Uma carta para o Inverno Seguir história

Oi.

Tudo bem? Como está aí? Muito frio? Ouvi dizer pelas más línguas que, no lugar em que você está, a temperatura é muito baixa e, mesmo que não esteja chovendo, a decoração branca e fofa desse ambiente gelado não deixa o Sol transmitir seu tão esperado calor. Provavelmente, não obterei uma resposta, então gosto de pensar que esteja bem.

Na minha imaginação, você está feliz. Encantando-se ao ver mais um floco cristalino de neve caindo do céu e pousando com delicadeza na janela, rindo e jogando conversa fora com as novas amizades que fez, e sempre colorindo o dia daqueles que tiverem o privilégio de te ver sorrindo, assim como eu já tive um dia.

Eu sei que prometi que seguiria com minha vida e que ficaria zangado com você, mas o sentimento de ódio foi apenas direcionado à minha pessoa - misturado com decepção -ao descobrir que, mesmo depois de tanto tempo, a única coisa que ainda ocupa minha mente é você.

Quando você estava aqui, nosso relacionamento era baseado na troca de mensagens e chamadas infinitas ao telefone. Eram realmente poucas as vezes em que conseguíamos nos encontrar pessoalmente e, quando isso acontecia, era o melhor momento da minha vida. Mesmo não te vendo sempre, saber que você estaria apenas alguns minutos distante da minha casa, para mim já era o suficiente.

Como fui tolo.

Só agora percebo o quanto eu poderia ter te abraçado mais, apoiado mais, feito mais sorrisos crescerem em seus lábios. Quem sabe eu poderia ter te beijado mais, protegido mais e - até mesmo -amado mais. Se eu pudesse te ter de volta eu te daria mais, dos meus toques, dos meus sorrisos, da minha atenção, do meu amor.

Eu faria tudo diferente.

Meu maior arrependimento? Não ter te feito meu para sempre. Você foi meu por um breve instante e eu te perdi. Eu deveria ter te segurado em meus braços, impedido de me deixar. Por você, eu me tornei egoísta. Me perdoe por ter te escondido, da sociedade e muitas vezes, de mim mesmo. Eu fui covarde, eu tive medo. Perdoe-me, por favor.

Ainda não descobri como voltar no tempo; não descobri como te trazer de volta. Infelizmente a única coisa que eu sei fazer ultimamente é tentar,inutilmente, matar a falta que você me faz. Por isso, escrevo uma carta para mais um Inverno sem você.

Seu Baozi.

***

Oi.

Tudo bem? Como está aí? Muito frio? Aqui está congelando. O Sol já não vem me cumprimentar há algum tempo, mas, creio eu, que não seja culpa do clima instável. Eu estou congelando. Será porque, desde que você foi embora, o Inverno se tornou meu melhor amigo. Às vezes, ele me faz companhia.

O Inverno é gelado, escuro e solitário, parece a morte. As pessoas dizem que ele é sombrio, traiçoeiro e assassino, dizem que eu não deveria confiar nele. Ele é meu único confidente e, eu sei que ele recebe todas as minhas cartas, sei também que ele as guarda, assim como ele guarda você.

Certa vez, ele me fez uma promessa, me disse que, se eu me entregasse e o deixasse me levar, eu veria você de novo. Admito que foi uma proposta um pouco assustadora, principalmente quando ele contou que seria um processo doloroso. Demorei para decidir, mas por você vale a pena. No momento, eu estou congelando. Eu consigo sentir que ele está chegando. Em breve você estará em meus braços novamente e, dessa vez, será para sempre.

Espere-me, por favor, espere-me. Estou próximo. Vou te ver novamente, vou te tocar novamente, vou te amar novamente. O escuro está tomando controle, trabalhando junto com o frio. Falta pouco.

Essa é a última vez que eu escrevo uma carta para o Inverno.

Seu Baozi.