Tirou tudo o que era capaz de refletir, privou-se dos contatos mais queridos, fechou a porta do quarto e ficou trancada para sempre.
Quando a fome vinha, ignorava, fingia que estava em um jogo com Amanda, sua amiga de infância. Costumavam fazer algum tipo de aposta estúpida de vez em quando e quem perdia sempre precisava se abster de algo que gostava, então fingir que havia perdido outra de tantas outras vezes era moleza. Água potável tinha, mas não demoraria muito acabar, além do mais, para sempre era muita coisa. O banheiro era um treco minúsculo, mas pelo menos havia um no quarto.
Depois de um tempo, não sabia se tinham se passado meses ou horas, sua paciência se tornou um emaranhado estranho, não sabia se estava no limite, prestes a explodir consigo mesma, ou se na mais absoluta paz. Mas isso não era o mais estranho.
Estranho mesmo era sua alma. Às vezes, nem parecia sua. Flutuava de um lado para o outro em seu campo de visão, atormentando-a, cutucando-a, obrigando-a a ver. Fechava os olhos, mas não demorou para perceber que aquilo estava enraizado em sua mente como um parasita nojento, infiltrando-se cada vez mais no escuro profundo de seu ser, agarrando-se ao mais íntimo de si, rasgando-a, dilacerando-a segundo a segundo.
Não demorou para entender que nada era eterno; destrancou-se, resignando-se a ser quem era, pois ocultar os espelhos físicos era possível, os da alma não.
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