micarlajuliana Micarla Cândido

Mesmo em meus últimos momentos eu não pude simplesmente esquecê-la, mas ela poderia tentar e Deus, como eu queria que ela conseguisse! Por mais que me doesse imaginá-la com outro alguém, era duas vezes pior imaginá-la sofrendo por minha causa.


Drama Impróprio para crianças menores de 13 anos.

#tragédia #morte #drama #guerra
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I will never go back to her

Antes de partir para a guerra, ela me acompanhou até a festa de despedida organizada pelo quartel, todos deviam aproveitar sua última noite de "liberdade" e aquela foi a noite mais longa e ao mesmo tempo a mais curta de toda a minha vida. E ela estava tão linda! A imagem perfeita para guardar na memória.

Eu vi em seus olhos a dor, o medo e a saudade antecipada, e, porque não dizer que aqueles olhos refletiam os meus? Um soldado é treinado para não sentir medo, mas na realidade nada nos livra desse tormento, apenas aprendemos a escondê-lo sob sete chaves.

Aquela noite ficaria nas nossas lembranças pelos próximos dois anos e com ela tentaríamos amenizar a saudade um do outro. Em uma última dança com ela, girando-a pelo salão, aspirei o perfume de seus cabelos, gravei a textura macia de sua pele, o som da sua risada, o formato de seus lábios ao sorrir para mim, o esforço para conter suas lágrimas, o brilho de seus olhos e a forma como eles me encaravam. Havia tanto amor e tanta dor naqueles olhos que precisei de todas a minhas forças para encará-los, enquanto imaginava o que ela via nos meus.

Com ela em meus braços era como se nada mais importasse, como se eu não estivesse prestes a seguir um caminho que poderia não ter mais volta. Mais tarde, já a sós, procurei memorizar o sabor de seus beijos, o quão bem nossos corpos se encaixavam, o som da sua voz suave a gemer meu nome, o prazer que apenas ela era capaz de me proporcionar. Quando ela finalmente dormiu, passei a madrugada a observar cada mínimo detalhe daquela que eu sabia ser a dona do meu coração, da minha alma e da minha vida. Eu só tinha uma única obrigação, voltar vivo para seus braços. E mesmo em seu sono lhe prometi regressar são e salvo.

Na fatídica manhã em que cada um seguiria um caminho diferente, nossas mãos não tinham vontade de se soltar. Tantas pessoas vieram se despedir, mas em meu íntimo eu queria estar a sós com ela por mais tempo. Em minha obrigação de dar um mínimo de atenção aos demais, observei meu amor à distância e a única coisa que eu era capaz de pensar era quão forte ela estava sendo. Em nome de seu esforço, procuraria ser forte por ela também, mas bastou virar as costas para eu sentir-me bem próximo de ruir e foi preciso reunir todas as forças que eu ainda possuía para manter-me.

Em território inimigo, cada dia era um recomeço, bem como cada dia poderia ser o último. Dias se transformaram em semanas e ao menos uma vez por dia pensava nela. Quando um mês se fez completo e sua primeira carta chegou, devorei-a como um homem perdido no deserto que finalmente encontrara seu oásis. Como um náufrago perdido no mar, finalmente encontrando sua salvação. Suas notícias me alegraram o coração, me deram forças para prosseguir, ela dizia "eu te amo e sempre esperarei por ti" e eu como qualquer homem apaixonado lhe respondi à altura, enviei-lhe promessas de unirmo-nos em matrimônio assim que a guerra acabasse.

Quando os meses se multiplicaram em quantidades suficientes para que, infelizmente, perdêssemos totalmente o contato, encarei o que com certeza seria meu fim. Suas cartas não chegavam mais até mim, mais da metade dos homens do batalhão se foram e os que sobraram, se encontravam, como eu, perdido em meio à um território desconhecido. Mas, mesmo ali, prestes a quebrar a promessa silenciosa que fiz a ela em nossos últimos momentos juntos, eu só pensava nela, em quão doce era o seu beijo, em quão perfeito era seu sorriso, em quão bela era minha amada.

Mesmo em meus últimos momentos eu não pude simplesmente esquecê-la, mas ela poderia tentar e Deus, como eu queria que ela conseguisse! Por mais que me doesse imaginá-la com outro alguém, era duas vezes pior imaginá-la sofrendo por minha causa. Eu jamais teria paz se além desta vida eu fosse capaz de sentir sua dor. Eu esperava que ao menos a morte me trouxesse uma certa tranquilidade, pois aqueles minutos ali, em uma batalha praticamente perdida contra o inimigo, a dor de pensar em jamais voltar para casa era pior do que a própria morte. Ao lado das minhas últimas memórias dela, apenas uma voz a me dizer que: "no fim do mundo ou na última coisa que vejo, você nunca voltará para casa, nunca voltará para casa, nunca voltará para ela".

29 de Junho de 2018 às 15:39 3 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

Conheça o autor

Micarla Cândido ~27 ~INFJ-A ~Virginiana ~Eterna aprendiz ~De tudo um pouco ~Sempre escrevendo ~Ouvindo música quase que o tempo todo

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Karimy Lubarino Karimy Lubarino
Céus, tem olhos nas minhas lágrimas! rsrsrs O conto está lindo. Acredito que isso possa refletir a vida de muitos combatentes, infelizmente. Eu sempre torço para dar tudo certo no final, mas, por mais lamentável que seja, quase nunca é o que acontece na vida real.
July 27, 2018, 01:36
Pandora Healy Pandora Healy
Triste e lindo.
July 18, 2018, 15:11

~