foi só’’. O maior encolheu os ombros e Baekhyun revirou os olhos, suspirando em seguida.

‘’Se talvez você deixasse de ser assim, poderia encontrar alguém especial pra você também’’, falou. ‘’Se tivesse agido diferente naquela época... Talvez nós dois...’’, calou-se ao dar conta do que estava prestes a dizer, um brilho de mágoa podendo ser visto em seus olhos.

‘’Eu acho que não tem nada de errado em ser como você é, Baek’’, Sehun tentou explicar, seu coração doendo por motivos que ele não queria assumir.

‘’Aí é que está. Você não acha errado que os outros sejam assim, mas se é você mesmo, acha que é pecado’’, falou duramente. ‘’Enquanto não aceitar para si mesmo que gostar de garotos não é errado, não vai conseguir viver consigo mesmo. Vai viver sentimentalmente frustrado’’, lamentou. ‘’Tenho que ir agora, Chanyeol quer almoçar comigo. Te vejo depois, Sehun’’

‘’Tchau... ‘’, este acenou fracamente, vendo o amigo desaparecer entre a multidão de estudantes que saíam de suas últimas aulas.

 

 

세호

 

 

Estava a cerca de meia hora sentado em sua escrivaninha tentando resolver alguns simples exercícios de genética, mas sua cabeça se recusava a se concentrar nos quadros e heredogramas. Lágrimas insistentes caíam de seus olhos, correndo pelas bochechas pálidas e molhando a face contorcida em sofrimento, e Sehun tentava a todo custo não pensar no motivo de seu choro.

‘’Eu vou morrer em dois dias, de qualquer forma’’, ditava para si mesmo. ‘’Não adianta assumir nada agora’’

‘’Ahh, o amor dói, não?’’, Suho falou ao chegar no quarto, assustando o mais alto. ‘’Principalmente quando é um amor o qual você sabe que poderia ter vivido se não fosse tão idiota’’, riu baixinho, vendo o outro virando lentamente na cadeira e o encarando com raiva.

‘’Sabe, agora não é uma boa hora’’, Sehun falou irritado, sua voz soando falha e embargada. ‘’Volte quando eu estiver dormindo e me faça ter mais um daqueles sonhos’’

‘’Vai ficar descontando em mim só porque perdeu seu amigo para o cara alto e orelhudo? Ahh, você vai superar.’’

‘’Eu não perdi ninguém, nunca gostei dele dessa maneira. Eu não sou gay’’, o mais novo falou irritado, se levantando da cadeira onde estava e se aproximando do menor, usando da grande diferença de altura na tentativa de intimidá-lo.

‘’Não mesmo?’’, ele levantou uma sobrancelha, debochado. ‘’Então beijar o tal garoto aqui no seu quarto e ficar querendo mais não é algo gay? Se tocar pensando nele também não?’’, questionou com deboche, vendo o outro praticamente encolher diante de si, engolindo em seco. ‘’Ficar espiando seu irmão mais velho tomar banho enquanto admirava seu corpo não é algo gay? Perceber que não se sente atraído por garotas, mas sim por garotos, não é algo gay?’’

‘’N-não é da sua conta’’, Sehun corou violentamente, seguindo até sua cama e se sentando de costas para o outro. ‘’Não sei nem como soube de tudo isso’’

‘’Eu já disse, Sehun. Te observo há muito tempo’’, deu de ombros. ‘’Relaxe, ok? Se um dia vier a se tornar um demônio, poderá aproveitar de seu gosto sem pesar’’, riu divertido

‘’Você não entende... ‘’, o mais novo falou baixinho, e de repente, Suho se viu curioso para ouvi-lo mais. ‘’Eu cresci ouvindo me dizerem que é pecado, que é errado... Você não tem ideia de como é começar a gostar daquilo que tanto condenou por anos... ‘’, murmurou com mágoa e logo sentiu um peso ao seu lado na cama, e já esperava que o mais baixo fizesse alguma piada ou algo do tipo.

‘’E quem disse que eu não sei?’’, ele perguntou sério, levando seus dedos até o queixo do mais alto e o puxando para que o olhasse. ‘’Sabe, garoto, demônios também sentem as coisas’’

‘’Como? São... Demônios, criaturas inumanas!’’, Sehun falou surpreso.

‘’Ao contrário do que muitos dizem, Sehun, demônios não são criaturas tenebrosas que só pensam em maldade e sangue. Muitos de nós ainda lembram das coisas que vivemos quando ainda humanos’’, tentou explicar.

‘’Quando ainda humanos?’’

‘’Bom... Um demônio nasce de almas humanas que ficam no inferno por muito tempo’’

‘’E quanto tempo faz pra você?’’, o mais novo se ajeitou na cama, ficando de frente para o outro e olhando curioso. Suho quase sorriu ao notar que o menino mais parecia um filhote de cachorro com os olhos brilhando pelas lágrimas que soltara anteriormente e com a ponta do nariz vermelhinha.

‘’Eu não sei bem quanto tempo se passou... ‘’, coçou a nuca, sentindo-se subitamente envergonhado. ‘’O tempo no inferno é estranho. Mas eu sei que vivi numa época de carruagens, reis e bailes da alta sociedade... ‘’, falou saudoso. ‘’Eu vivi na Europa, sabe? Não lembro como foi, mas lembro das igrejas grandiosas, dos padres falando em latim...’’

‘’E como foi parar no inferno? Fez um pacto também?’’

‘’Suicídio’’, o demônio falou como se fosse algo natural. ‘’Minha vida não foi das piores, mas eu não consegui lidar com a parte ruim’’, encolheu os ombros.

‘’O que houve?’’, Sehun perguntou num tom tristonho.

‘’Eu me apaixonei’’, sorriu. ‘’E eu não podia ficar com a pessoa que amei, fim da história’’

‘’Ah não!’’, Sehun protestou. ‘’Contra pra mim’’, pediu, vendo o outro bufar e revirar os olhos.

‘’Ok, mas depois disso vou levar sua inocência’’, sugeriu com um sorriso de canto e quase caiu na gargalhada ao ver o outro engolindo em seco. ‘’Desculpa, mas se for com ela vai ser mais doloroso’’, encolheu os ombros.

‘’H-hm... T-tá’’, remexeu-se desconfortável. ‘’Pode começar a contar’’

‘’Bom... Eu tinha uns vinte e cinco, era catequista da igreja do meu bairro’’, encostou-se a parede ao lado a cama, olhando para o teto enquanto forçava sua memória. ‘’E aquela garota começou a frequentar a igreja. Ela era linda, pequena, parecia uma boneca’’, sorriu. ‘’Eu esqueci muito da minha vida humana, até o nome, mas nunca me esqueci do rosto dela’’, olhou para o mais novo, o vendo assentir. ‘’Comecei e levá-la para passeios, cafeterias caras, lhe dava presentes... Até cheguei a conhecer os pais dela, eu tinha muito conceito na sociedade, já que era um membro da igreja, então todos confiavam muito em mim’’, desviou o olhar novamente, encarando seus pés pendurados para fora da cama. ‘’Até que... Eu comecei a questionar a minha vida, comecei a duvidar da vontade de ser padre que eu fui criado para ter... Então, numa noite, eu a levei à um dos bailes beneficentes da cidade, a convidei formalmente diante da família, me abri quanto ao desejo de desposá-la para os meus pais e assumi que não queria mais ser padre’’, encolheu-se minimamente. ‘’Fomos ao tal baile e na volta, eu parei com ela numa praça, e ela parecia tão feliz... ‘’, riu baixo como se a lembrança vaga realmente o divertisse. ‘’Um homem passou... Nos viu. Dois jovens bem vestidos claramente voltando de uma festa de alta classe’’

‘’Ah não... ‘’, Sehun sussurrou, já imaginando onde a história iria acabar.

‘’Ele pediu as joias, nós a entregamos, mas ela chorou muito e ele se irritou, acho que estava bêbado’’, deu de ombros. ‘’Ele me deu duas facadas, mas nela... Ele deu doze’’, falou de forma sombria. ‘’Depois do enterro, eu voltei para meus serviços na igreja, mas nunca mais fui o mesmo, e isso durou cerca de seis meses. Eu sofria muito a falta dela, a família me culpava pela morte...’’, explicou, ouvindo o outro suspirar. ‘’Uma noite, eu estava rezando, e eu chorava perguntando o porquê de Deus tê-la levado, de ter permitido que algo assim acontecesse com uma moça tão boa, e sabe o que aconteceu?’’, olhou para Sehun, vendo este negando com a cabeça, os olhos do menino parecendo demasiadamente marejados. ‘’O padre apareceu, e sabe o que ele disse?’’, outra negação tímida. ‘’Ele disse que Deus a tinha levado porque ela estava me tirando dos caminhos Dele’’, riu alto, debochado. ‘’Quer dizer, dá pra imaginar? Que tipo de poder egoísta é esse?’’, questionou. ‘’Depois disso eu me afundei em sexo, bebidas, blasfêmias até me matar num quarto de motel’’, deu de ombros.

‘’Suho... ‘’, Sehun chamou, ele chorava um pouco enquanto alcançava a mão pequena e áspera com a sua. ‘’Eu sinto muito, eu não posso imaginar o tamanho da dor’’, disse sinceramente, se surpreendendo quando o outro passou a rir sonoramente.

‘’Sehun, isso foi há muito tempo, eu não tenho mais sentimentos humanos’’, soltou sua mão da alheia para bagunçar-lhe os cabelos. ‘’Mas obrigado mesmo assim’’

‘’Você é estranho’’

‘’Eu sou um demônio, garoto’’, Suho sussurrou, se ajoelhando na cama e se aproximando do mais alto. ‘’Agora... Vamos à sua inocência’’, falou com malícia, parando com o rosto a centímetros do mais novo.

‘’O que vai fazer?’’, Sehun perguntou assustado.

‘’Feche os olhos’’, o demônio pediu

‘’Não, eu quero olhar pra você’’, o humano teimou. ‘’Seus olhos me dão medo, quando os encaro por muito tempo, sinto que vou me afogar. Mas é algo bom, ao mesmo tempo.’’, falou baixo, vendo aos poucos os olhos do outro ficando mais claros, até o ponto em que se tornaram como os olhos humanos. ‘’Como fez isso?’’, perguntou surpreso, sorrindo minimamente.

Suho apenas deu de ombros antes de voltar a focar-se no outro. Continuou a se aproximar até que seus lábios se tocassem de leve, sentindo o corpo maior se retesar bem como ele prender a respiração. Mordeu o lábio inferior alheio de leve, sentindo-o soltar todo o ar que prendera de uma vez. ‘’Se solte, menino... ‘’, falou com um sorriso. ‘’Você já vai para o inferno, de qualquer forma’’, e dito isso, só pôde suspirar baixo ao sentir Sehun o beijando com menos hesitação e mais vontade, aproveitando da abertura para deflorar a boca do outro com gosto.

A cada toque, Sehun via uma cena piscando em sua mente. Sua língua se enroscou à do demônio e viu os dois no banheiro de sua casa, sob o chuveiro, trocando toques impudicos e ousados. Sentiu a pele arrepiar. Os dentes brancos da criatura lhe mordiscaram o lábio novamente, e ele se viu deitado sobre os lençóis enquanto o outro ondulava o corpo nu sobre o seu, quase pôde sentir seu interior sendo violado. Suas mãos seguiram para os cabelos escuros e macios, e ao embrenhá-los ali, jurou sentir em seu umbigo a dor da mordida que o mais baixo desferiu ali, a cena piscando diante de seus olhos.

Ansioso e descontrolado, empurrou Suho contra a cama, se inclinando contra ele. Sentiu os dedos alheios entrando por sob sua camisa, sua pele se arrepiou enquanto sua mente se enchia das imagens mais sujas e depravadas de suas concepções. E o pior – ou melhor – de tudo, era que Sehun sentia cada detalhe como se realmente estivesse acontecendo. Assustou-se quando o menor o empurrou sobre a cama, girando com ele até que estivesse por baixo. Seu corpo se arrepiou ao ver o sorriso malicioso do outro quando este tocou o volume entre suas pernas, apertando com força. ‘’Já está assim?’’, questionou com um sorriso. ‘’Sinto dizer, mas por hoje é só’’, informou com um bico, selando-lhe os lábios devagar antes que sua figura desaparecesse do quarto.

Ofegante e desnorteado, Sehun se sentou sobre a cama, olhando à sua volta e bufando irritado ao pensar no que havia acontecido ali. Desceu os olhos por seu corpo, sentindo-se quente. ‘’Eu já vou pro inferno mesmo’’, suspirou antes de descer a própria mão até seu membro.

E naquela noite, Suho levou sua inocência enquanto gemia o nome do demônio e se desfazia nos próprios dedos.

 

 

세호

 

 

‘’Jooah...’’, Sehun chamou baixo, vendo o irmão resmungar algo sem tirar os olhos da televisão. ‘’Pode me dar atenção por um minuto?’’, pediu novamente, vendo o mais velho pausando o jogo e o olhando torto por estar sentado no chão.

‘’O que é?’’, perguntou impaciente. ‘’Já acabou seu aniversário, já fiz tudo que pediu hoje’’

‘’Sabe que eu te amo muito, não sabe?’’, falou, ignorando o tom do outro. Só queria concluir suas despedidas antes que fosse se deitar, sabia que aquela seria sua última noite com vida.

Na noite passada, Suho o havia visitado novamente. Passaram horas conversando sobre coisas aleatórias, o humano fazia perguntas sobre o mundo do outro, as quais eram respondidas prontamente, até o demônio dizer que o garoto devia dormir, para que assim pudesse colocar suas habilidades para funcionar. Ao perguntar o que teria tirado de si, apenas recebeu um sorriso ladino da criatura, ouvindo esta dizer para apenas obedecê-lo.

Naquela noite, após um turbilhão de sonhos confusos e amedrontadores, Sehun acordou atormentado, se desmanchando em lágrimas.

Suho levara sua alegria, sua capacidade de sentí-la.

E o pior, deixara em si as recordações de tal sentimento.

O mais estranho de tudo foi que, após começar a chorar desconsoladamente, sentiu um par de braços firmes e gelados o envolvendo e, desesperado, agarrou-se ao corpo pequeno, soluçando contra o peito do mesmo e deixando com que suas lágrimas molhassem o tecido da regata que o demônio usava.

‘’Por que fez isso?’’, questionou inconformado, sentindo seu coração doer como nunca sentira.

‘’Porque será melhor assim, menino’’, Suho afirmou num tom baixo, e Sehun jurava ter ouvido certo pesar na voz que já passara a considerar confortável para si. Era estranho dizer, mas em três dias, a criatura das trevas o havia envolvido numa curiosidade estranha de tal maneira, que internamente torcia para encontra-lo no lugar para onde iria.

‘’Que te deu pra dizer isso?’’, a voz de Jooah o tirou de seus devaneios, e Sehun apenas deu de ombros.

‘’Apenas... Apenas diga se me ama também’’, pediu, seu coração batendo rápido e seus olhos querendo dar indícios de lágrimas.

‘’Claro que eu te amo, seu idiota’’, o maior falou perplexo, subindo no sofá e deitando-se ao lado do irmão. ‘’Cara, não me olha desse jeito’’, pediu desesperado ao ver o mais novo derramando uma lágrima, o abraçando com força. ‘’Sehun, o que houve?’’ perguntou preocupado, acariciando os cabelos alheios com cuidado, o ouvindo apenas soluçar de forma sofrida, agarrando-se ao seu corpo.

‘’Eu te amo, Jooah’’, murmurou entre soluços. ‘’Você é o melhor irmão do mundo, eu não te trocaria por nada’’, afirmou com convicção.

‘’Eu também te amo, baby bro’’, Jooah respondeu sem soltar o abraço. ‘’Você é meu melhor presente’’

 

 

세호

 

 

‘’Sehun?’’, a voz calma soou no meio da escuridão, e o humano sabia o que viria a seguir.

‘’Já está na hora?’’, perguntou.

‘’Uhum...’’, Suho assentiu calmamente, aproximou-se da cama do mais novo, sentando-se na beirada e alcançando o abajur, acendendo a luz fraca.

‘’Como vai ser?’’, Sehun perguntou temeroso, se virando para que ficasse deitado de frente para o outro.

‘’Eu vou ter que usar meus poderes para... Arrancar sua alma do seu corpo’’, explicou. ‘’Não irá demorar, mas também não será rápido e será bem doloroso, mesmo depois de tudo que fiz’’

‘’Nada de cães do inferno ou corpos retalhados?’’, riu, fazendo o outro sorrir também.

‘’Não, nada disso. Para os humanos, será apenas um infarto’’

‘’Ótimo’’, o maior assentiu, encarando o nada por alguns segundos.

‘’Posso começar?’’

‘’Posso segurar sua mão?’’, Sehun pediu num fio de voz.

‘’Você é muito sentimental’’, Suho fingiu um rolar de olhos, segurando a mão do humano e a colocando contra sua bochecha.

‘’Parece ridículo dizer... ‘’, o garoto encolheu-se sob o cobertor, deixando apenas a cabeça e o braço direito para fora. ‘’Mas eu fico feliz por ser você’’, falou envergonhado. ‘’Bom, não realmente feliz, mas... Você entendeu’’

‘’Por quê?’’, o demônio perguntou curioso, quase suspirando ao sentir o polegar macio do outro lhe acariciando a pele.

‘’Não sei, só sinto essa satisfação por ter te conhecido’’, mordeu o lábio inferior, pensando na pergunta que queria fazer. ‘’Quando eu chegar lá... Poderei encontrar você?’’, seus olhos brilhavam em expectativa, mas tudo que recebeu em resposta foi uma dor lacerante em seu peito. Arqueou as costas sobre a cama e respirou fundo, a dor passou tão rápida quanto veio. ‘’Suho?’’

‘’Shh’’, este ordenou num tom duro, e logo Sehun voltava se contorcer e a gritar de dor.

‘’S-Suho!’’, gritou em desespero, sentindo sua mão sendo apertada contra o rosto do demônio.

‘’Cale a boca’’, ele mandou novamente antes de fungar baixo.

‘’Está chorando?’’, Sehun perguntou ao que a dor parara momentaneamente, voltando com o triplo de força, mas dessa vez em suas costas, como se algo tentasse arrancar sua coluna por sua pele.

‘’Demônios não sentem’’, Suho respondeu mais para si mesmo que para o outro, se concentrando em puxar a alma vivente do garoto para fora de seu corpo, seus olhos se tornando negros novamente, algo que não acontecia desde que o humano o dissera que os orbes negros o assustavam.

‘’Mentiroso’’, o garoto sorriu brevemente antes de voltar a gritar. Sentia como se cada osso de seu corpo estivesse sendo quebrado, para logo após ser curado e quebrado novamente. ‘’S-Suho’’, chamou fracamente.

‘’Sehun’’, este replicou-lhe baixo, faltava muito pouco. ‘’Me perdoe’’

‘’Eu vou procurar você quando... Hmnng... ‘’, gemeu novamente. ‘’ ... quando chegar lá’’, sorriu entre as lágrimas que caiam de seus olhos. ‘’Obrigado’’

Sua respiração tomou um ritmo acelerado, seu corpo suava em demasia e sua visão se tornou turva. A última coisa que pôde visualizar foram os olhos do demônio, ainda negros, soltando uma discreta lágrima. ‘’Sehun?’’, este chamou, vendo o corpo inerte sobre o colchão. ‘’Sehun?’’, repetiu, sabendo que não receberia resposta nenhuma.

Uma quentura desagradável tomou o peito do demônio, um calor muito maior e mais intenso do que já sentia em toda sua existência.

Ardia como o inferno, e ele conhecia a sensação.

Sua mente foi tomada pela imagem de uma jovem, pequena, de olhos azuis e cabelos louros. A viu sendo atingida diversas vezes pela lâmina afiada enquanto não podia fazer nada além de assistir.

Era a dor que sentira ao perder seu primeiro amor, sendo reproduzida ali, mil vezes mais intensa e cortante. Deixou a palma alheia cair de seu rosto, vendo ali um brilho molhado.

Lágrimas?

‘’E este contrato só será quebrado

Se por uma gota brilhante do sofrimento do encarregado

For molhada a mão pálida do que por elas foi tocado

Pelas asas da dama de negro

E tal infeliz serviçal

Do inferno será exceptuado.’’

A voz de Nexum ecoava em seus ouvidos, repetindo aquele trecho diversas vezes.

Suho viu asas negras tomando o espaço onde estava.

E logo tudo se tornou escuro.

 

 

세호

 

 

Sehun estava sentado em um dos bancos dispostos pelo pátio do campus, observando o movimento à sua volta.

Seis meses haviam se passado desde a noite em que, tecnicamente, morrera. Lembrava-se da dor massacrante, do olhar triste que recebera do demônio, lembrava-se de quase tudo, pois, por mais que se esforçasse ao máximo, não conseguia lembrar apenas uma coisa.

O nome.

Ninguém sabia o que havia acontecido consigo, Sehun não contara para ninguém. Suas emoções pareciam intactas, como se nada houvesse se passado.

Ah, mas Sehun se lembrava dos sonhos aterrorizantes, da confusão em sua mente.

Dos beijos.

Não sabia se tudo não havia passado de alucinação, cogitara se consultar com algum psicólogo ou terapeuta, mas recusava-se a acreditar que nada daquilo fora real.

E mais, ao se olhar no espelho, percebera uma frase pintada em negro em seu quadril, algo semelhante à uma tatuagem. Eram palavras.

Fructus amoris*

Sabia o que significava, mas não sabia o que realmente aquelas palavras queriam dizer.

O sinal estridente tocou, o alertando sobre o início de sua aula de anatomia. Jogou sua mochila por sobre o ombro e se levantou antes de olhar à sua volta pelo gramado iluminado pelo sol forte, procurando seu melhor amigo por ali.

Mas encontrou outra pessoa.

Parado a poucos metros de distância, estava a figura com a qual possuía tantas memórias e tantas dúvidas.

Aproximou-se com receio, vendo o rapaz pequeno também o fazer. Pararam frente a frente, e Sehun quase sorriu ao ver que, com o passar de uma brisa fria pelos dois, a pele do menor se arrepiara.

‘’Você...’’

‘’O que foi, menino, até parece que viu um demônio’’, ele falou debochado.

‘’Não pode ser’’, Sehun balançou a cabeça confuso.

‘’Ora, depois de tudo o que passamos juntos...’’ o outro estalou a língua, levando sua mão agora aquecida contra a testa alheia, afastando alguns fios de cabelo caídos ali.

‘’Você está quente’’, a voz do mais alto saiu surpresa

‘’É... Eu estou sim’’, o, agora, humano, respondeu. ‘’Vamos entrar? Não sei se você soube, mas aceitaram um tal novo professor de História Europeia esse mês’’, sorriu enquanto puxava o outro pela mão.

‘’E o que aconteceu com o antigo?’’, Sehun perguntou, seguindo o outro.

‘’Caiu de uma escada’’, o mais velho deu de ombros, passando a subir as escadas da entrada do bloco de ciências humanas e biológicas da Universidade de Seul.

‘’Ei...’’, o outro chamou, parando no meio do caminho. ‘’O que aconteceu?’’, seu olhar parecia perdido.

‘’Vem, eu te conto no caminho’’

 

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Então genteee

Essa fanfic foi originalmente postada em 25/05/2016 (wooow, dois anos já?) no site Spirit Fanfics, por eu mesma, Moona, também conhecida como Claríssima hihi >.<

Espero que tenham gostado, eu fiz essa fanfic sob muita pressão, porque era para um desafio. Caso queiram ler na versão original, só procurar no outro site pelo mesmo nome e mesmo nick meu que encontram (ainda não sei se posso postar links aqui)

Obrigada desde já

BEIJOOOS

 

 

28 de Outubro de 2018 às 05:01 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

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