kelras Raquel Rasinhas

ATENÇÃO! CONTÉM CENAS DE SEXO! NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 18. Livro 1- My Model Livro 2 - My Photographer Uma imagem vale mais do que mil palavras. É isso que diz o ditado, mas uma fotografia pode valer muito mais do que palavras, ela pode valer as melhores sensações que você já viveu na sua vida, se o modelo e a fotografa tem química então, ai sim fica perfeito. ❄ Siga nas redes sociais ❄ Instagram : @raquelrasescritora Twitter : @kelrasinhas Facebook : Raquel Rasinhas do Nascimento ATENÇÃO!!!! Plágio é crime e está contido no artigo 184 do Código Penal


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Capítulo 1 - Diga xis

Merda! Justo hoje, tinha que ser hoje! O trânsito não anda e já estou mais de dez minutos atrasada. Meu chefe vai me matar. Pego meu celular e envio uma mensagem para Amanda.

“Estou presa no trânsito. Como está o humor do Rei?”

“Está tão empolgado com o ensaio que não parou um minuto. Os modelos ainda não chegaram, então corre para chegar antes deles.”

Graças a Deus. Guardo meu celular e mentalizo os carros se separando, dando espaço para que eu passe, mas acho que não estou fazendo isso certo. Amanda é um anjo em me acoberta com o Rei. Graças a Deus ela é diferente dos outros assistentes, que fariam qualquer coisa para derrubar um colega. Rei é como chamamos o dono e grande fotógrafo do estúdio Luxury, A. S. Aires. Pelo menos é assim que ele gosta que a mídia o chame, seu nome é Afonso Sebastião Aires, mas ele não acha chique o bastante para um fotógrafo de renome internacional e isso ele é. Com dezenas de prêmios é o fotógrafo mais requisitado do Rio de Janeiro, reconhecido internacionalmente. Claro que dependendo da importância do trabalho ele opta por colocar nas mãos hábeis de seus assistentes, ele mesmo só fotografa celebridades, grifes super famosas e revistas internacionais. O trabalho da vez é super importante e o Rei em pessoa está supervisionando tudo de perto para que fique perfeito.

Uma das grifes mais famosas do mundo decidiu que o plano de fundo de sua nova coleção seria o exótico Rio de Janeiro e suas belezas únicas. Todos os modelos são nativos, mesmo aqueles que vivem fora do país, os cenários que o Rei escolheu foram os Arcos da Lapa, a praia de Ipanema, o Jardim botânico, a Quinta da boa vista e Petrópolis. Ou seja, vamos trabalhar feito loucos, correndo de um lado para o outro e carregando toneladas de equipamentos caríssimos.

Chego ao local das fotos, a Lapa. Toda uma estrutura foi montada e até mesmo carros de polícia estão dispostos em locais estratégicos para fazer a segurança. Trailers, toldos, caminhões e tudo para uma superprodução foi montada para garantir o conforto dos modelos e da equipe. Respiro fundo dentro do carro ainda com as mãos no volante, olho no espelho e sei que vou levar uma bronca se o Rei me ver. Meu cabelo ondulado está escapando do coque que tinha feito de manhã às pressas, não estou usando maquiagem e não tenho tempo para fazer nada relacionado a isso. Respiro fundo mais uma vez e me preparo para o discurso de todos os dias, pego minha mochila no banco do carona e saio, caminho pelo set me esgueirando até ver Amanda preparando seu rádio e fones de comunicação, a puxo para trás de uma tenda e ela respira fundo ao me ver.

— Graças a Deus você chegou. — Ela me olha de cima a baixo e faz uma careta.

— Qual é, não estou tão ruim assim. — Passo a mão pelo cabelo e tento arrumar minha camisa, puxando para baixo, como se apenas isso fosse me transformar em outra pessoa. Amanda ergue uma sobrancelha e eu reviro os olhos em resposta. —Tá bem, está ruim.

— O Rei está puto da vida. Os modelos chegaram, mas o modelo principal da coleção está atrasado e isso significa que todo o cronograma vai sofrer alteração, se ele te vir assim vai explodir. Vai se arrumar, deixa que eu guardo sua bolsa. — Dou minha bolsa para Amanda e um forte abraço.

— Obrigada Amanda. Vou correndo e volto em dois minutos.

Saio a procura de um lugar sem muita gente, passo pela maquiagem e pego algumas coisinhas emprestadas. Mais afastado, perto do Circo Voador, vejo um trailer de camarim e vou até ele. Dentro é a definição de puro luxo e ostentação, com um sofá imenso, frigobar, televisão e até um videogame de última geração. O modelo que vai ficar aqui deve ser muito importante, talvez o tal atrasadinho. Me arrumo rápido com um batom vinho e rímel, solto meu cabelo e volto a prendê-lo em um rabo de cavalo, estico minhas roupas o melhor que dá e dou uma última conferida no espelho. É... Não está mal. Minhas roupas são de trabalho com meus jeans skiny preto, uma blusa branca solta e minha camisa xadrez favorita, meu converse vermelho completa o look com chave de ouro. Sim, bem típico de quem trabalha com fotografia, eu sei, mas é prático e consigo me mover com facilidade, é isso o que importa.

Respiro fundo segurando a maçaneta, mas antes que eu possa pensar no que está acontecendo a porta é aberta, sou puxada junto e caio de frente. Não me machuco, na verdade o chão está estranhamente macio, abro os olhos e vejo um peitoral coberto por uma camisa preta.

— Vai ficar em cima de mim o dia todo? Você é parece magrinha, mas é pesada para cacete. — Olho para cima e olhos verdes e frios como vidro me encaram de volta. — Anda logo e levanta de uma vez. — Levanto em um pulo e o vejo se erguer do chão, limpando suas roupas com as mãos e cara de poucos amigos. Ele é super alto e até tem um corpo legal, mas... Espera, ele me chamou de pesada?!

— Me desculpe por ser pesada. — Falo um pouco mais ríspida do que realmente deveria. O tal carinha me olha chocado, talvez por não esperar esse tipo de resposta, mas eu não ligo. Cruzo meus braços e sustento seu olhar. Eu caí em cima do cara, mas ele me chamou de gorda. Quem chama uma mulher de gorda, de graça dessa maneira? Ele sequer se preocupou se eu tinha me machucado ou não. Que cara babaca. Ergo minha cabeça e saio dali com passos firmes.

Chego ao set, pego meu equipamento, estou colocando meus fones e arrumando o rádio na minha cintura quando Amanda vem correndo na minha direção com duas pranchetas. Seu cabelo liso e curto sacudindo conforme ela corre na minha direção. Amanda é uma garota pequena, poucas curvas, pele clarinha, se fosse mais alta seria uma modelo de passarela perfeita. Ela me entrega a prancheta e na hora ligo o modo trabalho, verificando cada linha com atenção e memorizando tudo o que é necessário.

— O Rei está atrás de você, eu disse que tinha ido ao banheiro. — Franzo o ceno, mas se a desculpa colou então está ótimo. Reviro os olhos pensando no que o Rei quer comigo logo cedo, mas acho que já tenho uma leve ideia.

Sempre que não quer fazer alguma coisa ou lidar com alguém ele joga para cima de um assistente e nos últimos tempos ele está focado em mim para essas coisas. Modelos, clientes, fornecedores, todos eram mandados para mim por ordem do Rei. Não é de todo ruim, já que com isso estou firmando contatos e aprendendo muito mais sobre tudo relacionado a um estúdio fotográfico. Coloco a prancheta embaixo do braço e aviso no rádio que estou indo ver o Rei. Ele está com sua própria prancheta, com dez vezes mais papéis do que eu. Assim que me vê ele levanta uma sobrancelha. Lógico que ele sabe da mentira da Amanda, até porque foi uma desculpa ridícula, ninguém no mundo acreditaria que eu estava a quase uma hora no banheiro. Respiro fundo e vou até ele.

— Peguei um engarrafamento Aires. — Ele me olha dos pés à cabeça e acena fazendo um beicinho.

— Pelo menos, dessa vez, está apresentável. Vou deixar passar. Lembre-se que vendemos imagem e a nossa deve sempre ser a mais bela de todas. — Aceno concordando para o discurso diário, mas por dentro eu só consigo pensar no quão ridículo isso parece. Eu não vou aparecer na fotografia, eu tenho que me preocupar é em fazer um bom trabalho e não se estou maquiada ou não.

Acho que o Rei é um dos caras mais superficiais que já conheci na minha vida, e olha que eu conheço muita gente, a diferença é que ele é o fotógrafo mais requisitado do mundo. Deixo isso para lá. Quem sou eu para julgar alguém? Se deu certo para ele, que bom, é graças a isso que tenho meu emprego hoje. O Rei fica andando de um lado para o outro, arrumando todos os elementos cenográficos que estarão nas fotos, olha para os lados, coloca as mãos na cintura e então sua marca registrada vem à tona.

— Onde estão os modelos? Tragam os modelos aqui! Já estamos muito atrasados para começar! Agora! Andem, andem! Porque as câmeras não estão montadas? Separem os rebatedores! Onde infernos está o meu café!? — O Rei senhoras e senhores. Pego meu rádio e chamo o assistente responsável pelos modelos.

— Carlos, traga os modelos. O Rei já está surtando aqui.

— Chegando. —Vou até Aires, que me olha questionador.

— Os modelos já estão prontos, Carlos os está trazendo, a câmera já está pronta, só está separada do tripé, os rebatedores logo estarão aqui também. Quer seu café puro ou com açúcar? — Aires me olha e então sorri me abraçando pelo pescoço.

— Ainda bem que você está aqui Valentina. — Dou dois tapinhas em suas costas e ele se afasta, indo preparar seu equipamento e instruindo os técnicos de luz. Amanda chega com uma lista, nela o nome de todos os modelos que estão participando da campanha.

— Conferiu se todos estão aí? Não queremos o Rei dando outro ataque.

— Sim. Mas o que realmente importa é esse aqui. — Amanda aponta para o primeiro nome da lista super empolgada. Kevin Magalhães. — Ele é o modelo principal, o rosto da campanha e o homem mais quente da atualidade de acordo com todas as revistas de celebridades conhecidas pelo homem.

— Ok. O novo cronograma precisa estar pronto antes da hora do almoço.

— Você está me escutando, Valentina? Estaremos ao lado do modelo Kevin Magalhães, um dos modelos masculinos mais bem pagos e mais requisitados do mundo.

— Aqui ele é apenas um modelo qualquer que precisa trabalhar, além do mais, nunca ouvi falar dele.

— Tá brincando comigo né? — Olho para Amanda que está chocada e também ofendida por eu não saber quem é o tal Kevin. — Você realmente trabalha com fotografia publicitária? Kevin não é só um rosto lindo e um corpo de matar, ele é gentil com todos, conhecido por sua educação e ótima personalidade. O modelo mais fácil de se trabalhar e as fotos dele transmitem um ar doce e erótico, as vezes selvagem. Ele consegue mudar completamente diante da câmera e isso é simplesmente incrível. Não existe uma mulher que não sinta tesão em ver uma foto dele. — Dou um riso seco e Amanda faz um beicinho irritado para mim. Ele até pode ser um modelo incrível, afinal é o trabalho dele, mas Amanda adora exagerar as coisas.

— Não tem como ele ser tudo isso Amanda, ninguém é tão perfeito.

— Bem, o Kevin é e você vai ver. — Volto a verificar a lista de modelos, tentando memorizar todos os nomes para o momento em que começar o ensaio. Amanda puxa meu braço com força e começa a apontar para os modelos. —Ali! Bem ali! O Kevin! Meu Deus, ele é ainda melhor pessoalmente. Será que consigo falar com ele?

Reviro os olhos e viro para onde Amanda está apontando. Tenho que admitir que me surpreendi bastante, Amanda não estava de toda errada sobre o cara. Ele é lindo... Não, lindo é uma palavra simples demais para descrevê-lo. Pense nos deuses gregos mais gatos que você conhece e então adicione mais dez, junte todos eles em uma única forma. Pronto, esse é o tal Kevin. O sorriso branco com dentes perfeitos e brancos, o cabelo com o corte da moda mais longo em cima formando um topete despenteado estiloso, uma barba rente emoldurando o rosto retangular e queixo quadrado. Ele parecia ter sido esculpido em mármore de tão perfeito. Então seus olhos verdes chamaram minha atenção. Merda! Por instinto me escondo atrás de Amanda e é claro que ela fica confusa com a minha atitude, primeiro por me esconder atrás dela e segundo por simplesmente me esconder.

— O que você está fazendo, Val. — Olho por cima do ombro de Amanda e Kevin olha em nossa direção. Merda, merda, merda!

— Esse cara não tem nada de “fofo” é um grande babaca. — Amanda se afasta e vira para mim com as mãos na pequena cintura e uma cara como se eu tivesse xingado ela.

— Como pode dizer uma coisa dessas?! — Respiro fundo e viro para ir embora, mas Amanda não pode simplesmente deixar isso para lá, então ela para na minha frente, esperando pela minha resposta.

— Ok, eu meio que esbarrei nele hoje de manhã e esse cara foi tudo, menos educado e gentil.

— Você deve estar confundindo-o com outra pessoa, só pode. Kevin jamais seria grosso, muito menos com uma mulher. — Amanda muda seu tom de voz e aponta o dedo para mim. Nossa, ela realmente ficou irritada. Amanda é mesmo fã desse cara.

— Amanda! — O Rei chama e se aproxima de nós com vários papéis na mão. — Aqui está a lista com os modelos que serão sua responsabilidade durante a campanha. — Amanda lê as primeiras linhas, então começa a pular e dar gritinhos, chamando a atenção de todos e assustando tanto o Rei quanto a mim.

— Ai meu Deus! Isso é sério? Eu vou cuidar do Kevin também?! Ah! — Cubro meus ouvidos para protegê-los e então o Rei me entrega uma lista também.

— Apenas certifiquem-se de que eles estejam no local e hora marcados. Sabem que eu odeio atraso. — Aceno concordando enquanto Amanda continua dando pulinhos ao meu lado.

Dou uma rápida olhada na lista e saio sem falar nada, deixando Amanda continuar tendo o seu momento de tiete feliz. Prendo a lista na minha prancheta e chamo os modelos, decorando seus rostos para identificar um por um, assim fica mais fácil durante os ensaios posicionar cada um. O Rei não dá mole e está constantemente nos testando, se estamos prestando atenção, se sabemos onde cada coisa está e assim por diante. Ele não está errado, estamos carregando o nome do estúdio e a imagem dele, por isso é extremamente exigente com quem será sua equipe de fotógrafos.

Levo todos os modelos para a maquiagem, figurino e então para o primeiro local, um pouco mais afastado para que os Arcos da Lapa se destaquem bem na fotografia. O cronograma está um caos e para compensar várias seções estavam acontecendo ao mesmo tempo, às vezes no mesmo lugar. A menos de cinco metros está o grupo da Amanda, fazendo um barulho infernal e claro que ela está entre eles, atiçando ainda mais os ânimos de todos. Nada contra conversarem e se divertirem, mas estamos trabalhando e o barulho excessivo atrapalha os fotógrafos. Toco o ombro de um dos membros da equipe e aponto para o grupo, ele entende e acena concordando, mas em seus olhos dá para ver que desistiu. Provavelmente já pediu que ficassem quietos e não funcionou. Vou até eles, Amanda está de costa para mim rindo de forma histérica, querendo se destacar como sempre.

— Calem a droga da boca! — Todos olham para mim chocados quando grito, inclusive a equipe que estava fotografando. — Estão atrapalhando, fiquem em silêncio ou vão fazer bagunça em outro lugar. Aqui é um local de trabalho, não uma balada. — Olho para Amanda, que baixa a cabeça com o rosto vermelho. Bem, pelo menos ela entendeu. Volto para meu grupo e o trabalho continua sem novos problemas.

Não sou contra pessoas felizes, e animadas, o que é a perfeita definição da Amanda, mas é necessário que saibam a hora de brincar e a hora de trabalhar. O Rei não deu essa equipe para ela a troco de nada ou porque sabe que ela é fã do tal Kevin, foi para ver se ela consegue controlá-los, pois são os modelos conhecidos por serem badalados e por gostarem de enrolar no trabalho. Ele está de olho na Amanda a muito tempo, e não é no bom sentido. Respiro fundo e verifico minha lista para o próximo ensaio. Preciso ir aos camarins, mas no meio do caminho sou puxada pelo braço e dou de cara com um par de olhos verdes e sorriso de comercial de pasta de dente. Kevin Magalhães me olha de cima a baixo, seu sorriso doce e educado tomando todo o rosto. Já entendi tudo.

— Me desculpe. Você é a menina em quem esbarrei mais cedo não foi. Mil desculpas por aquilo. Estava preocupado com meu atraso e se quer perguntei se você tinha se machucado. — Sua voz é linda, grave e baixa, aquele timbre sexy que faz as meninas tremerem da cabeça aos pés, mas eu conheço bem esse tipo de voz, olhos e sorriso. Convivi com eles por muitos anos. Solto meu braço de sua pegada e olho bem para ele.

Sinto outros olhares sobre nós, curiosos sobre a situação e talvez também pelo fato de não estar me derretendo toda por ele. Seu sorriso dele por um segundo, o que foi mais do que suficiente para entender toda aquela situação. Dou um sorriso afiado que o surpreende, olho a hora no meu relógio de pulso e suspiro de forma dramática.

— Estou ótima. Agora você deve ir ao set principal para o ensaio. O cronograma está um caos por conta de certos modelos que chegaram atrasados. — Olho em seus olhos e dou outro sorriso sugestivo. Seus olhos ficam muito abertos e o deixo daquele jeito, retomando meu caminho.

Estou do lado de fora da tenda montada para os figurinos esperando os modelos terminarem de se trocar e acabo ouvindo uma conversa vindo da lateral da tenda. Reconheço a voz de Kevin e dou um passo discreto para o lado, para ouvir melhor o que estão dizendo.

— Te vi mais cedo com aquela assistente. O que foi aquilo cara? Eu nunca vi uma mulher que te tratasse daquele jeito em todo o tempo que a gente se conhece. Foi muito louco. Mas olha, sinceramente, até que foi bom saber que nem todas se jogam em você, me dá esperanças.

— Foi minha culpa, não deveria tê-la surpreendido daquele jeito. — Ouso passo e volto para frente da tenda, fingindo mexer nos meus papéis. Quando Kevin e o outro modelo passam nossos olhos se encontram. Ele sorri e eu apenas ignoro, voltando a olhar os papéis. O modelo ao lado de Kevin dá uma gargalhada e Kevin responde algo que não consigo compreender.

Modelos entregues, ensaio correndo bem, tudo correndo em paz. Olho meu cronograma e vejo que o cenário vai ser diferente das seções anteriores e me adianto para deixar tudo pronto. No rádio os assistentes estão surtando, especialmente os que estão com o Rei. Às vezes ele tem surtos de criatividade e começa a exigir coisas absurdas para colocar no cenário e adivinha quem tem que ir buscar? Já trabalhei com ele e foi uma lição para a vida. Se você faz tudo certo ele vai delegar muito mais trabalho para você, se não faz as coisas direito ele te manda embora na mesma hora, sem aviso prévio nem nada. O Rei exige a perfeição, tanto em seu trabalho quanto dos seus funcionários.

Separo tudo o que será usado e empilho em caixas para levar, olho para as quinze caixas, já desanimada. Claro que está pesado, mas alguém precisa fazer isso, todos estão ocupados e não posso pedir que larguem tudo só porque eu quero adiantar alguns detalhes. Coloco minha prancheta de lado e pego duas caixas, quando me viro sinto ficarem mais leves, olho por cima e o lindo sorriso perfeito acompanhado de olhos verdes e cabelo bagunçado está ali, as mãos dele cobrem as minhas, levando todo o peso.

— Eu te ajudo, parece pesado. — Dou um passo para trás, afastando suas mãos das caixas e o contornando.

— Não precisa, já estou acostumada a fazer isso. — Ele me alcança com facilidade e estende as mãos tentando mais uma vez pegar as caixas. Mais uma vez as afasto do seu alcance.

— Não posso ficar parado vendo uma mulher carregar todo esse peso e não fazer nada, não é certo. — Paro e me viro para ele, já irritada com todo esse teatrinho.

— Por que está fazendo isso, afinal? — Ele fica chocado com a minha atitude, não deve estar acostumado a ser tratado dessa maneira e ser ignorado por uma mulher. Bom, a sempre uma primeira vez na vida para tudo.

— Desculpa, eu não entendo o que você quer dizer. — Ele está se fazendo de desentendido, tentando ao máximo manter o sorriso, mesmo que por dentro esteja se corroendo. Reviro os olhos, coloco as caixas no chão e me aproximo dele, falando baixo para que apenas ele consiga me ouvir.

— Eu sei que isso tudo, esses olhos brilhantes, sorriso solto e boas maneiras são pura fachada. Você, Kevin Magalhães, não é doce, nem gentil e muito menos esse poço de educação como quer que todos pensem, então pare de tentar me convencer disso, porque não vai rolar. Agora... — Pego as caixas de novo e as ajeito nos braços. — Se me dá licença, está atrapalhando meu trabalho.

Depois de mais três viagens, tudo está pronto para a sessão. Vejo a hora e estou adiantada, então vou dar uma olhada rápida nas outras sessões de fotos, mas mal consigo dar dez passos e logo sou cercada pelos outros assistentes. Amanda é a primeira a vir correndo na minha direção com cara de choro e a prancheta agarrada ao seu peito.

— Val, me ajuda, por favor. Eu perdi meu cronograma. — Olho para ela chocada. Amanda é desligada, mas perder o cronograma já é demais.

— Como você perdeu o cronograma? — Amanda enrubesce e desvia o olhar, escondendo a parte de baixo do rosto com a prancheta e eu mato na hora o que aconteceu. Suspiro e coloco a mão na testa. — Você ainda vai ter sérios problemas se te pegarem transando pelos cantos com os modelos. Já conversamos sobre isso Amanda, você pode fazer o que quiser em seu tempo livre, mas não no trabalho. — Ela se encolhe e tudo o que posso fazer é respirar fundo e lhe entregar o meu cronograma. Ela segura o papel e me olha chocada.

— Mas você vai...

— Eu já o decorei, se algo mudar eu só tenho que anotar na minha agenda do celular. — Bato o dedo no papel. — Tente não perder esse, não tem outros. — Os olhos de Amanda brilham de gratidão.

— Valentina, graças a Deus eu te encontrei. — Outro assistente vem correndo e respirando com dificuldades. — Você sabe onde estão os rebatedores dourados? Eu já procurei por todo lugar e não encontro.

— Ao lado das caixas onde os tripés estão sendo guardados, estão dentro de caixas estreitas no canto esquerdo da tenda. Onde estão os responsáveis pelos equipamentos?

— Parece que precisaram pegar algumas coisas no estúdio. De qualquer jeito, obrigada. Preciso levar isso imediatamente para o Aires. — Ele sai correndo até o trailer onde todo o material estava sendo guardado.

— Val, eu sei que vai parecer abuso... — Olho para Amanda com uma sobrancelha arqueada. — Mas você pode me ajudar a arrumar o próximo ensaio. É o do Kevin e não quero fazer besteira. Você tem esse lance de saber sempre como as coisas vão ficar antes de realmente colocar tudo no lugar e isso facilita muito.

Do jeito que ela está nervosa é certo que acabaria fazendo alguma besteira mesmo, respiro fundo e concordo, acenando com a cabeça. Claro que não faço tudo sozinha, coloco toda a equipe, inclusive Amanda, para trabalhar. Tudo pronto e organizado, respiro fundo, satisfeita com o trabalho e já imaginando como a sessão vai acontecer.

Ouço uma comoção não muito afastada, olho ao redor e vejo assistentes, modelos, fotógrafas, pessoas que apenas passavam perto, todas gritando a plenos pulmões enquanto Kevin Magalhães se aproxima do set junto com os demais modelos e a frente está do Rei. Claro que ele tiraria as fotos mais importantes da campanha, com um modelo tão importante e o cliente sendo uma marca mundialmente conhecida, Aires não iria arriscar colocando essa sessão nas mãos de qualquer um. Olho ao redor e todos pararam para ver o grupo se aproximando. É... Kevin conseguiu enganar todo mundo direitinho. Como ninguém vê que tudo isso é pura fachada? Reviro os olhos e cruzo os braços, esperando que o Rei desse seu típico ataque, exigindo o silêncio no set para começar a clicar.

— Chega! Quero todos que não estão envolvidos com a sessão fora daqui. Mônica, onde está minha câmera? — Todos saem para cuidar de suas tarefas, inclusive eu que tenho uma sessão prestes a começar.

Finalmente o primeiro dia da campanha acaba com sucesso e por um milagre conseguimos manter o cronograma original, liberando todo o pessoal em seus horários. Muitos dos assistentes vão embora junto com os modelos enquanto Aires não está por perto e isso me deixa louca. Como eles esperam um dia se tornarem fotógrafos se não têm nenhum comprometimento com o estúdio? Amanda está ao meu lado quando um grupo de modelos a chama. Eu já vi esse filme antes... Ela me olha com cara de cachorro que caiu da mudança, me circula por algum tempo até que solto o ar e apenas aceno com a mão, como se a enxotasse dali. Quase caio para frente quando Amanda pula nas minhas costas e me abraça com força.

— Obrigada, obrigada, obrigada! Eu juro que te levo para tomar seu café favorito amanhã, eu juro. — Ela sai correndo e saltitante na direção do grupo com sua bolsa no ombro.

Três assistentes, dois fotógrafos, Aires e eu, essa é a equipe que fica para terminar de arrumar tudo e deixar o máximo adiantado para o dia seguinte. Aires é sempre o último a ir embora e isso é o que eu mais admiro nele, mesmo tendo seus momentos de estrela, chiliques e tudo o mais, seu comprometimento com o estúdio e com o trabalho é inegável. Estou sozinha na tenda destinada ao estoque, dois seguranças já estão posicionados na entrada e mais uns dez fazendo ronda por todo o local. Terminando de encaixotar os rebatedores e sinto alguém me observando. Tento ignorar e continuo trabalhando, mas um arrepio estranho sobe pela minha coluna. Seja lá quem for se aproxima e quando puxo uma caixa ela é tirada das minhas mãos. Dou um gritinho, meu coração acelera e tenho vontade de agredir o filho da mãe.

— Quer ajuda? — Eu reconheço a voz, mas seu timbre é completamente diferente da primeira vez que Kevin me ofereceu ajuda. Não tem aquela delicadeza, na verdade é bem frio e impessoal, como se realmente estivesse apenas perguntando por obrigação. Olho para cima, até porque ele é muito alto, e não tem o sorriso falso de mais cedo, seus olhos estão sérios e ele arqueia as sobrancelhas, esperando minha resposta. Puxo a caixa de suas mãos e saio andando.

— Esqueceu sua máscara no camarim. Melhor ir buscá-la antes que alguém te veja.

— Que se foda. Todo mundo já foi embora, não preciso fingir. — Dou um riso e baixo a caixa em seu devido lugar. Levanto e me viro para Kevin, que está com as mãos nos bolsos de sua jaqueta preta.

— Que sorte a sua, não? — Passo por ele e vasculho outra caixa, conferindo se todo o material está lá dentro ou se esqueceram alguma coisa.

— Como sabia?

— Sabia do que? — Pego outra caixa e também a verifico antes de levar junto com as outras para o seu devido lugar.

— Que eu estava fingindo. Como você sabia que era mentira?

— É meio óbvio. Só não vê quem não quer. Ninguém é tão certinho e perfeito, isso não existe. Uma pessoa assim só pode ser três coisas. — Fico de frente para Kevin e enumero mostrando meus dedos para ele. — Um sádico, um psicopata ou um mentiroso. Graças a Deus você é só mentiroso compulsivo.

— Mentiroso é um adjetivo muito forte, eu apenas dou às pessoas o que elas querem, que é serem bem tratadas por aqueles que admiram. Qual o problema em me aprofundar um pouco mais no meu trabalho como modelo sendo um “bom modelo”? — Cruzo meus braços e encosto nas caixas atrás de mim, fico olhando para Kevin, que ostenta um sorriso debochado.

— Eu sei bem aonde você quer se aprofundar. Você é tão superficial e narcisista ao ponto de achar que o que está fazendo é bom? — Kevin dá um sorriso de lado nada falso e então dá de ombros. Ele está concordando comigo, inacreditável.

— E vocês fotógrafos, são o que? Vocês só se importam com a imagem, a estética e se vai vender o produto. O que tem por debaixo daquilo não importa, vocês só pensam em vender, isso faz de você uma mentirosa, tanto quanto eu. — Estou literalmente de boca aberta olhando para ele. Ainda com um grande sorriso, Kevin dá as costas e sai andando. — Te vejo amanhã, garota.

Ah não. Ele não fez isso! Em um único dia ele disse que sou pesada, superficial e mentirosa, não satisfeito ainda tem a audácia de me chamar de “garota”. Meu sangue ferve e todo o gênio ruim que herdei da família do meu pai vem à tona de uma só vez. Olho ao redor e vejo um copo de café caído no chão, pego o copo e atiro em Kevin. O copo acerta bem em cheio no meio de suas costas, espalhando líquido marrom claro que escorre pelo tecido de couro da sua jaqueta, fora que uma grande parte também atingiu seu pescoço e cabelo. Ele vira furioso, mas isso não me intimida em nada.

— Em primeiro lugar não compare os outros com você e em segundo lugar o meu nome é Valentina, não garota. — Kevin vem na minha direção com passos largos, tentando tirar o máximo de café de suas roupas. Por instinto e não querendo me sujar, dou alguns passos para trás, mas acabo com as costas imprensadas contra a parede.

Estamos frente a frente, bem não literalmente, já que ele é uns bons quinze centímetros mais alto do que eu, mas a distância que separa nossos corpos é de menos de um braço. Kevin me encara sério, como se estivesse tentando me intimidar ou coisa assim, mas eu sei que essa cara feia que ele está me dando é só mais uma mentira. Ele quer que eu sinta medo dele, que pareça fraca diante dele, coitado. Sustento seu olhar permanecendo séria e calma e isso sim parece deixá-lo irritado. Kevin está acostumado a ser amado por todos, que todos aceitem sua mentira de bom rapaz, doce e gentil e dar de cara com alguém que não engole esse papo deve tê-lo pego de surpresa, mas o fato de que eu o estou enfrentando nesse momento deve ser ainda pior. Ele coloca suas mãos na parede atrás de mim e baixa seu rosto, nivelando nossos olhos.

— Eu vou chamar você do que eu quiser, garota. Se não gosta vai lá reclamar com o seu chefe. — Mordo o lábio inferior para conter um xingamento que estava bem na ponta da minha língua e ele sorri.

Kevin sabe que não vai adiantar de nada eu falar qualquer coisa com ninguém. É só ver como a Amanda reagiu quando eu disse como ele falou comigo quando nos esbarramos de manhã. Kevin vendeu muito bem a sua imagem de bom moço, ninguém acreditaria em mim e quem acabaria perdendo o emprego e se ferrando em toda essa história seria eu. Filho da mãe esperto.

— Garota esperta. — Ficamos em silêncio, então Kevin se aproxima mais, segura meu queixo com a mão, erguendo meu rosto e antes que eu consiga entender seus lábios estão nos meus.

Seus lábios esmagam os meus, seu polegar puxa meu lábio inferior, abrindo minha boca e então sua língua força a entrada, seus dentes prendem meu lábio inferior e puxam. Me recupero do choque e o empurro com todas as forças, ele ri da situação. A raiva é tão grande que meu punho voa na direção do seu rosto com toda força. O soco é tão forte que minha mão dói, mas a dor é mínima perto do prazer que sinto em colocar esse imbecil no lugar dele. Kevin me olha muito chocado e limpa a gota de sangue do canto da boca com o polegar, sorrindo de lado. Ele começa a rir e vai embora, simplesmente sai andando em direção a um carro preto chique no estacionamento. Esfrego a mão na boca, tentando eliminar os resíduos e as sensações que Kevin deixou nos meus lábios.

— Filho da mãe, desgraçado, cretino! Qual é a porra do seu problem?! — Ele ri ainda mais alto, entra no carro e vai embora. Deus, me dê paciência, porque se me der forças eu acho que vou matar Kevin Magalhães.

21 de Janeiro de 2023 às 10:05 4 Denunciar Insira Seguir história
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Leia o próximo capítulo Capítulo 2 - Mau Modelo

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Bella Oliveira Bella Oliveira
Amei a história
October 02, 2023, 19:22
Luiz Carlo's Luiz Carlo's
Excelente, excitante e excepcional... Parabéns 👏🏾 👏🏾 👏🏾
June 04, 2023, 01:58
Daniel Trindade Daniel Trindade
Olá! Faço parte da Embaixada Brasileira do Inkspired. Estou aqui para lhe parabenizar pela Verificação de sua história. Espero que sua história alcance muitos leitores aqui em nossa comunidade. Sucesso e felicidade em sua arte! ♡
January 22, 2023, 23:57

  • Raquel Rasinhas Raquel Rasinhas
    Muito obrigada ❤️ vou trabalhar arduamente para conseguir ✌🏻 January 23, 2023, 00:45
~

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