Eu o conheço desde meus dez anos.
Mesmo em uma cidade grande como a nossa, era normal ver a mesma pessoa em várias situações diferentes. E eu me acostumei com os cabelos laranjas bagunçados. Os olhos também assumiam essa cor mais alaranjada quando o sol o iluminava.
Ah, como ele era lindo!
E eu, tolo, não soube me aproximar.
Quer dizer, eu fui criado por uma mulher muito forte e independente. Mas além das inúmeras qualidades, ela também tinha dois defeitos que eu infelizmente herdei: agressividade e impaciência.
Como isso não bastasse, eu ainda viciei em palavrões. Basicamente, a minha personalidade o irritava. Além disso, ele também morria de medo de mim. E ele nem precisava dizer! Era só eu me aproximar que ele se tremia todo e fugia de mim.
Passei cinco anos tentando me aproximar.
Caralho, que guri chato da porra! Por que merda ele não me deixava chegar perto? Sempre fugindo de mim, puta que pariu.
Que ele morra, disse a mim mesmo, cansado de toda aquela esquiva que ele fazia. E fiquei emburradinho até que o dia do nosso acampamento. Eu nem ia naquela bosta, mas a minha mãe me encheu o saco até que dissesse que iria.
E lá estava eu, com uma mala na mão e dando dedo pro idiota do Kageyama que exibia o Hinata ao seu lado por aí. Não, eles não namoram. São melhores amigos. Acontece que todo mundo quer ficar perto do laranjinha, e aquele merdinha se achava o máximo por ser o único que realmente esta sempre perto dele.
Resmungando, me sentei do lado do Deku no ônibus. Ele não estava contente porque tinha brigado com o namorado, Todoroki, que de birra sentou ao lado do Krishina, bem longe do esverdeado.
– Para de choramingar, seu merda. Não tô com paciência pros seus chiliques de mocinha traída não. – esbravejei.
– Ei, – uma voz irritada soou atrás de mim. – Não fale com o Deku assim!
Me virei praticamente rosnando, mas me calei assim que vi quem estava brigando comigo.
Hinata me olhava chateado. A boca em uma linha reta e o cenho franzido. Fiz uma careta e me voltei para frente. Esse ato, no entanto, não a gradou assim como pensei que seria.
– Peça desculpas agora, seu bruto! O Deku não esta bem e você ainda o perturba.
Bufei. Dois minutos depois senti um dedo pequeno cutucando meu ombro.
– Eu ainda não escutei nenhum ‘Deku me desculpe por ser grosso e mal-educado’. – resmunguei um não e afastei meu ombro.
Parece que o deixei determinado a me infernizar, pois no segundo seguinte ele estava de pé – era um anão, com os baços cruzados e batendo o pé no chão.
– Estou esperando Bakugou.
Revirei os olhos. Baixinho mimado.
– Deku me desculpe por ser um grosso e mal-educado. – praticamente ditei com a voz monótona e entediada.
Hinata, como sempre, não percebeu meu sarcasmo. Ele simplesmente sorriu feliz.
– Ora, não é que você pode ser racional? – e então se virou para o infeliz que estava sentado atrás de mim. – Viu, Kageyama?! Eu disse que ele não era só um cão raivoso.
O ruivo ignorou meu rosnado e deu um tapinha no meu braço. Ele olhou de forma significativa pro palerma do meu lado e o Deku levantou. Sem entender, observei ele sentando do lado do moreno azedo e Hinata sentando ao meu lado.
– O que faz aqui, perdedor?
Hinata não se importou com minha ofensa gratuita.
– Eu vou ser seu colega de acampamento.
Me virei totalmente para ele.
– Hein?
Hinata riu.
– Eu fui designado pela nossa sala em te adestrar. – Então ele gargalhou. – De nada.
O encarei com raiva.
– Que palhaçada é essa?
Passei um minuto olhando Hinata rir. Achei que ele ia morrer sufocado com o tanto que se engasgou enquanto gargalhava da minha cara. Eu juro que quis xingar ele e dar uns tapas na cara dele, mas acabei me perdendo no rosto corado. Percebi, com horror que queria beija-lo.
Quando dei por mim, Hinata me olhava com os olhos arregalados. Me afastei. Todos o ônibus nos olhava. Fiquei estranhamente envergonhado.
– Você não parava de rir... – falei vacilante. – ... achei que morreria sufocado.
Hinata ainda me olhava com os olhos arregalados. Parecia em choque.
– Ótima forma de o salvar, – Kageyama debochou. – Enfiando sua língua na boca dele.
Me levantei, e teria socado ele, se Sugawara não tivesse intervindo.
– Chega de briga, vocês dois. – bronqueou. Virei a cara e cruzei os braços, mas continuei parado. – Hinata, quer se sentar com o Daichi?
Lancei um olhar surpreso para o nosso senpai e depois um preocupado para o ruivo. Hinata estava olhando pela janela e apenas balançou a cabeça em negativa. Sugawara me olhou em represália e voltou para o seu lugar. Me sentei ao lado do baixinho e permaneci calado pelo resto do caminho.
Todos já haviam entrado e somente o ruivo e eu estávamos sentados na fogueira.
Nesses três dias de atividades e recreações, o clima tem estado estranho entre Hinata e eu. Toda vez que nos tocávamos por conta da gincana; onde éramos parceiros, ele se retraia e saia de perto. Trocávamos poucas palavras, apenas o necessário.
Me senti culpado. Apesar de não sermos tão amigos, costumávamos discutir e irritar um ao outro. Mesmo que não fosse o que eu queria, era melhor do que temos agora.
Fala sério! Aquele baixinho não ria a dois dias. Isso é preocupante.
Olhando para ele, eu podia ver sua mente divagando. Ele estava olhando para as estrelas. Como eu queria saber o que ele estava pensando.
– Por que você me beijou?
A voz dele estava suave, mas isso não impediu o susto que eu levei. Que merda de pergunta era aquela?
Hinata não me olhava, mas parecia esperar uma resposta. Pensei por um tempo em mentir, mas a merda eu já tinha feito. Vou meter o foda-se e falar logo a verdade.
– Porque eu gosto de você.
Hinata não transpareceu reação nenhuma. Fiquei preocupado, pensando em mil coisas para explicar aquela simples frase.
– Desde quando?
Engoli em seco.
– Desde que eu descobrir sentir atração por homens também.
Dessa vez ele assentiu. Os olhos alaranjados se voltaram para as pequenas mãos no seu colo. Hinata parecia nervoso; as mãos se remexendo inquietas.
– Não sei se posso te corresponder.
Eu o olhei confuso.
– Eu jamais esperei que você me correspondesse. – minha fala pareceu o surpreender, já que ele rapidamente me fitou. – Vamos ser realistas ne, baixinho. A gente nunca se fala e, quando esse milagre ocorre, é só uma troca de insultos.
Ele resmungou por conta do apelido que eu dei a ele.
– Se é dessa forma, como você pode gostar de mim?
Dei de ombros. – Não faço ideia.
Primeiro ele me encarou confuso, depois assentiu.
Ficamos em silêncio. Me levantei para ir dormir, mas uma súbita ideia me parou. Essa era a oportunidade, né? O que eu tinha a perder? Vou dar então o xeque-mate.
– Podemos tentar, não é? – Hinata não disse nada, ficou apenas me encarando. Pigarreei. – Quer dizer... – mexi as mãos, completamente sem jeito. – ... você gostou... cê sabe... do beijo...?
Hinata se espantou e coçou a bochecha. Virei o rosto corado.
– Eu... é, bom... eu a-acho... não, eu .... sim, eu a-acho.
– Responde direito, que droga! É uma pergunta simples, caralho.
Hinata fez uma careta.
– Eu gostei, seu grosso. Mas já tô me arrependendo de tá falando com você.
Bufei.
– Tá, foi mal. Cê sabe que sou impaciente.
O ruivo assentiu. Ficamos em silêncio.
– Então... – comecei, – ... topa tentar?
Ele encolheu os ombros.
– Tentar... o que?
Revirei os olhos, Hinata me olhou feio.
– Um relacionamento, baixinho burro.
Ele se levantou e bateu os pés.
– Não deveria, não se você for me tratar assim!
Levantei as mãos, me rendendo.
– Vou fazer o meu melhor.
Dessa vez, Hinata que revirou os olhos.
– Aham, sei.
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