boaswain uanine oliveira

Yoongi seria rei, Taehyung seria general. Os dois meninos nasceram unidos um ao outro eternamente através de um fio dourado em seus sangues, que representa a realeza; ao se amarem, este mesmo fio os separou.


Fanfiction Bandas/Cantores Para maiores de 18 apenas.

#drama #incesto #bts #taegi #príncipes #romance #monarquia
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Fio Dourado

Era uma vez, em um reino bem distante, dois pequenos garotos que foram unidos um ao outro eternamente através de um fio de ouro que compartilhavam em seu sangue, e por este mesmo foram separados.

Yoongi nasceu primeiro, com um choro discreto, mãos trêmulas e dando chutes sem parar. Era exatamente a postura que o futuro rei deveria ter. O garoto achou que passaria a vida inteira sozinho — criados iam e vinham, o banhavam e o serviam, eram aulas de etiqueta, livros a ler, cavalos a montar, mas nunca alguém chegou para o ouvir. Até que Taehyung veio alguns anos depois, chorando escandalosamente até se aquietar nos braços da mãe. Exatamente como o futuro general deveria ser. O pequeno era agitado, corria e não dava ouvido aos seus tutores ou professores. Puxava o irmão pela mão esquerda e pegava uma espada de madeira na mão direita, indo para o jardim do castelo simular uma guerra. O irmão mais velho nunca reclamou, achava chatas as aulas de política e preferiria convidar o caçula para ouvir suas histórias de heróis.

O rei nunca gostou da proximidade excessiva dos dois irmãos. Yoongi, por ser o primogênito, deveria ser treinado para assumir o trono do reino após o pai, não podia se desviar de suas obrigações para correr pelo jardim. Taehyung, o caçula, já estava destinado a uma vida militar de alta patente, não podia perder tempo entre os devaneios heroicos de Yoongi. Rodeados de riqueza e deveres, os dois irmãos sempre souberam exatamente o que o futuro lhes reservava, mas nunca cansavam de se esconder do pai, a fim de jogar algo estúpido ou só aproveitar da adrenalina de estarem juntos.

Como já era esperado, o tempo passou.

No auge dos dezessete anos, Taehyung já era bem melhor lutador e estrategista do que a maioria de seus superiores. Conseguia acabar com o oponente em brilhantes seis minutos, seu recorde. Passava grande parte de seu tempo sozinho, preso na sala de treinamento mesmo quando todos iam embora, não gostava de participar dos bailes ou passeatas, e quando saia, dispensava o séquito, usando apenas sua espada. O príncipe usava de seu bom humor para desafiar o pai usualmente, não gostava de ter que cumprir tantos deveres, era um rebelde, fazia as coisas no seu tempo. Ao invés de comparecer às reuniões diplomáticas, corria à cavalo na floresta. Deixava para que Yoongi o discursasse um relatório completo à noite, quando fugiam para o sótão.

O sucessor do rei, aliás, tinha a obrigação de comparecer aos bailes em que era apresentado a diversas moças de outros reinos, princesas e duquesas lindas, moças de famílias ricas e com contatos de interesse político. Era tudo o que seu pai mais queria — que Yoongi casasse com alguém que fortalecesse as alianças do reino. No entanto, o garoto achava isso uma bobagem e sempre que conseguia, escapava os bailes para ir até o labirinto do castelo, divertir-se olhando as estrelas.

Nenhuma pretendente nunca atiçou a chama de seu coração juvenil e agitado. Sabia que devia tomar uma sábia decisão ao escolher sua esposa, não queria decepcionar o rei, mas nunca sentiu-se confiante diante das mulheres que era apresentado. Queria sentir amor. Ter alguém com quem sorrir e que segurasse sua mão quando sentisse medo.

Depois desses bailes cansativos, sempre ia até a sala de treinos para tentar se distrair escutando o irmão mais novo falar sobre suas táticas de guerra ou até mesmo para sentar-se ao lado deste e escreverem mais um capítulo do livro que desenvolviam juntos.

— Tae — murmurou, abrindo a porta e encontrando o futuro general sem camisa, enrolando os punhos com uma gaze branca. Engoliu em seco. Odiava encontrar o irmão tão exposto, sentia-se desconfortável e sem saber para onde mirar. — Está ocupado?

— Não para você, hyung — sorriu de sua forma angelical.

Yoongi sentou-se na sua poltrona, como já era habitual e abriu o diário em que confessava seus devaneios mais íntimos. Esses que quase sempre compartilhava com o irmão mais novo.

— Quem foi a desta vez? — Taehyung perguntou, voltando a desferir socos no espantalho.

— Pranpriya Manoban, da Tailândia — respondeu, com pouco interesse. — Não é ela.

— Nunca é nenhuma.

O moreno formou um bico nos lábios, ofendido com a ironia de seu irmão, mas então não resistiu ao sorriso doce que Taehyung exibia.

— Você sabe que não precisa acatar todos os desejos dele. Não precisa escolher alguém se não estiver apaixonado.

Era até engraçado ver o príncipe dizer isso tão calmamente enquanto esmurrava sem piedade o boneco esponjoso. Yoongi deu de ombros e largou o caderno vermelho, retirando sua coroa e também o traje superior que vestia, ficando apenas com a camiseta branca larga. Gostava de treinar com Taehyung, apesar de sempre perder para a força e estratégia do caçula, não estava mesmo competindo, era diversão.

— Fala como se amor resolvesse as coisas — respondeu, arrumando uma espada. — Eu preciso findar as alianças do reino, Taehyung. Não posso governar sozinho.

— Você tem a mim.

— Um rei sem rainha não é um símbolo de confiança — argumentou, dando o primeiro golpe em direção ao irmão, mas este conseguiu desviar incrivelmente rápido da lâmina da espada. — Não posso esperar que o amor da minha vida caia dos céus, esse dia pode nunca chegar.

— Ou pode já ter chegado e você é tão incapaz que nem ao menos percebeu — riu.

— Ora, respeite o futuro rei! — Yoongi acompanhou a risada do irmão, atacando-o. O mais novo, no entanto, se esticou e conseguiu tomar o cabo da espada das mãos de seu hyung. — Como pode ser tão rápido?

— Também serei rápido quando chegar minha hora de conseguir uma esposa.

— E tão desrespeitoso.

Ao tentar roubar a espada que inicialmente era sua, Yoongi acabou sendo totalmente rendido por Taehyung. O mais novo agarrou os ombros do hyung e o atrelou ao seu corpo, colocando a lâmina da espada embaixo de seu pomo de adão, fazendo com que o príncipe respirasse mais pesadamente.

— Talvez devesse olhar por outro ângulo, hyung.

— Yoongi!

O rei abriu a porta da sala de treinamento com uma rapidez medonha, encontrando os dois irmãos naquela situação constrangedora. Yoongi arregalou os olhos e apertou o braço de Taehyung mas esse não o soltou ou tirou a espada de seu pescoço. Mas não de uma forma ameaçadora e, sim, protetora.

— Não deveria estar aqui. Seu dever é entreter os convidados — o rei reclamou.

— Acho que o hyung não gosta muito dos deveres dele, Majestade — zombou, soltando o menor.

— Um rei não tem que gostar de seus deveres, apenas cumpri-los.

Yoongi respirou fundo, assustado. Conhecia a cara do pai, sabia que estava zangado, nunca apreciou que os dois filhos ficassem tempo demais juntos, achava que isso implicaria no futuro dos dois e nos cargos que ambos estavam destinados a seguir. Muito complacentemente, então, Yoongi se retirou do recinto, correndo para longe dali e da vergonha que sentia. Era pequeno, medroso e frágil, ao contrário do pai que era imponente, forte e autoritário. Não servia para ser rei.

— Você pega muito no pé dele — Taehyung reclamou com o pai, antes desse seguir para fora da sala. — O hyung só precisa respirar um pouco. Ele vai ser um ótimo rei se realmente confiar isso nele.

O rei franziu as sobrancelhas, contrariado e acabou por fechar a porta. O mais novo príncipe suspirou. Sabia que seu irmão mais velho era quem deveria estar comandando o reino, sempre viu Yoongi se esforçar para fazer tudo corretamente e da melhor forma possível. Admirava a maneira com que resolvia seus problemas, criava planos e arquitetava sonhos para o futuro. Yoongi era cheio de sonhos bonitos, tudo nele era bonito.

Notou que o mais velho havia esquecido ali seu diário. Taehyung sempre quisera ler as linhas de Yoongi, mas esse nunca deixara. Havia chegado a hora do caçula travesso fazer o que fazia de melhor — ir contra o que lhe era dito.

—★—

— Não aguento mais Park Siyeon — Taehyung reclamou, escondendo o rosto entre as mãos.

— Vocês ainda nem se casaram — Yoongi riu do irmão.

— E nem vamos.

O aspirante a general bufou, revirando os olhos e dando as costas ao irmão mais velho. Yoongi riu de Taehyung, voltando a se concentrar em escrever nas páginas amareladas do seu diário. Umas duas ou três palavras sobre a teimosia do acastanhado antes de voltar a descrever como ele era forte e indescritivelmente gentil. Sorria de suas palavras abobalhadas e mirava o mais novo brincando com a grama na margem do lago para voltar a sorrir novamente. Esquecia-se como se respirar quando estava naqueles momentos, absorto nas virtudes de Taehyung.

Meses atrás, seu pai havia finalmente conseguido achar uma dama corajosa o suficiente para tentar encantar o príncipe. Taehyung, apesar disso, odiava a ideia. Fugia da pobre Park a todo custo, sempre inventando treinos e acabando por terminar ao lado de Yoongi, observando-o dedilhar as teclas do piano. Agora que a jornada do primogênito tinha ficado mais pesada na correria dos preparativos para ser rei, ele não podia passar tanto tempo ao lado do irmão que tanto amava, mas fazia o possível para distrair Taehyung dos preparativos de noivado.

— Vocês vão sim — o mais velho assegurou. — Papai não vai desistir da ideia de casar você.

— Ela não é meu amor verdadeiro — resmungou.

— E quem é, então?

Taehyung virou-se na direção do irmão e sorriu, gracioso. A franja caia na testa e quase cobria os olhos, parecia um anjo de tão perfeito sob a luz da noite clara e o reflexo da água iluminada pela lua. Estava vestido em trajes informais, enquanto Yoongi ainda se prendia em seu uniforme costumeiro. Este não pôde reprimir um sorriso e uma batida falha no coração ao poder contemplar tão abertamente a beleza do irmão mais novo.

Gostava da rebeldia de Taehyung, nunca seria tão rebelde quanto ele, mas sabia se impor como rei, e admirava como o caçula lutava por sua liberdade de escolha. Adorava ainda mais porque assim ele se negava a arrumar uma esposa, e Yoongi sentia ciúme do irmão mais novo, sentia-se estranho ao imaginá-lo no altar, ao lado de uma moça, preferia que permanecessem sempre daquela forma — na frente do lago, sob o luar, sorrindo um para o outro.

Já Taehyung era encantado completamente com a facilidade que Yoongi tinha para ver o lado bom das coisas, educado desde cedo com princípios de guerra, ele podia duvidar de todos e desconfiar de tudo, mas graças ao hyung, sabia aproveitar os bons momentos, que eram ao lado do mesmo.

— Ele desistiu de casar você — disse, por fim, virando-se para observar as plantas na superfície da água.

— Não foi bem isso que ele demonstrou quando me apresentou à Kim Minkyung — suspirou, voltando o olhar para seu diário.

— Quem? A princesa de Chuncheon?

Yoongi apenas balançou a cabeça em uma afirmação triste, não vendo a surpresa com que o mais novo encarou a notícia. Taehyung apoiou as mãos na grama e olhou, estupefato, o moreno que escrevia no diário, pouco entretido. Não podia ser. Sabia quanto Yoongi desaprovava a ideia de se casar, talvez mais que si, o mais velho tentava seguir os passos de seu pai, mas era difícil arrumar tempo para se apaixonar em meio as obrigações de rei.

— Mas ela é quase mais alta que você — tentou brincar, mas sua voz soou estranha, fazendo com que Yoongi olhasse para ele com as sobrancelhas arqueadas. — E ela não é seu amor verdadeiro.

— Ninguém nunca é — deu de ombros.

— Não é isso que diz nas suas poesias — coçou a garganta antes de pronunciar aquilo, tendo a reação inesperada do hyung com os olhos arregalados. Tentou recuar, mas os olhos de Yoongi o prendiam. — Você ama, não é?

Não. Sim. Talvez. Várias respostas que tinha na garganta não saíram por nada, justamente porque em momentos anteriores, na frente do espelho, em sonhos, momentos de confrontos internos ou em seus constantes devaneios, nunca tinha respondido aquela pergunta para si mesmo. Era ainda mais difícil para Taehyung. As palmas começaram a suar e suas bochechas ganharam um leve rubor instantaneamente.

Via a silhueta do irmão tão próxima de si que chegava a respirar ofegante de nervosismo. O que estava sentindo? A pergunta o perseguia por anos. O que sentia quando Taehyung sorria? O que sentia quando ele o abraçava? O que sentia ao poder segurar sua mão? Sentia desespero, medo, ansiedade e uma enorme vontade de passar o resto da vida ao lado do aprendiz de general.

De uma forma que duvidada que irmãos comuns se sentissem em relação ao outro, por isso era tão errado e se negava a concretizar esse tipo de pensamento. Preferia escrever poemas falando de alguém utópico que lhe roubava suspiros, mas que, na verdade, era bem real.

— Já está tarde, Taehyung — apressou-se, juntando seus materiais de escrita e levantando-se para longe do maior. — Nós devemos voltar para o castelo.

— Não confia em mim, então?

Yoongi gostaria de simplesmente ignorar o mais novo, no entanto qualquer palavra proferida por Taehyung acabava deixando nele um sentimento estranho do qual não conseguia fugir, uma mistura de linhas embaralhadas e café quente na ponta da língua. Franziu os lábios e soltou um suspiro, não sabendo o que dizer.

— É uma princesa? — o acastanhado continuou com as perguntas afiadas, encurralando o mais velho. Yoongi desviou o olhar dele, apertando o diário contra o peito e mordendo a sua bochecha, repetindo o mantra de simplesmente manter-se calado. — É um príncipe?

Atônito, Yoongi arregalou os olhos, entreabrindo também os lábios em uma sequência de gestos para quem não consegue decidir como agir. O olhar de Taehyung sobre si era tão atento que o menor temia se mexer e entregar os pensamentos medrosos que se passavam pela sua cabeça. Estavam sozinhos, na floresta, rodeados de segredos. Não era como se Taehyung não soubesse — primaveras atrás, quando havia lido o diário do irmão, já pensara nas possibilidades daquelas rimas falarem de uma figura masculina, isso até mudara um pouco a forma como via o hyung moreno. Min Yoongi era alguém quieto, inteligente demais, com olhos brilhosos que sorriam junto aos lábios sempre que alguém o inspirava a discursar sobre seus vários sonhos. Um ser totalmente encantador, o que sempre fez com que o caçula o admirasse.

Talvez Taehyung não tivesse sabido diferenciar o momento quando deixou de simplesmente admirar o irmão mais velho, querendo passar todos os momentos do dia com ele, sempre mexer no seu cabelo, traças linhas imaginárias da testa até a ponta do nariz deste. Não era assim que irmãos costumavam se portar. Odiava cada pretendente que o rei arranjava para Yoongi, e agora odiava Minkyung. Elas não eram o verdadeiro amor do menino. Não o conheciam e entendiam como Taehyung era capaz.

— Precisamos voltar, Tae — Yoongi disse, finalmente, com a voz baixa e tremida. — O pai, ele deve estar...

— Furioso porque passamos tempo demais juntos — completou, levantando-se e andando na frente do príncipe mais baixo. — Ele não tem que se preocupar com isso. Vamos nos casar, assumir nossas posições e então seremos como estranhos um para o outro.

A voz rude de Taehyung fez com que Yoongi abaixasse a cabeça, mesmo que o outro não pudesse vê-lo atrás de si, caminhando devagar entre os galhos e a terra úmida. Segundos depois, deixou que as lágrimas caíssem de seus olhos, molhando seu rosto. Era a verdade o que o mais novo dizia — logo eles estariam mais separados do que os reinos inimigos do sul. Não podiam evitar o destino que lhes fora dado. Yoongi se tornaria rei, Taehyung, um general. Pelo sangue real que tinham, eram ligados eternamente, e por este mesmo, seriam separados.

Não adiantava negar — os dois se amavam absurdamente. Assistindo a figura do irmão andar na sua frente, firme, Yoongi quase se sentia culpado por ter aqueles sentimentos em relação ao acastanhado, mas também sabia entender a pureza com que seu coração se aconchegava na presença do mais novo. Era errado e lindo ao mesmo tempo. Sentia-se completado, de um jeito que Julieta nunca poderia fazer, se ali fosse um cenário de Shakespeare. O romance que acontecia era entre Romeus.

Rebelde como era, o sonho de sentir algo mais do que um simples amor fraterno pelo moreno menor se encaixava na cabeça de Taehyung, mesmo que relutando, com maior facilidade. O caçula sempre quis conhecer esse tal que move guerra e mata homens, o Amor, de quem Yoongi tanto falava em suas poesias, e quando olhava para o sorriso gengival do futuro rei, parecendo tanto com esses príncipes encantados de contos de fadas, tinha certeza que não seria Park Siyeon que o apresentaria.

Taehyung conhecia o Amor através de Yoongi.

No final daquela noite, coberto por um pano frio e o suor de quem havia passado horas treinando incansavelmente, o príncipe mais novo virou-se em sua cama, podendo observar as estrelas há anos-luz de distância, da janela do quarto, e ainda lembrar-se que o astro mais brilhoso do universo estava perto de si. Sorriu, dando-se conta da velocidade com que seu coração batia ao pensar em Yoongi, e, desacreditado, deixou uma lágrima cair. Havia se apaixonado pelo próprio irmão, odiava a si por isso, mas não podia ignorar que o amava mais do que tudo.

Tinha a coragem de um guerreiro e fora educado durante todos esses anos a lutar bravamente como tal. Seria general para orgulhar seu pai, mas lutaria pelo amor de Yoongi para honrar a si mesmo.

—★—

A rotina de um futuro rei é sempre agitada, tendo que aprender sobre leis e construir a moral perfeita para poder governar com sabedoria. Yoongi lidava com a correria e as ordens que tinha a obrigação de seguir desde novo, então não era nenhuma novidade para ele quando tinha que gastar dias e mais dias planejando tratados ou organizando assuntos legislativos sobre a exportação da mercadoria do reino, mas quando esses dias se estendiam a semanas de trabalho pesado e cansativo, de reuniões a reuniões, ele quase desejava ser um plebeu para fugir da vida que tinha.

Fazia dias a fio que não tinha ao menos visto Taehyung. O mais novo vivia sobre a asa do atual general do exército, ele sabia, estava treinando mais do que nunca agora que uma ameaça vinha do sul, logo conheceria de verdade o campo de batalha que sempre fantasiou, seria realmente um soldado. Yoongi tentava não pensar muito sobre isso, ocupando-se com os preparativos de sua iminente coroação — tinha que estar totalmente preparado para governar o reino —, mas não podia deixar de temer. Tinha medo do que sentia pelo irmão e medo de perder o acastanhado em uma batalha.

Quem parecia pior do que si era Park Siyeon que chorava pelos cantos do castelo reclamando que era nova demais para perder o noivo, tinha até confrontado o rei para esse não deixar com que Taehyung fosse a campo de batalha. Ela era rebelde, talvez o príncipe gostasse dela se tentasse. Yoongi também não a odiava mais.

Não tinha muito tempo, no final da noite, para pegar seu diário e enchê-lo de rimas românticas, muito menos inspiração. Entre suas correrias principescas, ainda tinha que administrar encontros forçados com Kim Minkyung. Sentia-se exausto ao final do dia, esgotado e nem ao menos se dava o trabalho de procurar pelo caderno vermelho antes de ir para a cama. Uma noite, porém, no mesmo dia que as tropas de Gwangju declararam guerra contra Daegu, Yoongi decidiu sustentar-se nas poesias que escrevia, porque não sabia mais onde esconder o que sentia senão entrelinhas. Impressionou-se, então, quando não achou o diário em lugar nenhum, estava à beira de um ataque.

Inquieto, terminou por começar a esculpir poemas na mesa de madeira de seu quarto, até o barulho da porta chamar sua atenção. O príncipe mais novo passou por ela com uma expressão séria e o caderno vermelho em mãos, a blusa branca de mangas longas e sua calça bege específica, com o cabelo bagunçado e cicatrizes na pele exposta do colo e rosto. Parecia incrivelmente bonito. Yoongi quase sorriu, mas lembrou-se de que o amava e voltou a reprimir os sentimentos com a mesma avidez de antes.

— Estava com você — resmungou, fingindo ignorar o irmão e voltando a esculpir as palavras no móvel.

— Sua coroação vai ser semana que vem. Eu sei que está preparado para ser rei, hyung, você viveu sua vida toda para este dia, e nosso povo precisa de você mais do que nunca agora, com a guerra. Eles precisam de esperança.

Sem conseguir se concentrar em mais nada que não fosse a voz de Taehyung, Yoongi largou o material e virou-se bruscamente na direção do irmão, ainda em pé no meio de seu quarto, os fios castanhos iluminados pelo lustre. Calmamente, o mais novo pousou o diário sobre os lençóis da cama de seu hyung, enquanto este se levantava, ajustando sua postura para poder observar os movimentos do príncipe.

— Por que está dizendo isso?

— Eu vou pra guerra — disse, simplista. Yoongi arranhou as unhas na superfície interna do móvel e procurou parecer calmou, mesmo que tivesse com vontade de chorar. — E eu ainda nem conheci o Amor, hyung.

— Siyeon está...

— Não estou falando dela.

Taehyung sentou-se na ponta da cama de Yoongi, tomando novamente o diário de pensamentos secretos do príncipe mais velho para si. Era como estar despido — o acastanhado podia ver tudo de si naquelas páginas, por isso o mais velho tremeu, resistindo a vontade de se aproximar e puxar o caderno de suas mãos. Ele já devia ter lido, de qualquer jeito.

— Hyung, como é o Amor?

— Horrível. — Não se impediu de dizer. — Taehyung, ele é cruel e imprevisível, pior do que qualquer batalha que você possa vir a lutar.

— Mas as coisas que você escreve...

— São frutos de sonhos que não poderão ser realizados, baseados em um romance que nunca existirá — respondeu, rude, mesmo que visse a esperança que morava em si transbordando dos olhos de Taehyung.

Talvez porque fosse mais velho, Yoongi soubesse identificar o que era impossível ou inalcançável. Se permitia sonhar e tinha mais devaneios do que podia contar, mas não os trazia para a realidade tão veementemente assim, preferia fazer de seu sofrimento um impulso artístico e literário. Ou talvez não tivesse a coragem que o irmão tinha para se doar as coisas que sentia; era medroso, recuava.

— Eu li o que escreveu. Tudo.

Apesar de parecer inofensiva, a confissão deixara Yoongi boquiaberto. Tudo era coisa demais. Tinha aquele caderno velho desde que era um moleque aprendendo a escrever. Sabia que grande parte de seus pensamentos pertenciam também a Taehyung pelo grau de proximidade que os príncipes tinham, mas ele não conhecia o intrínseco de sua alma, não sabia dos desejos que sustentava no fundo da mente. Não sabia da paixão perigosa e proibida que tinha. Por Deus, Yoongi tremia apenas com a possibilidade do irmão ter o descoberto, de agora odiá-lo, de repugnar até mesmo o amor fraterno que tinham.

— Devolva-me, por favor — disse, a voz incerta, mas firme.

— Não nos vimos esses dias, sinto tua falta, meu irmão — confessou, esquecendo-se do diário para se levantar na direção de Yoongi. — No outro dia, eu não quis... Não preciso me explicar pra você, é a única pessoa que me conhece de verdade e inteiramente. Isso é amar, hyung? Deixar outra pessoa tocar sua alma e ver seus defeitos?

A distância entre os dois já era relativamente perigosa, a respiração de Yoongi já estava pesada e sua mente já trabalhava tentando fugir daquela situação, mas os olhos claros de Taehyung o prendiam, como as estrelas prendem o céu no firmamento.

— Aqueles poemas, hyung, algum era sobre mim?

— Todos eles.

Bastou um suspiro para retirar todo aquele cimento pesado do coração apertado de Yoongi. Sentiu como se pudesse explodir seus medos de uma vez, encarando profundamente o príncipe na sua frente. Ele era lindo, gentil, inteligente e forte, além de corajoso. Yoongi o odiaria se não o amasse tão dolorosamente. A perfeição de Taehyung refletia em seu coração apaixonado, era o âmago de seus romances utópicos e platônicos.

Tinha acabado de confessar sua paixão secreta ao irmão e, ao invés de medo, receio ou arrependimento, sentia orgulho. Não viveria para sempre com um segredo que deveria ser partilhado e recíproco trancafiado dentro de si. Por todas as vezes que tinha sussurrado mentalmente para si mesmo, ao pensar em algum dia revelar os sentimentos para Taehyung, “nunca”, agora era capaz de respirar aliviado ao poder dizer “finalmente”.

Yoongi relaxou os músculos e virou o rosto, desviando o olhar o acastanhado e procurando se perder em algum lugar no quarto. Não queria viver os próximos momentos depois daqueles. Tinha assustado o mais novo, sabia disso, como não assustaria? Um homem confessando seu amor por outro, além disso, seu irmão de sangue.

— Hyung — a voz rouca e forte de Taehyung soou próxima, fazendo com que o moreno virasse na sua direção, encontrando-o centímetros longe de si, o que significava perigosamente perto. Um arfar de surpresa foi roubado dos lábios de Yoongi ao notar isso. — O que eu sinto por você é o Amor?

— Taehyung...

Lentamente, o maior curvou-se para mais próximo do irmão, fazendo com que seus lábios se encostassem de uma forma delicada. O moreno arregalou os olhos, desesperado ao ver que não tinha para onde correr ou onde se esconder, mas deixou que a boca do mais novo permanecesse colada na sua por algum tempo. Sentia a maciez dos lábios de Taehyung contra os seus; realmente tinha imaginado o beijo do garoto daquela forma: suave, amoroso, mas ao mesmo tempo, com uma entrega tão completa que rendia-se imediatamente. Nunca havia beijado ninguém, não sabia que a sensação seria tão profundamente doce e levemente agonizante daquela forma. Aos poucos, pode fechar seus olhos, aproveitando o âmago de suas preocupações ir embora ao passo que sua boca encaixava-se na de Taehyung.

Em um ritmo calmo e de uma maneira extremamente concentrada, para não dizer absorta, os dois iniciaram um beijo harmônico, que produzia estalos e fazia o coração palpitar, as pernas tremerem, o estômago revirar-se todo. A mão de Yoongi postou-se na cintura do acastanhado, puxando-o, timidamente, para mais perto, deixando que a língua deste invadisse sua boca. Era deliciosamente errado.

Taehyung passou seu toque das costas para os ombros e então para o rosto de seu hyung, segurando-o com firmeza para poder beijá-lo com afoiteza. Seus sentimentos eram mostrados com mais clareza quando sentia a reciprocidade de Yoongi perpassando por seus lábios, através do ósculo — amava seu irmão, como jamais se sentia capaz de amar Park Siyeon. Aquilo era o Amor, provar do proibido mesmo se aquilo significasse provar mais um beijo apaixonado.

Porém, para Yoongi o futuro rei, tinham muitas outras variáveis que foram fortes o bastante para impulsioná-lo a se afastar o irmão. Como sustentaria toda aquela incerteza? Não podiam ficar juntos de maneira nenhuma, era impossível, mesmo que o impossível inicial, que era o outro príncipe também estar apaixonado por si, ter acontecido. Yoongi se tornaria rei, Taehyung, general. Os dois tinham suas noivas, seus destinos traçados, não dava para fugir. Além disso, como esconderiam o amor que sentiam, se se tornassem um segredo? E se seu pai descobrisse?

E se aquele amor só atraísse desgraça e sofrimento?

— Taehyung, não... — murmurou, afastando-se, mesmo que fosse impossível largar o rosto do mais novo ou desviar o olhar do seu, quebrou o ósculo, ofegante.

Inerte, a única coisa que se movia no príncipe caçula era sua íris, procurando pela chama da esperança no olhar do irmão. Não conseguia, no entanto, reparar outra coisa que não fosse a perfeição dos traços de Taehyung. Ele era tão bonito. O formato de seus olhos e a sombra escura natural que contornava o côncavo interno de sua pálpebra, os lábios finos e rosados com rachaduras delicadas, a suavidade de sua pele e a brancura da mesma que acentuava o rubor sutil que, algumas vezes, suas bochechas ganhavam. Até mesmo a ponta arredondada do nariz pequeno era bonita.

Taehyung estava muito apaixonado. Yoongi era seu príncipe encantado, seu Romeu.

— Não quero ela, quero você — murmurou, escondendo o rosto na curvatura do pescoço do mais velho, como já era de costume.

— Nós não podemos ficar juntos.

Ao ouvir a sentença proferida pelo príncipe, Taehyung obrigou a si mesmo levantar a cabeça e encarar o irmão, desta vez seriamente. Não podia ignorar o fato de que, realmente, poderia ser complicado de ficarem juntos — estavam em guerra e os dois príncipes passaram suas vidas inteiras se preparando para tomar o cargo que lhes era direito —, mas se amavam e o natural seria que pertencessem um ao outro pela eternidade.

— Diga — insistiu ao mais velho. — Diga, alimente minhas incertezas com o gosto cítrico da verdade e então deixe-me o confessar meus sonhos românticos. Diga, hyung, e fugiremos juntos.

— Eu amo você, Taehyung — segurou nos fios escuros do cabelo do garoto ao falar isso, olhando intensamente no fundo dos olhos do príncipe, apenas para registrar que dizia a mais pura verdade. Assim, continuou: — Mas este é só outro de meus sonhos que não virão à realidade, porque “nós dois” é impossível.

Por um momento, Taehyung manteve o sorriso bonito que sempre exibia, ainda por ter ouvido tão claramente que o outro o amava, mas, aos poucos, a beleza da felicidade do menino foi morrendo, acompanhada do sorriso deste ao filtrar as palavras do irmão. Demorou a perceber o significado de impossível e agora lamentava ter entendido; não era algo que ninguém nunca conseguiria alcançar, era algo que ninguém teria coragem de fazer.

Yoongi seria rei, ele estava indo para a guerra; o Amor só existia entre as páginas amareladas do diário do outro, era uma ilusão romântica para aqueles que nunca o conseguiriam. Siyeon e Minkyung não dariam aos príncipes amor, dariam a eles a segurança de uma vida inteira revelada sobre o segredo coberto dos irmãos. Á essa altura, o mais velho já tinha derramado lágrimas bem na frente de Taehyung, não aguento a tragédia que havia feito na sua paixão. Se culpava por várias coisas — por perceber o balançar suave dos cabelos castanhos do mais novo, admirar os sinais em seu corpo, seus músculos se desenvolvendo ao longo dos anos, a sutileza de seu canto, a beleza de suas mãos calejadas e como elas tocavam as teclas do piano, o seu sorriso encantador e o brilho em seus olhos ao ouvir o irmão contar mais uma história. Tudo isso, separadamente, mas não se culpava por ter se apaixonado, que era um sentimento puro e sincero e não deveria ser repudiado ou julgado de forma alguma.

Selados com um fio de ouro, marca da realeza, em seus sangues, os dois estariam sempre ligados um ao outro, como uma promessa, mas através deste mesmo fio dourado, marca da crueldade de quem decide brincar de Deus e desenhar os destinos alheios, estariam separados, igualmente eternos, como uma maldição.

— O curso do amor verdadeiro nunca fluiu suavemente. — citou Shakespeare, afastando-se do moreno a quem tinha atingido e por quem tinha sido atingido.

E o amor é algo além de um impacto de coração jovens demais para sentirem a dor do destino?

Pouco conformado e extremamente desacredito, Taehyung deu as costas ao irmão, em passadas lentas, se direcionando para fora dos aposentos deste. Encarou, com tristeza, o caderno sobre a cama do futuro rei, quis rasgar as rimas e poesias, as belezas românticas escritas que ali se encontravam, elas se tratavam de uma mentira tediosa para fazer os homens de escravos.

— Passei a vida inteira ao seu lado para no final perceber que esse é o único lugar onde não posso estar — disse, antes de passar pela porta, finalmente.

Não havia esperanças a quais se segurar, o amor dos dois nunca seria constatado como verdade, sempre um devaneio distante, um pensamento incerto, enquanto se olhavam de modo fraternal. Abalado, Yoongi respirou fundo, passando as últimas cenas em sua cabeça, sentindo o leve pressionar de lábios contra o seu, ouvindo o doce timbre da voz do irmão confessando seu desejo por si, só então começou a chorar.

Taehyung não sabia o que era o Amor — era como não conseguir rimar um verso com outro, como acabar a tinta antes do poema, ou como acabar a inspiração antes da rima. Yoongi só podia ficar feliz pelo irmão não saber o que era isso.

—★—

O reino inteiro festejava — as luzes da noite cresciam junto a lanternas que subiam até a torre do castelo impotente no alto do morro, as pessoas se vestiram em bons panos apenas para comparecerem a festa de coroação de Yoongi, os plebeus estavam felizes pois naquela manhã foram protegidos com a notícia da vitória na guerra. Todos pareciam felizes com a banda tocando, seus pares sorridentes e a decoração esplendorosa do salão, mas o atual rei não conseguia parar de tremer.

Desde cedo, começara sua correria para estar preparado para a coroação. Mal comera, e agora já não sentia fome, apenas enjoo. A coroa de rei era mais pesada do que a de príncipe e isso já o incomodava. Sentia-se um reclamão, com os lábios franzidos, observando os convidados dançarem, enquanto bebia de seu vinho. A sua princesa estava exageradamente bonita naquela noite, e o foco deveria ser ela, coberta de joias e seda, mas Yoongi não parava de pensar na guerra e no porquê do outro príncipe não comparecer em sua coroação. As tropas já haviam desembarcado no cais do reino, com elas deveria estar Taehyung, viril e vitorioso, após voltar de sua primeira e bem sucedida batalha, e ele deveria também estar entre as pessoas no salão, bonito e sorridente.

Mas não estava.

— Você não apreciará uma dança comigo, Yoongi oppa? — Minkyung perguntou, aproximando-se do rei. — Permita-lhe mostrar minha habilidade de valsa.

— Não estou com animação para danças, perdoe-me, princesa — sorriu amarelo, afastando-se da garota pela milésima vez na noite.

Passou por entre os criados, sempre cumprimentando as pessoas com apertos de mãos e acenos de cabeça, querendo logo presenciar o fim daquela comédia trágica, onde todos comemoravam sua derrota. Ser rei era como uma derrota para Yoongi, pois ele largaria tudo para poder viver seu romance ao lado do irmão. Passou dias pensando nas confissões que fizeram, repassando os momentos juntos de uma vida, chorando pelo medo de perdê-lo, e, agora, mais do que nunca, Taehyung visitava sua mente. Deu de cara com o pai. O sorriso no rosto deste era vibrante, o momento que tanto esperara sua vida inteira havia finalmente chegado: tinha passado a coroa ao seu primogênito, não poderia estar mais orgulhoso.

— Parabéns, filho — disse, apertando o ombro do menor com força e admiração. — Essa coroa fica melhor em você do que em mim.

— Espero poder seguir seus passos, pai.

— Sabe, Yoongi, você e seu irmão são as pessoas das quais eu mais me orgulho nessa vida. Eu sinto muito que não possamos estar os três juntos neste momento que lhe pertence, mas você sabe como Taehyung é, normalmente não gosta de aparecer muito, imagine só machucado.

Os olhos do menino foram, imediatamente, ao pai.

— Machucado?

Hesitante, o rei mexeu no bigode, deixando o ombro do filho e pousando a mão sobre suas próprias roupas. Ele sabia o quão as notícias sobre Taehyung abalariam o mais velho, mas deu uma trégua — Yoongi já havia sido coroado, e Taehyung já havia sido testado, logo assumiria seu posto no Exército.

— Trouxeram-no ferido de Gwangju, ele passou mal na embarcação e isso complicou sua situação. Estava desacordado ao começo da cerimônia, por isso não pôde comparecer — explicou o velhote. — Mas já está de pé, se recuperando.

— Onde?

— Essa é sua festa, Yoongi — o rei começou, mas fora interrompido pelo filho o entregando uma taça.

— Eu sei onde — disse, antes de sair em disparada, deixando que sua coroa caísse no caminho.

Deixou que caísse. Correu pelo salão, apressado entre seus súditos, guiado por uma coragem e adrenalina que não tinha costume de sentir. Queria bater em Taehyung, afogá-lo no rio, que imprudente do mais novo se machucar em guerra e ainda adoecer na viagem. Não podia deixar Yoongi esperando-o preocupado, era tortura para o novo rei. Percebera em sua corrida que não havia quarto para se esconder — encararia o irmão pela primeira vez após confessar seus sentimentos a ele.

Nada havia mudado.

Ainda o amava imensuravelmente, ainda enchia o diário de saudade do rosto bonito dele e de memórias agridoces. Além disso, não aguentava mais sentir o beijo de Taehyung sobre seus lábios apenas como uma lembrança, o desejo de beijá-lo outra vez queimava dentro de si, quase como se necessitasse daquilo. Empurrou as portas do salão e desceu a escadaria, direcionando-se à fronte do castelo, onde o séquito real estava bem a postos, sobre os cavalos. Apressou-se em suas sapatilhas, exasperado.

— Onde está o príncipe? — perguntou para o primeiro chefe que viu, montado sobre o animal quadrúpede.

— Dispensou o séquito, Majestade — explicou o homem.

— E deixaram? Está adoentado!

— Conhece seu irmão, Majestade.

A mais pura verdade. Yoongi mirou a lua, brilhante no ápice da noite e quis sorrir. Taehyung era como aquele grandioso satélite, afinal de contas — imponente, brilhoso, mágico e há anos luz de distância, de tal forma que a única coisa que Yoongi podia fazer era observá-lo quietamente, de longe. Tocá-lo era um crime, beijá-lo era um pecado e amá-lo era uma maldição da qual não podia fugir.

— Deixe que eu monte — ordenou ao homem que, prontamente, desceu do cavalo. O rei apressou-se em montar no animal. — Séquito dispensado, diga a meu pai que a festa continua sem mim.

— Mas, Vossa Majestade...

Debalde, já que Yoongi se encontrava distante do castelo, galopando em alta velocidade sobre o quadrúpede. O lago não ficava tão perto do castelo, mas sabia que Taehyung não era o melhor nas cavalgadas e preferia caminhar. Estava frágil, adoentado, não podia andar tanto assim. Precisava de repouso. Yoongi sabia que o irmão era forte, se não, nem tinha voltado da guerra, mas preocupava-se mesmo assim, talvez não apenas com a saúde de Taehyung, mas sim com os sentimentos do mais novo depois da guerra.

Será que tinha percebido que o amor dos dois era errado, repugnante, amaldiçoado e impossível? Tinha finalmente se entregado a verdade eterna de sua futura vida como general: não podia sentir amor por um homem, muito menos pelo seu próprio irmão? Era bom que sim, mas Yoongi, ainda preso nos seus sonhos, esperava que não.

Desceu do animal assim que estava perto o suficiente do lago brilhante, uma trilha curta que o cavalo não conseguiria passar se não fosse machucado pelos galhos cortantes das árvores baixas ali. Era o lugar secreto dos dois irmãos. Yoongi costumava passar tempos sozinhos ali, quando Taehyung era um bebê e vivia nos braços das criadas e da rainha, mas teve a coragem de dividir o esconderijo com o mais novo, para que pudessem partilhar da adrenalina de terem um lugar só deles.

Não importava-se se suas vestes estavam se rasgando ou ficando sujas com a lama da floresta, apenas queria logo ver Taehyung, nem que fosse enquanto o outro brigava com si.

Pelo lume cristalino proveniente das águas, Yoongi pôde notar uma silhueta forte e desengonçada na margem do rio. Seu coração falhou algumas batidas, e soou como badaladas de um sino estrondoso, fazendo com que o moreno tivesse as pernas bambas e a boca seca. Taehyung, sem camisa alguma, era coberto pela sombra do luar, mas seus músculos tinham contornos profundos graças à luz do satélite natural da Terra, isso também implicava em aprofundar os seus ferimentos. De costas, ele não podia ver Yoongi o observando, mas, mesmo assim, porque seu coração já o pertencia, podia notá-lo.

O rei assustou-se quando viu o sorriso bonito do irmão, olhando-o de volta sobre o ombro.

— Não espie, hyung.

Calmamente, enquanto o mais velho segurava seu fôlego, Taehyung deixou que suas calças caíssem à grama, e logo após isso, sua roupa íntima, entrando nu no lago. A pele de Yoongi toda esquentou e ele achou que estivesse com coceira, mas era só nervosismo por presenciar a nudez do irmão. Quando o príncipe afundou entre as águas, em um mergulho divino, rodeado de brilho noturno e da beleza nos olhos do amante, Yoongi finalmente pôde respirar. E se aproximar.

O mais novo apareceu na superfície, sacudindo o cabelo escuro e molhado. Não parecia nada doente ou enfraquecido, estava tão belo quanto da última vez em que o rei havia o visto.

— Perdoe-me não ter ido a sua coroação, Vossa Majestade — ele diz, deixando seu corpo todo coberto pela água, se não seu tronco. — Eu não conseguiria assistir você preferir o trono a mim, mas não me surpreendo ao ver o homem escolher o poder ao invés do amor, é natural e um ciclo terrível a qual cada um de nós está destinado.

— Não, Tae — Yoongi apressou-se. — Não cometa esse equívoco, não foi assim que as coisas aconteceram. Eu precisava me tornar rei.

— E agora que se tornou, como se sente?

Vazio. E triste. Não era como se já estivesse habituado a se sentir daquela forma, era um vazio diferente do vazio causado pela dúvida da reciprocidade e uma tristeza diferente da tristeza causada pela certeza da impossibilidade. Vazio de saudade, triste de paixão. Sem Taehyung, Yoongi sentia-se fraco e debilitado, não comia direito, não dormia direito, não sorria tão naturalmente como sorria ao lado do irmão. Ao menos se concentrar em seus deveres reais ele conseguia, tão absorto e concentrado em sofrer pela saudade que sentia do mais novo.

— Eu amo você, Taehyung — disse, corajoso, aproximando-se ainda mais da margem do lago. Seus lábios tremiam, mas achava-se assim capaz agora que um título imponente via anterior ao seu nome.

— Dê-me seu coração, então, Yoongi — o outro replicou, sério, contendo a surpresa ao ouvir o irmão se confessar tão literalmente para si. — Não sou o inocente que não enxerga o quão errado é estarmos juntos e irmos a diante com esse romance desmantelado, mas eu não me importo, hyung. Eu amo você.

Ali, nu, belo e nas águas cristalinas, brilhantes, sob o luar, Taehyung parecia uma sereia, e encantava demais Yoongi ao escutá-lo falar tão abertamente de sua paixão. De verdade, era um soldado corajoso, mas ainda mais, um homem corajoso, e bravo, que lutava pelo que sentia, não pelo que o diziam para lutar. Yoongi amava o príncipe certo. Seu Romeu.

Mesmo assim, o menor hesitava, não porque não tinha certeza de seu amor pelo irmão; ele tinha, mas tinha certeza de outras coisas que iam contra essa primeira. Havia acabado de ser coroado rei, como fugiria de seu cargo para amar o mais novo? Como fugiria do seu amor para exercer seu cargo? Parecia uma emboscada do destino para fazê-lo escolher entre um e outro. Como um castigo, Yoongi não podia ter os dois; era quase como Taehyung dissera, uma decisão entre poder e amor. O único porém era que o rei tinha medo de se arrepender de um, sentir falta do outro.

— Fica melhor de pensar quando se está dentro d’água, Majestade — o príncipe sugeriu, sorrindo.

— Taehyung! — Yoongi o advertiu, mas só conseguia se concentrar no sorriso juvenil do mais novo. Tirar as roupas e entrar, nu, no lago com o acastanhado? De jeito nenhum. O rei tinha pelo menos sanidade para conhecer seus limites, e tinha vergonha, e nervosismo, por isso tratou de pensar rapidamente em outro assunto. — Você voltou machucado da guerra? Cuidaram de ti, certo?

— Nade comigo, meu irmão. Assim lembrarei desse momento caso me deixe para seguir sua carreira na dinastia.

Estava selado, naquele momento, sem mais delongas: Yoongi amava Taehyung. Imensuravelmente, absurda, ardente, verdadeira e eternamente. Se decidem chamar aquilo de incesto, pecado, erro, ainda assim era amor, e Yoongi celebrava festas dentro de si por ter a sorte de amar tão puramente alguém tão bonito, de todas as formas, como Taehyung era. Tinha a necessidade de ficar perto do mais novo, uma vontade louca de tomar-lhe em seus braços e beijar-lhe os lábios sem nenhum pudor, uma loucura chamada amor. O agora rei havia reprimido várias coisas ao longo da vida, mas não era tão insano assim para reprimir a única coisa que lhe tinha valia — uma hora a coroa iria enferrujar, o castelo iria ser tomado, o reino iria ser dominado e tudo aquilo não passaria de história, mas o amor dos dois irmãos seria eterno.

Disso ele cuidaria.

Por isso tirou o cinto, abaixando de uma vez as calças antes que a coragem lhe escapasse entre as pernas. Logo depois de uma longa suspirada, abriu os botões de sua camisa também, demorando um pouco mais em tirar todos os tecidos que lhe cobriam. Por fim, a única coisa que restou cobrindo o corpo de Yoongi era a luz da lua e das estrelas, acompanhadas de sua timidez que dava ao seu rosto um tom bem visível de rosa.

Dedinho após dedinho, logo Yoongi mergulhou no lago, nadando com o pouco fôlego que guardava nos pulmões até o corpo de Taehyung, voltou a superfície não sabendo em que parte do lago estava, surpreendeu-se ao se encontrar próximo do irmão que exibiu seu sorriso lindo antes de quebrar a distância entre os dois, colando, em um movimento rápido, seus troncos molhados, assim como várias outras partes de ambos os corpos.

— Taehyung...

— Sinto falta do seu beijo — o mais novo admitiu.

Sem aguentar-se por mais do que um nano segundo, Yoongi puxou o príncipe para um beijo profundo, estalado e sem hesitação. Adorou sentir as mãos do irmão em seus ombros, puxando-o para mais perto. Adorou pensar que estava livre de verdade para beijá-lo daquela forma, era sua utopia mais sonhada.

— Não precisarei tomar decisão alguma, não há outra opção para mim a não ser me entregar a você — respondeu, ofegante, ao que aquilo reencontro significava.

— Fugiremos pela manhã, hyung. Vamos para longe — Taehyung disse, animado. — Vamos trocar nossos nomes, cortar nossos cabelos, andaremos sozinhos e conheceremos lugares do mundo, juntos. Moraremos em um lugar onde o Amor seja a religião, a Paixão nossa casa e o Desejo, nosso vizinho. Teremos ainda um céu de Sonhos Realizados e nunca perderemos nossa conexão, pois tirei de mim a própria alma apenas para dar-te.

Emocionado e tocado, Yoongi enlaçou o irmão com seus braços e grudou suas testas, suspirando em alívio porque aquele era um curto discurso descrevendo todos os seus sonhos relatados através de versos, e Taehyung sabia, porque os dois se amavam e se conheciam. Não precisavam concretizar a história com um final feliz, pois o Amor não se contenta com a alegria, ele entristece, perde, apaga, queima e experimenta o ódio, assim como a guerra, para voltar a sua pureza e plenitude. Sobre o luar, os amores e paixões se fazem, se acertam, e se atam as mãos dos amantes, tal como os lábios.

Ao raiar do sol, o castelo teria que lidar com a falta do príncipe general e do recém-coroado rei, e estes, que por beleza única do universo, conseguiram superar seu destino, teriam que lidar com o fato de Shakespeare não ter escrito um romance como o deles — entre Romeus.

26 de Junho de 2018 às 21:57 1 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

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uanine oliveira i was a little bit lost, but i'm not anymore

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Giovanna Sousa Giovanna Sousa
sto soft
June 27, 2018, 14:54
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