magali-silva1617647561 Magali Da Silva

Ninguém imaginava que Anna, aquela bela e misteriosa garota, tinha um inusitado namorado que vivia à duas dimensões de distância. *** Algumas narrativas incluídas nesta estória são experiências verídicas vividas pela autora.***


Paranormal Lúcido Impróprio para crianças menores de 13 anos.

#umbral #desdobramento #espiritualidade #amor #obsessão #projeçãoastral #astral #viagemastral
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1 - Lutando contra a doença fatal

São Paulo, abril de 2020. Naquele dia quente, atípico para o outono do Brasil, Anna preparava-se para a última sessão de quimioterapia. Ameaçava um temporal lá fora, rajadas de vento e trovoada prenunciando mudança de tempo. Ela olhou pela vidraça e viu as pessoas fugindo, tentando se proteger da poeira e da chuva iminente.
A ala de oncologia do Hospital das Clínicas estava lotada, os doentes de câncer não paravam de aparecer, dia após dia, mesmo diante de uma ameaça tão atemorizante como o vírus Covid 19. Aquela doença maldita não escolhia hora nem tempo...todo dia um paciente novo começava sua jornada, num ir e vir incessante. Jornada que era uma verdadeira batalha, morosa e cansativa, Anna via no semblante deles.
Ela aguardava calada o horário da consulta, absorta em seus mil pensamentos. Ora atenta aos movimentos das pessoas, ora com o olhar perdido num canto qualquer. Uma máscara de tecido cobria parcialmente o rosto pálido e abatido. À mostra somente os grandes olhos verdes, apagados e obscurecidos, não tinham mais aquela luminosidade que notava- se nos vibrantes anos de jovem.
Anna tinha 55 anos e há 5 lutava bravamente contra um câncer agressivo de mama.
As vezes cansava-se, o desânimo abatia-lhe mas ela não podia desistir, já que tinha que cumprir a sua jornada de vida, mesmo sutilmente sentir que ela, a jornada, estava apenas começando. Ela tinha plena certeza que a vida não terminava com a morte.
Contava com a ajuda incansável de Sônia, sua fiel amiga desde os tempos da juventude nos anos 80.

— Ainda bem que tenho você pra me ajudar.

— E sabe que sempre pode contar comigo, amiga.

— As vezes sinto falta do Leonardo...mas não posso incomoda-lo, ele trabalha tanto...

— Deixa ele cuidando da vida dele, eu te ajudo, prometi que ia cuidar de você minha"menina-veneno". — disse Sônia, enquanto acariciava de leve os cabelos dela.

Anna ria toda vez que a amiga chamava- lhe de "menina-veneno".
A propósito, a música vinha-lhe bem a calhar , já que, nos anos 80, ela era a personificação exata da canção de sucesso do britânico Ritchie.
Linda, loira e incríveis olhos verdes!
Era a "menina-veneno" para todos no banco onde trabalhava e no meio onde vivia.
No entanto, era uma jovem tímida que apesar de muito assediada, não tinha namorado.
Era introspectiva, calada, porém sorridente e simpática. Seu sorriso era largo e expansivo. Palavras não eram o seu forte, sorrisos sim.

— Você é corajosa em se arriscar a vir aqui comigo com essa loucura toda que está essa tal pandemia.

— Não tenho medo.

— Mas devia...eu se pegar esse tal vírus, não tem importância, já estou no fim mesmo.

— Não diga isso! Você não está no fim coisa nenhuma!

— Vocês pensam que eu sou boba, sei que estou no fim. Sou uma pessoa bem informada, os últimos exames dizem que deu metástase. Mesmo não entendendo nada de medicina, existe uma coisa que se chama Google e eu sei o que significa metástase. — disse ela, sorrindo, um sorriso meio irônico, com toda condescendência do mundo.

— Maldito Google!

— Sei que não tenho muito tempo. E quer saber? Não tenho medo.

— Tem muito sim. Não pensa assim, pensa positivo, tenha fé...olha, até seu cabelo cresceu de novo!

— Pois é, cresceu... Mas nada a ver com aquele que eu tinha né?

— É, covenhamos que aquele era bem mais vistoso...era lindo! As meninas cobiçavam aquele cabelo. Morriam de inveja!

— Não posso negar que pelo menos esse gosto eu tive. Fui uma moça bonita.

— Ainda é minha amiga... Nunca houve uma garota mais linda que você...está meio baqueada agora mas vai sair dessa. Isso vai passar, ainda vai viver muito...e ainda vai arrumar um namorado.

— Você sempre foi muito amável...mas sabe que isso não vai acontecer.

Fizeram silêncio por um instante, quando a enfermeira entrou na sala para procedimentos.

— Tudo bem Anna?

— Tudo bem, estou me sentindo meio fraca mas tá tudo bem.

Anna sentia-se mal toda vez que tomava a quimioterapia. Era uma sensação de enjoo constante.
Aquela era a última tentativa para vencer a cruel doença. Foram intermináveis sessões de quimio e radioterapia, cansativos dias de internação e finalmente, após 5 anos de tratamento, depois de um período que o câncer pareceu desaparecer, quando todos pensaram que ela havia vencido a batalha, ele voltou, agressivo e fulminante, determinando que seus dias eram poucos.
Ela conformava-se, em momento algum negligenciou o seu estado, no entanto, sabia que aquela seria a via para sua passagem, seria o meio responsável por sua morte.
Era questão de tempo. E pouco.

***

Ela teve uma vida boa, casou- se aos 22 anos em 1987, numa cerimônia emocionante em um belo entardecer do mês de maio. Dessa união nasceu um lindo menino, um único filho que agora tinha 32 anos, era seu filho amado e maior orgulho. Rapaz bom e de boa índole. Ele,quando constituiu família, mudou-se e consequentemente afastou-se do convívio familiar, contudo, sem perder a forte ligação que existia entre eles.

Apesar de uma rotina familiar sem maiores dilemas, Anna descobriu uma traição, divorciou-se pouco antes de descobrir a doença, viu seu ex-marido casar-se novamente e reconstruir a vida.
" Que seja muito feliz.", pensava ela, com um sincero desejo de que Roberto fosse imensamente realizado sem ela. Mesmo depois de tudo, nada mudou seu sentimento por ele.
Nutria muito afeto, seu companheiro de anos a fio pela vida afora. Eram muito amigos, mais do que o usual.
Ele ficou muito consternado quando viu Anna doente, porém, não podia mais acompanha-la, já estava compromissado com outra mulher, ainda assim, secretamente e frequentemente fazia ligações telefônicas para informar-se de seu estado e desejar boa recuperação, sempre muito preocupado. No fundo, Anna sempre foi a mulher que ele mais amou, talvez a única, a mulher da sua vida.

***

Anna vivia as noites cheia de expectativas, de esperas... Há muito tempo não tinha sonhos, aqueles tão esperados sonhos lúcidos que tinha quando jovem, que depois descobriu serem projeções no mundo extrafísico.
Ela ansiava por rever em seus desdobramentos, o Irineu, seu namorado e companheiro das suas incríveis jornadas noturnas no mundo astral.

Já havia se passado mais de 30 anos, por um bom tempo essa parecia uma história superada, porém, ela nunca esqueceu Irineu, a imagem dele era uma constante em seus momentos de introspecção... sabia que ele estava em algum lugar, à sua espera. Sentia uma saudade imensurável dele. Depois do casamento desfeito, era ele que povoava seus pensamentos mais íntimos.
Entretanto, as projeções não aconteciam mais. Consumindo medicações fortes para dor, o sono era apenas um desmaio pesado e inconsciente.

23 de Agosto de 2022 às 18:04 0 Denunciar Insira Seguir história
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