Notas iniciais
Essa história foi desenvolvida para o desafio de Halloween, baseada nesta imagem criada por Moric666. Essa música deu ritmo aos dois primeiros capítulos. Cuidado com os gatilhos; preparem-se.
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1.
Você está parado na estrada. Ela é estreita, uma trilha mal formada; por suas beiradas, a grama cresce alta, curvando-se, parecendo querer engolir o caminho por ela feito.
Parecendo querer te engolir.
Não existe céu. Somente o chão e a grama. Atrás é o vazio. Você se foca à frente. Caminha alguns passos — não há lugar nenhum a chegar.
De repente, você vê uma criança.
Um garotinho de cabelos caramelos, magrinho, miúdo. Usando uma camisola branca maltrapida. Você pretende chamá-lo — sua voz não existe.
Ele se vira em sua direção.
E tudo o que existe ali é
Desespero.
2.
Foi acordando lentamente, o quarto parecendo espiralar diante de seus olhos. A cabeça estava pesada, parecendo chumbo. Piscou uma, duas vezes. O local estava em uma penumbra aconchegante, poupando seus olhos cansados da luz forte do Sol.
Levantou-se, o arrependimento invadindo suas entranhas logo em seguida. Tudo em seu corpo doía. Os ombros, os braços, as pernas...
O ânus era a pior parte.
Puxou o ar com força, suas costelas parecendo engolir seus pulmões. A memória era turva. Lembrava-se de ter chegado àquele apartamento à noite, aceitado um copo de bebida — não.
Ele foi obrigado a ingerir a bebida, o gosto amargo descendo como uma faca por sua garganta.
Depois disso, tudo foi um turbilhão. Não lembrava com precisão do que tinha acontecido. O vislumbre das marcas roxas em seu corpo não deixavam dúvidas, no entanto.
Fincou as unhas na pele clara, os olhos ardendo. O sentimento trazia o amargo ao seu paladar. Seu estômago estava revirando — queria vomitar. Se possível, vomitar sua alma fora.
Sua existência toda.
Examinou rapidamente o quarto. Nenhum sinal de vida. Era como se aquele homem sequer tivesse passado a noite ali. Revoltante, para dizer o mínimo.
Passou os dedos trêmulos pelos cabelos caramelo, esfregando o rosto com dificuldade. Estava suando; deveria ser o efeito colateral da droga que havia ingerido. Ameaçou se levantar, fazer sua rotina matinal, fingir que nada daquilo havia acontecido de verdade.
A dor veio como se fosse dividi-lo em dois. Um som agudo deixou seus lábios. Não conseguiria andar direito mesmo se quisesse.
— Droga. — Protestou. Os olhos voltaram a arder. Ele parou à beira da cama, fitando o chão, os punhos cerrados nas colchas caras e luxuosas. — Droga, droga, droga.
Seu corpo fedia. Doía. Respirou fundo, contendo as lágrimas no fundo dos olhos, esfregando-os para mantê-las ali. Com um último respirar pesado, apesar do protesto dos pulmões, das pernas, dos braços, levantou-se e foi tentar se aprontar.
Mais um pouco. Mais um pouco e tudo aquilo iria terminar.
Tinha que terminar.
3.
Você está na estrada novamente. O mato parece ainda mais alto dessa vez, inclinando-se mais na sua direção; tem quase certeza de que quer te consumir.
Não existe nada atrás. Você sabe disso, mas resolve se sabotar — não é possível que não tenha nada.
Um corpo morto é o que encontra. Era de uma mulher bonita — os mesmos cabelos caramelos da criança que viu da última vez.
Você volta a olhar para frente, tremendo. A criança está lá de novo, os olhos em completo desespero. Quer se aproximar, sente que algo está errado — suas pernas não te obedecem; quer gritar para que ela venha — a voz não existe em você.
O menino te olha com as íris carmesim arregaladas. Você percebe quando ele aperta as mãos na barra da camisola branca. Percebe as lágrimas presas aos seus olhos grandes, brilho nenhum nas íris outrora bonitas.
Nesse momento, mãos surgem por entre o mato alto. Várias e várias. Um caminho sem fim entre você e o garoto. E elas vão se aproximando dele, lentamente.
Ele berra, chorando. As mãos não param de ir em sua direção.
Você só pode assistir.
4.
— Está tudo bem? — A pergunta de Sae, a promotora, pinga mais preocupação do que uma represália. Ele deixou os ombros caírem, cansados.
— Sim. Só estou... trabalhando demais. — Respondeu por fim.
— Akechi-kun, eu quero colocá-lo atrás das grades tanto quanto você. — Sae pontuou, seu timbre o fazendo lembrar de uma pessoa querida que há muito se fora. — Mas não posso deixar que exceda seus limites.
— Eu fico agradecido pela preocupação, Sae-san. Contudo... não existe outra pessoa que possa fazer esse serviço como eu. — Sorriu, aquele sorriso plástico que usava nas entrevistas.
Que usava na presença daquele homem também.
Por alguma razão, todos caíam. Ou... ele pensava que caíam.
Àquela altura não sabia mais de nada.
Sae suspirou em desistência, os ombros abaixando ligeiramente. Seu olhar era compreensivo — uma compreensão parcial, ele deduziu. Ela não sabia nem da metade do que estava realmente acontecendo.
Ele não podia contar tampouco.
Não ainda.
— Tenha cuidado. — Ele acenou, o sorriso fraquejando no gesto.
Porém sabia: nem todo o cuidado do mundo o tornaria livre das mãos daquele homem.
Um arrepio macabro, fúnebre correu por todo o seu corpo.
Era hora de voltar ao serviço.
5.
A reunião havia sido rápida. Nem mesmo ele havia suspeitado quando primeiro pisou naquele escritório. A noite já estava se aproximando — precisava voltar o quanto antes.
Suas esperanças morreram quando percebeu o homem mover-se atrás da cadeira luxuosa, levantando-se e ajeitando o blazer no corpo.
— Eu te dou uma carona. — Ele anunciou naquela voz imperativa. Sentiu sua espinha gelar.
— Shi–Shido-san. Não precisa se incomodar em... — Pensou em protestar. Uma desculpa qualquer. Ele ainda era um subordinado de toda forma. Vestiu o seu melhor sorriso, a máscara perfeita, prosseguindo: — Eu sou somente um subordinado. O senhor não deve–!
— Akechi. — O tom era pontual quando ele virou-se na sua direção, encarando-o por baixo dos óculos de lentes amareladas. Suas íris eram miúdas e ardiam como chamas.
O fogo do inferno.
— Isso não foi um convite. — Foi o seu testemunho. As palavras voltaram à sua garganta, enterradas. Em seu estômago, a tão familiar ânsia se fez presente; sentiu as pernas fraquejarem. — Eu te dou uma carona. — Shido reiterou. — Mas antes quero passar no meu apartamento. Você não tem objeção, não é?
Um momento de silêncio, pesado como uma rocha. O ar parecia ter se tornado sólido de tanta tensão.
Mas somente ele a sentia. Estava impregnada em seus músculos, seus ossos, suas vísceras.
— Não, Shido-san. — Completou por fim, a voz em um fio, tão fraca que parecia de um morto.
— Muito bem, então. — O homem calvo aproximou-se, passando os dedos grossos por seus cabelos, deixando os fios se prenderem aos dígitos. Ele cerrou os punhos, mordendo as bochechas por dentro da boca. — Bom menino
Goro.
6.
Você tenta correr pela trilha, alcançar a criança. Antes que se desse conta, sua face encontrou o chão de terra e pedras; não sentiu dor alguma, mas o impacto foi presente.
Levantou lentamente o rosto, a vista meio embaçada devido a terra. Mas ainda conseguia ver o menino — ver tão perfeitamente que era assustador.
As mãos o agarraram. Mas não eram agarradas quaisquer.
Você assistiu, impossibilitado, a forma como elas passavam por seus braços, seus cabelos, suas pernas. Como elas o violavam, o agrediam, o esganavam.
Você tentou gritar — voz morta. Tentou se levantar — as mãos agarrando seus pés. Se debateu; em vão.
Em vão, em vão, em vão.
Ele olhou no fundo dos seus olhos, as lágrimas grossas escorrendo por seu rosto, marcando a pele clarinha — onde foram surgindo hematomas, vermelhos, roxos, miúdos, enormes. O menino abriu a boca, débil, enquanto as mãos se fechavam veemente em torno de seu pescoço. Seu murmúrio fez com que os ossos dentro de você trincassem, os músculos se desfizessem como se fossem feitos de água.
Socorro.
7.
Acordou de sobressalto no dia seguinte. O quarto estava novamente em penumbra; agradeceu por seus olhos não serem agredidos pela luz da manhã — seria irritação demais.
Tentou respirar fundo, porém o braço jogado sobre seu peito o impediu. Se remexeu, o corpo doendo uma vez mais — se perguntava quanto mais daquilo ele iria suportar antes de colapsar.
Fitou de soslaio o velho ao seu lado. Ressonava alto, o som enchendo todo o ambiente luxuoso. Fedia a cigarro e bebida — ele não havia parado um instante de beber enquanto...
O estômago revirou. Levou a mão aos lábios, respirando devagar para não vomitar.
O cheiro estava impregnado no seu corpo, contudo. Percebeu isso quando trouxe a mão à boca — ela fedia a licor. Aquela porcaria cara que ele gostava de tomar. Repudiava bebida alcóolica por conta disso.
Sentiu o braço se fechar mais ao seu redor, trazendo seu corpo para se recostar ao mais velho. A saliva desceu cortando por sua garganta, os olhos começaram a arder; o cheiro do tabaco e do álcool invadia plenamente seus sentidos agora — o estômago fez uma volta tão apertada que deveria ter se torcido como um pano velho.
Um murmúrio chegou aos seus ouvidos, o calor do bafo daquele homem acariciando seus cabelos. Sentiu seu sangue congelar dentro das veias, o coração parar de bater, os pulmões comprimirem como duas sacolas de plástico vazias.
Ele estava chamando um nome.
Era o nome da sua mãe.
Sem mais se aguentar, desvinculou-se dos braços que o prendiam e correu para o banheiro, não se dando ao luxo de fechar a porta.
E vomitou todas as entranhas de seu corpo.
8.
O tilintar do pequeno sino preso à porta chegava a ser uma canção de consolo aos seus ouvidos. Mal entrou no pequeno café e foi recebido com um sorriso radiante do barista de cabelos escuros.
Sorriu de volta, pequeno, quase inexistente. Seu ato não passou despercebido — mas com ele, nada passaria.
Isso era a única coisa que Akechi sabia. E estava feliz. Uma pequena, miúda felicidade. Como se o inferno desse trégua.
O limbo.
— Aconteceu algo? — O barista murmurou, o olhar baixo. O lugar estava vazio; era costumeiro. O dono, Sojiro, não estava por alguma razão que ele desconhecia.
— Coisas do trabalho. — Suspirou, passando a mão pelos cabelos. — É um caso complicado. Lembra que eu comentei?
— Hm, verdade. — Ele meneou a cabeça, as mechas negras seguindo o movimento. — Vai querer o de sempre?
— Por favor. — Seu sorriso era genuíno agora.
Observou como o barista preparava carinhosamente sua xícara. Era atencioso em cada ato — de passar o café, a adicionar o leite, o açúcar, inclusive fazer os desenhos que ele tanto gostava com a espuma.
Em outros tempos — antes de tudo aquilo começar — Akechi pensou que eles poderiam ser algo mais. A ideia ainda estava presente, encostada em um canto escondido de seu inconsciente, como um sonho bom. Às vezes vinha visitá-lo, acalentar suas noites, como se a própria vida fosse um pesadelo.
Não era, afinal?
Piscou atônito quando reparou no coração desenhado em sua xícara. Riu de maneira nasal, um som engraçado que foi mimicado pelo barista à sua frente.
— Não zombe da minha declaração de amor, coração. — Ele brincou, piscando, os óculos grandes não fazendo esforço algum de esconder suas belas íris cinzas. E elas sempre pareciam estar banhadas em um sentimento tão gostoso.
Queria mergulhar e se afogar para sempre nelas.
— Nunca que zombaria, querido. Eu amo seus corações. — A risada nasal voltou mais uma vez. — Nossa que horror essas cantadas baratas.
— São por conta da casa. — O barista mostrou a língua, travesso.
Conversaram amenidades enquanto ele saboreava a xícara de café. Ideal, feita especialmente para o paladar dele. Os sorrisos, o momento de descontração, pareciam presentes que ele não merecia usufruir.
Infelizmente, as coisas boas são breves.
Logo trocaram despedidas, o tilintar do sino anunciando o fim do repouso.
O limbo se fora.
9.
— Eu tenho certeza que tem casos de estupro no nome dele também. — Sae era muito firme nas palavras, apesar da frustração pingar em seu tom. — Só não... tem rastro nenhum. Não tem uma testemunha.
— Foram coagidas a não denunciar. — Seu comentário morto não foi o suficiente para assustar a promotora. Sentia-se transparente.
Queria gritar que ele era uma das vítimas.
Porém, como as outras, estava de mãos atadas.
— Se conseguíssemos uma só prova... Seria o suficiente. — Sae o fitou. Os olhos escuros encontrando os seus claros. Será que ela conseguia lê-lo? Talvez não. Sua expressão tornou-se pesadora. — Akechi-kun, eu sinto–.
— Sae-san. — Seu tom fez com que ela engolisse as palavras.
Ela sabia bem que ele era o primeiro a querer aquele homem atrás das grades. Por mais difícil que pudesse parecer.
Para quem estava de fora.
— Vamos... encerrar por aqui. — Ele anuiu, observando ela ajeitar os materiais que havia coletado; todos confidenciais, entregues diretamente às mãos dela e de mais ninguém.
Informações que ele havia sacrificado muito para conseguir. E, ainda assim, insuficientes.
Retornou pesaroso à sua mesa no escritório, muitos andares acima. O que mais eles precisavam? Talvez Sae não conseguisse o mandato para prendê-lo de uma vez por contatos internos na polícia.
Algo para incriminá-lo...
Percebeu uma mensagem não lida em seu telefone, esquecido propositalmente sobre a mesa do escritório. Desbloqueou a tela, a respiração parando um momento.
Chefe [15:00]: Na minha casa, às 20h.
Engoliu em seco. Era dele. Aquele inferno de novo. Quantas vezes já fora essa semana? Cerrou os punho, fincando o dente no lábio.
Um estalo passou por sua cabeça. Era insano. Arriscado. Podia custar sua vida, principalmente se ele descobrisse.
Mas àquela altura, dentro daquele inferno, o que ele perderia se virasse o tridente para o capeta?
10.
Me espere no quarto.
Direto. Sem mais rodeios ou reboliços. Sem palavras para desviar o assunto. O lugar já estava com todas as venezianas fechadas — ele sabia que era para que nada observasse o que acontecia ali dentro, mesmo que ele morasse muito acima de qualquer olhar curioso.
Fingiu que mexia despretensiosamente no celular, atento para que a tela não fosse captada pela câmera. Ligou o gravador, colocou a maleta em uma cadeira, o celular atrás dela. Era uma ideia simples, mas que poderia virar todo o jogo.
Quando ele finalmente chegou ao quarto, Akechi colocou o melhor sorriso que podia nos lábios — era tão encantador que o velho desconfiou, erguendo as sobrancelhas.
— Algo te deixou de bom humor? — Ele comentou, ríspido e prepotente. — Você nunca pareceu tão receptivo.
É porque não sou, seu velho nojento.
— Você pensa baixo demais de mim, Shido-san. — A plasticidade em sua voz era tão grande que era impossível alguém como Shido não ter percebido. Mas era um jogo onde ambos se faziam de sonsos.
Talvez mais Shido do que ele próprio.
Ou estaria se enganando? Seria ele o único sonso desse jogo?
As mãos grossas passaram por seus cabelos, levantaram seu queixo. Shido o admirava, a expressão neutra. Percebeu quando os olhos já miúdos se encolheram ainda mais, parecendo querer perfurar sua alma — mais do que ele já havia lacerado seu corpo, diversas e diversas vezes.
Uma constante tão irritante que a náusea já se fazia presente sem nada ter começado ainda.
— Você... — Os dedos grossos acariciaram sua bochecha com uma pressão que incomodava sua pele. — É igualzinho a sua mãe.
Um estalo. Seu corpo todo se retesou, os músculos repuxando que pareciam fazer laços.
— Shido... — O tom da sua voz pingava rancor. Um rancor que não passou despercebido. E ele só se tocou do problema que aquilo era quando seu corpo foi atirado à cama, o velho subindo por ele, o olhar nunca o largando.
— O lado bom é que eu não preciso me esforçar muito pra ficar duro. — Comentou, como se estivesse falando com alguém qualquer; talvez até com ele mesmo. — E... diferentemente dela, você não engravida.
— Como é?! — Ele cerrou os punhos, apoiando-se nos próprios cotovelos para poder encarar aquele homem na mesma altura; era em vão, nunca conseguiria. Mas valia a tentativa para ser intimidador, nem que fosse com palavras: — Você não ouse–!
Antes que pudesse terminar a frase, sentiu o mundo todo rodar com o murro que recebeu no olho. Caiu novamente na cama, o corpo maior pressionar contra o seu com força. Buscou os olhos de Shido; foi um erro.
Naquele momento ele viu a própria essência do diabo.
Nunca, em todo esse tempo, viu o olhar dele tão fundo, tão rancoroso.
Era isso que significava levantar a voz para ele?
Sentiu as mãos grossas agarrarem os cabelos da sua nuca com força, trazendo sua cabeça num tranco, o nariz à centímetros do velho. O pavor foi tomando conta dele conforme percebeu as palavras se formarem:
— Você vai se arrepender por isso, garoto.
— Não! — Tentou protestar, mas foi jogado na cama, sentindo o ar sair de seus pulmões. Tinha certeza que havia tocado o estrado de tão forte que foi jogado. — Eu não quis... Eu juro... Por favor, pai.
A mão foi ao seu pescoço com força, fazendo seu cérebro chacoalhar dentro do crânio, a vista rodar. Os dedos grossos apertaram firmemente, o ar começando a faltar. Levou a mão até o pulso, mole como uma tripa, em uma vã tentativa de pará-lo.
A última coisa que ouviu antes dos dedos se apertarem mais e sua consciência esvair-se por completo foi a frase imperativa:
Nunca me chame assim.
Um lixo como você não é filho meu
11.
Você voltou à trilha. As mãos continuavam ali, impedindo sua passagem até o menino. Ele estava encolhido, chorando, a camisola suja — de terra, de sangue.
Decidido, você as enfrenta. Elas tentam pará-lo, mas você as pisoteia, chuta, as arranca dos matos altos como se fossem folhas secas soltas dos galhos de uma árvore velha.
Finalmente, você está próximo do menino. Consegue enxergá-lo à um palmo. Bastava esticar-se e tudo acabaria — conseguiria salvá-lo. Tudo ficaria bem. Até mesmo ele, dentro do desespero, viu a esperança que banhava seus olhos.
Em um golpe de misericórdia, contudo, as mãos nasceram da própria terra, agarrando-o pelas pernas. Ele berrou, enchendo seus ouvidos, quase explodindo seus tímpanos.
As mãos surgiram aos milhares, agarrando cada pequeno pedaço de pele judiada do garoto. O mato começou a crescer, crescer, crescer, engolindo tudo, a trilha se esticando e se sacudindo como uma cobra arredia que acabou de ser apunhalada.
Em fim sua voz se fez presente, o grito que você soltou sendo a personificação da angústia e da impotência enquanto seus olhos desolados assistiam a grama espiralar e engolir a criança.
O fim foi o silêncio e a escuridão, mórbidos e fúnebres. Você não tinha como voltar lá; tudo se desfez em miséria.
Acabou
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Notas finais
Gente, o Zen Jacob foi um FOFO e me deu de presente uma história que é basicamente um spin-off dessa fanfic aqui, a Senhor do Inferno <3 Por favor, LEIAM! Acreditem quando eu digo que vai expandir muito a interpretação que tudo simbolizado aqui tem. Mas tenham ciência de que ela é TÃO MAIS GATILHO quando a própria Inferno. Cuidado ao ler! E novamente obrigada por todo o carinho, Zen!
+
Obrigado pela leitura!
Uma história incrível e cativante. Eu fiquei simplesmente apaixonada pela sua história. É tão incrível, tão bem escrita. Me faltam palavras para descreverem o que sinto por essa história tão triste e ao mesmo tempo, tão perfeita.
Recomendo que todos leiam essa maravilha! A fanfic é impressionante do início ao fim. Com tantos detalhes, tanta sutilezas e ao mesmo tempo regada a uma violência psicológica e física brutais, que nos tira o ar. O jogo inteligente de imagens construídas e narradas é um show a parte. Só vem dar amor!
O céu empíreo é o acalento da tua pele
E mais uma vez ela arrasa e não choca ninguém pq essa mulher é um arraso. História magnífica, perfeita, respeitou todos os estágios do personagem principal. Tem e Goro maravilhosos, quero mais desse casal escrita pela Yuui. Amo de mais, tanto o casal quanto a autora. Essa mulher arrasa comigo, meu coração não aguenta, pqp.
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