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Todas as cidades possuem ao menos uma história para contar, seja real ou não, triste, feliz ou uma mistura de tudo. Naquela cidade, todos conheciam a lenda dos órfãos Park Jimin e Min Yoongi, que era contada há muitas décadas e povoava a mente da população. Mas, e você? Gostaria de conhecê-la?


Fanfiction Bandas/Cantores Para maiores de 18 apenas.

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Capítulo único

Escrito por: @LadyofSomething/@RedWidowB


Notas iniciais: Gostaria de agradecer a @Adrift_ pela betagem e paciência, assim como @yonpanx/ @yonpanx pela capa lindíssima <3 muito obrigada por tudo!

Além disso, agradeço a quem se dispor a ler :) essa foi mais um pequena loucura que se passou na minha cabeça, e fico feliz em compartilhá-la com vocês.

Boa leitura!


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Todas as cidades possuem ao menos uma história para contar, seja real ou não, triste, feliz, ou uma mistura de tudo. É comum que contos e anedotas se tornem parte da cultura local, principalmente quando esses surgem de condições que a população um dia enfrentou.

— Na nossa cidade — comentou a professora de História —, temos a lenda dos órfãos.

O dia estava com um clima ameno, as ruas não faziam tanto barulho quanto o normal e aquela era mais uma excursão, do tipo que os alunos ficavam animados demais com a mudança de ares para lembrar que aquela também era uma aula, então aprendiam com mais prazer.

Era uma aula prática que misturava turmas, às vezes até de escolas diferentes, pois o intuito era sempre o mesmo. Todos os anos, alunos do quinto ao nono ano do ensino fundamental, eram levados para conhecer um local diferente, através de um incentivo do governo municipal e sua secretaria de educação.

E por mais que o lugar não fosse muito mais que uma cidadezinha urbana do município, havia muita coisa para se aprender sobre a história e as lendas que ajudaram a erguer sua cultura, e era sobre isso a aula daquele dia. Era sobre fazer com que aquelas crianças e adolescentes aprendessem um pouco mais sobre a cultura que os cercava.

— Diferente do que conhecemos hoje, nossa terra não era tão fácil de se viver — pontuou a professora, logo abrindo os braços e apontando para os arredores. — Percebam que temos muitos prédios e casas hoje, porém, pensem também que, antes de toda a urbanização da qual já discutimos em sala, também tivemos diferentes períodos econômicos e sociais até a formação do que somos hoje.

Guiados pela professora, os estudantes foram sentando sobre o gramado, sob as sombras de diversas árvores que cercavam a praça onde pararam. Seus uniformes azuis se destacavam na paisagem, e os adultos que passavam pela praça logo identificavam o que acontecia e sentiam-se nostálgicos sobre aquela experiência.

O barulho de passarinhos podia ser ouvido, junto ao do vento balançando as folhas das árvores. Acompanhando a sinfonia da natureza, os jovens formaram um meio círculo, e a mulher se sentou em frente a eles, com suas pernas cruzadas em posição de lótus.

A docente esperou que todos estivessem confortáveis e menos agitados, observando o rostinho cheio de ânimo de cada um.

Logo na ponta, pertinho da professora, uma menininha de cabelos encaracolados levantou a mão para chamar sua atenção.

— E o que isso tem a ver com a lenda, professora? — perguntou com genuína curiosidade.

A adulta riu, remexendo-se no lugar para também se sentir confortável. Abrindo um sorriso doce, respondeu:

— É o que espero que vocês entendam no final da história. — Balançou a cabeça em concordância com as próprias palavras. — Vou contar a vocês, assim como um dia contaram para mim, e depois vocês podem questionar outras pessoas sobre como a ouviram.

Um segundo aluno se manifestou:

— E por que essa lenda é importante?

Fazendo uma careta divertida, a educadora apertou os olhos e balançou as sobrancelhas, fazendo com que os discentes rissem.

— O que acham de me ouvir contar e depois vocês mesmos me respondem? — Mudou sua expressão para parecer que nada tinha feito, causando ainda mais risadas. — Pois bem! Como eu ia dizendo, histórias existem e são reproduzidas de todas as maneiras e lugares. Alguns povos acabam criando ou vivendo coisas similares, outras sociedades aderem e/ou aderiram à própria cultura o que lhes convinha de outras. Eu, pessoalmente, acredito que o que vou contar a vocês neste momento tem um pouquinho de tudo isso.

“Há muito muito tempo, nessa mesma cidade em que seus pézinhos pisam todos os dias, dois garotinhos decidiram que queriam virar heróis dos próprios contos. É claro que não era a missão mais fácil da Terra, considerando as condições em que viviam, mas eles tinham fé de que tudo viraria apenas lembranças ruins do passado.

Min Yoongi e Park Jimin eram seus nomes, e os dois tinham pouco mais de oito anos quando esta história aconteceu.

Diz a lenda que, ao se conhecerem no orfanato, Yoongi e Jimin não demoraram muito para se aliarem contra a vida sofrida que levavam por ali.

Naquele tempo, as crianças sem pais viviam não só com a dor do abandono, como também com o abuso daqueles que desgostavam de estar ali tanto ou mais que eles. As pessoas que deveriam cuidar deles eram exatamente aquelas de quem eles gostariam de ser protegidos e fugir.

Essa realidade era um pouquinho pior para os dois protagonistas da nossa história, uma vez que, em meio à crise econômica no país, o Estado passou a pagar cada vez menos aos funcionários, além da comida dificilmente chegar, e quando chegava, não era suficiente.

Era um período tormentoso, em que nem as famílias eram mais sagradas, e foi assim que os dois garotos acabaram sozinhos e tendo que lidar com o mundo que não pediram para conhecer.

Yoongi, que era o mais velho entre eles, chegou a conhecer sua mãe e pai. Eles eram fazendeiros, que viviam muito bem no interior, onde tudo prosperava do solo, até seu pai se deslumbrar com a magnificência da Revolução Industrial e suas tecnologias e vender suas terras em troca de um emprego que lhe sugou até a alma e o matou. Sua mãe, desolada e sem instrução, rendeu-se à única opção que lhe disseram que tinha, e os policiais precisaram arrancar o menino dos braços mortos da prostituta que virara.

Assim, o pequeno foi deixado nas portas do orfanato onde Jimin havia praticamente nascido.

Diferente do assustado e perdido Yoongi, o pequeno Park — que era o mais novo entre eles — conhecia todas as paredes daquele lugar, do assoalho à poeira do teto, pois eram as únicas memórias que tinha: a de viver ali.

Foi abandonado tão novo que alguns diziam que o governo havia lhe arranjado uma cabra para mamar dela, pois morreria sem leite materno. Obviamente, ninguém acreditava em tal história, uma vez que nem trigo conseguiam para comer, quem dirá um animal.

Porém, Jimin sobreviveu de alguma forma e conheceu Min Yoongi quando começava a considerar que não havia valido a pena ter continuado vivo, já que a vida era tão miserável naquele lugar.

E Yoongi não foi fácil de ser convencido a fazer amizade. Ele era arisco e amedrontado, mas, ao mesmo tempo, era como um filhote de gatinho perdido da mãe.

Jimin adorava gatinhos, então resolveu que adotaria aquela versão humana de um. E somente conquistou sua confiança ao fazer como faria com um animalzinho: alimentando-o.

Como já conhecia os buracos e horários do lugar, Jimin passava despercebido entre os cuidadores e furtava da cozinha os pães que os adultos comiam sozinhos e não davam para eles.

Na primeira vez que ofereceu um para o mais velho, viu-o enrubescer da cabeça aos pés e começar a brigar com ele, pois poderiam ser pegos e castigados. Na segunda vez, o mesmo aconteceu, e em todas as outras também, mas Yoongi sempre comia ao seu lado no final.

Aos poucos, amansou a fera que existia no Min e passou a ensiná-lo a como sobreviver naquele lugar.

Algumas pessoas acreditam que, por serem crianças, Jimin e Yoongi não percebiam ainda os efeitos de viver sob tanto estresse, enquanto outras acreditam que foi exatamente isso o que resultou no final da história dos dois.

Afinal, quando os cuidadores descobriram os furtos do Park, as coisas começaram a complicar para eles.

É cruel descrever e até imaginar o que as pessoas eram capazes de fazer com crianças tão novas naquela época, e muito pior é pensar que até a atualidade alguns acreditam que agressão é algum tipo de método de ensino.

E como prova de que a dor não ensina qualquer pessoa, de qualquer idade que seja, as surras e castigos que os dois sofreram não foram motivo para que se comportassem mais, e sim para que passassem a pensar em formas de nunca mais viver aquele tipo de inferno novamente.

E nenhuma de suas ideias envolvia se comportar do jeito que exigiam deles.

Jimin não parou de furtar, pois a fome não deixou de existir, e Yoongi não desistiu de acompanhá-lo, pois não associava a dor que sentira com a amizade do mais novo.

Foi assim que, de repente, uma ideia surgiu em suas mentes juvenis.

E se eles fugissem? E se furtassem o máximo de comida que conseguissem e fossem para outro lugar?

Já que eram somente os dois contra o mundo dentro daquele orfanato, poderiam, então, fazer igual fora dele.

Jimin, que não sabia o que era viver fora dali, ficou mais relutante. Ele conseguia pão todos os dias da cozinha que levou a vida inteira para conhecer, e seguia malmente as regras que foram impostas a ele desde que se entendia por gente. Entretanto, o que seria dele fora dali? Qual cozinha teria que conhecer e se alimentar?

Yoongi, por outro lado, parecia ter tudo em mente. Eles fugiriam, correriam pela floresta em direção ao norte e chegariam à mansão que conseguiam enxergar pela janela do último andar do orfanato. O casarão tinha paredes de cores escuras e era grande o suficiente para que o Min imaginasse que o teto tocava o céu, então tinha certeza que havia espaço para viverem ali. Lá, seriam como ratinhos e sobreviveriam dos furtos que Jimin era tão bom em fazer, até que fossem adultos e pudessem trabalhar.

Infelizmente, quando se é criança, não se entende que a vida adulta não começa aos dez anos, muito menos aos quinze ou dezesseis, e esse foi o primeiro erro nos cálculos do Min. Acreditar que envelheceriam tão rápido assim.

Infortunadamente, foi dessa forma que os dois decidiram definitivamente ir embora.

Jimin sabia o nome de todos os funcionários da fundação e os horários em que cada um entrava e saía de seus turnos. Conhecia também todas as freiras e padres que vez ou outra apareciam por ali, assim como os dias em que estes iam visitar as crianças. Com essas informações e a escrita pouco desenvolvida de Yoongi, perceberam que a noite era o melhor momento do dia para fugir e não sentirem sua falta até ser tarde demais.

Dizem que o dia escolhido por eles foi uma sexta-feira 13, mas há contradições e acusações de que esta é só uma forma de enfeitar ainda mais a história dos dois.

Seja como for, em uma sexta-feira de dia, mês e ano desconhecidos, depois que a mochilinha de Yoongi já estava completamente preenchida pelos pães, os meninos deram início aos seus planos.

Poderia-se dizer que cenas de filmes, em que o mocinho pega as chaves de quem o aprisiona, foram inspiradas na forma que Jimin usou suas mãos pequeninas para pegá-las da mesa de cabeceira de um dos zeladores do orfanato.

Fugaz, raptou a pecinha de metal e fugiu silente e rapidamente, ansioso para encontrar seu melhor amigo e ir em direção ao que o outro descreveu como o início do melhor de suas vidas.

Ele encontrou Yoongi em frente à porta gigantesca que precisavam destrancar, e talvez aquele fosse realmente o dia em que o destino quisesse que eles fossem embora, uma vez que a madeira que sempre rangia, ranzinza como todos que passavam por ela, simplesmente nenhum barulho fez.

Quem sabe aquele foi o sinal que o mundo enviou, mostrando que aqueles dois precisavam fugir para que sua história um dia fosse contada no futuro. Quem sabe fosse, também, apenas uma amostra de como aqueles tempos astrosos tinham sido abandonados pelos seres divinos.

Porque a noite estava fria, pouco iluminada pela luz da Lua, e nenhum dos dois tinha ao menos uma vela para diminuir a escuridão que iriam enfrentar. Usando os farrapos, que eram suas únicas roupas, tremeram de frio desde o momento em que seus pequenos pés pisaram contra o granito do chão de fora.

A floresta tinha árvores altas o suficiente para ofuscar a luz natural da noite, e assim os dois se perderam na escuridão, afundando seus pequenos passos na lama, tropeçando no que não tinham como identificar e batendo de frente com os troncos que interrompiam a linha reta que tentavam traçar.

Continuaram andando mesmo assim. Era o caminho para a felicidade, afinal.

Especula-se que, em algum momento, Jimin e Yoongi tenham começado a delirar, de frio, de fome, de angústia. Dizem que os gritos infantis poderiam ser ouvidos de longe, no orfanato, mas os adultos nada fizeram pelas pobres crianças.

Porém, os gritos não eram de arrependimento. Não eram pedidos de ajuda.

Alguns moradores mais antigos, que escutaram a história ainda pequenos e quando não havia tantas versões retratadas de acordo com as crenças pessoais e ideologias diferentes, afirmam que seus avós e bisavós relatavam ainda ouvir pela floresta os gritos de felicidade das crianças, que exaltavam a alegria da liberdade.

Independente disso, no entanto, Jimin e Yoongi alcançaram seu objetivo. Não se sabe quanto tempo levaram vagando no relento, ou como sobreviveram à caminhada de longa distância entre o orfanato e a mansão, entretanto, em algum momento, talvez famintos e congelando, eles encontraram a mansão que tanto prometia a eles.

Após rodearem a casa com o restante de energia que restava em seus corpinhos, encontraram uma janela que dava acesso ao porão e, com ajuda de uma pedra, conseguiram quebrá-la para entrar.

Sendo uma lenda ou não, é claro que imaginamos o quanto os dois se machucaram ao ter que pular de uma janela para o chão, ainda mais com seus corpos minúsculos, magrinhos e cansados.

Algumas versões contam que Jimin entrou primeiro, por ser menor, para abrir a janela para o amigo. Outras dizem que Yoongi pulou com suas últimas forças e serviu de proteção para que o mais novo não se machucasse tanto. Deixo para que vocês decidam qual acalenta mais seus corações.

Ao entrarem, a primeira coisa que fizeram foi comer. Comer livremente os pães que, naquele momento, pertenciam a eles, finalmente sem medo de serem pegos por alguém, ou dos castigos que poderiam receber por serem “gulosos”.

Jimin, que experienciava a liberdade pela primeira vez, chorava enquanto engolia os pedacinhos de massa, sendo acompanhado pelo único e melhor amigo, que molhava seu rosto com lágrimas de felicidade por terem conseguido, finalmente, estar ali.

Aos poucos, enquanto seus coraçõezinhos se acalmavam e a realidade os atingia, eles foram percebendo que não era apenas felicidade que sentiam.

Ainda que estivessem no porão, protegidos dos ventos, sentiam muito frio, pois as nuvens carregadas no céu não permitiam que o Sol iluminasse e esquentasse o dia que nasceu. Ainda que sentissem felicidade, também havia dor física espalhada por todo canto.

Os meninos começaram a perceber que a mansão era muito mais silenciosa que o orfanato, porque nenhum passo ouviam. Ao terminarem de comer, resolveram que tentariam a sorte de subir as escadas para a casa, uma vez que o silêncio sempre fora seu maior aliado.

Dessa forma, esgueiraram-se pela escuridão do dia nublado e, do porão sem lâmpadas, abriram a porta de alçapão que encontraram no início da escada de entrada do lugar e, assim como o cômodo subterrâneo, quase nada conseguiram enxergar, apenas as silhuetas de móveis e as suas próprias eram minimamente identificáveis. Yoongi foi o primeiro a perceber que, assim como as janelas estavam cobertas pelas cortinas, os sofás, mesas e outros estavam sob coberturas de pano.

Jimin espirrou e o barulho de seu ato involuntário ecoou pela sala inteira, sem qualquer impedimento ou resposta de outro som. Mais espirros vieram, mais ecos também, e nenhum adulto os corrigiu ou encontrou, pois, no final das contas, estavam sozinhos.

Essa constatação veio após correrem por todos os corredores e andares empoeirados e infestados de teias de aranhas. Ninguém morava ali há muito tempo, provavelmente.

Hoje se sabe que a casa havia sido abandonada durante a Primeira Guerra Mundial, mas, para dois garotinhos perdidos, aquele foi o sinal que esperavam encontrar para reafirmar suas escolhas. Fugir do orfanato havia sido a escolha certa, já que até uma casa tinham encontrado para chamar de sua.

E durante aquele dia, correram sobre o chão frágil e sujaram-se com o pó que, naquele momento, pertencia a eles, igualmente à casa inteira e seus móveis desgastados. Era tudo dos dois, desde as aranhas de todos os tamanhos, aos rangidos que as madeiras antigas faziam por todo lado.

O vento frio, a dor nos corpos e a fome em suas barrigas não incomodavam mais. A liberdade tinha gosto bom e, infelizmente, ludibriante também.

Afinal, toda a alegria que sentiram sobrepôs os detalhes que, desde o início, eram falhos em seus planos: o que iriam comer? Como iriam sobreviver sem adultos?

Jimin não sabia ler, e Yoongi nunca chegou perto de um exemplar de Peter Pan para imaginá-los em uma realidade em que a terra de apenas menininhos funcionava bem, principalmente quando a magia não funcionava no mundo real .

Foi apenas quando o cansaço bateu, e o pó havia desgrudado do chão para grudar nas solas de seus pés, que o mais velho entre eles pensou nisso. Jimin era ágil e ingênuo em proporção igual, então demorou para perceber que o êxtase deixava lentamente seu amigo.

Yoongi, que começava a sentir medo por eles, correu para a pia da cozinha. Puxou uma das cadeiras antigas da mesa de jantar e a usou para alcançar o registro. Ao abrir, sentiu suas perninhas tremerem.

Primeiro, apenas ar saiu dos canos antigos. Em seguida, uma espécie de gosma escura e fétida ficou presa na abertura da torneira. A cozinha inteira foi tomada pelo cheiro de podridão, principalmente quando a pressão do ar expulsou o pedaço escuro da saída e o líquido preto e pútrido passou a jorrar dali.

Imagina-se que, quando as duas crianças vislumbraram a própria situação, em que não tinham água para beber ou banhar-se, além de nenhum adulto para alimentá-los, eles tenham pensado em retornar ao orfanato, já que era o único lugar que conheciam além dali.

Há versões dessa história que dizem que, assim que o pequeno Min viu a situação mefítica da água, este procurou a saída da casa para achar na floresta algo que pudesse ajudar, como um rio, ou juntar água da chuva que dava sinais que cairia.

Seja como for, o mais velho segurou a mãozinha de Jimin e correu para a porta principal, determinado a sair da mansão. Com sua pouca altura, esticou-se para alcançar a fechadura, já imaginando que estaria trancada. No entanto, a chave não estava nela, e ele estava certo sobre a tranca.

As únicas saídas que possuíam eram as janelas, então, dado que havia outras portas na mansão, deveriam estar trancadas também.

Poderiam quebrar as janelas — foi o que Yoongi pensou e o que resolveu tentar.

Seus bracinhos ainda eram fracos e as cadeiras pesadas demais para levantar, e Jimin permanecia perdido, sem compreender por que o outro repentinamente queria ir embora. Não estava tudo perfeito? Eles não tinham conseguido chegar ao objetivo final?

Então não havia final feliz?

Bem, ao que parece, em algum momento, os dois se lembraram da janela que haviam quebrado para entrar e ao porão voltaram, pois foi justamente ali que, muitos dias depois, encontraram seus corpos. Os dois, abraçados e congelados pela tempestade de neve mais forte que já tivemos, estavam cobertos pela mochilinha de pano que o Min levara.”

— É isso? — uma das crianças, enfim, interrompeu. — Tudo isso para morrerem?

Todos os outros fizeram “shhh” e pediram para a professora continuar, fazendo-a rir.

— Como eu disse, eram tempos difíceis, que infelizmente deram alicerce para chegarmos onde chegamos hoje. — Pausou por instantes, deixando que as informações afundassem em suas consciências. — Porém, não, não é somente isso. Quando falei que os dois decidiram ser os próprios heróis, não foi à toa.

“Ao lado de seus corpos, no chão de madeira, havia algumas palavras escritas, ainda que incorretamente. Entre elas, os moradores locais encontraram “o rei Jimin e o rei Yoongi” e “Jimin herói do Yoon e Yoon herói do Jimin”, ambas cercadas de corações e desenhos rústicos, feitos com os pedaços de vidro da janela quebrada.

E antes que me interrompam, essa é a parte interessante e trágica da história: a janela quebrada foi encontrada fechada por um pedaço de madeira.

Não sabemos até hoje se foi decisão dos meninos, se alguém foi o vilão deste caso, ou se o destino simplesmente resolveu que as duas crianças ficariam presas ali pela eternidade.

Esta, é claro, foi a versão que eu ouvi e aprendi. Alguns contam que os dois meninos foram presos ali por serem danados, outros afirmam que eles fugiam de sacrifícios…"

— Sacrifícios? — um dos meninos disse com a voz assustada.

— Alguns anos depois, o orfanato foi fechado, ao descobrirem que parte dos funcionários, em junção a cléricos desviados, usavam as crianças em sacrifícios.

— Meu Deus! — uma adolescente exclamou.

— E o que nos choca, também, é como a história dos dois meninos se desdobra mesmo após sua morte. Por muito tempo, a parte de Yoongi na cozinha foi considerada um indício de que havia petróleo no fundo da floresta, e muitas pessoas se perderam por lá em busca de riqueza. Há também aqueles que acreditam que a lenda surgiu depois dessa busca insana começar, para fazer alusão aos pobres desesperados que entravam na mata com a ilusão de que lá encontrariam vida melhor.

Os estudantes começaram a murmurar entre si, trocando risadinhas e ideias, até mais um deles levantar a mão para perguntar.

— Mas dá para considerar isso uma lenda urbana? Nem fantasmas tem, professora. Nem um ritualzinho pra chamar os dois meninos!

Todos riram um pouco, incluindo a adulta, que logo explicou:

— Como eu disse, os antigos moradores diziam ouvir risadas de crianças pela floresta… — Ela tomou um pouco de fôlego antes de continuar e sorriu amarelo. — No entanto, hoje não há mais floresta. O que temos são condomínios e ruas…

— Minha mãe já ouviu risada de crianças por lá! — um dos mais novinhos disse. — Nós moramos onde dizem que a floresta ficava, professora. Vez ou outra os vizinhos também falam que ouviram.

A mais velha balançou a cabeça concordando.

— Muitos ouviram. E aqui, exatamente onde estamos, é onde a antiga mansão ficava. Essa praça foi construída sobre os escombros do casarão, que foi destruído pela população que se sentia assombrada pela história de duas crianças que não tiveram a chance de viver seus sonhos.

“Em resumo, Yoongi e Jimin talvez tenham existido, talvez tenham sido criados para assustar os que procuravam fugas fáceis ou, quem sabe, são fantasmas que até hoje mantêm nossas crianças à salvo da maldade humana, mas tudo o que sabemos de verdade é que, graças à sua tragédia retratada há anos por nosso povo, foram encontradas as mais diversas morais da história, inclusive aquelas que fizeram essa aula prática acontecer.

Meus pais, por exemplo, contavam ter visto um par de meninos sorrindo para eles, nessa mesma praça, no dia em que ouviram esse conto. Já meus irmãos contam aos filhos como forma de exemplo sobre como a união é importante, cortando a parte da morte das crianças…”

E enquanto a professora estimulava os alunos a interpretarem o que tinham ouvido por minutos e as crianças pareciam concentradas, não tão longe, sobre a copa das árvores que os cobriam, duas cabecinhas os observavam com curiosidade.

Era engraçado, depois de tanto tempo, ouvir o conto de sua morte, ainda mais quando nem eles lembravam o que realmente havia acontecido, e os dois fantasminhas assistiam tudo de mãos dadas, pois nem a iminência da eternidade juntos foi suficiente para separá-los.

Eles ainda corriam pela cidade, ainda se divertiam assustando outras pessoas, principalmente pais desatentos e pessoas amarguradas, como aquelas que um dia cuidaram deles, sem saber exatamente em qual momento aquela sua existência mudaria ou deixariam de estar entre os vivos.

E daquela vez, as crianças não haviam precisado de um sustinho ou um vento suspeito para acreditar nas palavras da docente, nem tinham tristeza refletida em seus rostinhos corados, então as almas apenas aproveitaram para vê-los e rir das diferentes expressões e perguntas que faziam.

Quando não faltava muito para o dia acabar e os dois voltarem a assombrar as ruas que um dia fora o assombro deles, o fantasminha do Park sorriu, cutucando o corpo transparente de Yoongi.

— Será que eles têm pão? — Jimin perguntou, apontando com o indicador quando as crianças começaram a caminhar em direção ao ônibus.

— Já passamos dessa fase, Jiminie.

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Notas finais: Muito obrigada por ler <3 até a próxima!

19 de Julho de 2022 às 23:04 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

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