alicealamo Alice Alamo

Porque o anúncio de Viktor o aterrorizava... Era como se visse uma serpente se arrastando até si, trazendo junto uma escuridão pronta para engoli-lo e sufocá-lo. Estava com medo, com medo de que não saísse mais dela, de que não fosse forte o suficiente para se libertar da solidão que o abraçava, e isso o deixava irritado, como um animal encurralado...


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#YurionIce #Yuri #Yurio #VIktor #Amizade
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Capítulo Único


Yuri quis afastar Viktor como havia feito quando estavam perto do mar no dia anterior, mas não conseguiu. A medalha de bronze em seu pescoço pesava de um jeito horrível, e o choro e a raiva estavam presos na garganta como feras enjauladas. Quando saiu para o vestiário, depois de todos, esperava estar sozinho, mas Viktor o esperava lá. Ele lhe sorriu, amável, o que só aumentou seu desconforto e o fez desviar o rosto irritado.

— Parabéns pelo casamento — debochou sem encará-lo.

— Yuri, você sempre foi difícil, sabia? — Viktor riu, sincero, e se aproximou.

Yuri ficou de frente a ele, encarando-o, irritado. As mãos cerradas em punhos com força, o autocontrole impedindo-o de chorar as duas perdas do dia. Perder a competição tudo bem, mas Viktor? Doía, doía porque voltaria a ser sozinho, a estar sozinho todos os dias em seus treinos longe de casa sem que alguém o entendesse ou o amasse.

Viktor o puxou para um abraço. Tentou afastá-lo enquanto os xingamentos em russo saíam altos e desesperados, tentou negar a si mesmo que precisava daquele afeto. Demorou muito para que o choro transbordasse de seus olhos sem que notasse...

— Se acalme, Yuri, e me ouça.

— Não tenho nada para ouvir de você! — ele gritou, desesperado, como uma criança esquecida sozinha. — Nada! Seu traidor! Mentiroso! Vai me abandonar, vai me deixar! Não preciso de você, seu merda, me solta!

Os socos no peito de Viktor pareciam não surtir efeito, e Yuri só parou quando estava exausto. Foi então que o choro veio com força, com soluços e palavras desconexas enquanto os braços de Viktor se fechavam com mais força ao redor dele.

— Você não está sozinho, Yuri, sabe disso. Yakov se importa com você, Mila se importa com você, eu me importo com você. Sei que se sentiu abandonado quando fui ao Japão, mas não consegue ver o quanto cresceu nesse tempo? O quanto evoluiu? Você tem apenas quinze anos e é o terceiro melhor do mundo, Yuri, isso é incrível! Seus pais teriam orgulho, seu vô tem orgulho, eu tenho orgulho. Você tem tudo para me superar, você é único, Yuri.

As palavras não serviram para acalmá-lo, mas para que o choro se intensificasse a ponto de Yuri se segurar com força no terno de Viktor.

Não queria consolo, queria segurança, segurança de que não voltaria a ser tão solitário quanto nos primeiros anos de patinação após a morte de seus pais. Afinal, quem estava ali por ele? Seu vô estava doente, não podia acompanhá-lo nas competições e treinos; Yakov tinha toda uma equipe para treinar, Mila mais o provocava do que entendia, só Viktor havia lhe dado atenção, só ele havia lhe dado um objetivo para que não se afundasse naquela solidão esmagadora. E agora ele iria embora... Era como se visse uma serpente se arrastando até si, trazendo junto uma escuridão pronta para engoli-lo e sufocá-lo. Estava com medo, com medo de que não saísse mais dela, de que não fosse forte o suficiente para se libertar da solidão que o abraçava, e isso o deixava irritado, como um animal encurralado.

Os dedos de Viktor acariciavam seu cabelo, as palavras sussurradas acalentavam o coração... Só Viktor entendia sua rebeldia, aceitava sua revolta e sabia lidar consigo, só ele enxergava por detrás dessa defesa que havia criado, só ele porque eram parecidos, sabia disso! As solidões em que viviam tinham se encontrado no ringue e isso os uniu, Viktor havia lhe ensinado de tudo, compartilhado experiências, era como se fossem uma família, enxergava-o como mais do que um amigo, era um irmão, alguém a quem podia correr quando tudo desabasse. Era seu pilar, que agora ruía...

Em seu íntimo, admitia que estava feliz por Viktor. Quando viu como ele ficava perto de Yuuri, entendeu rapidamente que não era mais o único que podia colorir um pouco a vida dele e aceitou isso, demorou, mas aceitou! Gostava de Yuuri, aprendera a gostar, até havia dividido piroshkis com ele! Por isso, reconhecia que o casamento era mesmo o ideal, desejava toda a alegria possível a eles, mas não era altruísta o suficiente para fingir que não o abalava, para fingir que a ideia não o apavorava. E Viktor sabia disso, tanto que relevara suas tolas provocações do dia anterior embora lhe tivesse apertado o rosto com força o suficiente para marcar a pele. Merecia um soco pelo que dissera, porém Viktor o entendia e havia se contido justamente para que pudesse estar ali agora, confortando-o e deixando-o chorar todas as suas angústias como já fizera muitas e muitas vezes.

Viktor sorria minimamente, deixando a cabeça repousar na de Yuri enquanto ouvia o choro diminuir. Egoísta dizer que o coração se alegrava ao saber que era tão amado pelo garoto rebelde, mas não tão egoísta para ignorar a dor dele. Yuri era mesmo sua única família, um irmão mais novo que adotara rapidamente quando vira Yakov o repreendendo por tentar imitar a si. Não podia abandoná-lo como fazia com a Rússia, com Yakov ou com os outros, Yuri sempre teria um lugar extremamente grande em seu coração e, por isso, abraçou-o com mais força antes de soltá-lo.

Os olhos azuis estavam escondidos atrás de tanta água e tristeza, secou o rosto dele com calma e sorriu quando ele se recompôs e voltou a aparentar o mesmo moleque revoltado de sempre. Mas sabia como quebrar aquela postura.

— Venha com a gente. Você gosta do Japão, sei que sim, eu vi como você se sentiu bem na casa de Yuuri, então venha conosco.

— Não preciso disso — respondeu, irritado, as mãos trêmulas enquanto apertavam a roupa. — Vou treinar para acabar com aquele porco na próxima Grand Prix!

— Então me deixe te treinar também — Viktor sugeriu sem deixar que Yuri se afastasse de si. — Yuri, todos lá te adoram, Yuuri te tem como um amigo e você sabe o quão importante é para mim. Yakov reclamará, mas ele vai entender, ele sempre entende pessoas como nós. Poderá visitar seu vô quando quiser, sabe disso. Venha conosco pro Japão... Há quanto tempo você não se sentiu em casa como quando esteve lá?

— Me solta... — pediu, quase sem voz. — Me solta, Viktor.

Viktor suspirou e fez o pedido. Inclinou-se para beijar o rosto de Yuri e mergulhou nos olhos azuis uma última vez.

— Você não está sozinho, sempre estarei lá para você, Yuri. Olhe para mim. Por favor, Yuri, olhe para mim — pediu enfático. — Você é minha família, a única que tenho na Rússia, e vou te esperar o quanto for preciso. Isso aqui não é um do svidaniya¹, Yuri, é um até breve, entendeu?

Não queria ouvir Viktor, mas, mesmo quando ele saiu do vestiário, as palavras estavam ali, em sua mente, assombrando-o. Nem o sono foi capaz de espantá-las. Não foi ao coquetel de comemoração, mas acompanhou tudo pelo celular e pelas fotos que Phichit postava a todo momento.

O embarque para a Rússia seria no dia seguinte bem como o voo para o Japão. Não conseguiu pensar em nada mais... O sono já havia o abandonado, até ele, e as malas arrumadas o encaravam. Saiu do quarto e entrou no elevador do hotel. O terraço tinha uma boa vista, era um ótimo lugar para refletir e para ficar sozinho.

Ou foi o que pensou...

— Pensei que estivesse no coquetel, Yuri.

— Digo o mesmo, JJ — respondeu, pronto para voltar ao quarto.

— Parabéns pela medalha.

Se o parabenizasse de volta, estaria mentindo e, por isso, apenas assentiu com a cabeça. As luzes da cidade eram lindas, as estrelas pareciam um pouco ofuscadas diante de tanta luz, mas, ainda assim, não podia dizer que não era uma vista incrível. Suspirou, pesadamente, e caminhou até a beirada para admirá-la e por os pensamentos em ordem. O silêncio de JJ era estranho, mas sabia o motivo, quer dizer, o mundo todo sabia do término do namoro dele após o final da competição. Maldade constatar que a solidão derrubava até mesmo a arrogância de pessoas como JJ.

Quando o sol começou a nascer, quis sorrir para si mesmo, quis se sentir seguro de sua escolha, mas tudo o que fez foi morder o lábio inferior enquanto as lágrimas voltavam aos olhos.

Queria ir para o Japão, queria ouvir o apelido sendo chamado, queria que a mãe de Yuuri penteasse seu cabelo como ela insistira em fazer quando esteve lá, queria ver o rosto preocupado de Yuuri quando se demorasse mais que o normal nas caminhadas, ouvir as broncas de Viktor quando treinava durante a noite, comer quanto katsudon quisesse e depois ter alguém se preocupando consigo quando passasse mal durante a noite.

Abraçou o próprio corpo e arqueou a sobrancelha quando JJ lhe ofereceu um lenço. Recusou, limpando o rosto nas mangas da jaqueta com mais força que o necessário, ouvindo o outro rir baixo.

O voo para a Rússia era o primeiro, às sete da manhã. Despediu-se silenciosamente da vista, voltou ao quarto, pegou as malas e foi ao aeroporto antes mesmo de Yakov. Não queria despedidas, precisava sair dali antes que alguém o encontrasse, não resistiria ao pedido de Viktor se o encontrasse novamente. E, quando chegou em casa, quando enfim deixou as malas na sala e abraçou seu avô, entendeu a verdade que tentava tão desesperadamente esconder.

— Yuri? — seu vô o chamou pela terceira vez durante o jantar.

— Eu... — Engoliu em seco, enterrando o rosto nas mãos por não saber o que fazer. — vou... Eu quero... — enfatizou quase sem voz. — treinar com o Viktor no Japão... Eu quero...

Seu vô respirou fundo e levantou-se para sentar ao seu lado. A mão puxou o capuz do moletom, e Yuri o encarou com ansiedade e um pouco de medo por poder estar o magoando.

— Temos que comprar sua passagem então, não é? Quando pretende ir?

O alívio pela aceitação foi tão grande que, mais uma vez, esqueceu-se do problema de coluna do vô e se jogou nele em um abraço desesperado. A risada forte, os tapas em suas costas, sentiria falta daquilo, mas Viktor prometera que poderia ir à Rússia sempre que quisesse, não é?

Não olhou para trás quando chegou ao aeroporto e sorriu, discretamente é claro, quando o avião aterrissou no Japão. Empilhou as várias malas em um carrinho, e o coração acelerou quando identificou as vozes de Yuuri repreendendo três crianças na área de desembarque. Seu avô devia ter avisado Viktor, mesmo tendo pedido que não o fizesse...

Atrapalhou o caminho de diversos outros passageiros por ter ficado parado no mesmo lugar enquanto balões com seu nome eram seguradas pelas trigêmeas de Yuko. Reparou nas orelhas de gato que elas usavam e que obrigavam Yuuri a usar. A mãe de Yuuri ria ao canto. A professora dele olhava para os lados, como se procurasse alguém, e foi ela que gritou ao avistá-lo.

— Yurio!! — Yuuri gritou logo depois.

Viktor apareceu em seguida, gritando junto enquanto acenava. Como se fosse mesmo possível alguém não ver aquela recepção... Empurrou o carrinho, forçando-se a parecer indiferente, mas, quando Viktor o puxou para um abraço, ao qual Yuuri não demorou a se juntar, suas defesas desabaram e foi com extrema dificuldade que repetiu a palavra que viera ensaiando no avião e que transmitiria de forma simples tudo o que sentia:

— Tadaima...

Viktor riu, singelo, e afastou-se um pouco para poder tirar dos olhos a franja que Yuri usava para se esconder. Sorriu com a expressão contrariada dele, com a face corada e com os olhos azuis que o encaravam com expectativa e, então, beijou-lhe a testa para responder:

— Okaeri, Yurio, okaeri...

26 de Fevereiro de 2018 às 22:49 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

Conheça o autor

Alice Alamo 24 anos, escritora de tudo aquilo em que puder me arriscar <3

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