Chovia torrencialmente, Fábio desceu do carro e correu pra varanda da casa, devia ter ligado pra desmarcar, mas precisava ver logo a casa, a mudança do atual apartamento precisava ser feita em poucas semanas.
Tudo parecia quieto na casa, a corretora não devia ter conseguido chegar.
— Droga! — praguejou.
No instante seguinte a luz da sala se acendeu, ele olhou curioso, só podia ser ela, devia ter chegado mais cedo e estava preparando a casa para a visita. Bateu na porta, nenhuma resposta, colocou a mão na maçaneta e girou, estava aberta, colocou a cabeça para dentro.
— Olá! — silêncio, entrou.
Andou até a sala, avistou um vulto na cozinha, caminhou devagar até a porta, avistou distraída na cozinha, uma bela mulher, ela tirava um tabuleiro de biscoitos do forno.
— Olá!
Ela se assustou, mas no minuto seguinte abriu um belo e radiante sorriso.
— Você chegou! Estava a sua espera, espero que não tenha se molhado muito.
A princípio ele estranhou um pouco as roupas, parecia que ela tinha saído de um filme dos anos 50, mas logo relaxou quanto a isso, o vintage está na moda, e ela era perfeita com sua saia xadrez vinho e sua blusa perfeitamente ajustada com decote de coração, que realçava muito bem seus seios, ele tentou não ser indelicado, mas era difícil resistir.
— Fiz biscoitos! sirva-se!
Ele pegou, sem tirar os olhos dela que permanecia com um sorriso nos lábios, seus olhos eram de um verde penetrante, e junto com sua pele muito alva contrastavam com seu cabelo escuro, de um preto brilhante como as asas de um corvo.
— Falei com você pelo telefone, não queria desmarcar por causa da chuva, se eu gostar da casa eu fecho hoje mesmo.
— Você falou com a corretora, eu sou a dona da casa, Amélia. — estendeu a mão num cumprimento, ele apertou sua mão que era fria mas macia.
— E será que ela vem? a corretora, está caindo o mundo lá fora.
— Talvez, mas posso te mostrar a casa. Mas antes você precisa tirar esse casaco molhado, ou vai se resfriar. — logo ela estava atrás dele tirando seu casaco, ele ficou sem ação, ela pegou o casaco delicadamente, deslizando pelo braço, em seguida colocou cuidadosamente em uma cadeira na frente do aquecedor.
— Ela me falou que a dona da casa tinha falecido, o neto estava responsável pelo imóvel e a procurou querendo vender. — A luz da sala atrás dele piscou, Helena deu um sorriso, ela era encantadora.
— Não, ela deve ter se enganado, a minha falecida mãe era dona da casa, e realmente faleceu a alguns anos, mas a casa ainda é minha. — Ele parecia desconfiar da resposta dela, ela sorriu novamente e fez um gesto com a mão indicando o corredor. — Vamos? tenho certeza que vai amar a casa. — Ele assentiu.
Amélia mostrou cada cômodo, ela era de uma delicadeza nos gestos e na fala, mas tinha uma sensualidade contida, cada vez que seus olhares se encontravam ele se sentia um pouco mais preso, enfeitiçado, desejou aquela desconhecida.
— Obrigado pela companhia! eu realmente gostei muito da casa, entrarei em contato com a corretora, farei uma proposta.
— Fico feliz.
Fábio saiu pela porta, a chuva havia parado, quando chegou na metade do caminho entre a porta e a rua, o celular tocou.
— Oi, sou eu Márcia! eu estou tentando te ligar a uma hora, eu fiquei presa no trânsito, por causa da chuva, podemos marcar outro dia para a visita?
— Ah não se preocupe! a Amélia me mostrou.
— Amélia?
— Sim a dona!
— Já te disse, a dona morreu tem 30 anos.
— Não é possível...
— Olha, eu preciso desligar agora, mas falo com você mais tarde, tenho que estacionar.
Fábio olhou na direção da casa, a luz da cozinha ainda acesa, hesitou, não se moveu, então andou em direção a casa, tocou a maçaneta, a porta abriu, hesitou novamente, mas entrou.
— Amélia?
A porta se fechou lentamente atrás dele sem que notasse, o ar ficou frio, um espectro branco, fantasmagórico se aproximou sinuoso pela sala, rodando em volta dele, tinha uma forma feminina, o rosto se ergueu a sua frente, ainda com o corpo esfumaçado o envolvendo numa espiral fria, esticou os dedos longos e translúcidos até seu rosto, um toque tão frio que ele sentiu a pele arder, mas não conseguia se mover, o corpo não obedecia, e sua mente brigava entre a vontade fugir, seu instinto racional contra um desejo inexplicável de se entregar.
— Eu sabia que voltaria pra mim, esperei tanto por você. — A voz era suave e doce. — Ela o beijou, era tarde de mais pra fugir.
Uma jovem e seu filho estavam a porta.
— Será que ela já chegou? — Disse a mulher para o filho, que investigava pela janela.
Ouviram uma música vindo do interior, se olharam, ela encostou na maçaneta e a porta se abriu.
Entraram tímidos, sentindo o cheiro de biscoitos, o ambiente estava aconchegante.
— Olá?
Logo apareceu na sala um belo casal.
— Olá! estávamos esperando por vocês! — Disse a bela mulher de olhos verdes e cabelos muito escuros. — Quem é esse jovem rapazinho? — Perguntou.
— Ahh esse é Davi, meu filho, ele tem 8 anos.
A mulher se aproximou, e levantou o rosto do menino com um toque suave no queixo, levantou e olhou para a mãe do menino.
— Ele é perfeito! Eu e meu marido ainda não temos filhos, não é querido? — Ela olhou para Fábio, ele sorriu. Ela se enroscou no braço dele.
— Estamos ansiosos para aumentar a família. — Respondeu Fábio, dando um beijo na mão de Amélia. — Ele é perfeito querida. — Completou.
O menino se agarrou a mãe assustado e a sala inteira ficou fria.
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