[ História escrita para o desafio Sítio do Pica-Pau Amarelo]
[Lenda da Iara]
A floresta se encontrava mais densa naquele dia, mais bela, úmida, verde, e puramente selvagem, a visão perfeita que Moacir tanto amou. Caminhar em meio as folhas secas e gravetos ao chão era um dos seus prazeres, escutar o ressoar dos pássaros e os grunhidos dos animais terrestres completava a sua felicidade já que como um jovem caçador, tinha que ajudar sua família com a procura de alimentos.
Em sua aldeia Moacir era considerado um jovem promissor e um caçador nato, como se encontrava na flor de sua puberdade e com seus traços paradisíacos as garotas caiam de amores por ele.
Com o passar dos anos sua vida passou a se basear de um ciclo monótono, a partir do momento em que ele aceitou as tradições e limites de sua aldeia, na qual às vezes não compreendia, sendo um caçador ele gostava de explorar e de descobrir coisas e lugares novos, contudo os limites não o concediam esse prazer.
Até que aquele dia, tudo mudou.
Quando voltava da densa floreta no entardecer da tarde com somente um filhote de jaguatirica abatido, uma caça não muito produtiva, ouviu de duas idosas que estavam sentadas a beira de uma oca, comentando sobre o caso do sumiço de alguns guerreiros, que estavam acontecendo com certa frequência, ninguém ainda tinham os encontrado e muito menos sabiam por onde eles andavam.
Como Moacir ainda não se tinha convencido do desaparecimento de seus companheiros de caça, naquela noite, no mais tardar sairia à procura dos guerreiros sozinho.
Quando a lua estava chegando a seu ponto mais alto daquela noite, Moacir esgueirava-se por entre as arvores, escutava minuciosamente os sons da floresta e evitava entrar no caminho de animais que podem o atacar, e continuamente deslocava-se para fora dos limites que lhe eram concebidos.
Até que certo momento, a
floreta se calou.
Não era mais possível ouvir o ressoar dos animais que partiam em busca de alimento ou o zumbido dos pássaros que fazia presente em todo momento e muito menos o rastejar dos animais que percorriam entre a vegetação rasteira.
Um canto começou a ser recitado, com uma voz bela e melodiosa.
Moacir assustado com o recente canto e pela reação da floresta, correu o mais rápido que podia, para longe daquilo que podia até silenciar uma indomável floresta. Com o coração batendo rápido e com pensamentos desconexos aproximou da clareira onde a aldeia residia, ainda sem entrar de fato, tentou se acalmar; como o sol já se mostrava a levantar, as tarefas da aldeia começavam a ser cumpridas então possivelmente haveria alguém já acordado e se preparando para começar os seus afazeres.
Com o coração mais calmo adentrou a clareira traçando rotas alternativas para não dar de cara com alguém indesejado e adentrou com cautela a oca em que habitava com os seus familiares, notando que felizmente ainda não tinham se posto de pé, evitando assim com maestria uma possível série de questionamentos que não estava a fim de responder no decorrer daquele novo dia e se possível dia nenhum.
A partir daí ele não foi mais o mesmo.
Desde daquela noite Moacir não conseguiu mais parar de pensar naquela voz harmoniosa que recitava no silencio da floresta. Ele não conseguia mais caçar como semanas atrás, os anciões falaram que ele estava com uma onda de azar e que logo passaria. Mas ele sabia muito bem o que se passava, não conseguia mais se conectar com a floresta, não sentia mais as arvores e animais pareciam que estava tudo morto como se fossem seres inexistentes, e ele sabia muito bem o que causou isso, aquele poderoso canto.
Semanas se passaram, caçadores que saiam ao crepúsculo não mais retornavam; famílias apavoradas e acovardadas.
Ninguém compreendia o que estava acontecendo, pensavam que era algo místico que estava acobertando a floresta, não tinham mais coragem de sair após o alvorecer.
Moacir mesmo sendo o nato caçador e explorador que era, não teve a devida ousadia de sair mais a noite já que segundo os anciões está em uma onda de azar, faltou-lhe a coragem.
Depois de semanas em seus profundos e devasto devaneios a melodia retornara de modo estridente, contagiando os seus mais pecaminosos sonhos. Não mais suportando aquela voz melodiosa, enfeitiçado pela harmonia e singeleza da canção, partiu em busca de sua origem e fonte matriz.
A lua cheia se encontrava no seu ápice quando Moacir se distanciava do território da aldeia. Percorria pela mata que em sua visão não continha mais vida e os animais em um profundo silêncio. Com já certa distância da aldeia a melodia renasce no âmago da floresta.
Como se fosse por puro instinto, Moacir caminhou em direção à voz calmamente. Chegando ao fim da caminhada e a origem da melodia que contaminou os seus sonhos;
Moacir encontrou uma clareira com um extenso lago de águas transparentes que reluziam de modo esplêndido a lua que se encontrava de modo exato por cima da clareira das arvores, e viu também uma misteriosa criatura de costas cantando por cima de um ilhéu de pedras no meio do lago.
Na visão de Moacir aquele ser era extraordinário, os longos cabelos lisos da cor mais negra do profundo céu, à pele mais alva que já teria visto e no lugar onde deveria ter as pernas uma estranha cauda verde puxando para um degrade de um tom violeta com uma estranha semelhança a de peixes.
Quando aquela criatura se virou, não mais cantando, a sua face possuía os mais belos olhos pardos e os seus lábios o mais belo sorriso.
Com os olhares conectados a bela criatura proferiu:
“Estava te esperando”
Obrigado pela leitura!
Podemos manter o Inkspired gratuitamente exibindo anúncios para nossos visitantes. Por favor, apoie-nos colocando na lista de permissões ou desativando o AdBlocker (bloqueador de publicidade).
Depois de fazer isso, recarregue o site para continuar usando o Inkspired normalmente.