alicealamo Alice Alamo

Itachi sempre soube que havia algo diferente, algo único em Sasuko. Talvez fosse o modo como era observado, talvez fosse os hábitos seus que ela imitava e que fazia a mãe rir. Não sabia o que era exatamente, mas Sasuko era especial, e ele só entenderia a complexidade disso com o passar dos anos... Mas tudo bem, não importava o que era, já que Itachi sabia, desde pequeno, que a amaria independente de tudo e que aceitaria qualquer coisa contanto que ela fosse feliz. *Fic não é ItaSasu *Sasu trans


Fanfiction Anime/Mangá Todo o público. © Todos os direitos reservados

#transgênero #sasuke #naruto #ua
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Capítulo Único


Itachi sempre soube que havia algo diferente, algo a mais, algo único quando observava Sasuko. Talvez fosse o modo como ele era observado, já que Sasuko vivia a lhe estudar atentamente, talvez fosse os hábitos seus que ela imitava e que fazia a mãe rir, achando certa graça. Cuidado e sempre atento, Itachi se perguntava se realmente aquilo faria bem à irmã. Não que não gostasse de vê-la o seguindo pela casa, sentando-se no sofá numa posição semelhante à sua, mas tinha certeza de que, conforme a idade avançasse, aquilo que as pessoas achavam “fofo” seria então condenável, alvo de críticas.

E não demorou a acontecer. Logo nos primeiros anos da escola, a imposição do uniforme surgiu. Itachi tinha sido chamado pela mãe no dia, sob a alegação de que Sasuko se trancara no banheiro para não ter que ir à escola. Sonolento e sem entender o que acontecia, Itachi entrou no quarto rosa e parou na frente da porta do banheiro, bocejando. A mãe disse que prepararia o café e indicou o uniforme de Sasuko sobre a cama para que ele vestisse a irmã mais nova.

Dizem que irmãos se entendem mais facilmente que pais e filhos, que estabelecem uma conexão única e se conhecem melhor que qualquer outro pode chegar a conhece-los, e era verdade no caso de Itachi pelo menos. Ao tocar a peça do uniforme, uma saia vinho e uma camisa social branca, questionou-se qual fora a última vez que vira Sasuko de saia. Nunca. Ela sempre dava um jeito de sujar a roupa ou então fazer um escândalo até que a mãe desistisse e simplesmente trocasse por outra peça qualquer. Com sete anos, Sasuko nunca havia vestido uma saia e sempre ficava extremamente emburrada ao ser forçada a desfilar em vestidos delicados.

Bateu na porta do banheiro.

— Sasu? Sou eu, nii-san, abra a porta...

Ouviu o girar da tranca e entrou no banheiro com calma, encontrando Sasuko perto da parede, de braços cruzados e nariz vermelho. Os olhos negros estavam úmidos e havia cabelo pelo chão. Itachi arregalou os olhos e pôs a mão na boca pela surpresa ao notar o corte desalinhado e totalmente irregular que Sasuko exibia. A tesoura infantil, sem ponta, quase de brinquedo, estava sobre a pia, e Itachi trancou a porta do banheiro ao ouvir a mãe voltar ao quarto.

— Sasu, o que você fez? — perguntou, abaixando-se na altura dela e passando a mão pelos fios negros judiados.

— Assim não pareço mais uma menina, aí não tenho que usar saia, não é? — ela perguntou, esperançosa.

Itachi passou a mão pelo próprio rosto, agoniado, e gritou um “já vai” quando a mãe bateu na porta. Pegou a tesoura e sentou Sasuko sobre a tampa da privada. Não dava para consertar aquele corte de modo que continuasse comprido, então, optou por apenas alinhar, na esperança de que a mãe não se assustasse tanto e conseguisse uma saída melhor. Cortou acima dos ombros, um pouco abaixo das orelhas, e suspirou pesadamente ao ver Sasuko sorrir animada para o reflexo do espelho como se Itachi tivesse acabo de lhe prestar um imenso favor.

— Vem, vamos vestir o uniforme, você tem sua primeira aula hoje — disse com medo do que a mãe acharia de tudo aquilo. — Vou chamar a mamãe, vista sua camisa, ok?

Saiu do quarto, indeciso, e caminhou até o seu próprio quarto, parando em frente ao guarda-roupa. Abriu as gavetas e revirou-as todas. Era seis anos mais velho que Sasuko e estudara na mesma escola infantil para a qual ela estava indo agora, então devia ter uma única calça sua ali ou no baú onde a mãe guardava roupas antigos.

Achou uma, uma única, manchada na barra e com tecido de reforço nos joelhos, talvez servisse em Sasuko. Estalou a língua no céu da boca e voltou ao quarto da irmã, procurando entre as inúmeras calças dela, uma que fosse da cor vinho. Sorriu, aliviado, quando achou. Era até que parecida com o uniforme; com sorte, ninguém notaria.

A mãe entrou no quarto, e Itachi a observou, calado, enquanto ela passava as mãos nos cabelos de Sasuko e passava a repreender a irmã por ter mexido com tesoura sem autorização.

— Você precisa vestir a saia, Sasuko! — Mikoto repetia, impaciente.

— Mãe... — Itachi chamou ao olhar o relógio no pulso.

Sasuko começou a chorar.

— Mãe, estamos atrasados — Itachi mentiu.

— Sasuko, está atrasando Itachi, termine logo de se vestir. Vamos, querida...

— Não quero vestir saia! — Sasuko gritou e olhou para Itachi.

— Mãe, ela não pode usar calça só hoje? Nem tá calor. Não posso me atrasar — mentiu ao estender a calça.

Mikoto suspirou e analisou a calça para ver o estado dela enquanto Sasuko parava de chorar e sorria para o irmão.

— Como estou? — Sasuko perguntou já vestida, de frente ao espelho com a calça e o cabelo curto.

— Parece um menino — a mãe reclamou ao pegar as chaves do carro.

— Ficou bonito, imouto, agora vamos, ok? — Itachi estendeu a mão, levando-a até o carro.

Convencer a mãe a deixar Sasuko usar calças na escola não foi difícil, só foi... cansativo, uma vez que Mikoto não entendia a aversão da filha com a saia. Contudo, apesar disso, quando Sasuko foi ao cabeleireiro, o corte ficou ainda mais curto, de modo que Itachi estranhou quando viu a mãe retirar-se ao quarto em silencia e pedir que ele vigiasse a irmã.

A partir desse dia, nenhum outro vestido foi comprado. Sua mãe parecia chateada, confusa, e ele, com treze anos, não entendia bem o motivo de ela agora estar deixando Sasuko ficar com o cabelo daquele modo. Talvez, a mãe tivesse notado o mesmo que ele, Sasuko sorria bem mais daquela forma.

Entretanto, não era toda a família que conseguia entender a situação. Quando Sasuko fez doze anos, começaram as críticas de que Itachi tanto tinha medo.

— Sente-se direito, já é uma mocinha.

— Cruze as pernas direito, pare de imitar seu irmão, você não é um moleque.

— Que unhas são essas? Precisa ser mais vaidosa!

— Mikoto, precisa levar essa menina ao shopping, olhe essas roupas! Parece que ela assaltou o guarda-roupa do irmão!

— Comporte-se, parece um menino desse jeito, como quer arrumar um namorado?

— Não Sasuko, isso é coisa de menino, vai lá com suas primas.

Itachi notou o momento em que a irmã passou a não querer ir aos encontros de família, ficando recluso ao próprio quarto. No aniversário da mãe, ele subiu as escadas e sentou-se na cama com ele, vendo-a encarar com ódio a maquiagem e as bijuterias que usaria naquela tarde.

— É aniversário da mamãe... não quero que fiquem reclamando de mim para ela — Sasuko justificou-se quando Itachi franziu o cenho para o vestido sobre a cadeira. — Sakura, a filha da vizinha, me emprestou... disse que é o mais bonito que ela tem.

Itachi sorriu, melancólico, e se levantou. Caminhou até o armário da irmã e Sasuko o assistiu em silêncio enquanto retirava algumas roupas de lá.

— Pronto, isso aqui com certeza vai ficar melhor em você — falou, entregando a calça escura e a camiseta que havia comprado à irmã no último aniversário. — Já volto. — Beijou-lhe o topo da cabeça e recolheu o vestido, a maquiagem e as bijuterias.

Desceu as escadas com pressa e irritado. Os convidados não haviam ainda chego, e a mãe arrumava a mesa com doces. Ela parou ao vê-lo e sorriu carinhosa antes de perceber o que ele carregava.

— Ela queria vestir isso para não te deixar triste — ele explicou, indignado. — Para que não ficassem te infernizando pelo modo como ela se veste durante seu aniversário! Okaa-san...

Mikoto se apoiou na bancada da cozinha e praguejou alto ao ouvir a campainha tocar.

— Atenda a porta, querido, eu falo com Sasuko. — Ela pegou as coisas da mão dele e acariciou-lhe o rosto. — Não se preocupe.

Durante a festa, Itachi viu a mãe manter Sasuko ao seu lado, beijando-lhe o rosto e sorrindo ao lhe oferecer o primeiro pedaço de bolo antes de liberá-la para brincar com as outras crianças. E, à medida que a irmã se afastava da mãe, outros, inclusive ele, aproximavam-se. Não prestava atenção nas conversas, mas foi impossível não perceber a mãe discutindo com uma das irmãs.

— É a minha filha! Eu sei o que é ou não melhor para ela — Mikoto falou, firme, irritada.

— Mikoto, ela será motivo de risada na escola! Pelo amor de Deus!

— Não cabe a você se preocupar com isso — Mikoto rebateu. — Sasuko terá meu apoio para se vestir e ser quem quiser! E, se você não pode aceitar isso, mantenha-se longe da minha filha e guarde seus comentários para você!

— Não diga que não te avisei quando ela ficar doente e começar a achar que é um garoto.

— Fora — Mikoto sussurrou, e Itachi arregalou os olhos, aproximando-se para passar os braços pelo ombro dela. — Fora!

Madara, seu tio, afastou sua tia deles antes que os outros parentes notassem a confusão. Aproveitou para abraçar a mãe e esperou que ela se acalmasse. Ao final da festa, viu Mikoto no sofá da sala, puxando Sasuko para seu colo e a abraçando com carinho.

— Eu te amo tanto... — Ouviu-a dizer para a irmã. — O que acha de mudarmos a cor do seu quarto? Você escolhe!

— Sério? — Sasuko perguntou, incrédula.

— Sério, já tá na hora de trocar aquele rosa, não acha?

— Eu odeio rosa, okaa-san — Sasuko confessou, e Mikoto riu antes de concordar e beijar-lhe a ponta do nariz.

— Amanhã compramos as tintas então.

A idade dos quinze sempre foi decisiva para qualquer pessoa. Felizmente, Itachi conseguiu continuar vivendo em casa apesar da faculdade distante. Assim, estava presente quando Sasuko atingiu os quinze anos e recusou qualquer festa de debutante. Para ser sincero, nem se lembrava de que existia tal festa, mas o assunto surgiu quando uma de suas tias perguntou a Sasuko o vestido que ela usaria. Tanto ele quanto a mãe estreitaram o olhar para a tia, mas Sasuko foi mais rápida em responder que não usaria nada porque não haveria festa, ela queria viajar com o irmão e a mãe no lugar de uma festa extravagante e fora de moda.

Dias depois, quando Itachi chegou da faculdade, não estranhou quando encontrou a irmã em seu quarto, esperando-o. Aliás, não tinha como não saber o que ela devia estar querendo lhe falar, já que Sasuko não excluíra o histórico do computador antes de devolver o notebook para ele no dia anterior. O que achara não havia sido propriamente uma surpresa, no entanto; para ser sincero, Itachi sentira como se tudo fizesse sentido pela primeira vez ao ler os artigos sobre transgenia que Sasuko pesquisara.

Sentada sobre sua cama, com as mãos suando e juntas sobre o colo, a irmã parecia perdida e com medo, como quando era criança e ainda acreditava nas histórias de terror que seu tio Madara contava antes de dormirem.

— Eu... — ela começou, incerta. — Nii-san, eu...

Itachi aguardou, sabia que devia dar tempo a ela para que organizasse o que desejava falar, entendia o medo, mas, quando ela pareceu desistir, ele perguntou:

— É sobre os artigos, Sasu? Os que você pesquisou no meu notebook?

— Nii-san...

— Sasu, não tem problema você não ser uma garota.

Qualquer que fosse a estrutura que mantinha Sasuko erguida diante do irmão ruíra com aquelas palavras. Itachi se aproximou e se sentou na cama, puxando Sasuko para um abraço ao ouvir o choro que se iniciou.

— Me desculpe, nii-san, desculpa... — Ouviu-a repetir, sofregamente, e esconder o rosto em seu peito.

— Está tudo bem, Sasu. — Acariciou-lhe o rosto com carinho e apertou ainda mais o abraço. — Está tudo bem, otouto.

O dia seguinte foi singular. Sasuko bateu na porta de Itachi pela manhã, antes de eles saírem para as aulas. Itachi terminava de se arrumar quando o irmão entrou no quarto e fechou a porta.

— Pode me ajudar? — Sasuko perguntou, sem jeito, e mostrou uma faixa branca nas mãos.

Itachi franziu o cenho e só entendeu o que o irmão queria quando ele tirou a camiseta e, então, o sutiã.

— Sempre odiei usar isso — Sasuko cuspiu, com raiva.

— Que homem não odiaria? — Itachi sorriu, batendo dois dedos na testa do irmão antes de começar a passar a faixa ao redor do tronco de Sasuko, com cuidado, pressionando minimamente os seios pequenos para que não machucasse o irmão.

Afastou-se para ver o resultado, jogou a camiseta no rosto de Sasuko e foi rapidamente até a penteadeira para pegar um pouco de gel. Espalhou o produto nas mãos e voltou-se ao irmão, arrumando-lhe o cabelo negro e desordenado.

— Pronto, agora sim. Gostou? — perguntou ao colocar Sasuko de frente ao espelho.

Os olhos negros do caçula brilharam, e Itachi o abraçou por trás quando ele assentiu, sorrindo discretamente.

— Vai contar para mamãe? — Itachi indagou.

— Ainda não... ela...

— Ela te ama — Itachi o cortou, pegando a mochila e a colocando nas costas. — Não duvide disso, ok?

Medo. Itachi tinha plena ciência de que o irmão tinha medo de que a mãe o rejeitasse, de que não o aceitasse. Embora tentasse convencê-lo do contrário, era difícil, imaginar seu mundo desmoronando de repente devia ser dolorosamente difícil. Por essa razão, quando deu dois meses sem que o irmão se manifestasse, Itachi o fez, de forma sutil e pensada, começando a tratar Sasuko por “ele” na presença da mãe de amigos, a chama-lo de “otouto” com mais frequência.

A curiosidade das pessoas era cortada rapidamente por um olhar gélido e firme; às vezes, com algumas pequenas brigas também, mas valia a pena. O moco como Sasuko lhe sorria, feliz quando o tratava corretamente, quando demonstrava publicamente que o aceitava, era extremamente recompensador. Sasuko estava feliz, então estava tudo bem.

No aniversário de dezesseis anos do irmão, Itachi estava no quarto e preparava-se para descer as escadas e ir à cozinha tomar café da manhã quando ouviu o toque do celular de Sasuko no quarto ao lado.

— Sasu, seu celular! — gritou.

— Traz pra cá!

Entrou no quarto de cores neutras, com móveis mais sóbrios e de corte reto. Pegou o celular sobre a cama e, antes que a ligação fosse perdida, atendeu enquanto saía do quarto.

— Alô?

Teme?

— Irmão dele — Itachi respondeu. — Quem fala?

Namorado dele. Ele tá aí?

Itachi parou na entrada da cozinha e arqueou a sobrancelha ao passar o telefone para o irmão. Não comentou nada, mas Sasuko o observou pelo canto do olho enquanto falava ao telefone de forma discreta. Disfarçaram. A mãe terminava de cozinhar enquanto eles colocavam a mesa, sorriu ao empurrar o bolo de chocolate que havia feito especialmente parra Sasuko e lhe entregou a faca.

— Feliz aniversário, querido — ela disse.

Itachi parou de se servir de café assim como Sasuko deixou a faca cair na mesa ao ouvir a mãe. Mikoto sorriu, doce, e se levantou para abraçar o filho que se ergueu, de súbito, apertando-a ao passo em que o alívio tomava não só sua face, mas também seu coração e pensamentos.

Mikoto sentiu as lágrimas silenciosas em seu ombro e acariciou os cabelos do filho caçula antes de beijar-lhe o rosto.

— Sabe... estive pensando... Sasuko é um nome feminino. Você se sente bem com ele, querido?

Itachi parou para pensar. Tanto ele quanto os amigos de Sasuko o chamavam de “Sasu” ou de “Sas” na maioria das vezes, portanto, nunca tinha parado para notar aquilo. Contudo, agora, vendo o irmão concordar com a mãe antes de se sentar novamente e limpar o rosto com a manga da blusa, recriminou-se por deixar um detalhe tão importante passar em branco.

— Já pensou em outro? — Mikoto perguntou, apoiando o rosto na mão, pensativa.

— Não... é difícil. O que acha, Itachi?

— Hum... seria legal poder continuar a te chamar de “Sasu”, otouto — brincou e passou o dedo pela cobertura do bolo, recebendo um tapa da mãe na mão. — Que tal... Sasuke?

— Sasuke? — Mikoto riu, leve.

— Sasuke... — Sasuko sussurrou, surpreso. — Sasuke. É, eu gosto de Sasuke. — Riu e encarou o irmão mais velho. — A partir de hoje, Sasuke então.

O assunto “namorado” demorou para aparecer novamente. Itachi não achava que devia força o irmão a lhe falar, entretanto, sentia-se minimamente traído por ele não ter confiado em si. Já havia passado meses e Sasuke não parecia mais à vontade sobre o assunto comparado a antes. Ele ainda atendia o celular mais afastado, falava baixo, e sua mãe ria e dizia que era “coisa da idade”. Bem, se era ou não coisa da idade, Itachi não queria saber! Era o irmão mais velho, tinha direito de saber com quem Sasuke saía.

Quando enfim conheceu o dito namorado, não foi na melhor das situações. Eram duas da manhã quando seu celular tocou insistentemente. Atendeu ao identificar o número de Sasuke e se lembrar de que ele havia ido a uma festa de um dos colegas da escola.

— Sasu?

Itachi, é o Naruto! Eu tô no hospital, perto da casa do Neji.

— Hospital? — Itachi se levantou e acendeu a luz do quarto, procurando as calças para vestir.

Ele bebeu um pouco, uns idiotas mexeram com ele, piorou quando viram que estávamos juntos e, quando vi, ele estava aos socos com Kiba e mais uns três! Os pais de Neji estavam em casa, e a mãe dele nos trouxe para o hospital, mas ela quer um responsável pelo Sasuke aqui.

Itachi desligou o celular assim que pegou o endereço do hospital. Não acordou a mãe, pegou as chaves do carro e dirigiu, impaciente. Não demorou a reconhecer a mãe do tal Neji, afinal, vira-a quando havia levado Sasuke à festa. Ela estava ao lado de um garoto loiro, que se levantou rapidamente ao vê-lo.

— Itachi!

— Naruto? — arriscou, e o outro confirmou. — Cadê meu irmão?

As explicações, tanto da mãe de Neji quanto de Naruto, foram ignoradas. Itachi simplesmente esperou ter autorização para ver Sasuke e caminhou, como se marchasse, até a sala onde imobilizavam o nariz quebrado dele e davam dois pontos em um corte no supercílio direito.

Bufou, inconformado, e cruzou os braços na frente do corpo quando o irmão baixou os olhos.

— Uma brigada? Sério, Sasuke?

— Kiba é um idiota...

— Não me interessa se ele é um idiota, você que não precisa agir como um!

— Ele estava me tratando como garota! Ele e aqueles amigos imbecis falaram que “me comeriam” para eu voltar a “ser mulher”!

— E partir para a violência não te faz mais homem, Sasuke! — Itachi o repreendeu, severo.

Sasuke cerrou os punhos e estalou a língua no céu da boca ao desviar os olhos dos do irmão.

— Pronto, já fiz o curativo dele — a enfermeira avisou ao se levantar.

Itachi agradeceu com um aceno.

— Vem, vamos para casa.

Sasuke se levantou, e Itachi passou o braço pelos ombros dele antes de mergulhar a mão no cabelo do irmão mais novo e soltar o ar dos pulmões.

— Sempre haverá idiotas para te julgar, Sasuke, mas não se deixe levar por eles. Me preocupo com você, otouto.

— Eu sei... — respondeu, baixo, contrariado.

— Da próxima vez, me ligue.

— Para me buscar? E sair deixando eles falando merda da minha vida? — Sasuke o encarou, indignado, e Itachi riu antes de segurá-lo pela nuca e encostar as testas.

— Para eu te ensinar a lutar direito e você não quebrar o nariz, irmãozinho tolo. Agora, vamos embora, seu namorado está esperando. E é bom ele poder dormir lá em casa, não vou servir de motorista para mais ninguém hoje a essa hora. Aproveita, toma vergonha na cara, e apresente-o direito para mim e para mamãe.

Naruto não era ruim, Itachi logo notou isso. Ele era tão idiotamente apaixonado por Sasuke que foi impossível Itachi não gostar do garoto. Sua mãe o adorou, divertindo-se toda vez que Sasuke corava na hora da janta quando Naruto lhe falava algo meloso ou constrangedor.

As brigas não voltaram a acontecer, porém Itachi fez questão de ensinar o mínimo que sabia de lutas para o irmão. Não suportava a ideia de Sasuke apanhando ou sendo ridicularizado, simplesmente não suportava!

Sasuke parecia um garoto devido à beleza andrógena, entretanto, ainda havia vários traços do organismo feminino que ele tentava a todo custo esconder: os seios que ele enfaixa, a cintura fina que ele disfarça com roupas largas, etc. A ideia de fazer um tratamento hormonal já havia sido levantada, mas Sasuke negara na época, e Itachi poderia jurar que a recusa era mais porque ele não queria dar despesas à família do que por falta de vontade.

Tentou até mesmo se juntar a Naruto para ter a confirmação, mas Sasuke era irredutível. Pelo menos, até as férias da escola, quando Sasuke tinha dezessete anos e foram à praia como pouco faziam.

Diferente dos demais, Sasuke não retirou a regata que vestia e permaneceu boa parte do tempo na areia. Itachi estava deitado sobre um tecido sob o guarda-sol quando Sasuke se deitou com a cabeça em seu abdômen. Automaticamente, as mãos de Itachi foram aos cabelos do mais novo em um carinho simples e fraterno que fazia Sasuke sentir acolhido, seguro.

— Naruto está no mar?

— Sim, aquele Dobe não vai sair de lá tão cedo. Mamãe está com ele. — Sasuke bocejou.

— Não quer ir lá?

— Vou ser a única pessoa a entrar no mar totalmente vestido. — Revirou os olhos.

— Sasu, se você quiser, eu pago o tratamento, já te disse — Itachi falou com cuidado.

— Não precisa, aniki.

— Sasuke, eu quero você feliz, então, se quiser, eu pago a cirurgia e o tratamento. Eu tenho um dinheiro guardado, mamãe também, e existe algo maravilhoso chamado cartão de crédito. Não vamos passar fome se fizer o tratamento, sabia? — ironizou e viu Sasuke deitar-se de lado para conseguir encará-lo — Se você quiser, se te fizer feliz, a gente dá um jeito, Sasu.

O silêncio preencheu o ambiente por alguns segundos, e Itachi permitiu que o irmão usasse aquele momento para refletir uma vez mais sobre a proposta.

— Depois das provas.... — Sasuke falou, de repente.

— O quê?

— Depois das provas. — Sasuke se levantou. — Assim que terminar o vestibular e essas coisas... pode ser?

Itachi sentou-se e sorriu, abertamente.

— Claro.

— Vai ser ótimo me livrar desses peitos, eles pesam. — Fez uma careta, e Itachi riu.

— Sabe, muita gente luta para ter peitos, otouto — brincou. — Agora, vai lá. — Indicou o mar. — Tenho outra camiseta na bolsa. Ninguém vai ligar de te ver de regata no mar, Sasu, e, se ligarem, já te ensinei a nocautear alguém, certo? — Levantou-se, piscando um olho.

Sasuke assentiu ao se lembrar das “aulas”, e a vontade de ir ao mais falou mais forte. Voltou-se para Itachi e caminhou até ele, abraçando-o de repente.

— Obrigado, por tudo. Desde sempre, você me apoiou, obrigado — sussurrou tão baixo que Itachi quase não ouviu.

Retribuiu o abraço e demorou a soltá-lo. Quando o fez, bateu dois dedos na testa do caçula, recebendo uma leve careta de dor como resposta.

— Vai lá, aproveite as férias.

Itachi observou Sasuke se distanciar, aproximando-se da água enquanto Naruto gritava algo e ia busca-lo no raso. Sorriu, ignorando qualquer pessoa na praia que pudesse estar olhando torto para o irmão. Sasuke estava feliz, e era isso que importava. Não importava o gênero, o nome, a orientação dele; Itachi era seu irmão mais velho e isso significava que, enquanto Sasuke precisasse dele, ele continuaria ali, tentando fazê-lo feliz e, se possível, garantindo que essa felicidade durasse para sempre.

2 de Março de 2018 às 00:26 2 Denunciar Insira Seguir história
7
Fim

Conheça o autor

Alice Alamo 24 anos, escritora de tudo aquilo em que puder me arriscar <3

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Ellen Chrissie Ellen Chrissie
meu pai!!! amei esse Itachi! acho que ele realmente teria sido assim se tivesse a chance na história de verdade...
March 02, 2018, 01:45

  • Alice Alamo Alice Alamo
    Oii! Como não amar o Itachi, não é mesmo? Eu acho que ele seria o melhor irmão do mundo! Enfim, muito obrigada pelo review! Beijoss <3 March 02, 2018, 21:47
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