camelia-alba-fernandes Camélia Alba Fernandez

REVISADA ✅️ Quando lorde Jeon saiu àquela noite fria de Dezembro, à procura de diversão em algum bordel ou casa de jogos em Seul, não poderia supor que teria seu destino selado de modo irrevogável. Um encontro inesperado muda o caminho do notório libertino, mostrando-lhe novas perspectivas, alterando-lhe convicções, traçando diferentes prioridades, e abrindo caminho em seu coração para toda a surpresa, ternura e emoção que apenas a descoberta súbita e incontestável do amor pode conseguir! O Espírito Natalino pode operar milagres!


Conto Todo o público.

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CAPÍTULO ÚNICO – UM AMOR PARA O DIA DE NATAL.

Jungkook puxou a gola do casaco mais para cima, protegendo-se do frio. Gostava do inverno, e adorava neve, mas aquela noite estava especialmente fria. Seul em dezembro não era convidativa, mas este ano a estação estava sendo mesmo rigorosa. Compreendia porque os marqueses de Gwacheon-si encabeçaram uma campanha de arrecadação de agasalhos e mantimentos para os pobres da cidade.

Se os aristocratas e a camada mais alta da sociedade estavam tendo dificuldade para conviver com a friagem, mesmo com lares aquecidos por lareiras sempre bem abastecidas, como poderia estar sendo para aqueles que mal tinham um teto para dormir e um pedaço de pão adormecido para comer?

O lorde esfregou as mãos. Santo Deus. Por que seus amigos haviam marcado justo hoje para conhecer o mais novo bordel da periferia? Olhou em torno, observando uma ou outra sombra cruzando rapidamente as ruas. Aparentemente nem os ladrões do bairro animavam-se em ficar perambulando por aí.

Um falatório que ia aumentando conforme caminhava chamou-lhe a atenção. Uma voz doce, típica de um ômega erguia-se sobre as outras, e percebia-se muito bem que vozes grossas e roucas de alfas soavam alteradas. A veia do cavalheirismo saltou no pescoço de Jungkook. E ele acelerou o passo, seguindo em direção à discussão. Se um ômega estava em apuros, ele iria salvá-lo!

Jungkook viu o ajuntamento de pessoas mesmo de longe. E também sua agitação. Alfas gesticulavam em volta de um ômega pequeno, que agora abria os braços de modo amplo. Jeon Jungkook começou a correr na direção de onde acontecia a confusão. Suas botas eram de boa qualidade, com solado adequado para uso no inverno, mas a neve naquele pedaço já adquirira o ponto de gelo, úmido e escorregadio.

O alfa perdeu o controle dos próprios pés quando já estava perto o bastante do grupo que discutia. Deslizou e patinou para frente, numa impressionante disparada que freou como um milagre bem diante do ômega no centro do grupo. O falatório cessou subitamente, enquanto todos olhavam estarrecidos o indivíduo que se colocava entre eles, mais ligeiro que um trenó puxado por cavalos.

– Isto que eu chamo de chegada triunfal! – O ômega que ainda a pouco discutia sorriu-lhe.

– Ele deve estar muito faminto! Dê-lhe uma porção primeiro! – Comentou um dos alfas à volta.

Jungkook olhou de um rosto para outro, também surpreso. Estava óbvio que cometera um engano.

As pessoas ali reunidas não estavam brigando, muito menos um ômega estava sendo atacado. Ele fez uma mesura educada e deu um passo atrás, constrangido por seus modos e disposto a pedir desculpas e afastar-se o mais rápido possível dali, mas seu corpo mais uma vez o traiu.

Jungkook oscilou para frente, sacudindo os braços, num movimento brusco que fez com que as pessoas ao seu redor gritarem assustadas, e por fim e, não menos vergonhoso, o alfa desequilibrou-se totalmente e caiu de modo deselegante, estatelando seu traseiro nobre no chão.

Mãos solícitas o reergueram, acompanhadas de risadinhas compreensivas.

– Você está bem?

O ômega a quem supostamente viera salvar, aproximara-se dele, observando-o com atenção.

– Sim, é claro.

Fora seu orgulho, tudo estava em ordem.

Jungkook passou os olhos rapidamente em volta. Percebeu que além do aglomerado onde estava, mais pessoas reuniam-se em pequenos grupos, e outras chegavam. Havia alfas, ômegas e filhotes. E pelas vestimentas, eram pessoas bem pobres. Alguns pequeninos estavam enrolados em cobertores velhos.

Uma tigela fumegante foi posta em suas mãos. Lorde Jeon Jungkook olhou para o caldo de aroma convidativo e então para o ômega que o entregara. Era o mesmo que parecia estar discutindo antes. O ômega não se vestia como os outros, embora se trajasse de modo simples. Seu sorriso bondoso o desconcertou.

Oh. O pequeno ômega também o julgara como um pedinte. E servia-lhe a sopa quente que as pessoas de bom coração serviam em bairros pobres todas as noites, principalmente no inverno. Será que não percebia a qualidade de seu casaco? Ou será que sua roupa era tão feia que permitia confundir com os trajes de um mendigo?

– Aqueça-se. Seus lábios estão arroxeados, senhor. – A voz do ômega era gentil. Observando-o bem, Jungkook percebeu o rosto muito rosado pelo frio, a boca de sorriso meigo e os olhos claros e brilhantes. Não podia ver-lhe os cabelos, cobertos como estavam pelo grande capuz de sua capa, e por baixo deste capuz, notava um gorro escuro. O ômega estava bem aquecido e preparado para a neve. Lógico, já que fazia um trabalho ao ar livre, em horário tardio. Jungkook pegou-se experimentando o conteúdo de sua tigela. Suas sobrancelhas ergueram-se:

- É muito saboroso!

O ômega deu uma risadinha divertida, e seu corpo sacudiu de um jeito que fez Jungkook alegrar-se também.

– Mas é claro que é! O senhor acha que eu serviria algo ruim para os meus amigos?

– Mas nem me conhece... – Jungkook murmurou.

O jovem ômega pegava outra tigela e servia uma senhora ao lado quando o alfa murmurou. Voltou o olhar para o lorde enquanto abaixava-se para encher mais uma vasilha num caldeirão imenso posto numa mesa improvisada na calçada.

Droga! Ele não tinha visto nada disso antes!

– Não seja por isso! Sou Park Jimin!

Jeon Jungkook franziu as sobrancelhas. Park? Onde ouvira este nome antes?

– Senhor Park!

Uma voz gritou ao fundo.

- Sim, Hwan?

Um homem grande e mais velho agora se aproximava.

- O reverendo está chamando o senhor! Não está achando os agasalhos infantis na carruagem.

– Ah, papai nunca encontra nada... – O ômega resmungou mais para si mesmo, e bateu amigavelmente no braço do senhor que parara ao seu lado. – Hwan, continue servindo em meu lugar, por favor. E peça para organizarem a fila.

Ah, aqueles gritos e gestos amplos eram para isso! Para organizar uma fila antes de começarem a distribuir alimentos e cobertores... Jungkook se achava agora ainda mais estúpido do que quando viu-se sentado no chão gelado. Park Jimin voltou o rosto gentil mais uma vez para Jungkook, antes de afastar-se:

– Com licença, senhor. Se quiser aguardar na fila, distribuiremos cobertores para os alfas em breve!

Jungkook ficou observando-o afastar-se, estarrecido por toda a situação em que se encontrava. Saíra de casa esta noite para divertir-se num bordel com os amigos e agora estava tomando uma sopa distribuída por almas caridosas, no meio de uma porção de indigentes, e admirando um ômega que nem sequer fazia seu tipo. Sempre preferira os ômegas mais altos, magros e de formas mais discretas.

A altura do ômega era abaixo da média, seu corpo era farto e exuberante, e suas curvas, principalmente a traseira... eram grandes e sinuosas. Céus. Olhara a traseira, e olhara bem, do filho ômega do pastor Park, o líder religioso mais famoso de Seul, graças a seus sermões empolgantes e trabalho incansável junto aos menos favorecidos! Logo ele, Jeon Jungkook, um libertino com nome escrito em maiúsculo na lista negra dos pais coreanos. Iria para o inferno por isto. Era certo que iria.

[...]

Jeon Jungkook não sabia o que exatamente o levara ao bairro pouco recomendável outra vez. Não foram os amigos, nem a possibilidade de conhecer um novo bordel ou antro de jogatina, certamente. Observou um pouco o trabalho dos Park's antes de aproximar-se de Park Jimin. Hwan, o senhor alto e forte da noite anterior estava ao lado do ômega enquanto o menino enchia vasilhas e distribuía para os moradores que passavam necessidade.

Quando Jungkook chegou perto deles, o alfa mais velho o cumprimentou com um aceno breve, e Jimin sorriu-lhe. Aquele sorriso... Era por isso que estava ali novamente. Seus passos o levaram para junto do ômega. Uma tigela foi posta em suas mãos. De novo.

– Hoje o caldo é de cordeiro! – Jimin o encarava, esperando que dissesse algo.

– Sensacional – balbuciou Jeon, olhando fixo nos olhos do ômega. Azuis. Como o céu de verão.

Ele havia colocado seu melhor agasalho, sua mais nova cartola. Mas Park Jimin olhava apenas seus olhos. Não via como sua roupa era de boa qualidade? Que não estava ali para receber caridade? Devia ofender-se. Mas estava muito feliz. Tomou o caldo todo e esticou a vasilha quando Jimin indagou se desejava mais. Desejava mais, com certeza.

[...]

Hwan cutucou Jimin quando viu o alfa alto das noites anteriores chegar. Não precisava, Minie já o tinha visto.

– Boa noite, alfa!

– Boa noite! Mais fria hoje, me parece – Jungkook esfregou as mãos cobertas por luvas grossas, e assoprou-as. Logo tinha uma caneca cheia de líquido quente nas mãos. A bebida aqueceu-lhe os dedos e fez o mesmo com seu corpo assim que ingeriu seu conteúdo. Respirou fundo, emitindo um suspiro agradecido, antes de passar à ação seguinte. Esta noite não queria manter-se apenas como um expectante observador, e sim interagir com o menino Park. Curvou-se para poder falar-lhe:

– Quero ajudar.

Jimin aquiesceu. Segurando a mão do alfa, conduzindo-o até um grupo de crianças, deixando Hwan cuidando do caldo quente que continuava sendo distribuído para as pessoas que chegavam.

– Bem, vamos lá, senhor... – Jimin titubeou, erguendo o rosto para o alfa ao seu lado. Ele era belo, com seu rosto anguloso e as pontas dos cabelos cacheados escapando teimosamente do chapéu. Era interessante também que não estivessem quase no mesmo nível de altura, como acontecia na maior parte das vezes em que se aproximava de um alfa. Aquele alfa era muito mais alto que ele. Um homem grande, de fato.

Jungkook abriu um sorriso.

– Perdoe-me! Jurava que já havia dito meu nome. Sou Jeon Jungkook. – Por alguma razão que não compreendia, suprimiu o “lorde” com que sempre se apresentava.

– Senhor Jeon, agradeço-lhe por ter se voluntariado para nos ajudar. Toda a colaboração é bem vinda.

Jimin pegou um monte de casacos de dentro de um saco de pano grosso, e colocou nos braços de Jungkook. O alfa arregalou os olhos.

– O quê?

– Basta distribuir. Leve em conta o tamanho, claro.

Jungkook olhou os agasalhos em seus braços, e a fila que imediatamente se formara diante dele. Jimin já se afastava em direção a outro grupo, que experimentava calçados.

– Não era isto que eu tinha em mente! – Resmungou o alfa.

Planejara uma conversa com Jimin, mostrar-lhe que podia fazer uma doação generosa para a causa do ômega, e talvez conseguir sua boa vontade e companhia para um almoço ou dois, algum passeio pela cidade, ou uma ida ao teatro. Então, quem sabe, os encontros poderiam evoluir... Mas seus planos haviam naufragado rapidamente.

Com um gemido desanimado girou para encarar as crianças magras e de olhos grandes que o observavam em expectativa. Não estava habituado a lidar com pequenos. Mas se o filho do pastor Park lhe confiara aquela missão, se incumbiria dela de maneira adequada e satisfatória.

[...]

– Ele é ótimo com crianças! – Admitiu Hwan, referindo-se a Jungkook.

Jimin assentiu. Havia cerca de uma semana que Jeon Jungkook assumira a função de distribuir agasalhos e calçados para os pequeninos. Mesmo os que já haviam recebido sua cota ficavam por perto, ouvindo-o contar histórias curtas e divertidas, e fazer gracejos acerca de tamanhos e modelos dos objetos distribuídos. As risadinhas infantis enchiam a noite de uma forma mais agradável que as conversas dos adultos que também estavam por ali. Principalmente porque entre o falatório de alfas e ômegas havia muito de lamúria e reclamação.

Mas quando as risadas elevavam-se, as lamentações baixavam de tom, até calarem-se por completo, numa aprovação tácita à reação infantil. O riso equivalia à esperança. Por dias melhores, um ano melhor. Esta fé poderia salvar vidas, dissera-lhe seu pai, mais de uma vez. Diante do púlpito o pastor Dong-hae podia salvar almas ao falar do amor de Deus, fortalecendo a confiança nos homens, mas era ali, sem altares os separando, e sem bíblias nas mãos, que corpos eram salvos diariamente, com contato físico, bens materiais e palavras de conforto.

Jimin e toda a família seguiam os ensinamentos paternos à risca, e o ômega ficava satisfeito quando via pequenos milagres como os de agora acontecerem diante de seus olhos. Uma menininha abraçava Jungkook, que se abaixara diante dela, enquanto ajeitava-lhe o capuz vermelho que complementava sua vestimenta, com o novo casaco cinza. Novo. Novo? Minie franziu as sobrancelhas. As roupas distribuídas eram resultado de doações, e não era hábito, por mais generosas que as pessoas fossem, que ofertassem coisas novas.

– Ele tem trazido coisas – Hwan explicou, adivinhando-lhe os pensamentos.

– Oh!

Jimin não devia estar surpreso.

[...]

– O que fará no Natal?

Jimin sobressaltou-se.

Geralmente pressentia a presença de Jungkook, mas dessa vez o alfa havia surgido atrás dele, quando estava distraído mexendo nas caixas que seu irmão mais velho, também pastor, havia enviado para a distribuição dessa noite. E seus pensamentos estavam confusos, porque giravam justamente em torno do alfa que o fitava com concentração. Seu coração ribombou, como sempre acontecia quando estava perto de Jungkook.

– Eu... Meu pai alfa costuma fazer o culto da noite, depois oferecemos uma ceia aos necessitados, no pátio da igreja.

– Entendo. Mas e quanto às crianças?

– Alguns pais as trazem para cear. Outros preferem levar um pouco...

Jungkook ergueu a mão, impedindo-o de continuar a falar.

– Eu sei dos planos para a refeição comunitária, mas não é sobre isso que pergunto.

Não era? Jimin sentia-se confuso. Ainda mais porque estavam afastados do resto do grupo, somente Jungkook e ele. O que fazia com que Minie tivesse seus sentidos aguçados pela presença forte e marcante do alfa ao seu lado. Jeon Jungkook cheirava a pinho fresco, um aroma que certamente contribuía para o atual atordoamento do ômega.

– Crianças gostam de ganhar brinquedos no Natal, senhor Park.

Aaaah! Jungkook estava certo.

Mas seu pai era um alfa prático demais para pedir aos poucos cristãos caridosos que ouviam seus apelos para que doassem brinquedos. Ainda mais quando os próprios pais das crianças prefeririam que elas ganhassem vestimentas quentes e bons calçados. Explicou isto da melhor forma que pode, e deu-se por feliz ao não gaguejar diante dos olhos escuros e perspicazes que estavam focados em si.

– Diga-me de quantos brinquedos precisaria – insistiu Jungkook.

– Muitos.

– Dê-me um número aproximado. Certamente teve uma estimativa para os cobertores, sapatos e casacos.

Sim, teve. Poderia fazer uma lista como base, e chegar a um número aproximado para as crianças do bairro que atendiam.

– Sabe que deve levar em conta que precisaríamos de brinquedos mistos. Os filhotes não ficariam felizes se só houvesse bonecas, ou só bolas na saca de distribuição. Os pequenos ômegas geralmente preferem bonecas, mas não são todos. Eu mesmo preferia brincar com bolas e soldadinhos.

Jungkook concordou, com um sorriso paciente.

– Claro que sei. Eu também não gostava de bonecas.

– Imagina que pode providenciar doação de brinquedos para todos os nossos pequeninos? – Jimin parecia incrédulo.

O ômega não o conhecia. Não sabia que seu pai era um nobre rico, membro do parlamento. Não imaginava que Jeon Jungkook possuía amigos influentes, e que entre eles estavam os defensores de causas sociais, Kim Seokjin e Kim Namjoon, os marqueses de Gwacheon-si, ou Jung Hoseok, herói de guerra e coronel de Sua Majestade, ou ainda Kim Taehyung, dono da maior rede de confeitarias e tabacarias de Seul. Jimin não poderia imaginar que a um pedido dele, lorde Jeon, todos os seus amigos acorreriam e ficariam felizes em permitir que as crianças a quem se afeiçoara nos últimos dias ganhassem um Natal surpreendente e feliz.

– Deixe isto comigo, pequeno ômega.

Jimin posou a mão sobre a dele. Jungkook estacou. Seus olhos não se moviam da delicada mão, neste momento sem luva, repousando sobre a sua. Ele ergueu a vista bem lentamente, encontrando o olhar límpido de Park Jimin.

– Não diga nada às crianças, por favor. Não quero que elas tenham falsas expectativas.

Jungkook irritou-se. O ômega não podia confiar nele? Ele fechou sua outra mão sobre a gorducha de Jimin.

– Aposto que conseguirei os brinquedos, e também doces para todas elas!

Jimin teve o desplante de rir.

– Duvida? – Jungkook tinha o semblante fechado.

Jiminie não duvidava. Rira de alegria, porque achara alguém como ele mesmo. Sonhador, generoso e teimoso. Para provocá-lo, no entanto, respondeu:

– Duvido.

Jungkook soltou um rosnado curto antes de puxar Jimin para bem junto dele. Bem junto mesmo.

– Vou conseguir todo o prometido, e depois disso, na noite de Natal, cobrar-lhe-ei uma pequena multa por sua incredulidade, mocinho bochechudo de pouca fé.

– É? – Jimin tornou a rir. – Qual seria a multa?

Os olhos de Jungkook baixaram, fixando-se na boca carnuda e rósea tão próxima.

– Um beijo – sussurrou.

Jimin assentiu, devagar. Céus! Por mais de mil razões ele gostaria de perder a aposta.

[...]

O pastor Park nunca havia visto sua assembleia tão cheia no Natal como aquela noite. Um pequeno burburinho correu entre os bancos quando um casal pediu licença para alcançar os últimos assentos vazios da igreja. Observou o alfa de cabelos longos, presos por uma tira na nuca, que mantinha um menino pequeno preso ao quadril, passar entre os membros habituais, cumprimentando-os, e não pode deixar de sorrir ao reconhecê-lo.

Próximo a ele, um oficial com farda elegante e medalhas reluzentes, acompanhado de sua jovem esposa e dos filhos gêmeos, inclinava-se para dizer algo para outro alfa, também de farda, que assentiu com um sorriso, balançando nos braços uma criança miúda que agitava os bracinhos em natural rebeldia infantil. Mais três casais, assentados nos bancos da frente, acalmavam seus respectivos filhotes enquanto acenavam para os amigos que acabavam de chegar.

Passou pelo genuflexório no canto do altar e pôs-se atrás de seu púlpito, aguardando que a audiência fizesse o silêncio adequado para que começasse o culto. Assim que a atenção de todos voltou-se para ele, dedicou um olhar amoroso à sua família, sentado no primeiro banco. Seu ômega de tantos anos, Jong-su, seu filho mais velho, Minjun, também pastor, sua caçula, Eun, e seu adorado filhote do meio, Jimin.

Ah, Jimin! Seu querido menino ômega, seu coração.

O pastor voltou a olhar seus fiéis, aos convidados que esperavam por suas palavras, e mais do que tudo, ele sabia, para a ceia que aconteceria mais tarde. Sorriu, indulgente.

– Caros irmãos, boa noite.

[...]

Jimin observava, encantado, as caixas repletas de brinquedos e roupas terem seu conteúdo distribuído entre as crianças que saltitavam alegremente em volta, e que depois agrupavam-se em torno das mesas fartas de comida e doces das famosas confeitarias Kim. Via o próprio dono da rede, Kim Taehyung, com seu ômega, Yoongi, ao lado, e um bebê no colo, ajudar na distribuição dos alimentos. Outro casal elegante os auxiliava e conversava gentilmente com os pequenos, tendo os próprios rebentos ao lado. Todos mantinham uma expressão bem humorada.

Os que se revezavam em esvaziar os caixotes eram dois alfas de farda, auxiliados pelas esposas que haviam pousado seus filhos pequenos numa ampla toalha no chão, ao alcance de suas vistas. Separando peças de vestuário por seus tamanhos estavam um alfa louro e outro moreno, que pareciam divertir-se fazendo piadas um com o outro, e divertindo as respectivas esposas, que repassavam as peças para uma ruiva de beleza estonteante distribuir.

Os brinquedos eram entregues por Jeon Jungkook. Jimin sorriu, com o coração disparado, cheio de admiração e amor. O alfa disse que faria um pequeno milagre, e conseguira.

[...]

– Todos os libertinos de Seul vieram, Nam?

Kim Namjoon, marquês de Gwacheon-si, e Nam para os amigos íntimos como o pastor Park, deu um sorriso:

– Os ex-libertinos, o senhor quer dizer, pastor Dong-hae.

Dong-hae lançou um longo olhar em direção às pessoas que estavam envolvidas com a entrega de presentes para as crianças.

– Espero mesmo que sejam todos ex-libertinos.

Namjoon, que tinha nas mãos um livro onde anotava os nomes e endereços dos alfas em volta dele, com intenção de conseguir-lhes empregos, parou o que estava fazendo, e encarou o velho amigo de luta ao seu lado. Sabia para quem o pastor olhava.

– Dong-hae, pode confiar nisso.

O pai de Jimin sentiu-se mais tranquilo com a afirmação.

[...]

– Feliz Natal.

Jungkook sorria para Jimin.

Quisera aproximar-se do ômega durante toda a noite, mas havia tanta gente em volta, e as crianças estavam tão agitadas em torno dele, que não conseguira. A alegria contagiante de todos arrefecera sua ansiedade e o colocara no clima certo para uma data tão festiva.

Seus pais mostraram-se surpresos mais cedo, quando ele saíra apressado da ceia familiar, mas compreenderam quando ele explicou o que iria fazer. O sorriso benevolente de sua mãe no momento em que ele citou o nome de Park Jimin foi significativo. Sua mãe sempre entendia muito bem as coisas, mesmo nas entrelinhas.

– Feliz Natal, senhor Jeon!

Este era o momento em que Jungkook deveria ser sincero.

– Tenho algo para contar-lhe, senhor Park.

Jimin estava sentado nos degraus da igreja, e juntou as mãos no colo quando Jungkook sentou-se ao seu lado.

– É mesmo?

– Sim. Não sou um alfa pobre, ômega. Na verdade, nem mesmo de classe média. E todas as pessoas que trouxeram as doações hoje são amigos muito próximos, os melhores. Praticamente minha família.

Jimin assentiu, silencioso.

– Sou da nobreza. Sou lorde Jeon.

– Eu sei.

Jeon Jungkook franziu as sobrancelhas.

– Sabe?

– Sempre soube que o senhor não fazia parte do grupo dos necessitados que buscavam nossa ajuda.

– Mas... – Jungkook começou a rir – Me empurrava sopas e caldos quentes noite após noite!

Jimin deu uma risada.

– Aqueceram-no, não?

Jungkook deu uma gargalhada alta.

– Acho que sua presença aquecia-me mais do que qualquer coisa, pequeno ômega.

O rosto de Jimin ficou rosado.

Jungkook se aproximou mais, e seus dedos levantaram o queixo de Jimin, com delicadeza.

– Lembra-se da multa que falei a você que cobraria?

Jimin balançou a cabeça.

– Também tenho algo a lhe contar, lorde Jeon.

Jungkook estava tão perto que o hálito quente tocava-lhe o rosto.

– Tem?

– Eu não aceito multas. Não pagarei beijos por atitudes.

– Não fiz tudo isto por apenas um beijo – Garantiu Jeon Jungkook.

Park Jimin levantou um dedo e encostou delicadamente no nariz do alfa:

– Nem pretenda querer algo mais, Jeon Jungkook.

Jungkook pegou o dedinho atrevido e beijou-o.

– Nem mesmo se o pretensioso a lhe pedir beijos for seu futuro marido?

Os olhos azuis de Jimin abriram-se de par a par.

– Futuro marido?

– Sim. Eu. Sou seu presente de Natal, assim como você é o meu. Minha estrela-guia, meu anjo redentor, meu amor. Você me inspirou a ser alguém melhor, e o amo por isso.

– Jungkook... – Jimin suspirou, com os olhos começando a lacrimejar.

– Só diga que me aceita como seu esposo e conceda-me um beijo, minha pequenina estrela brilhante. Sabe como espero ansiosamente por isso?

– Sim, eu digo sim, alfa!

Park Jimin enlaçou o pescoço de Jeon Jungkook, e puxou-o para que juntassem os lábios. Aquele era, sem sombra de dúvida, o melhor Natal de todos.


FIM.

30 de Dezembro de 2022 às 20:32 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

Conheça o autor

Camélia Alba Fernandez Olá, meu nome é Camélia Alba e eu amo abraços quentinhos! Sou conhecida também como VINE_JADDE que era o meu user antigo do wattpad. Sou adaptadora Jikook com foco em histórias de época, ARMY e Jimin Utted. Espero que gostem das histórias e do meu trabalho. Sejam bem-vindos ao meu novo cantinho!

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