Na verdade o chá de fraldas era para sua nora, que era casada com seu filho mais velho, que também trabalhava lá na empresa.
Minha amiga não convidara muita gente, apenas os mais chegados.
Era hora do almoço, e a lanchonete naquele horário estava movimentada.
Ela veio ao meu encontro e pediu-me:
- Você pode ficar aqui enquanto vou até o setor chamar o restante do pessoal?
Eu disse que tudo bem.
Sobre a mesa redonda havia um bolo de chocolate com cobertura, um refrigerante e alguns salgados – coxinha, rissoles e bolinha de queijo.
Sentei-me de frente para minha outra amiga, de descendência oriental.
Antes de sair a dona do chá de fraldas nos serviu com uma fatia de bolo e um copo de refrigerante.
Eu comia distraidamente o delicioso bolo de chocolate - que por sinal estava divino -, quando ergui a cabeça e meus olhos se encontraram com os de uma outra amiga, de outro setor, que ia passando naquele momento, e automaticamente eu ofereço:
- Servida?
E para meu desespero, ela não só aceita o bolo - do chá de fraldas dos outros - como também se senta à mesa e se serve de uma generosa fatia de bolo, salgados e ainda enche o copo de refrigerante – por duas vezes.
- Nossa, tá geladinho! - ela diz, saboreando o líquido.
Eu ainda estava sem acreditar que aquilo estava acontecendo de verdade, que ela estava ali, comendo o bolo do chá de fraldas da minha outra amiga.
Tentando fazer com que ela se tocasse, arrisco:
- É o chá de fraldas da minha amiga.
- Que legal! - exclama ela, empolgada. - Hoje é meu aniversário.
- Parabéns! – eu digo, quando na verdade eu queria dizer "Parabéns por tornar o seu dia feliz, em meu pior dia."
Fico rezando para que ela vá embora logo, antes que a dona do bolo chegue. Afinal, o que eu ia dizer para ela? Ou o que ela não ia pensar?
Antes de sair, essa minha amiga, ainda pega outro pedaço de bolo e mais salgados, e envolve-os em um guardanapo.
- É para eu comer mais tarde. - ela diz, satisfeita.
Sorrio meio embaraçada. Eu tenho um problema sério em não saber sair de uma situação difícil.
Ela sai andando e antes de chegar à porta, se vira e acrescenta:
- Ah! Fala pra sua amiga que está tudo uma delicia!
Como pode ser tão cara de pau?, pensei.
Olho na direção da minha outra amiga à minha frente, achando que ela vai se solidarizar com o ocorrido, me acalmar e tudo mais... Porém, como desgraça pouca é bobagem, ela abre sua bolsa e tira uma sacola com um pote plástico; destampa e coloca um pedaço do bolo, e ainda pega alguns salgados.
- Vou levar para o meu filho. – ela diz guardando em sua bolsa.
Olho para o bolo, que está quase pela metade; assim como o refrigerante e os salgados, e entro em desespero.
Não tive vontade de comer mais nada. Quando a minha amiga chegou com o restante do pessoal, disfarcei e saí pela tangente.
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