hikarinohimewriter HikariNoHime Writer

Todos tinham sentimentos, desejos e segredos que não podiam contar a ninguém. Lelouch não era uma exceção. Em suas últimas horas de vida, ele só podia extravasar seus sentimentos de uma única maneira: música. (Música da fanfic: https://www.youtube.com/watch?v=wgPh3mSYf0M)


Fanfiction Anime/Mangá Todo o público.

#Drama #Lelouch & Suzaku #Spoilers #Code Geass
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Capítulo Único

Por mais de um ano Lelouch não se aproximou de um piano. Cada nota que tocava era uma extensão de si mesmo, revelava até ao mais desatento dos homens tudo o que se passava em sua mente e coração. Quantas vezes já tivera que lidar com sufocantes palavras de conforto por causa de suas músicas? Ele era como um livro aberto sempre que tocava. Lelouch odiava sentir-se tão exposto. Além disso, ele não podia simplesmente demonstrar seus sentimentos dessa forma durante a guerra que ele mesmo iniciou.

Mas não agora.

Esta era sua última chance. Em poucas horas ele já não estaria em lugar algum, morto pelas mãos de seu melhor amigo. Uma vez que deixasse a segurança de seu quarto, Lelouch nunca mais poderia agir como ele mesmo. Não, ele seria o Imperador, aqueles a quem todos — incluindo as duas pessoas que mais amava — odiavam. E ele sabia que eles ficariam felizes com isso. Com a liberdade que sua morte traria.

A queda de um demônio, justiça pelos mortos, era o que ele pensava.

Puxando o manto que cobria o piano negro, Lelouch logo sentou-se sobre o banco. As teclas estavam empoeiradas pelo longo tempo sem uso. Ele não se importava com isso. A primeira nota soou pelo quarto, hesitante, enquanto ele se esforçava para lembrar sua melodia preferida.

Ele se lembrava de ter tocado essa música no primeiro aniversário de Nunnally após o atentado. O falso atentado, corrigiu-se mentalmente, o plano cruel de seus pais voltando à sua memória. E dessa forma as notas incertas foram tomadas por uma fúria incontida. O rosto lacrimoso de sua irmã naquele dia e as palavras “eu queria poder te ver agora” ainda o machucavam.

Lembrou-se de Euphemia quando ainda eram crianças e ela fazia de tudo para se juntar a ele nas aulas de piano. Nunnally sempre ficava com ciúmes nessas horas. As duas podiam passar horas e horas brigando sobre quem seria sua esposa e nunca chegariam a lugar algum. Cornelia e Clovis até mesmo apostaram em quem Lelouch escolheria quando crescesse.

Ah, se eles soubessem...

Lelouch amou muitas mulheres, de fato, mas só se apaixonou por uma única pessoa em toda sua vida. Um garoto de cabelos eternamente bagunçados, olhos cor de grama e um sorriso tão brilhante quanto o sol. Um garoto que arrancou dele seu primeiro sorriso depois de ser expulso de seu próprio país e agora o odiava mais do que qualquer outra pessoa.

As notas altas de sua balada eram uma mistura de dor e nostalgia. Lelouch já podia sentir a garganta arder com as lágrimas que começavam se formar. Ele odiava se sentir tão exposto e odiava ainda mais chorar. Suas lágrimas eram um sinal de fraqueza — uma fraqueza que ele não deveria demonstrar nunca mais.

Os dias em Ashford foram, sem dúvida, os mais felizes de sua vida. Céus, como ele desejava ter percebido isso antes. Talvez assim ele pudesse ter aproveitado mais a atmosfera serena e amigável, como um verdadeiro lar, que a escola possuía. Agora ele jamais poderia voltar àquele lugar, tampouco poderia voltar aquele uniforme com o mesmo orgulho de antes. Mesmo se isso fosse possível, seus amigos já não estavam mais lá. Nina era parte do exército agora. Kallen, sua refém por conspiração. Milly decerto seria aquela a anunciar sua morte nas emissoras japonesas. Rivalz nunca o aceitaria de volta ao jeito que eram antes. Rollo e Shirley já estavam mortos — mortos por sua culpa.

Já não havia mais nada para ele naquele lugar. Nada, nem ninguém.

A primeira lágrima caiu. As notas do piano agora estavam baixas e melancólicas tal qual a música exigia, mas havia algo mais. A tristeza que ele sentia era real. Amargura e arrependimento se mesclavam e tonteavam o jovem imperador. Arrependimento por todas as coisas que não fez e não disse.

Havia tantas coisas que ainda queria fazer. Queria se desculpar a Cornelia por Euphie. Queria mostrar a Nunnally o quão belos eram os jardins de Ashford agora que ela podia enxergar. Queria seguir com seu sonho de infância e abrir um lar para todos os órfãos de guerra — apesar de tudo, Lelouch sempre amou crianças. Queria gritar com C.C por ter lhe dado o Geass e agradecê-la por ter estado ao seu lado até então. E Suzaku. Lelouch queria tanto, tanto poder dizer a ele que o amava, que sempre o amou.

Seu peito doía. Suas lágrimas já estavam fora de controle. O relógio do palácio de Viceroy soou o meio-dia. Suas badaladas foram abafadas pelas notas altas da música. Era hora. Seu mundo acabaria assim. A imagem que todos teriam dele era a de um tirano cruel e inescrupuloso. Um demônio, Nunnally dissera, um assassino covarde, a voz de Suzaku ainda ressoava em sua mente.

Não, não e não.

Lelouch não queria isso. Ele não queria morrer e deixar as coisas desse jeito. Tudo o que queria era continuar sendo o irmão mais velho de quem Nunnally costumava falar com tanto orgulho. O melhor amigo cuja péssima aptidão física era motivo de piada para Suzaku. O estudante impecável de quem seus colegas de escola se tornaram próximos durante os anos.

Ele se perguntava se o deus do mundo de C podia vê-lo e ouvi-lo. Esperava que sim. Lelouch foi aquele que salvou sua existência, afinal. Ele ainda o devia um favor. Sua última esperança de ter seu desejo realizado. A música já tinha chegado ao seu fim. Suas lágrimas já não mais caíam, enxugadas sem cuidado pela manga branca.

A porta se abriu silenciosamente. Suzaku ainda usava seu uniforme de Zero. Ele anunciou que já estava na hora de saírem para a execução dos traidores. Irônico. O único a ser executado era Lelouch.

Havia algo no rosto dele, um brilho estranho nos olhos verdes que Lelouch não conseguiu decifrar. Não havia porque tentar. Tudo o que ele não precisava era de mais motivos para desejar abandonar seu plano quando já estava tão perto.

A mão de Suzaku o impediu de continuar. O aperto era trêmulo demais para alguém que estava feliz. Ele deveria, não é mesmo? Ele finalmente vingaria Euphemia. Ainda assim...

— Suzaku? — chamou.

Um longo silêncio pairou sobre eles. Suzaku recusava-se a encará-lo. E quando Lelouch pensou que não obteria uma resposta, a voz do japonês veio em um sussurro:

— Obrigado pela sua música — disse e logo aperto se fora.

Lelouch fez o melhor que pôde para ignorar aquele abafado soluço que escapou de Suzaku. Não iria fazer mais nada para prejudicá-lo — já fizera muito apenas ao obrigá-lo a usar para sempre a máscara de Zero.

Mas ele se importava, seu coração não poderia estar em um estado tão próximo de paz. E tudo o que Lelouch mais queria era que Suzaku não se esquecesse daquele momento, de todos os sentimentos contidos nas notas do piano.

E, mais do que tudo, queria que ele e sua irmã pudessem olhar para o passado algum dia e vê-lo apenas como Lelouch Lamperouge.

Esse era o seu último desejo.

Para sempre.

7 de Março de 2018 às 18:28 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

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