annyecs AnnyeCS

Sinopse: Porque tudo o que posso, que consigo, é tentar. Aviso: Texto escrito em um momento ruim, pode haver algum gatilho caso você também não esteja bem.


Drama Para maiores de 18 apenas.

#angst #depressão #tentar
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Eu estou tentando.

Acordo todos os dias, não sinto vontade de sair da cama, mas levanto.

Arrumo minha sobrinha e a levo pra escola.

Não tomo café, mas tanto faz, não tenho fome.

A casa tá bagunçada, tem teia de aranha no teto do meu quarto, combina comigo. Não quero arrumar nada. Mas tento organizar tudo, é necessário.

Paro no meio da casa e o choro vem de lugar nenhum, não tento impedir, deixo vir.

Não sinto fome, mas o almoço precisa ser feito, o faço. Tento me concentrar no que estou fazendo, mas deixo a pia encher de água enquanto lavo os legumes, ando me distraindo fácil.

Tenho que buscar minha sobrinha, a ideia de olhar para pessoas me incomoda, mas vou mesmo assim.

O almoço fica pronto, sirvo minha sobrinha "Não vai comer, mamãe? Você vai ficar dodói". Ela me diz e eu me sirvo de um pouco de alimento, desce sem gosto e rasgando. Não sinto fome.

O relógio bate 13:00hrs da tarde, e eu me sinto cansada e sem disposição.

Não quero, mas tomo um banho, a sensação ruim do vazio aumenta, tento não sentar no chão do banheiro e chorar, inútil.

Visto uma roupa qualquer e deito na cama, e não quero sair dela.

Meu gato deita sobre meu peito, e fica lá, quietinho, e isso me acalma, até eu lembrar que não alimentei os animais.

Não sinto vontade, mas levanto e dou comida para os cães, os gatos e as galinhas.

Paro no meio do quintal e me pergunto a quem eu estou tentando enganar. Sem resposta.

Bebo um copo de água, esqueci de beber o dia inteiro, também não tenho sede. O Despertador em meu celular é quem me avisa, me lembrando constantemente que eu estou tentando.

Não sinto vontade, mas preparo o lanche da tarde, minha sobrinha acorda e eu a sirvo. "Tem que comer mamãe, pra ficar forte igual o Huck.” Bebo um copo de suco e ela parece feliz. Sinto vontade de por tudo pra fora, mas tento controlar o enjôo respirando fundo.

São 17:00hrs e preciso me arrumar para ir ao curso. Não sinto vontade, não quero ter que olhar para minhas colegas e sorrir, quero ficar na minha cama e dormir. Mas tomo um banho e tento me arrumar um pouco. "Um lixo". O espelho me diz. Mas o ignoro, não é nenhum novidade, tenho que tentar seguir minha vida.

Olho para o comprimido, sinto vontade de tomá-los todos de uma única vez, mas não o faço. Engulo apenas um como se fosse uma navalha, é uma lembrança frequente de que, não posso tentar tudo sozinha, mas a quem vou pedir apoio se ninguém se importa o bastante?

Me vejo no espelho mais uma vez, meu padrasto chegou, não quero que ele veja minha apatia, ponho meu melhor sorriso e saio.

No ônibus, quero chorar, mas não o faço, minha cabeça já está doendo e meus olhos ardem levemente. A maquiagem esconde.

Chego no curso, e não sinto vontade de interagir, mas o faço. Preciso participar, conversar, preciso me distrair do vazio que me invade.

É dia de apresentação, e tudo que quero é correr dali e me esconder, chorar, mas não o faço. Tento controlar a respiração, o tremor nas mãos e as palavras falhas. “podia ter sido melhor.” A professora disse. Tudo bem, eu não sou grande coisa mesmo. A vontade de buscar refúgio no banheiro e chorar ainda está lá, e estou tentando ignorá-la o melhor que posso.

É intervalo, as meninas compram um lanche e me dão, não sinto fome, mas aceito o suco. Ele desce amargo, e eu agradeço.

São 22:00hrs quando chego em casa de novo, as reclamações começam, eu tento, mas não consigo ignorar as palavras sem carinho. Elas queimam como ferro em brasa.

Quero chorar, mas não o faço. “Amanhã eu arrumo isso, mãe.” Ela fecha porta do quarto sem me dar “boa noite”. Tudo bem não é como se eu merecesse um mero “boa noite”, não é como se eu fosse tê-la também.

Meu celular vibra, e bebo um copo de água, minhas pernas são agarradas de repente e isso me assusta, é minha sobrinha. “Já chegou mamãe?”. Sorrio e digo que sim, ela pede água, me dá um beijo e um “boa noite” e então volta para a própria cama, e de lá pergunta “Já jantou, mamãe.” E eu digo que sim. É só mais uma mentira.

Não tomo banho, não sinto vontade.

Troco de roupa, minha cama está bagunçada, ela sempre está, tudo bem, eu também estou sempre assim.

Deito sobre o colchão como se ele fosse meu abrigo, meu gato deita sobre meu peito e fica lá, quietinho. Eu o abraço. Não quero, tento resistir, mas me deixo chorar em silêncio, sujando o pelo laranja com minhas lágrimas.

Não sei a que horas o sono me venceu e fui sugada para o mundo de pesadelos da inconsciência, eu nunca tenho sonhos ou pesadelos. Eu preferia tê-los. Pois o que me invade são memórias, lembranças dolorosas, pesadelos reais que irão me perseguir até a morte. Meus monstros são reais, as vezes falam deles para mim, as vezes um deles me envia uma mensagem. E eu tento seguir como se eles não me assustassem, como se suas vozes não me perseguir sem durante o sono.

São 6:hrs da manhã, meu despertador toca, não quero, mas acordo para mais um dia de vazio.

Não tomo café, não sinto fome, na verdade não sinto quase nada, o vazio me consome lenta e dolorosamente.

Não sinto vontade de viver, de existir. Mas estou tentando. 



Notas finais:

Sinta-se a vontade para deixar um coments, caso sinta vontade. 

E se você se identificou com algo.

Sinta-se abraçadX. 


9 de Abril de 2018 às 16:57 0 Denunciar Insira Seguir história
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