loryroux Lory Roux

Mesmo depois de alguns anos separados, Sasuke ainda se sentia da mesma maneira ao encarar Naruto. Sabia que não havia escapatória, porque tudo em si pertencia a ele. Cada pequena parte, desde seu primeiro beijo.


Fanfiction Todo o público.

#Naruto #Naruto/Sasuke #Yaoi
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Capítulo único


Olá. Essa é a primeira história que to postando aqui. Uma one do meu OTP de Naruto. Os personagens não me pertencem, mas o enredo sim, é meu. 

Espero que gostem. Bora pro cap

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Eu ainda me lembrava de cada sensação daquela tarde.

Todos os meus sentidos haviam se aguçado na tentativa de guardar aquela memória. Eu ainda sentia o cheiro de café impregnando cada parte da casa, o toque dos lençóis sob meus joelhos, a voz divertida da minha mãe no andar de baixo, o azul brilhante que me encarava com expectativa.

Mas nada se comparava ao sabor.

Ele tinha o gosto das balas de laranja que havíamos dividido mais cedo. A boca cheia e rosada deslizava desajeitadamente sobre a minha. Era um beijo imaturo, inexperiente, mas nunca houve nenhum outro como aquele.

Quando nos separamos e o mundo aos poucos voltou a fazer sentido em minha mente, podia ouvir sua risada baixinha, rouca, como quem acaba de fazer algo muito divertido. A mão bronzeada cobriu a boca risonha, mas os olhos ainda brilhavam, intensos, do jeito que eu amava. As marcas nas bochechas coradas se evidenciavam nas maçãs salientes. O cabelo loiro caía sobre a testa e eu sabia que ainda devia estar fazendo a mesma expressão.

Perdido em suas linhas, em seus traços, em tudo que lhe pertencia, porque assim também era eu. Ele me tinha. Ainda que eu não o tivesse.

***


Eu acreditava que todos tinham seu inferno pessoal.

Meu azar – ou sorte, dependendo do ponto de vista – é que o meu inferno também era meu paraíso. Havia passado toda a noite encarando o crachá que recebi durante a aula de história, sem saber como reagir aos nomes impressos ali. Agora, parado ao lado do ônibus escolar, ainda não sabia o que fazer.

O passeio pelos pontos históricos da cidade me parecia uma forma vergonhosa de distrair um bando de adolescentes desinteressados. Daria mais dor de cabeça do que bons frutos, levando em consideração que estaríamos em duplas, sem uma monitoria decente, soltos por Konoha pra depredar artefatos.

Não sei porque estou me incluindo nesse meio. Eu não falo com ninguém da minha turma. Não é como se eu desse muita atenção a esse tour, pelo menos não até o dia anterior. Não até eu ver quem seria minha dupla.

Devia ser um castigo divino. Ajeitando o cordão do crachá no pescoço, eu cutucava o plástico, relendo os nossos nomes repetidamente, inconscientemente. De todas as pessoas conhecidas, desconhecidas, perdidas na minha memória, porque tinha que ser ele?

Justamente aquele que não consigo esquecer?

Via, de longe, ele sorrir em meio a uma roda de amigos. Uma garota apertou sua bochecha e ele coçou os cabelos da nuca. O movimento fez as mangas do uniforme subirem e mostrarem a pele bronzeada do braço.

Maldito.

Eu sei que seu sorriso é falso. Eu conheço cada um deles, sem exceção.

Esperei que ele se aproximasse, inquieto, até que ouvi sua voz rouca soar perto de mim.

— Tudo pronto? - perguntou, com aquele mesmo sorriso aberto, que não alcançou os olhos.

— Hum – respondi, dando as costas e começando a caminhar. Percebi que não estava sendo seguido – Você não vem, Naruto?

Parei, olhando para trás, notando sua expressão vacilar. Havia certa insegurança ali. No entanto, ele logo se recompôs, sorrindo e me acompanhando pelo museu, que era nossa primeira parada. Andávamos um pouco afastados dos outros, tanto porque estavam todos com suas duplas, como pelo fato de eu diminuir o ritmo para evitar a bagunça.

Percebia os olhares de esguelha do loiro na minha direção, como se quisesse saber porque eu caminhava tão devagar, mas ignorei isso também. Virei o rosto para as pinturas e esculturas que haviam pelos corredores.

— Isso é ridículo – Naruto resmungou, encarando um quadro – Eu poderia fazer isso junto com uma criança de três anos. É só tinta jogada.

Aquele tom infantil, junto ao bico irritado fez meu coração saltar. Não sabia se era a ocasião, mas aquele Naruto se parecia mais com o que eu costumava conhecer.

— Isso é sobre cor, dobe – chamei-o pelo apelido de anos atrás – Não sobre paisagem.

Um minuto de silêncio entre nós e uma risada escapou de seus lábios. O som ecoou pelas paredes geladas e me atingiu fortemente, porque aquele timbre ainda estava marcado em mim.

— Você é um sabichão mesmo, não é, teme? - brincou, usando meu apelido também.

E aquele sorriso, aquele brilho em seus olhos… Esse eu sabia que havia sido verdadeiro.

Meu peito se encheu daquela sensação que parecia perdida, como se eu houvesse sonhado com ela. Mas Naruto não era um sonho, ainda que parecesse. O que nossa infância e pré-adolescência guardava fora bem real. E enquanto encarava-o de volta, eu sabia que ele sentia o mesmo.

Crescemos juntos, nessa mesma cidade pacata, onde nada acontece. Naruto Uzumaki era meu melhor amigo. Não existe nenhuma lembrança da minha infância em que aquele loiro não esteja. Nossas mães eram amigas e viviam contando como costumavam fazer planos sobre nossa amizade antes mesmo de nascermos. Eu tinha os mais controversos sentimentos por ele, irritando-me facilmente com sua energia inacabável, mas afetado demais por sua presença para, simplesmente, me desfazer dela.

Ele era como uma força da natureza. Me arrastava em todas as direções, como bem entendia e eu sempre me deixei levar.

Foi aos nove anos que, da forma mais inocente, meu coração passou a se acelerar sempre que estávamos próximos. A sensação de ter seus olhos mirando os meus, alegres, ou mesmo o sorriso aberto mostrando a fileira de dentes, ou os braços envolvendo-me com aquela impulsividade que sempre fora sua marca… Tudo isso me deixava nervoso, como só ele conseguia.

Mas foi aos onze que, durante uma tarde na minha casa, Naruto disse que queria saber como era beijar. Me lembro de ter me assustado com a frase que escapou de seus lábios e rido de sua expressão contrariada. Mas foi sua pergunta que me pegou de surpresa.

Por que a gente não tenta?”

Achei que tivesse entendido errado. Ele não poderia estar falando sério em me beijar… Poderia? Não houve muito tempo para debater comigo mesmo sobre isso, porque logo as mãos dele seguravam as minhas e balançavam de um lado para o outro, com aquela carinha pidona.

Cedi, como sempre fiz, mas foi ele quem tomou o impulso de tocar nossos lábios. E as sensações do nosso primeiro beijo ainda queimava em cada parte de mim. Cada pequeno elemento me fazia mergulhar novamente naquela tarde. O cheiro de café, o sabor cítrico da laranja… Mas passar aquele dia, no presente, ao seu lado, tendo que lidar com aquele olhar me causava tensão demais.

A minha frente, seu corpo, agora maior e mais forte se curvava pra tocar uma escultura de metal retorcido. Parecia confuso com seu significado e um alívio me percorria, porque Naruto era fácil de ler, mas eu sabia que tinha vantagem sobre isso.

Foi a mesma sensação que tive ao revê-lo no início do ano.

Alguns meses depois daquela tarde, onde dividimos nosso primeiro beijo, minha família se mudou de Konoha. Passei semanas indo a casa de Naruto todos os dias, chorando toda noite, porque não queria partir. Tentava me manter forte na sua frente, isso porque ele nunca teve medo de parecer quebrado, não para mim. Ouvir sua voz chorosa me pedindo pra ficar doía. Seus abraços apertados sempre deixavam com ele um pedaço meu.

Ele parece não saber, mas esses pedaços permanecem com ele.

Foi apenas no fim do ano passado que meu irmão decidiu voltar para Konoha e eu pedi para morar com ele. Minha única vontade era revê-lo, saber como estava, sair do constante mau humor que me assolou por cinco anos longe de sua presença. Mas as coisas não aconteceram do jeito que eu pensava.

Quando retornei, descobri que Kushina estava doente havia alguns meses. Pensei em falar com Naruto imediatamente, mas ficamos por muito tempo sem contato, não sabia como abordá-lo. Quando as aulas se iniciaram, pouco tempo depois da mudança, todos esses pensamentos foram trocados por certa decepção.

O Uzumaki estava rodeado de pessoas o tempo todo, sempre sorrindo, sempre feliz… Fingindo.

Na manhã em que o reencontrei, lembro dos meus pensamentos em branco assim que deparei com seu olhar. Estava tão diferente e tão extraordinariamente igual, que não sabia que conclusão tirar. Seu corpo magrelo agora tomava uma forma viril. Seus cabelos estavam um pouco mais curtos e ele estava poucos centímetros mais baixo que eu, mas haviam tantas coisas semelhantes ao menino que eu tinha como melhor amigo. Ao menino com quem dei meu primeiro beijo.

Mesmo assim, aquela pessoa que ele mostrava a todos não era ele. Não era daquele Naruto que eu queria me aproximar e não saberia como fazer isso. E foi com bastante pesar que percebi que ele parecia não querer minha aproximação também. Já havia se passado meio ano, estudando na mesma sala e nós não trocamos muitas palavras. Era como se ele houvesse esquecido absolutamente tudo sobre nossa amizade durante aqueles cinco anos.

Como se fôssemos completos estranhos.

Mas eu não havia me esquecido. Enquanto ele apontava, satisfeito, uma obra impressionista, eu enfiava as mãos nos bolsos, olhando na mesma direção que a dele. Sua voz ainda tinha aquele mesmo efeito sobre mim, assim como cada gesto furtivo que lhe escapava.

Eu sabia que jamais esqueceria.

***


Em algum momento naquele dia, nós simplesmente ignoramos nossa distância.

O abismo que havia nos separado depois de todo aquele tempo se tornava, a cada minuto, mais insignificante. Em cada passo, sentia sua aproximação aumentar, assim como aquele brilho que era dele, mas esteve escondido desde que retornei.

Era bom saber que, debaixo daquela máscara de falsa felicidade com os olhos vidrados e vazios, ele ainda era o mesmo Naruto que eu amava.

Era a última parada do passeio. Estávamos na longa ponte Rūpu, sobre o extenso lago e a noite já começava a cair lentamente. Sobre a colina, a maior e mais antiga fábrica de café de Konoha. Caminhamos quase até o fim da ponte e o Naruto sentou-se na beira, passando os braços pelas grades e largando a latinha de refrigerante no canto.

Os raios do pôr do sol que o atingiam deixavam-no inigualável. Era como uma criatura etérea, brilhando nas nuances da própria essência, porque sua existência já me aquecia, já me trazia calor. Quando seus olhos encontraram os meus e o sorriso tomou seu rosto, suspirei.

— Senta, teme – pediu – Passamos o dia andando.

Ainda calado, obedeci. Sentei-me ao seu lado, deixando de lado minha própria lata de refrigerante, encarando agora o entardecer literal, e não o que se sentava ao meu lado. Balancei as pernas, tentando ignorar os batimentos rápidos do meu coração.

— Quem diria, hein? - a mão bronzeada veio parar à minha frente, pegando meu crachá entre os dedos e sorriu – Que iríamos estar assim outra vez.

Ele encarava o papel plastificado pendurando em meu pescoço com uma expressão nostálgica. Foi perturbador notar como estávamos próximos, mas não queria – e nem conseguiria – me afastar.

— O que houve com você? - perguntei, finalmente.

Ele desviou os olhos para os meus, parecendo surpreso, confuso.

— Como assim?

— Quando voltei percebi que estava diferente. - Apoiei o queixo sobre a mão que segurava a grade.

— Diferente como?

Dei de ombros, enquanto notava seus fios se mexerem com o vento.

— Fica forçando o sorriso.

— Não faço isso.

— Faz, sim.

— Como você… - ele balançou a cabeça, baixando a voz depois – Como pode saber?

— Eu te conheço – concluí – E não entendo o que está tentando fazer agora. Eu sei que sempre foi tagarela e que faz amizade facilmente, mas se está tão incomodado porque continua com isso?

Naruto parecia ainda estar absorvendo o que eu disse e seus ombros caíram quando ele apoiou o rosto na grade também.

— Eles são boas pessoas. Não são o problema.

— Então qual é?

Um suspiro lhe cortou os lábios, enquanto ele encarava ao longe. Dessa vez, mostrava muito mais, como sua insatisfação, insegurança, tristeza.

— Eu passei muito tempo me lamentando, eu acho – divagou – Desde que minha mãe ficou doente, parecia que eu passava o tempo todo… Chorando. Eu não queria continuar assim. Então eu sorri.

Eu sabia o que tinha acabado de acontecer. Ele sabia, tanto quanto eu, que não podia se esconder de mim. Enquanto ouvia suas palavras, sentia uma ponte se criando entre nós, exatamente como essa, sobre a qual nos sentávamos.

— Entendo – suspirei – Mas seguir em frente e tentar superar e se manter forte, não significa ter que fingir estar bem o tempo todo. É cansativo ser essa pessoa. E acima de tudo, esse não é você – Nossas pernas, que se balançavam, tocaram-se levemente – É importante ter alguém com quem possa contar para quando não estiver aguentando mais.

Um sorriso triste pintou seus lábios.

— Você sempre foi essa pessoa pra mim.

Seus olhos azuis, de repente, estavam sobre os meus. Aquela mesma sensação de anos atrás me tomando de forma ainda mais intensa.

— Mas sabe – continuou – Eu não fui o único que mudou. Você estava tão diferente quando voltou que achei que ia me bater se eu chegasse perto.

— Quê?

— É sério. Por que acha que eu nunca tinha puxado assunto antes? Ficou muito mais calado e com essa cara de que nada te agrada – soltou uma risada legítima.

— Achei que não me quisesse por perto também – falei – Que ridículo, foi por isso que passamos meses sem nos falar?

— Pois é – deu uma gargalhada curta – Senti sua falta.

Seu pé, que se balançava em um ritmo contrário, agarrou-se ao meu por alguns segundos.

— Eu também senti.

A sensação de dejà vu era forte. O sorriso bonito, o azul brilhante, o rosto próximo e o cheiro de café forte que vinha da fábrica nos envolvendo. Tudo que eu queria era saber se ele ainda tinha gosto de laranja.

— Então somos amigos de novo? - perguntei.

— Vou querer você por perto – respondeu de forma sugestiva, com uma expressão genuinamente travessa.

Seria errado beijá-lo agora?

Eu sabia o que tinha acontecido no meu quarto anos atrás. Sabia que era curiosidade e ansiedade de dois garotos que queriam saber como era tocar a boca de outra pessoa. Mas hoje, o que isso significaria? Eu sabia sobre o que eu sentia, mas não podia dizer o mesmo sobre ele.

Devaneando sobre tudo o que poderia acontecer e tudo que poderia significar e todos as consequências que aquele dia traria para nós dois futuramente, me perdi novamente em cada parte sua.

Repentinamente não havia mais nada ao redor. Era apenas Naruto e o entardecer. E aquela visão era a mais fantástica que poderia ser.

— Teme – Naruto sussurrou – É exatamente como da primeira vez.

Não tive tempo de perguntar o que ele quis dizer. Sua mão me puxou pelo cordão do crachá e sua boca colou-se a minha. O selo se demorou até que seus lábios se abriram, tomando os meus com mais vontade, mas ainda calmamente.

Laranja. Dessa vez, devido ao refrigerante que tomava.

Sua mão livre segurou-me pela nuca e eu fiz o mesmo, acariciando seus cabelos. Não era mais tão desajeitado, nem estávamos curiosos. Era diferente, mas tão magnífico quanto eu me lembrava. Eu podia sentir em sua boca e em sua pele o quanto ambos havíamos cultivado aquele desejo. Era apenas uma confirmação de algo que eu já sabia, com um bônus de algo que eu ansiava.

Sempre fomos um do outro, mesmo sem saber. E não havia nada mais quente do que a sensação de lhe pertencer.

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E foi isso.

Espero que tenham gostado. Um beijo no kokoro de vocês e Ja nee

24 de Fevereiro de 2018 às 19:05 1 Denunciar Insira Seguir história
15
Fim

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KL Kitsune Lyra
Agora eu oficialmente li todas suas SNS aqui no inks e se tiver mais em outra plataforma me fala que eu vou ver também, vc é maravilhosa, todas as suas fics são maravilhosaaas e eu to encantada com essa aqui! Adolescentes são tao difíceis ne? Eu fico impressionada com essa capacidade de tirarem conclusões precipitadas sobre as coisas, mas nada que um cheiro de cafe, gosto de café e laranja e um lindo por do sol brilhando no meu Naru nao resolvam <3
June 11, 2018, 14:08
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