Pouso a caneta em cima do papel. Minha mão está tremendo demais para que eu consiga terminar de preencher, então inspiro rapidamente algumas vezes para tentar me acalmar.
Você consegue, Kyle.
Pego a caneta de novo, mas acho que minha mão está tremendo ainda mais do que antes.
— Pode deixar que te ajudo.
Ergo o olhar e vejo o instrutor sorrindo para mim. Ele agarra a caneta, pega a prancheta e então se senta na cadeira à minha direita.
— Tem muito novato que chega nervoso aqui. É mais fácil se eu preencher a papelada por você, porque provavelmente sua letra vai ficar ilegível – explica ele. — Parece até que você vai pular de um avião ou algo assim.
Relaxo na mesma hora com o sorriso preguiçoso que ele abre, mas o nervosismo volta com tudo quando lembro que sou um péssimo mentiroso. Seria muito mais fácil mentir sobre a parte médica se eu mesmo preenchesse. Não sei se consigo mentir para esse cara.
— Valeu, mas eu me viro. – Tento pegar a prancheta de volta, mas ele a tira do meu alcance.
— Calma aí... – Ele olha rapidamente o meu formulário. — Kyle Carson. – Estende a mão, ainda mantendo a prancheta fora do meu alcance com a outra. — Eu sou o Hoseok, e se pretende saltar de um avião a três mil metros de altura sob minha supervisão, o mínimo que posso fazer é terminar de preencher a papelada para você.
Aperto sua mão, impressionado com a força do gesto. Saber que entregarei minha vida a essas mãos me deixa um pouquinho mais tranquilo.
— Quantos saltos já completou como instrutor? – pergunto.
Ele sorri e volta sua atenção ao formulário. Começa a folheá-lo.
— Você será o meu número quinhentos.
— Sério? Quinhentos parece um marco importante. Você não devia estar comemorando?
Seu olhar volta a encontrar o meu, e seu sorriso desaparece.
— Você perguntou quantos saltos completei. Não quero comemorar antes da hora.
Engulo em seco.
Ele ri e cutuca meu ombro.
— É brincadeira, Kyle. Relaxe. Você está em boas mãos.
Sorrio enquanto respiro fundo outra vez. Ele começa a analisar o formulário.
— Alguma condição especial? – pergunta ele, já pressionando a caneta no espaço marcado com o “não”. Não respondo. Meu silêncio faz com que ele erga os olhos e repita a pergunta. — Alguma condição especial? Doenças recentes? Algum ex maluco com quem eu deva me preocupar?
Sorrio com a última pergunta e balanço a cabeça.
— Nenhum ex maluco. Só um muito maravilhoso.
Ele assente devagar.
— E as outras perguntas? Alguma condição especial? – Ele espera minha resposta, mas só consigo hesitar, apreensivo. Semicerra os olhos e se inclina mais um pouco na minha direção, me observando com atenção, como se estivesse tentando descobrir mais do que é preciso para responder o questionário. — É terminal?
Tento manter minha compostura.
— Na verdade, não. Ainda não.
Ele se inclina ainda mais e me encara com uma expressão de total sinceridade.
— O que é então, Kyle Carson?
Nem o conheço, mas há algo tranquilizador nele que me faz querer contar a verdade. Mas não conto. Encaro minhas mãos, unidas no meu colo.
— Se eu contar, talvez você não me deixe saltar.
Ele se inclina até seu ouvido ficar perto da minha boca.
— Se você falar bem baixinho, talvez eu nem consiga ouvir – sussurra ele.
Seu hálito acaricia minha pele na altura da clavícula, e fico toda arrepiado. Ele se afasta ligeiramente e me observa enquanto espera a resposta.
— Fibrose – respondo.
Nem sei se ele sabe o que é fibrose, mas talvez, respondendo de uma maneira simples, ele não me peça para explicar.
— Como estão seus níveis de oxigênio?
Acho que ele sabe o que significa.
— Por enquanto, tudo bem.
— Tem autorização médica?
Balanço a cabeça.
— Decisão de última hora. Às vezes, sou meio impulsivo.
Ele sorri, olha para o formulário de novo e marca “não” nas condições especiais. Então olha para mim.
— Bem, você deu sorte porque, por acaso, eu sou médico. Mas, se você morrer hoje, vou dizer para todo mundo que mentiu no questionário.
Rio e concordo com a cabeça, grato por ele estar se dispondo a ignorar isso. Sei que é algo importante.
— Obrigado.
Ele olha para o questionário e pergunta:
— Por que está me agradecendo? Não fiz nada.
A negação dele me faz sorrir. Ele continua percorrendo a lista de perguntas, e respondo com sinceridade até finalmente chegarmos à última página.
— Tá bom, última pergunta – diz ele. — Por que quer saltar de paraquedas?
Eu me inclino, tentando ler o formulário.
— Tem mesmo essa pergunta?
Ele aponta para ela.
— Tem, sim. Bem aqui.
Leio a pergunta, depois respondo com franqueza.
— Acho que é porque estou morrendo. Tenho uma lista bem grande de coisas que sempre quis fazer.
Seu olhar endurece um pouco, quase como se tivesse ficado chateado com a minha resposta. Ele volta a se concentrar no formulário, então inclino a cabeça e observo por cima do seu ombro enquanto ele escreve uma resposta totalmente diferente da que dei.
Quero saltar de paraquedas para sentir ao máximo que estou vivo.
Ele me entrega o formulário e a caneta.
— Assine aqui – indica ele, apontando para o final da página. Depois que assino e devolvo os papéis, ele se levanta e estende a mão para mim. — Vamos preparar os paraquedas, sr. Quinhentos.
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— Você é mesmo médico? — grito mais alto que o rugido dos motores.
Estamos sentados um de frente para o outro no pequeno avião. Ele está com um sorriso imenso, com dentes tão retos e brancos que poderia apostar que, na verdade, ele é dentista.
— Cardiologista! — grita ele. Indica o interior do avião com um gesto de mão. — Faço isso aqui por diversão!
Um cardiologista que salta de paraquedas no seu tempo livre? Impressionante.
— Sua mulher não fica chateada por você passar tanto tempo ocupado? – grito.
Meu Deus. Que pergunta mais óbvia e brega.
Estremeço só de pensar que perguntei isso em voz alta. Nunca fui muito bom em paquera.
Ele se inclina para a frente e grita:
— O quê?
Ele vai mesmo me obrigar a repetir?
— Perguntei se sua mulher não fica chateada por você passar tanto tempo ocupado!
Ele balança a cabeça, desafivela o equipamento de segurança e vem se sentar do meu lado.
— Está muito barulho aqui dentro! – grita ele, indicando o interior do avião com a mão. — Fale de novo!
Reviro os olhos e começo a perguntar outra vez.
— Sua... mulher... não...
Ele ri e pressiona o dedo nos meus lábios, mas muito rapidamente. Afasta a mão e se aproxima de mim. Meu coração reage mais ao seu movimento rápido do que ao fato de que estou prestes a saltar deste avião.
— Estou brincando – diz ele. — Você parecia tão constrangido por ter feito a pergunta da primeira vez que eu quis obrigar você a perguntar de novo.
Dou um tapa no braço dele.
— Babaca!
Ele ri, depois levanta, estende o braço na direção do meu equipamento de segurança e aperta o botão para soltar. Então me faz levantar.
— Está pronto?
Assinto, mas é mentira. Estou completamente apavorado, e se esse cara não fosse um médico que faz esse tipo de coisa para se divertir — e também por ele ser o maior gato — eu provavelmente estaria amarelando nesse exato momento.
Ele me vira para eu ficar com as costas contra seu peito e conecta nossos equipamentos de segurança até eu estar bem preso a ele. Estou de olhos fechados quando o sinto colocar meus óculos de proteção. Depois de vários minutos esperando-o terminar de preparar tudo, ele me faz andar até a abertura do avião e pressiona as mãos em cada lado dela. Estou literalmente encarando as nuvens abaixo de mim.
Volto a fechar os olhos com força, bem na hora que ele aproxima a boca do meu ouvido.
— Não tenho mulher, Kyle. A única coisa que amo é a minha vida.
Por incrível que pareça, me pego sorrindo em um dos momentos mais assustadores da minha vida. Seu comentário faz valer a pena as três vezes que me obrigou a repetir a pergunta. Agarro meu equipamento com mais firmeza. Ele me envolve com os braços, segura minhas mãos e as acomoda nas laterais do meu corpo.
— Mais sessenta segundos – diz ele. — Posso pedir um favor?
Faço que sim, assustado demais para discordar dele agora, quando meu destino está praticamente em suas mãos.
— Se chegarmos vivos no chão, posso convidar você para jantar? Para comemorar que é o meu quingentésimo?
Rio da insinuação sexual na pergunta e olho por cima do ombro.
— E instrutores de paraquedismo podem sair com os alunos?
— Não sei – responde ele, rindo. — A maioria dos meus alunos são homens, mas eu nunca tive vontade de chamar nenhum deles para sair.
Volto a olhar para a frente.
— Dou minha resposta quando a gente aterrissar em segurança.
— Justo. – Ele me faz dar um passo para a frente, entrelaça nossos dedos, e abrimos os braços. — Chegou a hora, Quinhentos. Está pronto?
Assinto, e minha pulsação acelera ainda mais. O medo que me consome provoca um aperto no peito, tenho plena consciência do que estou prestes a fazer voluntariamente. Sinto sua respiração e o vento no meu pescoço enquanto ele nos leva até a beira do avião.
— Sei que você disse que queria pular de paraquedas porque está morrendo – comenta ele, apertando minhas mãos. — Mas isso não é morrer, Kyle! Isso é viver!
E, então, ele nos impulsiona para a frente... e saltamos.
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Pra quem tá chegando agora, leia The Melody of the Silence para entender a história. Boa leitura! 💜
Obrigado pela leitura!
FPEle cantando.. vou morrer de amores Nem sei oq dizer sobre esse capítulo Mas sinto q o Tae vai ficar com ciúmes por um bom tempinho ainda Talvez ciúmes nem seja a palavra certa e sim desconforto Ansiosa demais Eles são MT fofinhos Só sei sofrer de amores
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