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Bruna Catarina


Numa sociedade onde apenas algumas pessoas tem o dom de ver a alma gêmea de qualquer pessoa, tais pessoas se garantem por toda vida trabalhando como cupidos. E ao se descobrir uma delas, Hanz decide usar seu dom para mudar de vida. Mas toda a sua visão de mundo parece mudar quando ele conhece seu parceiro, o jovem prodígio Valentine.


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#romance #lgbt #Valentine #original
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-Bom dia e seja bem vindo à nossa empresa! Meu nome é Valentine, e eu serei o seu mentor durante sua iniciação. - disse o jovem, sorrindo transmitindo alegria. O rapaz era muito menor do que o outro com quem falava, e era óbvio que a situação seria um tanto estranha. Vestindo uma jaqueta de couro e jeans escuros, o mais alto obviamente parecia muito mais adulto e imponente que o outro, que usava o uniforme da empresa, uma calça branca e uma camiseta com a logo. Mas Valentine não deixava transparecer sua intimidação. Ele era o mais experiente ali, então tecnicamente ele tinha toda a razão por falar daquele jeito e se portar assim. Valentine fora designado para guiá-lo como aprendiz, e ele parecia focado em fazer dar certo.

-Você é meu mentor? - questionou o outro rapaz, erguendo a sobrancelha. O menino que seria seu suposto mentor não parecia ter mais de 20 anos, com seus cabelos loiro-escuros, quase castanhos, olhos verdes brilhantes e sorriso inocente. Ele esperava um homem mais velho, de no mínimo uns 40 anos, para ensiná-lo. A última coisa que esperava era ter como guia um jovem mais novo que ele.

-Sim, sou sim. Sei que não parece, mas eu sou muito experiente. Um dos melhores do ramo, eu te garanto. - dizia Valentine, sorrindo com confiança. Ou o quanto dela ainda lhe restava após os olhares duvidosos do rapaz. - Sei que você é novo nesse ramo do romance, mas eu sou o que chamam de prodígio. Eu demonstrei meus talentos quando muito pequeno, e comecei como aprendiz aos 14 anos aqui. - ele disse, fazendo o outro rolar os olhos. Ele não parecia fazer o tipo metido, mas talvez ele tivesse se enganado. - Mas você não veio para ouvir a minha história de vida. Você veio trabalhar. - disse Valentine, sorrindo, guiando-o em frente no grande hall da empresa. - Qual o seu nome, aliás?

-Ah. É Hanz.

-Muito prazer, Hanz. - disse Valentine, levando-o a crer por um momento que talvez ele não fosse tão metido quanto parecia. - Quando você floresceu?

-Uh… Faz… Um ou dois anos, mais ou menos. Não muito. - disse o rapaz, dando de ombros.

-Sabe como funciona tudo isso? - perguntou Valentine.

-Na verdade não… - admitiu ele, desviando o olhar.

-Imaginei. - ele disse, com um sorriso compreensivo. - Mas tudo bem. É normal chegar aqui sem saber como tudo funciona. A maioria só sabe de tudo se tiver algum parente que também seja cupido. Então eu vou te dar a explicação padrão, ok? - perguntou ele. O outro assentiu, e com um sorriso ele iniciou o tour pela empresa.

Eles seguiram pelo enorme hall de entrada do prédio. O teto era decorado com pinturas de anjos e delicados arabescos dourados. As paredes eram de um tom azul bem claro, com detalhes em dourado, como no teto. Todo o cômodo tinha um estilo Rococó, clássico porém nada simples. Refletia o nível da empresa, no mínimo. Havia uma recepção grande, com várias mesas com atendentes e uma sala de espera bem cheia. E seguindo em frente havia elevadores, para onde Valente seguia.

-A Eros: Companhia de Cupidos é uma das empresas mais tradicionais no serviço de combinação de casais. Como todos sabem, nossa sociedade é composta por pessoas normais e pessoas com habilidades especiais. Alguns de nós acabam descobrindo em algum momento de sua vida que podem ver a conexão entre as almas de duas pessoas. A conexão de almas gêmeas. Essas pessoas são os cupidos. Eles são marcados por mechas que podem surgir no momento da descoberta do dom, o chamado florescimento. Podem ser brancas, cor de rosa ou vermelhas. - explicava Valentine, atravessando o enorme cômodo E parando em frente a um elevador, apertando o botão para subir. Ele então pegou as duas mechas, uma branca e uma rosa, que se destacavam na frente do seu cabelo. - Vê as minhas? - o outro apenas assentiu, pensando na própria mecha. Em meio aos cabelos negros uma mecha branca surgiu há algum tempo, por sorte até que um pouco mais discreta que as duas mechas de Valentine, que se destacavam bem na frente do cabelo, no meio do rosto.

-Eu tenho uma branca aqui atrás. - comentou Hanz, passando as mãos pelos cabelos.

-Tem? Posso ver? - pediu Valentine, visivelmente curioso. Hanz assentiu, dando de ombros, ganhando um sorriso do outro rapaz. Ele se aproximou do aprendiz e passou a mão pelos seus cabelos pretos, até achar a mecha branca entre eles. - É bem discreta. - disse ele, sorrindo. - Bem mais que as minhas com certeza. Combinou com você. - concluiu sorrindo, antes de se afastar. O contato fora menos desagradável do que Hanz esperava. Valentine fora delicado com ele e não tinha nenhum ar de zombaria na sua atitude. Ele começava a tentar deixá-lo confortável ao que parecia, o que era muito bom, considerando que eles seriam colegas de trabalho.

-Eu… Obrigado, eu acho. - disse Hanz, com um sorriso de canto.

-Ah, olha só, você consegue sorrir! - brincou Valentine, rindo em seguida. Hanz fechou a cara, e Valentine parou de rir. - Ah, vamos, só estou brincando. Você fica bonito sorrindo. - ele disse, fazendo Hanz relaxar. Ele não recebia elogios com frequência, então aquilo o deixou mais certo que Valentine queria um clima tranquilo entre eles, permitindo-o relaxar novamente. - Enfim. Você, por ser novo no ramo e ainda não entender bem tudo isso, vai começar na empresa no cargo mais básico. O de aprendiz. Você irá acompanhar o seu parceiro em todo tipo de trabalho, e durante o período de um ano você deverá obrigatoriamente trabalhar com ele, apenas com ele e sempre com ele. No caso, seu parceiro serei eu. - explicava Valentine. - Se você estiver de acordo com isso, é claro… - ele disse, encolhendo-se com a última frase. Como se tivesse medo que Hanz o rejeitasse como parceiro.

-Por mim parece bom. - disse Hanz, para tranquilizá-lo. - Não conheço a indústria, eu nem sei usar o meu dom direito, então… Ter você como parceiro parece bom. - ele disse, mantendo-se em poucas palavras, como sempre. Um homem simples, de falas resumidas.. Mas muito bem expressadas, visto que Valentine sorriu. Ele entendeu a mensagem, e ambos estavam de acordo em manter-se em paz e se dando bem, quem sabe.

-Fico feliz! - disse Valentine, com o sorriso gentil no rosto. O elevador então finalmente chegou, abrindo as portas para recebê-los. - Então, vamos subir? - ele perguntou, e Hanz apenas assentiu, seguindo-o para dentro, parando ao seu lado. Valentine apertou o botão do oitavo andar e pouco depois as portas se fecharam, e o elevador começou a subir.

Os dois ficaram em silêncio, mas um silêncio confortável, com apenas um ar de curiosidade, um pelo outro. Quando as portas se abriram, Valentine guiou-o pelos corredores, preenchidos por portas com nomes escritos. Escritórios. Até diminuir o passo ao se aproximar de uma porta com um homem na frente desta. Numa plaquinha dourada, lia-se o nome dele, “Valentine” e logo abaixo, o homem terminava de colocar uma segunda placa, que dizia “e Hanz”. Os dois dividiriam uma sala. Com um sorriso, Valentine cumprimentou o homem, provavelmente um “faz-tudo” da empresa.

-Bom dia, Frank! - ele disse.

-Ah. Bom dia, Valentine. - disse o homem, sorrindo. Ele era bem mais velho que ambos os rapazes, parecendo já estar na faixa dos 40, talvez até 50 anos. Os cabelos escuros já começavam a dar lugar a fios grisalhos, e ele tinha uma barba por fazer no rosto que já demonstrava sinais de idade. O homem não estava em forma, tendo sua barriga pronunciada sobre as pernas não muito grossas, e o homem também não era alto, ficando por volta da altura de Valentine, mais baixo que Hanz.

-Como estão seus filhos? - perguntou Valentine, não parecendo perguntar para ser gentil, mas sim por estar genuinamente curioso.

-Bem, bem. Minha menina cresceu muito desde a última vez. Logo vai vê-la de novo, no dia de trazer seus filhos ao trabalho. - comentou o homem, sorrindo.

-Ah, que bom saber! Sabe como eu a adoro. - disse seu parceiro. É, ele fazia o tipo que gostava de criança.

-E ela te adora. - concluiu Frank.

-E vejo que a placa do meu parceiro já está aí. - disse Valentine, animado.

-Está sim. Ficou muito bonita, inclusive. - comentou Frank, orgulhoso de seu trabalho ao ver a placa perfeitamente reta na porta.

-A nossa sala já está arrumada? Eu queria mostrá-la ao Hanz. - perguntou Valentine, fazendo Hanz sorrir de canto. Ele dissera “nossa” sala. Valentine estava, de fato, animado com o fato de ter um parceiro.

-Está sim. Já colocamos a mesa e a cadeira. - confirmou Frank.

-Ótimo! Obrigado, Frank. - agradeceu ele.

-É apenas o meu trabalho. E seja bem vindo, Hanz. - disse o homem, sorrindo, antes de se virar e partir.

-Bem. - disse Valentine, trazendo a atenção de Hanz de volta para ele. - Ao trabalho. - e ele entrou na sala.

Era uma sala bem simples, como Hanz esperava. As paredes eram de um azul bem claro, com um piso branco, inspirando um ambiente tranquilo. Na parede em frente à porta, havia uma janela, com delicadas cortinas brancas abertas e um banco estofado abaixo dela. Era uma bela vista, e o banco - que provavelmente Valentine quem colocara - tornava a janela atrativa para dispersar um pouco a mente. E nas paredes laterais, haviam duas mesas de madeira, exatamente iguais, uma de frente para a outra, uma de cada lado. Uma cadeira estofada e com rodinhas, típica de escritório, acompanhava cada mesa. A notável diferença era que a mesa da direita tinha apenas uma placa dourada com o nome “Hanz” e um computador. Enquanto a da esquerda, além da placa escrito “Valentine” e o computador, tinha um quadro de fotos virado em direção à cadeira, uma pequena pilha com três livros, um telefone e um caderno com um cãozinho na capa. A parede atrás da mesa de Valentine tinha um calendário, já na página do mês de Fevereiro, e alguns quadros com fotos de Valentine com pessoas. E na parede da direita, havia uma faixa com os dizeres “Seja bem-vindo, Hanz!” apenas, mas foi o suficiente para fazê-lo sorrir.

-Você quem colocou? - perguntou Hanz.

-Sim. Eu… Achei que fosse gostar. É muito bobo? - perguntou Valentine, receoso. Ele só queria que Hanz ficasse feliz e se sentisse aceito no novo trabalho. Hanz sabia disso. E apreciou o gesto, demonstrando ao dar um sorriso de verdade ao parceiro.

-Não, não é. Eu gostei muito. Obrigado. - ele disse. Valentine abriu um enorme sorriso, visivelmente feliz, e então foi em direção à mesa de Hanz.

-Eu pensei em almoçarmos juntos mais tarde também. Conversar e se conhecer, sabe como é. - ele sugeriu.

-Eu adoraria. - disse Hanz.

-Ótimo! Então vamos seguir com o que eu planejei te mostrar. - concluiu Valentine, parando ao lado da cadeira. - Pode se sentar. Vou te mostrar o seu computador. - ele disse, se abaixando para ligar o computador e ao levantar se curvando para pegar o mouse.

Hanz não pôde deixar de notar que apesar de bem jovem, Valentine tinha um corpo bonito. Ele não era musculoso nem nada, mas não era nada a se ignorar. Principalmente seu quadril, que no momento estava bem visível, levantado por ele estar curvado. Era errado olhar. Hanz sabia que era errado olhar. Mas estava ali, levantado, e que quadril... A curva nada sutil atraiu o olhar de Hanz, que seguiu suas curvas até parar nas suas coxas, também de um tamanho generoso. O seu peito era reto, e ele não parecia ter barriga, ou pelo menos não muita. Ele era bem masculino, mesmo com a camiseta rosa e as mechas rosa e branca em seu cabelo, bem fora do padrão de masculinidade. Hanz, que não esperava trabalhar com alguém na sua faixa de idade, se viu surpreso com o que encontrara naquela empresa. Ele esperava velhos tradicionais e no máximo gente desesperada por dinheiro. Ele não esperava um jovem como Valentine. Ele acreditava nos valores da empresa? No amor? Jovens ainda acreditavam nisso, em geral? Talvez ele só estivesse pelo dinheiro, como ele. Mas se fosse o caso, por que começar tão cedo? 14 anos? Hanz se sentia cansado só de pensar. Ele seguiu e se sentou na cadeira como Valentine pediu, e então o jovem recomeçou a falar.

-Como nós podemos saber quem é a alma gêmea de quem, as pessoas nos contratam para acharmos um par para elas. O seu computador é onde você vai redigir os seus relatórios, falar com os nossos chefes e nossos clientes e manter anotações se quiser. Se preferir, você pode ter um caderno pra isso, como eu, e guardar nas suas gavetas. - dizia Valentine. Hanz assentia e o outro seguiu com a explicação. - O seu acesso no computador é esse aqui. Eu salvei nesse arquivo de bloco de notas e anotei nesse post it. - disse Valentine, abrindo o arquivo e apontando o post it amarelo com o mesmo acesso escrito colado no monitor. - Você pode salvar seus relatórios nesta pasta compartilhada no sistema. Aqui vão os relatórios semanais e aqui os finais. Mas os finais, por serem mais difíceis e importantes, eu quem vou fazer, então não precisa mexer nesta aqui. Ah e pode usar a internet também, só que tem filtros e sabe como é, eles vigiam, então não abusa. - dizia Valentine enquanto mostrava as pastas e tudo mais, rindo no final. - Basicamente é isso. Você pega com o tempo, e qualquer coisa me pergunte. Tudo certo?

-Tudo. Parece simples. - disse Hanz. Valentine riu.

-Por enquanto, claro que é. - ele disse, erguendo-se. - Logo vai ver como é todo esse negócio de cupido e tudo mais. Mas espero que goste. - disse ele, sorrindo.

-Acho que vou gostar sim. Eu definitivamente gosto do salário que me prometeram, para começar. - disse Hanz, sorrindo. Valentine riu, assentindo em concordância.

-É, o salário é muito bom. - disse Valentine, sentando-se no banco perto da janela. - Eles nos pagam bem porque nosso dom é raro… - explicou o rapaz, pensativo. - Pagam muito bem pelos nossos serviços. Nem todo mundo tem paciência pra esperar destino.

-É, verdade. A maioria não tem. - concordou Hanz. - E muitos acreditam mesmo no amor. Você acredita Valentine?

Mas antes que ele pudesse responder, o telefone na mesa dele começou a tocar. Com um suspiro, ele se levantou e foi até ela, atendendo o aparelho, enquanto Hanz olhava ao redor, e para além da janela. Ele ouviu Valentine falar com alguém e dizer que eles estariam indo logo. Eles? Ah. Hanz teria que falar com mais alguém. Que ótimo.

-Hanz? - disse Valentine, ao desligar o telefone.

-Diga. - ele disse, sorrindo.

-O chefe quer te ver. - disse o rapaz. - Podemos ir?

-Temos alguma escolha? - perguntou Hanz, se levantando e dando de ombros.

-...Você tem um ponto. - disse Valentine, com um sorriso divertido.

-Então vamos.

4 de Março de 2018 às 15:38 0 Denunciar Insira Seguir história
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