izarodrigues Izabelly Rodrigues

Essa é uma coletânea original baseada no folclore brasileiro, porém ela irá fugir do tradicional coisinha bonitinha que ouvimos tanto na escola, e trará uma versão mais dramática, com terror, horror e suspense. Para aqueles amantes desse gênero e deseja ver a exploração do nosso famoso folclore, irá gostar da coletânea


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#suspense #folclore #sombra #floresta #mãe #índio #monstros #mitologia
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O Menino e a Sombra

Certa vez, há muitos anos, contaram-me uma história. Não lembro onde a ouvi, nem quem me contou, porém, ela continua em minha mente depois de anos. Tento muitas vezes tirar uma lição dela, mas sequer consigo entender seu significado.

Havia uma aldeia de índios no meio da mata. Em que lugar? Não consigo mesmo lembrar, mas acredito que era uma próxima ao pantanal, lá no Mato Grosso.

Uma índia sentiu as dores do parto e foi sozinha para a mata dar à luz. Nasceram dois bebês. Os dois choravam sem parar, sedentos pelo leite da mãe, mas a mãe estava angustiada e assustada, não acreditava que tinham saído dela dois recém-nascidos. Como poderia ter tido dois? Fora ensinada desde pequena que o nascimento de dois bebês, gêmeos, é sinal de catástrofe. Segundo o que aprendeu, o nascimento de gêmeos acontece quando a mãe faz algo grave e é punida com uma alma repartida: uma alma inteira dividida em dois corpos, o seu caráter sendo separado em seu lado bom e em seu lado mau.

A mãe não teve coragem de deixar seus filhos para trás, por isso tomou-os um em cada braço e voltou para a aldeia. Perplexos, todos a olharam entorpecidos com sua tamanha coragem de desafiar os deuses, de mostrar para toda a aldeia que cometeu um grave pecado. Ela já imaginava o que aconteceria, pois não sabendo qual dos dois era mau, que arruinaria a aldeia, ambos seriam condenados à morte. Era o que a tradição mandava.

A mãe lamentou magoada ao marido. Perguntava-se o que teria feito aos deuses para que se enfurecessem tanto com ela, ou ainda, que castigo seria esse de separar a luz e as trevas de um filho em dois corpos por culpa da mãe?

A mãe, com dor no coração, sabia que era o certo a se fazer e deixou que seus filhos fossem levados.

Ao chegar no grande chefe, a decisão estava tomada: como esperado, os recém-nascidos deveriam ser mortos, pois não poderia se distinguir qual dos dois era bom ou mau. As consequências e os riscos que a aldeia corria eram altos demais, não havia outra escolha para o destino daqueles dois.

A hora da execução foi determinada, mas os resmungos daqueles bebês “inocentes” estavam mexendo com o coração do executor. Ele olhou para os pequenos com pena e disse ao chefe que não poderia fazer tal crueldade com aquelas criaturinhas, por mais que fossem causar desgraça à aldeia. Outros candidatos também tentaram, mas falharam. Então, sem opção, o chefe ordenou que a mãe os deixasse na floresta para que os deuses decidissem seus destinos.

Foi o que fez...

Abandonados sozinhos no meio da floresta, contavam somente com a piedade dos deuses.

Anos se passaram e tudo estava indo perfeitamente bem para a aldeia. Nenhum novo mau agouro chegou àquele lugar durante os anos que haviam passado. Certo dia, porém, um dos homens saiu para caçar e nunca mais voltou. Depois dele, outros caçadores e pescadores saíam da aldeia com a intenção de buscar alimento para os demais e nunca mais retornaram. Intrigado, o chefe pediu para um pequeno grupo ver o que estava acontecendo com os que não voltaram, rezava para que não tivessem sido capturados por outra tribo inimiga, mas questionava-se: o que outra tribo faria ali em suas terras?

Um pequeno grupo de bravos homens foi à procura dos perdidos. Andaram por algumas horas tentando encontrar algo que os levassem ao fim do mistério. No caminho, sentiram o cheiro do sangue, viram manchas vermelhas espalhadas sobre as folhas da mata e então, um corpo. Um dos índios pescadores não tivera sorte, talvez tenha sido uma onça, pelas marcas, sim, uma onça o teria pego de surpresa. Mais à frente encontraram os outros corpos, todos muito machucados. Intrigado, o líder da expedição pediu aos homens para que retornassem à aldeia, pois nada mais poderiam fazer a respeito dos perdidos.

No caminho de volta, encontraram um menino: um indiozinho vagando sozinho pela mata. O líder olhou para o menino e lhe deu uma bronca, pois ainda não era homem para vagar sozinho e teria de esperar o ritual de passagem, logo percebeu que não seria tão breve, notando o tamanho e a estrutura do corpo do pequeno índio. O menino nada falou, não tinha qualquer tipo de explicação para dar aos homens. O índio então levou o menino à força de volta para a aldeia, dando-lhe sermões durante o caminho.

Mas para a surpresa de todos, ninguém o reconhecia e nenhuma família havia perdido uma criança: a criança encontrada não pertencia àquele lugar. O chefe olhou para o menino sem acreditar, pois ele tinha as marcas de tinta da tribo, tinha as características das outras crianças, mas não seria possível que o menino mudo não pertencesse a ninguém. Quando questionado, ele não respondia nada. Sequer disse seu nome.

Alguns dias se passaram e algo começou a chamar a atenção do chefe. Algo seguia o menino, uma sombra negra, uma espécie de fumaça que, por onde quer que fosse, o acompanhava. Por dias o chefe seguiu o menino e aquela fumaça estava ali, nítida, e em outros momentos parecia ser a sombra de uma criança. Até que um dia viu o indiozinho conversar sozinho com sua sombra. Aquilo só poderia ser um mau agouro, aquele menino traria a desgraça para a aldeia, pois estava falando com uma sombra maligna em forma de gente. O chefe reuniu os homens e compartilhou sua descoberta. Aquela criança não pertencia a eles, disso já tinha certeza, e por mais que tivesse seus traços e suas marcas, não pertencia àquele lugar e só restava-lhe ser expulsa ou executada.

Chegaram à conclusão de que era melhor expulsar o pobre menino, mas ele não aceitou a rejeição: chorou e esperneou para não ser jogado sozinho na floresta. Estava gostando de estar com os demais, estava gostando dos novos amigos, e ficar sozinho de novo não era algo que almejava.

Ninguém ouviu seu lamento, ninguém se compadeceu do menino índio. Era ele ou a tribo inteira.

Por mais que o menino fosse expulso, ele sempre voltava para a tribo com medo da solidão, da escuridão da mata, dos animais selvagens que se escondiam. Na aldeia estaria seguro, mas sempre que voltava era expulso novamente, enxotado como um cão sarnento. Não acreditando no retorno e com mais reclamações por parte da aldeia, o chefe então ordenou que executassem o menino caso fosse visto na aldeia de novo. Mais uma vez, o menino estava lá, se misturando e brincando com as outras crianças, por mais que tivesse sido alertado da ordem de sua morte, mas ele não se incomodou e continuou a voltar.

Em uma noite, um pequeno grupo de quatro índios se preparou para matar o menino enquanto ele dormia, para assim evitar seu sofrimento e terror, mas algo aconteceu. Ao tentar desferir uma punhalada no menino, a sombria fumaça envolveu o homem e o sufocou até a morte. Espantados com o que viam, os outros três participantes tentaram inutilmente atacar a sombra, e por ela foram estraçalhados. O menino acordou apavorado e correu, mas o terror já estava mais do que espalhado, e na tentativa de proteger a aldeia, os demais homens da tribo tentaram tirar a vida da criança selvagem.

Sangue, terror, gritos.

Sombra, fumaça, fogo.

Medo.

No meio de toda a confusão, uma índia permaneceu abraçada com as crianças tentando entender a real situação, até que seus olhos se encontraram com os do pequeno índio rejeitado e ambos se atentaram para seus rostos. Ela reconheceu o indiozinho apavorado seguido pela sombra em sua forma. Há muito tempo ela o deixou nascer. Ela o segurou nos braços, ela viu seus olhos desesperados por leite, ela o amou por um tempo e o deixou à própria sorte junto ao seu irmão que agora era a sombra.

A aldeia não existe mais. As poucas pessoas que sobreviveram mudaram-se para outras partes da floresta, outras foram para aldeias de aliados. A história se espalhou e aquela parte da floresta ainda é evitada pelos nativos, uma vez que o medo de encontrar a sombra vagando ao lado de seu irmão é mais do que compreensível. Na época que ouvi essa história, disseram-me que ainda é contada para todos que tivessem coragem de ouvir a história do pequeno índio bom e sua sombra má.

16 de Março de 2018 às 04:23 4 Denunciar Insira Seguir história
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Olá, eu sou a MRz e venho pelo Sistema de Verificação do Inkspired. Sua história está “em revisão”, pelos seguintes motivos: 1) O capítulo 2 apresenta palavras de baixo calão várias vezes, o que torna impróprio para a idade estabelecida. Sugiro que aumente a censura para 18 anos. 2) Há alguns erros com vírgulas. 3) Algumas palavras foram escritas errado e frases que faltam palavras para fazer a ligação entre suas orações. São errinhos pequenos, que acredito que uma revisão já ajuda. Depois de corrigido esses erros, é só responder esse comentário para que eu faça uma nova verificação. De resto, a história está maravilhosa, parabéns!
March 05, 2019, 00:22

  • Izabelly Rodrigues Izabelly Rodrigues
    Olá! Obrigada pelo Feedback. Minha história já está revisada e classificação correta. March 16, 2019, 04:22
Megan W. Logan Megan W. Logan
Olá! Tudo bem? Adorei a sua história, ela é muito boa e bem misteriosa! Gostei da sua escrita, pois ela envolve o leitor, pois torna fácil se situar na história. Somente vi alguns pequenos errinhos de português, que com uma pequena revisão você consegue arrumar, no mais isso não interfere na compreensão e fluidez do seu texto. O personagem principal da trama é bem instigante e forte, um mistério envolve ele, que prende o leitor a querer ler todo o texto. Gostei bastante da história, parabéns! Beijos!
September 08, 2018, 02:33

  • Izabelly Rodrigues Izabelly Rodrigues
    :D Muito obrigada, que bom que gostou. EU ainda não postei o restante, pois ainda estou escrevendo, espero que continue acompanhando e muito obrigada pelo comentário, vc fez o meu dia. Quantos aos erros, eu vou arrumar. Obrigada!!! September 08, 2018, 02:55
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