juniwinkle periwinkle

Para Kris, nada poderia o surpreender mais do que ver Kim Junmyeon, o maior nerd que conhecia e lhe dava aula, fazendo parte de um clube de motoqueiros do qual seu pai sempre falava. Aquilo apenas provava que Kim Junmyeon era muito mais do que os olhos poderiam ver.


Fanfiction Impróprio para crianças menores de 13 anos.

#KrisHo #Motorclub #Krisho #exo #kpop #kris #suho #yaoi
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Capítulo Único



— ...o móvel se deslocará para a frente em uma trajetória que vai até uma altura máxima e depois volta a descer, formando uma trajetória parabólica. — lia o último parágrafo do que estava escrito no caderno alheio em letras beirando o incompreensível. — Entendeu?


Kris respondeu que não, pois realmente não havia entendido nada. Toda aquela explicação sobre lançamento oblíquo entrou em sua cabeça, deu uma volta e se perdeu em seus pensamentos. Pensamentos esses que eram sobre como aquele que lhe dava aulas era bonito. Nunca conseguia entender nada em física, não era à toa que estava tendo aulas extras com o melhor aluno da sala, talvez até do colégio, Junmyeon.


— Eu não acredito... Já é a terceira vez que leio isso para você, Kris. — suspirou frustrado, massageando as têmporas. — Detalhe, este é seu caderno. Seu! Precisa prestar mais atenção nas aulas, cara. Evita de copiar enquanto o professor explica e... — Lá estavam os dois na mesma cena de sempre, o menor lhe dando sermões e Kris apenas observando como os lábios delicados e chamativos do outro se moviam enquanto falava.


Às vezes, Yifan realmente sentia pena dele. Era um aluno exemplar, uma pessoa legal com todo mundo, tão legal que aceitou a proposta de ter que aturar alguém tão desleixado como ele, o – quase – pior aluno da sala. Enquanto ele se esforçava em sala e tirava as melhores notas, o outro apenas queria recuperar as horas de sono usadas na noite anterior para poder chegar logo ao Platina em Overwatch. Só não se arrependia de ter pedido porque foi assim que eles começaram a se aproximar, a conversar um pouquinho mais e ter mais coragem de andar com ele por aí, usando de argumento que estava, na prática, absorvendo mais conhecimento ao seu lado. Isso só não deixava o menor sem graça pois talvez, no fundo de seu íntimo, correspondia o sentimento tão estranho que ele tinha consigo.


— Tudo bem... — disse após respirar fundo e recuperar sua paciência. — Vou tentar te explicar de novo e depois vamos passar logo para os exercícios. Hoje vou ter que sair mais cedo de novo, então não vou passar muita coisa, ok? — indagou sem nem fitar o outro, continuando a passar as páginas de sua apostila apressadamente até chegar ao tópico que o outro custava a compreender.


Junmyeon voltou a explicar a matéria novamente, desta vez, de forma mais simples. Usando exemplos do dia a dia, gesticulando e ensinando até músicas para decorar as fórmulas, e com tudo isso, Kris finalmente havia entendido aquela parte irritante da matéria. Agora era só praticar junto do outro, fazendo uma e outra questão com aquela proximidade que embolava novamente seus pensamentos e fazia-lhe focar toda sua concentração em manter o controle, ao invés de forçar sua massa cinzenta a se lembrar qual era o cosseno de trinta.


— São quase cinco horas, você vai sair agora? — perguntou como quem não queria nada, rezando para não ter que resolver mais uma questão daquelas.


— Do jeito que você está ferrado em física, não me expulsaria desse jeito da nossa aula. — brincou, mesmo tendo seu fundo de verdade, conferindo por si só no relógio do celular e levantando-se para guardar seus materiais. — Se bem que, você está melhorando muito. Continue assim. — E o sorriso já existente acabou se tornando mais alegre, orgulhoso até. Não resistiu em afagar brevemente os fios negros do maior antes de fechar a mochila e joga-la nas costas.


— Só você mesmo para ter paciência de me explicar essa merda. — respondeu, respirando fundo para não desfigurar o rostinho perfeito alheio com o ato de implicância, contendo-se em apenas ajeitar os fios milimetricamente desgrenhados usando o reflexo da tela do celular como espelho. — Nos vemos segunda? — levantou-se também, enquanto jogava os materiais de forma descuidada em sua mochila. Se Junmyeon não estivesse com pressa, com certeza Kris estaria a assistir mais uma de suas palestras sobre como deveria ter cuidado com seus pertences.


O outro apenas assentiu, despediu-se com um aperto de mão e saiu apressadamente da biblioteca para o tal compromisso importante e secreto de sexta-feira, ignorando completamente os braços abertos de Kris esperando um abraço que nunca viria.




Já em casa e de banho tomado, sentou-se com as pernas longas estendidas numa forma desleixada de se postar na frente do computador, preparando-se para mais oito horas jogando sem parar para comer ou dormir, quando foi surpreendido com sua visão sendo coberta por algum tecido pesado.


— Que porra é isso? — indagou irritado, retirando a pesada jaqueta de couro de seu rosto e jogando de qualquer jeito no lado da mesa, podendo assim digitar seu nome de usuário e senha da conta.


— Veste agora, você vai comigo no encontro da Road Angels. — respondeu ríspido, pegando a peça novamente e a atirando no colo do mais novo.


— Quem disse? — rebateu com uma das sobrancelhas arqueadas e os braços cruzados.


— Eu, seu pai, que manda em você. Vamos, por favor. Eu disse pro pessoal que iria te levar, eles estão doidos para conhecer o meu filho bonitão. — sorriu convidativo, dando algumas cotoveladas no braço do que já estava passando vergonha sem nem ter saído de casa. Devia ser realmente bonito para que aqueles velhos estranhos de bandana acharem isso mesmo com as fotos terríveis que tinha certeza que seu pai guardava.


— Você tem fotos minhas, tem meu número de celular, minhas redes sociais... Só passar para eles. — deu de ombros novamente, tateando o móvel em busca de seus headphones.


— Anda, vamos. Tem gente da sua idade lá, um garotinho muito sangue bom. Se você fosse menina, com certeza iria querer que ele fosse meu genro. — Ah se seu pai soubesse que Kris aceitaria se casar com um garoto...


— Problema é dele, pai. Eu já disse que não vou. — bufou, quase desistindo de ainda tentar conversar pacificamente com ele.


— Vamos, por favor! Eu peço para ele te ensinar a andar de moto, que tal? — praticamente implorava, tentando imitar o barulho do motor e o gesto que se fazia para acelera-la, rendendo boas risadas ao Kris. — Imagina só, você já é bonito, e sabendo andar de moto? Vai fazer muito sucesso com as gatinhas. — teve que ceder, não conseguia mais segurar as gargalhadas das palhaçadas do mais velho, sem contar que não o via radiante assim faz anos.


— ‘Tá, eu vou, eu vou. — fechou todas as guias e desligou o computador, colocando roupas mais apresentáveis que tinha, antes de vestir a jaqueta de couro e ajeitar uma última vez o topete no pequeno espelho da sala.


Não estava muito animado para aquilo tudo, só aceitou ir porque sabia que seu pai estava ansioso para mostrar seu filho a todos os amigos. Tudo bem que seu gosto musical e o de quem sempre organizava a playlist do encontro eram basicamente os mesmos, porém, para ele, não era muito fácil ficar num lugar onde tinha que resistir muito para não beber um engradado de cerveja na frente de seu pai, uma vez que não sabia andar de moto, o ponto alto daquele encontro.


Kris já estava na garupa da queridinha de seu pai, uma Softail Heritage preta clássica, agarrado ao outro com uma pontada de medo de se acidentar com ele. O grisalho não era muito são, um legítimo costureiro no trânsito, tanto que ganhou uma grandiosa cicatriz em sua panturrilha e no antebraço por esse motivo, então tinha bons motivos para se preocupar.


O céu começava a tomar tonalidades diferentes, denunciando que não demoraria muito para escurecer, e a temperatura ia descendo aos poucos, deixando o ar mais fresco para poder usar uma jaqueta tão pesada quanto a de todos que estariam por ali. Pela quantidade de motos enfileiradas e alinhadas, o encontro já havia começado a um tempo, então o mais velho não demorou para estacionar ali também para irem juntos ao pub, que fazia parte do conjunto de lojas de um posto no meio da estrada.


A iluminação era alaranjada, beirando o vermelho, dando um ar mais aconchegante a área interna, deixando a área externa com uma grande varanda, que se estendia ainda mais por conta do terreno plano e arenoso a sua volta. Só de ouvir o solo de guitarra de Sweet Child O’Mine se sentia mais confortável e animado com aquilo tudo, tentando ser o mais despojado o possível, ao invés de sério e emburrado como sempre.


Cumprimentava todos da forma mais empenhada possível, aguentando todas as vezes que era puxado para um abraço apertado e repleto de cheiro de cerveja, no entanto continuava a procurar alguém que parecesse ter nascido nesse século pelo menos, o tal garoto que seu pai queria lhe apresentar.


Mal havia terminado as apresentações que todos já se reuniam para assistir a um motoqueiro que, em alta velocidade, dava voltas, fazia curvas fechadas, empinava a moto e gerava uma torcida encorajadoras dos outros caras. Kris, diferente deles, estava sóbrio o suficiente para guardar seus gritos para si, mas não conseguia esconder sua expressão surpresa, nem quando segurava a respiração ao ver o tal motoqueiro inclinando-se, quase caindo no chão, para fazer mais uma daquelas curvas, exibindo a potência de sua CB900F Hornet.


— Pai... Ele que vai me ensinar a andar de moto? — indagou, aproximando-se um pouco mais para que fosse ouvido.


— Sabia que você ia se animar quando chegasse aqui. — sorriu convencido, arrancando uma risada discreta do mais alto. — Se quiser eu posso falar com ele quando a apresentação terminar.



Um tempo após tanto dar voltas, manobrou e parou na frente da plateia que o assistia, levantando uma pequena névoa de poeira. Embalado em tantos aplausos e elogios – regados de palavrões – O motoqueiro misterioso retirou cuidadosamente o capacete, ajeitando o topete, agora desgrenhado, e correspondendo tudo aquilo com um sorriso satisfeito. Ao ver o rosto do outro, Kris sentiu suas pernas estremecerem e seus lábios inconscientemente abrirem em surpresa, apoiando-se de forma discreta no pai para não cair ali mesmo.


J-Junmyeon? — acabou gaguejando, ainda sem acreditar no que via, tanto quanto o outro.


— Kris? Você por aqui? — aproximou-se curioso, com o capacete pendurado no braço.


O mais baixo também vestia uma jaqueta de couro e usava um topete como o seu, mas vê-lo com uma roupa que não era a farda do colégio, ou um suéter de lã, e vê-lo com um penteado tão ousado e despojado como aquele era uma surpresa completa para si. Uma surpresa boa, claro.


— Vocês já se conhecem? Ah, menos uma apresentação. — Seu pai entrou na conversa com uma garrafa de cerveja na mão, deixando ambos ainda mais envergonhados do que já estavam. — De onde vocês se conhecem? Você nunca me contou isso, filho.


— Pai, é ele que me dá aulas extras de física. — respondeu coçando a nuca, tendo o outro concordando consigo.


— Além de sangue bom é sabido? Ah, mas que garoto! Você deveria ser assim também, Yifan. — deu mais uma cotovelada no maior, deixando-o completamente sem graça, rendendo risadas à Junmyeon. — Querem? — ofereceu a garrafa de cerveja para os dois, e antes que respondessem negativamente, voltou a falar. — Claro que não querem, crianças não bebem cerveja, não é? — sorriu brincalhão e, enquanto os outros dois se entreolhavam, o mais velho procurou algo no bolso da calça. — Suho, trouxe o negócio que você pediu, olha. — entregou o pequeno objeto na mão alheia. — É esse aqui? Bem, não sei. Só passa as músicas para o seu... como é o nome? Ah, pen drive. Passa para o seu pen drive e deixa a música tocar lá. Adoro quando você bota as músicas para a gente.


— Você é que faz a playlist dos encontros? — indagou, acompanhando o menor, já que não tinha muito a fazer.


— Sim, por quê? Você gosta? — respondeu com outra pergunta, logo tirando suas luvas para fazer o que haviam pedido, não escondendo o sorriso esperançoso.


— É a única coisa que me anima aqui, porque não posso beber cerveja, muito menos sei andar de moto. — acabou arrancando uma risada gostosa do outro que estava tão concentrado passando os arquivos para seu pen drive.


— Um filho de motoqueiro dessa idade que não sabe andar de moto? — brincou, porém vê-lo envergonhado lhe incomodou de certa forma. — Se quiser, posso te ensinar.


— Não precisa, não quero te encher de novo.


— Me encher? Só porque te dou aulas de física? Não esquenta, você é um bom aluno.


— Bom aluno? Eu tiro notas horríveis e você tem que me explicar pelo menos três vezes para eu começar a entender.


— Só de querer ter aulas extras para melhorar sua nota você é um bom aluno. Agora vamos, você vai aprender a andar de moto. — levantou-se rapidamente, tirando o pen drive alheio do computador. Quando o outro iria abrir a boca para contestar, cortou-o imediatamente. — Nada disso, você vai aprender sim! — E pôs-se a empurrar o outro em direção às motos, apoiando as mãos nas omoplatas para que começasse a se mover.


— Para onde vocês vão? — perguntou os pais de ambos, que estavam ali conversando há um tempo nas banquetas altas do balcão, talvez na terceira garrafa de bebida.


— Kris vai aprender a andar de moto. — piscou para o outro e jogou o pen drive para seu respectivo dono, recebendo dele as chaves de sua moto.


Após acha-la entre as demais, levou-a para um lugar mais iluminado, o mesmo onde a alguns minutos estava a fazer manobras, enquanto o maior carregava seu capacete para lá. Antes mesmo que pedisse, já havia montado na moto, esperando as ordens do outro enquanto se familiarizava com as pedaleiras e o guidão.


— Esses aqui são os botões do pisca, a buzina e os faróis. — ia apontando para os respectivos locais no painel, tendo toda a atenção do outro. — Isso aqui indica sua velocidade e esse aqui indica, digamos de forma grosseira, a temperatura do motor. Até aí tudo bem? — assentiu positivamente, repetindo tudo aquilo para gravar em sua mente.


— Agora vamos para as mãos. A direita faz as duas funções mais importantes, acelerar e frear. Para acelerar, você vai torcer o punho, mas bem fraco, ok? Assim. — sobrepôs sua mão à semelhante alheia, aplicando uma pequena força para estimula-lo a fazer o mesmo e a arrastou para baixo, simulando como deveria ser feito para acelerar, mantendo o contato visual. Àquele ponto, Kris já estava começando a ter a respiração alterada, tendo que se acalmar para continuar a prestar atenção na aula. — Daqui você vai usar seus dedos para frear, não precisa nem soltar a mão, só colocar eles ali. — posicionou os dígitos alheios nos locais certos e voltou a aperta-los levemente para demonstrar a força que deveria ser usada. — Mas tem que ser com muito cuidado, qualquer movimento brusco você pode perder o controle. — Mal sabia Suho que o outro já havia perdido o controle faz tempo.


— E esse negócio aqui no pé? — indagou para ao menos tentar se distrair daquela proximidade toda.


— Esse é o pedal de freio e aqui é onde você vai trocar a marcha. — respondeu apontando com o coturno os respectivos locais.


Kris, por já estar acostumado com as aulas de Suho, não hesitou em enchê-lo de perguntas, as quais foram respondidas com animação, vendo que realmente estava interessado na explicação, não só no professor. Felizmente, estava conseguindo entender tudo, associando esses comandos aos do carro por saber dirigir um pouco, no entanto algumas vezes tinha que voltar todo o raciocínio, tudo porque não conseguia ficar muito tempo sem contemplar o quão maravilhoso o outro estava sendo para si. Após um bom tempo repetindo todas as informações e todo o processo de acelerar, frear e mudar de marcha pelo menos três vezes, ganhou aplausos orgulhosos do menor e um pouco de confiança para querer fazer isso sozinho.


— Posso tentar com a chave? — indagou e recebendo logo uma resposta positiva do outro que lhe emprestou suas luvas e deu alguns passos atrás para observá-lo de forma crítica.



Ajeitou todo o equipamento, levantou o descanso lateral e, após esperar certo tempo para o motor esquentar, foi acelerando lentamente, como o outro havia ensinado. Numa velocidade baixa, ia guiando a moto em linha reta pelo local amplo, encontrando certo problema em voltar. Empurrava com os pés no chão a moto para que retornasse ao ponto onde havia começado, fazendo isso várias vezes até se acostumar. Suho não conseguia esconder as risadas, pois o outro voltava de forma completamente desajeitada e, com pena, foi até lá para ensiná-lo a fazer curva. Segurando pelo guidão, foi o guiando pelo caminho e ensinando a fazer curvas abertas por um bom tempo, até que ganhasse confiança, enquanto o menor chamava a atenção de seu pai para ver como estava indo bem. Quando foi parar perto deles, acabou se confundindo ao frear, porém não demorou muito a se corrigir, parando a moto um pouquinho mais distante. Abaixou novamente o descanso, desligou a moto e passou uma de suas pernas para o outro lado, saindo dali desajeitadamente enquanto retirava o capacete e entregava a seu pai.


— Viu, você conseguiu! — exclamou o menor, parabenizando-o junto dos outros. — E ainda tem coragem de dizer que não é um bom aluno. — estalou a língua no céu da boca em desaprovação e correu para abraça-lo com força


O mais alto ficou completamente sem reação, fora pego de surpresa, assim como seus sentimentos. Hesitou por certo tempo até envolvê-lo também no abraço, apertando com certa força, e acabou deixando por tempo demais para quem estava se abraçando na frente de seus pais, aproveitando aquele momento tão bom que ambos sempre gostavam de ter.


— Claro, tive o melhor professor. — decidiu entrar na brincadeira também, apertando ainda mais o outro e o levantando até que seus pés saíssem do chão, findando o contato entre risadas.


— Acha que consegue andar na estrada? Podemos treinar um pouco lá. — indagou enquanto o acompanhava tirar a moto dali.


— Vocês podem ir, mas não segue muito longe não, porque o posto da Polícia Rodoviária ainda ‘tá ativo e não vão gostar nada de ver dois dentes de leite andando por aí. — ambos assentiram e, após pegar a moto emprestada de seu pai, guiaram para o acostamento, longe da entrada do posto.


— Suho... — chamou, mesmo que receoso se poderia ou não usar seu apelido. — O que é “dente de leite”?


— Ah, é motoqueiro novato. — respondeu rindo discretamente, enquanto se aproximava do maior. — Com o tempo você vai aprendendo essas gírias bobas, tipo “verdinho”, para os que têm medo de andar; “kamikazes”, para os que são mais experientes; “cachorro louco”, são os que fazem merda no trânsito... Vindo mais vezes aqui você vai aprendendo. — ia enumerando os itens com os dedos, voltando sua atenção novamente à função de repassar as informações aprendidas.



Faróis acesos, capacetes postos, motores ligados, coração palpitando em ansiedade. Começaram a seguir estrada não muito movimentada conforme as instruções de Junmyeon. O combinado era que primeiro iriam até outro restaurante de estrada ali perto, parariam para explicar o caminho de volta e depois iriam para o pub onde estavam.


A primeira parte do trato ocorreu bem, Kris não se desesperou na estrada e se manteve atrás do outro, que não ia muito rápido para que pudesse ser acompanhado. No entanto, a segunda foi mais complicada. A volta tinha uma rótula com vários caminhos diferentes e o menor se confundiu, informando o caminho errado. Ao perceber que não estava reconhecendo o local por onde passava, sinalizou que iria parar no acostamento e, em prontidão, o outro fez o mesmo.


— Acho que me perdi... — disse preocupado, retirando o capacete e olhando a sua volta. — Você se lembra de termos passado aqui na ida?


— Não... — respondeu com certo medo. — E agora?


— Eu não conheço aqui, então não sei muito bem como voltar. — suspirou frustrado. — Tenta... Tenta ligar pro seu pai e pedir ajuda. Eu não trouxe meu celular para cá.


Kris assentiu e, por estar com pouca bateria, seu celular desligou logo após falar que estavam perdidos, não lhe dando chance de explicar o acontecido, muito menos dar referências do local onde estavam. Frustrados e, principalmente, preocupados, acabaram cedendo e adentraram um pouco mais o terreno, deixando o triângulo no acostamento para que, se passassem por ali, poderia ter alguém que pararia para ajudar.


Em vão, ninguém apareceu.


— Bem... Podemos conversar enquanto eles não vêm. — Kris sugeriu baixinho, tentando deixar o clima menos pesado, mas talvez não tinha conseguido chamar atenção o suficiente do outro. — Então, todas as vezes que você sai mais cedo das nossas aulas para um compromisso importante e secreto, é para ir no encontro? — tentou, recebendo uma resposta positiva do outro que deixava sua moto apoiada e ia para perto dele.


— E por que você nunca contou para mim? Na verdade, por que nunca contou isso para ninguém? Todo o mundo ia querer falar com você se soubesse que você é motoqueiro. — sugeriu, chamando o outro para se sentar consigo.


— Porque não gosto muito de chamar atenção, sem contar que não é todo o mundo que vai achar legal um menor de idade andando de moto por aí. — Kris teve que concordar, recolhendo uma das pernas esticadas para si, abraçando-a com um de seus braços.


— E para mim? Nem para mim você contaria?


— Não, porque te acho um pouco, só um pouquinho, irresponsável e eu não sabia que seu pai era do clube. — Ambos respondiam olhando para o nada, acompanhando o movimento da estrada. — Falando no clube... Você vai voltar mais vezes?


— Hm, acho que sim. Por que a pergunta? Quer me ver mais vezes? — sorriu sacana para o outro que nem estava fitando suas expressões, mas acabou revirando os olhos.


— Não, é que... –


— Então você não quer me ver mais vezes, é isso?


— Você não entendeu. — Kris ria discretamente de como o menor estava estressado com pouca coisa. — Eu quero te ver mais vezes, porque gosto de você. Feliz agora?


— Você gosta de mim? — O coração dos dois quase saíram pela boca. Um pelo o que havia ouvido, o outro por pensar ter dito de mais. As mãos de Kris voltaram a trepidar e sua respiração começar a se descompassar só de pensar naquela possibilidade, algo que parecia tão impossível para si.


— Não “gostar” nesse sentido, eu digo porque gosto da sua presença e acho que os encontros seriam mais aturáveis com você. — Acabou se encolhendo ainda mais, abraçando suas pernas recolhidas contra seu peito.


— E existe outro sentido para a palavra “gostar”? — riu baixinho novamente ao ouvi-lo bufar, sem saber de onde tirava toda aquela coragem para implicar com ele. Talvez aquilo fosse o jeito mais fácil de dispersar seu nervosismo.


— Existe, e a gente usa ao invés de “amar”, porque é uma palavra muito forte, então as pessoas têm medo de usar.


— Tipo em “eu gosto de você com jaqueta de couro” e em “eu amo você com jaqueta de couro”. Parecem ser diferentes, mas o sentimento é o mesmo. — Se pudesse puxar palavras de volta para sua boca, faria isso agora. Se sentir confortável com Junmyeon não queria dizer que deveria falar coisas desse tipo. No entanto, agora havia feito, e, para sua surpresa, esse era o momento que o outro esperava para rebater, mesmo um tanto acanhado.


— Sim, como em “eu gosto de ficar com você” e em “eu amo ficar com você”. — respondeu sorrindo com o canto dos lábios, estes que eram tão chamativos e convidativos para o outro.


— Em “eu gosto de como você me dá aulas” e em “eu amo como você me dá aulas”. — A cada nova frase, os dois timidamente se aproximavam, confortáveis e atraídos um pelo outro. Suas mãos gradativamente se encostavam, logo entrelaçando os dedos em sinal que deveriam ficar juntos.


O menor, mesmo que receoso, levou uma de suas mãos à nuca alheia, forçando uma maior aproximação, a qual nem sequer foi contestada. Primeiro, as respirações se mesclaram, e em seguida foi a vez de capturar seu lábio inferior entre os dentes, deixando bem claro suas intenções.


— E, principalmente, em “eu gosto de você” e em “eu amo você”. — sussurrou rente a seus lábios, para logo os selar levemente.


— Parecem ser diferentes, mas o sentimento é o mesmo... — Sorrir já era inevitável quando sabia que era correspondido, não seria rejeitado como sempre imaginou.


Naquele momento, Kris não conseguia pensar em muita coisa, apenas torcia para que o outro correspondesse ao deslizar a língua entre os lábios alheios. Eram macios, bem mais doces que seus pensamentos se lembravam, e sendo correspondido com um selar terno, porém cheio de desejo, descobriu que seu lugar era ali e em nenhum outro. Timidamente deixava sua mão transitar pelo corpo do outro, pousando em sua cintura e apertando-a levemente, demonstrando que deveriam ficar assim, juntos.


— Você gosta de mim mesmo? De... — deu uma pequena pausa para recuperar o fôlego após alguns minutos no beijo, encostando sua testa na semelhante alheia. — De verdade?


— E você acha que tenho tanta paciência assim com qualquer um? — Ambos não queriam findar aquele contato, por isso as palavras eram sussurradas entre leves arfares e selares, acompanhadas de sorrisos bobos.


A pausa fora rápida, pois a vontade e a necessidade daqueles toques conseguia ser maior que a preocupação de estarem perdidos ali, então não se conteve em ficar apenas em seus lábios, descendo seus semelhantes lentamente para o pescoço alheio, que a cada minuto ganhava novas tonalidades com as mordiscadas do maior.


Sentindo uma luz forte e branca nas laterais de seus rostos, praticamente perfurando seus olhos em ardência por estarem a tanto tempo na penumbra da noite, instintivamente interromperam o contato para se protegerem precariamente e procurarem sua fonte, estremecendo por completo ao encontrarem.


— Filho? — ouviram as vozes conhecidas indagarem em surpresa e uníssono, fazendo seus rostos ferverem de vergonha ao ver os dois motoqueiros lhes apontando as lanternas de suas respectivas motos.


— Pai?

3 de Março de 2018 às 00:32 0 Denunciar Insira Seguir história
5
Fim

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periwinkle meu deus eu meto o Junmyeon em tudo

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