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Aos amores impossíveis...

Era mais uma madrugada em que a insônia me faz companhia. Faz frio. Passo um café forte e procuro algo pra fazer enquanto o sono não vem. Sentei-me em frente a velha estante lotada de livros, alguns mais empoeirados que os outros, quando de repente, encontro um livro bem no fundo da estante. Já nem lembrava da existência dele, a muito tempo não me interessava por "teorias da conspiração". Foi uma fase difícil e de aprendizado, havia muito Marx, Engels, Trotsky, Lenin e Kollontai na minha mesa de trabalho, nada além disso.

Peguei-o, sentei no chão da sala com meu café forte e amargo e um cigarro. Quando o abri, caiu de dentro daquele livro velho um papel amassado, mal lembrava da existência do livro, quanto mais que havia algo dentro dele. Quando peguei a carta, as lembranças de dez anos atrás pareciam vivas em minha mente. 

Houve uma época em que a vida parecia mais fácil, pelo menos pra mim. Era impulsiva e sonhadora, não tinha medo de cometer erros, fazia tudo com muita paixão, como qualquer pessoa com menos de 30 anos sem medo de ser feliz. Naquela época eu era fascinada por qualquer leitura, não era nem um pouco exigente, foi quando comprei aquele livro que hoje estava empoeirado na minha estante. As lembranças mais vivas em minha mente era das noites em claro que passávamos conversando sobre qualquer assunto, desde os mais complexos aos mais sem sentido, e sempre regados a cafés, cervejas e cigarros.

Parei por uns 20 minutos com aquele papel na mão, olhando pro nada e lembrando de tudo que me fazia feliz a 10 anos atrás, coisas simples que me fizeram crescer como ser humano, aquela presença tinha sido muito importante na minha vida, e hoje, 10 anos depois, eu já nem pensava mais nisso, até achar aquele livro empoeirado na estante. 

Meu estômago estava embrulhado, uma mistura de alegria, saudades e arrependimento. Alegria por achar aquele papel, saudades do tempo em que passamos juntos e arrependimento por não ter insistido em nós. 

Apesar dos momentos felizes, foi algo muito confuso, não sabíamos ao certo o que queríamos, a única coisa que tínhamos certeza era de que não podíamos ficar juntos. Sempre que lembrávamos disso, ele comentava de um livro do Paulo Coelho, Brida. O livro fala de um Mago que se apaixona por uma aprendiz, que é sua "alma gêmea", mas não podem ficar juntos. Confesso que aquilo as vezes era o que me confortava da tristeza de saber que jamais ficaríamos juntos. 

Já estava quase amanhecendo quando decidir ler a carta, abri, e comecei a lê-la bem devagar, estava escrito: 


Não sei quanto tempo você irá demorar pra achar esse papel, mas eu espero que quando você encontrar, lembre-se que tudo na vida é aprendizado, e que eu te amei como nunca amei outra mulher. O que temos é transcendental, nunca irá se repetir, nem comigo e nem com você, pois não é desse mundo. Quando você ler a frase abaixo, independente de quanto tempo já se passou, lembre-se que um dia, nem que seja em outras vidas, nós sempre seremos um só. Eu te amo. 

"Não somos donos do sol, nem da tarde, nem das ondas, nem sequer da visão de Deus - porque não podemos possuir a nós mesmos." 1:1



9 de Janeiro de 2018 às 02:26 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

Conheça o autor

Lê Ferrera Professora, historiadora, musicista, comunista e mãe da Marina.

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