johnathan-silva-oliveira Johnathan Silva Oliveira

Será que você conhece a real origem do universo? Ou o que lhe contaram não passa de um pó dourado para ocultar a sujeira debaixo do tapete? Há muitos mistérios, segredos e enigmas nesse mundo. Quantos eventos misteriosos envolvendo civilizações antigas, alienígenas e até criaturas míticas foram apresentadas como casos sensacionalistas? E quantas Teorias são aceitas como Fato? Já se perguntou se os alienígenas correspondem realmente aos clichês que conhecemos ou são mais sábios e belos como jamais vimos? Será que eles nos visitam, ou vivem entre nós desde tempos imemoriais, vindos de outros mundos antes da extinção dos próprios dinossauros? Aprendemos que o universo tem seus dias contados, onde toda a vida e beleza que existe se perderá na eternidade. Mas, e se for o contrário? Se existir algo forte o bastante para conservar a Vida, a Arte e o Amor? Poderá a Arte ser literalmente Eterna? Dispa-se das convenções estereotipadas e mergulhe nessa aventura de milhões de anos, começando desde o surgimento de planetas e povos anteriores à Terra, passando pelos dinossauros, o surgimento das primeiras civilizações, até as mais sublimes demonstrações de arte que esse mundo já viu. Lendas, mitos e folclore permeiam nossa realidade mais do que a ciência pode explicar. Se você imergir fundo nessa história, descobrirá que a Arte não é desse mundo, e tem múltiplos ramos e raízes que começaram com uma simples Noz.


Fantasia Fantasia histórica Impróprio para crianças menores de 13 anos.

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Árvore genealógica

A árvore da Arte

Artista produz para semelhantes.

Não se põe o mar em um balde.

A boa árvore não produz fruto antes

De sorver Milton, Cruz* e Vivaldi.

Mas há árvores de fama dourada,

Folhas e flores de puro alabastro,

Cuja seiva só reveste a fachada,

Cuja raíz num curral jaz de rastro.

Já outras divergem das normas;

Florem sem o 'estrume popularidade'.

Fora: fecham-se ao clichê das formas;

Dentro: se abrem para a eternidade.

Por isso, cautela nessa fantasia!

Se és incomum, então vai adiante.

Jubila por não ser igual à maioria.

Coroa-te com a loucura de adamante.

O ego artista é um mundo à parte

Com torres e domos de devaneio.

Ou ficarias louco por não deixar-te,

Ou tu enlouquecerias no passeio.



*Nesta história chamo de Rigel ao poeta João da Cruz e Sousa.








Visto que essa história abrange uma trama volumosa, será necessário alguns insights, saltando algumas vezes na linha do tempo, antes de passarmos à ordem cronológica dos acontecimentos, a partir do capítulo quatro.




Em uma fazenda colonial do Brasil, América do Sul.


Ilméria e Dheam



Sob copas frondosas, aninhava-se uma majestosa casa, sobre a qual os lençóis da noite já agasalhavam. Na varanda dos fundos, iluminada apenas por dois lampiões, uma menina repousava quentinha no colo de sua mãe. Debaixo do olhar materno, a criança aguardava, com expressão sonhadora, a história preferida ser fielmente contada às mesmas horas. Rendilhada pela folhagem, a lua dava piscadelas entre os ramos, como se ela própria estivesse esperando o momento certo para narrar o conto. Uma coruja pia, escondida entre os galhos ensombrados da vegetação. Mãe e filha sorriem com os olhos, interpretando que este era o sinal para ela começar a ler. Jacira, portanto, começa com o 'era uma vez' que a menina Thaynara não cansava de ouvir. Porém, a versão original conta assim:




"Em um lugar muito distante, onde as estrelas cultivam as memórias mais antigas, havia um lugar cujos habitantes tinham o coração de uma árvore. Porém, havia dentre eles uma virgem, de nome Ilméria, que sonhava em ser uma árvore de verdade. Ela era uma princesa e, como tal, vivia em um castelo, às margens de um lago. Mas o castelo era pequeno para os sonhos de Ilméria; menor ainda para o seu coração. Pois ela queria ser coroada pelas copas das enormes árvores que enramavam por quase todo o limite daquele mundo; e seu coração desejava pulsar dentro de muralhas verdes, não dentro de paredes de pedra e aço.




Ilméria cresceu sob o vigilante olhar daqueles gigantes cílios vegetais. De vez em quando ela quase podia ver aquelas verdes e densas pálpebras piscando para ela. A floresta a chamava, e ela queria atender ao chamado. Quando procuravam pela donzela, sempre ouvia-se: "Foi casar com a floresta."




Seus parentes já não estranhavam a regularidade de seus passeios. O que quase todos não sabiam, era que Ilméria realmente tinha um encontro marcado com a floresta. Mais especificamente com uma das árvores costuradas naquele tapete quase sem fim de folhas e ramos.




A árvore podia projetar uma raiz com formato humano. Seu nome era Dheam: um rapaz de pele, olhos e cabelos dourados.




Todavia, Calíodo, um dos irmãos de Ilméria por parte de mãe, descobre as reuniões secretas da irmã e de seu clube de amigos com o jovem da árvore. Uma revelação bombástica deixa o ego de Calíodo ainda mais envenenado, por um sentimento que ia além do rancor ou da ambição. Era uma ganância irracional de se erguer acima de todas as outras espécies e ter controle sobre suas vontades.



Isso tudo ocorre enquanto estavam em um período de comemoração, em decorrência da manifestação da ilustre árvore chamada Dhea, a árvore da Noz Dourada.

Durante o importante festival, foram esclarecidas muitas questões a respeito de todo o projeto envolvendo essas Nozes, no total de cinco, cada qual de um planeta diferente da Galáxia.

Em vista disso, Caliodo toma uma medida preventiva, propondo casamento à sua irmã. Calíodo, em seu íntimo, cria ser Ilméria a escolhida por Dheam para representar os povos de seu planeta na emissão dessa bendita Castanha. O que ele planejava entretanto, era se apossar dos segredos dessa fonte de poder ilimitado e depois destruir as 'concorrências', como ele as rotulava.


Mas nesse mesmo festejo acontece uma tragédia inexplicável com o rei. Todo o império entra em comoção. Ninguém daqueles tempos supeitou que o atentado havia sido cometido por Calíodo, seu próprio filho. Ele, no entanto, simula para que tudo pareça ter sido planejado por Dheam e Ilméria, em parceria com seu círculo íntimo de amigos.

Na posse total do reino, ele dá início à disseminação de teorias caluniosas sobre Dheam e todos os envolvidos no projeto da Noz. Desse modo, muitos começaram a crer nas conversas de Calíodo, se voltando contra a nobre causa.




Os demais clãs são avisados das supostas traição e mentiras dos antigos Arautos e Profetas: que eles na verdade querem domesticar e cultivar os humanos como rebanhos ou hortaliças a serem colhidas no tempo determinado. O egocentrismo e a prepotência, por fim, levam Calíodo a se opor firmemente contra o propósito maior de todas as formas de vida. Pois há muito eles aguardavam a manifestação das cinco Nozes, que formariam os Elos de um Escudo cósmico em volta da Via-Láctea.




Todas as famílias das três raças são convocadas a comparecerem, no dia marcado por Dheam, para a revelação do fruto que a profecia prenunciou.




No dia escolhido, a filha de um lenhador confessa ter sido a espiã que tinha vigiado o casal todo esse tempo, a mando de Calíodo. Naquele momento, com muitos líderes dos três clãs reunidos na província, a delatora chega dizendo que Ilméria já estava indo ao encontro de seu comparsa, no interior da floresta. Ao chegarem vêem a donzela desfalecida sobre o colo nu do rapaz-árvore, com todos os seus amigos compactuados em volta. Escandalizados com a cena, facilmente aceitam as acusações e insinuações que Calíodo passa a fazer na frente de todos. Quando viu a Noz em sua mão e os resquícios do fruto escorrendo de seus lábios , começa a repetir furiosamente as injúrias anteriores, acrescentando outras que deixam o povo ainda mais indignado. Calíodo toma a Noz para si, recolhe Ilméria e ordena ao pai da delatora que derrubasse a árvore. O humilde lenhador se recusa a fazer isso, por medo e por causa do amor que a filha sentia por Dheam. Os outros líderes começam então a tentar dissuadir Calíodo a que desistisse de tão obstinado intento. Alimentado pelas atitudes que lhe contradiziam, Calíodo acende-se com uma fúria insana, desferindo com o machado golpes violentos nas raízes do vegetal. A pobre árvore começa a ranger e estalar. O solo encharcado afunda à medida que as raízes cedem. Tudo, naquele instante, aconteceu muito rápido: Dheam e a árvore desapareceram instantaneamente. Em vista disso, toda a clareira onde antes era ocupada pelas longas raízes, desprendeu-se, levando consigo alguns que estavam ali, inclusive a frustrada moça que viu seus planos irem literalmente abaixo.

O jovem rei Calíodo, movido pela cobiça de auto-confirmação da própria superioridade, passa a perseguir ferrenhamente qualquer um dos que se declarassem amigos de Dheam, inclusive a própria esposa.

Dizem que a apaixonada moça, que denunciara os próprios amigos a Caliodo, transformou-se num morcego gigante cor de fogo, que passou a assombrar as encostas pantanosas do despenhadeiro.


A situação chegou ao extremo, quando, ensandecido, Calíodo usou a Noz Dourada na construção de uma arma e fez um disparo contra o planeta Terra. Muitos de sua imensa frota se perderam. A vida naquele planeta havia sido exterminada quase que por completo. Todavia, Dheam conseguiu salvar a maioria do contingente que esteve envolvido no dia da Grande Explosão.


Quanto a Ilméria, vivia à força com Calíodo. Pois sob as ameaças do marido, temia que ele destruísse por completo as reservas verdes que ela tanto amava, ou que maltratasse aqueles que ainda acreditavam na Profecia e na inocência de Dheam. Dentre os quais, Onze desfrutavam de uma amizade jamais vista em qualquer planeta ou mesmo na Galáxia inteira. Não se tratavam com 'Eu' e 'Tu', mas Noz, com Z de Zara."




— E fim — conclui Jacira.




— Mas mamãe, como pode acabar assim?




— Você sempre me pergunta isso. Não adianta mocinha. Não tente me passar a perna. Combinamos que seria só uma história e você iria direto para a cama.




— Porque a senhora nunca me diz o que houve com Dheam e os demais. Deve ter mais alguma coisa aí nesse livro e a senhora não quer me contar.




— Talvez tenha, mas são coisas difíceis demais para uma menininha entender.




— Pois eu vou pedir para vovô me ensinar a ler, e vou descobrir sozinha o resto da história.




— Você é terrível, viu garota. E seu avô está me saindo um péssimo ajudante. Na verdade, o restante da história não diz coisas muito claras. Parece que faltam algumas páginas no livro todo. Essa parte que eu li termina com uma página rasgada, onde contém o final de um poema profetizando algo que não está bem definido. São palavras complicadas. Se eu não entendo, quanto mais você...




— E o que fala essa profecia?




A mulher torce o canto dos lábios e olha contrariada para a filha:




— Você não desiste!




— "Igualzinha ao seu pai"— dizem juntas.




— Tá bem... Aqui diz, bem no final, sobre a esperança de um corpo onde pulsariam dois corações — declara Jacira.




— Que estranho, heim! — admite a menina.




Então, a pequena não consegue mais segurar o bocejo. Ao que sua mãe logo usa para confirmar a justificativa de já passar da hora de estar na cama.




— Ok. Desisto! Essa daí vai ficar para quando eu aprender a ler.




A mãe tinha orgulho da filha. Estava com a boca entreaberta, prestes a elogiar a pequena Thainara. Mas um barulho no quintal a faz adiar o elogio. Jacira leva a menina, já quase dormindo para o quarto; em seguida desce para a cozinha, a fim de ver se não era o gato derrubando as panelas.

Ao abrir a porta, Jacira depara-se com uma mulher maltrapilha debruçada no limiar da porta. Ela carregava um 'cofo' de palha toscamente preso às costas, dentro do qual havia duas pequenas crianças.



Laportea e Zara




Três horas antes dessa cena doméstica, no âmago do matagal que cercava a casa, uma mulher negra fugia acossada. A mulher era chamada de Laportea, irmã gêmea de Luzia Mahin. Laportea foi chamada assim porque ganhou uma luta lendária só com o uso da planta que leva o mesmo nome. As irmãs descendiam de uma linhagem antiga. Seu marido era Mahin, também descendente de uma importante linhagem.

Todavia, o motivo imperativo de sua fuga era por causa da Noz Dourada, visto que seus filhos, por serem os sucessores dessa linhagem, poderiam ter envolvimento direto com a próxima ocorrência desse evento.




Os carrascos impiedosos já vinham farejando a pobre mãe por três dias seguidos. Os andrajos que cobriam o corpo macerado já pendiam em tiras encharcadas de suor e sangue. Quando estava próxima da zona urbana de uma vila, ela encontra o pai das crianças, que tentava despistar os perseguidores.


Ele dirige-se à esposa:

— Dá-me só um dos meninos. Olha teu estado, mulher! Tu não vai conseguir levar os três a salvo.




— Sou mãe e mulher negra. É claro que consigo. Tu tá desconhecendo tua esposa? Posso aguentar mais um pouco...




— Deixa de ser cabeça dura, Laportea. A cria também é minha. O homem do qual te falei é filho da raça antiga. Ele é homem de condição, e está partindo para a França. A mulher dele está aqui na fazenda e já foi avisada da nossa causa. Ela te espera no casarão. Um cavalo já está selado; um capataz de confiança do Sr. Lugh vai te levar à casa de tua irmã, onde te esperam Timóteo, Wezen e Caíque. As crianças não estarão seguras se ficarem juntas. Nossos filhos vão ter vida boa e em segurança...




Já sem suportar admitir a verdade e as lágrimas que lhe sucedem, ela desaba em choro ardente, que parecia doer-lhe mais que as feridas abertas na carne. Tira uma das crianças do fardo nas costas; dá-lhe um beijo sôfrego embebido em lágrimas e entrega-o ao pai. Suas mãos, num acesso de tremor, abraça o rosto do marido e lhe diz:




— Tua mulher te ama! Leva meu amor contigo, junto com nosso filho.




O homem retribui o afeto e fala:




— Te avexa 'nêga'! Eles não estão muito longe. Não te preocupes comigo. Já tem alguém da nossa gente esperando no porto. O homem disse que podia levar alguém da nossa parentela pra ser ama de nossa cria. Sossega, que vai dar tudo certo. Em breve estaremos juntos novamente com nossa Família. Eles vão nos acolher de volta.




Depois que a mulher se despede, vira e sai em disparada sem olhar para trás. Chega em uma cerca, que agilmente transpõe, dando a volta na grande propriedade. Chegando no limiar do quintal, já esfolada de alto a baixo, ela se joga sobre o alpendre, derrubando algumas ferramentas de agricultura. Escuta-se a aproximação de alguém dentro da grande casa. Jacira abre a porta e encontra uma pobre mãe estirada.




Um dos meninos é acolhido_ Rigel. Jacira deu-lhe o nome de João da Cruz e Sousa, para despistar os inimigos. Os outros também receberam outros nomes. Laportea leva o último filho consigo, embrenhando-se no mato, onde a noite e o paradeiro de ambos sumia-se.




Depois que Laportea deixou o pequeno Rigel na casa do coronel Lugh, vai ao estábulo e pega o cavalo já selado. Em seguida, encontra com o peão, no cercado que limitava o lado oposto da fazenda e disparam montados no cavalo.


Rumores mais recentes apontaram as serras entre o Piauí e o Ceará como destino de Laportea e do filho, Elgebar.

# O Ceará aboliu a escravidão quatro anos antes da lei áurea em 1884.

Aqui, pede espaço um relato premente que dará uma prévia dessa longa história cheia de ramos.

A região onde Laportea e o filho passaram a residir é a Serra da Ibiapaba, no território que abrange os municípios de Tianguá, Ibiapina e Ubajara, no Ceará, e São João da Fronteira, no Piauí.

Ao chegarem, os dois procuraram entrar em contato com as mesmas pessoas que intercederam por Lugh, enviando Algebar para a França. Altamente envoltos em lençóis do anonimato, esse povo pertencia na verdade a uma família antiquíssima, vindos do planeta Aleph. Porém, os detalhes ficarão para o seu contexto oportuno. Basta, por hora, que diga-se que essa gente estava espalhada pelo globo em pontos estratégicos. Dentre tantos, os principais consistiam na França, Nepal, África do Sul e o país no qual estes relatos ainda transcorrem, especificamente na região Amazônica. Embora haja alguns representantes em outras partes do Brasil, como é este o caso. Laportea, por se envolver desnecessariamente nas disputas entre colonizadores, índios e escravos, separou-se daquela sociedade em questão. Isso deve-se ao fato deles não se envolverem nos conflitos do mundo.




Laportea passou um tempo em Viçosa do Ceará. Era complicado viver naquelas regiões (na época apenas aldeias), porque a catequização provocava conflitos entre os índios e os jesuítas. Nenhum integrante daquele Povo neutro queria tomar partido, para evitarem que os associassem às causas dos homens comuns. Um dos motivos é que eles não habitam às vistas das pessoas, mas no subsolo, bem abaixo dele. Por isso, escolheram a Serra da Ibiapaba, para que pudessem construir uma longa rede de túneis subterrâneos. Isso, porém, não teve início nas terras do Piauí ou do Ceará. Os túneis que há naquele trecho são apenas amostras pequenas da complexa e bem estruturada colônia subterrânea que fica abaixo do solo amazonense. A elaboração desse árduo e meticuloso trabalho, começou muito antes da colonização do Brasil.


Esse Povo veio de mundos diferentes da Via-Láctea, trazendo a maior parte das espécies da fauna e flora do planeta Terra. Eles intitulavam-se os Dheanes, os quais junto com Dheam, formavam 'Zara', ou 'a Resistência'.



Primeiras instalações



Ilméria e seu grupo de amigos, a quem considerava família, foram recebidos por um Brasil primitivo e incomparavelmente inóspito. No período de sua chegada, a virgindade das selvas projetava nas impressões a perfeita imagem de um único ser vivo pulsante, arfando em haustos colossais, com garras de pura celulose e fortes pulmões verdes, que pareciam abrir as mandíbulas para tragar de uma só bocada os aventureiros.




Em uma de suas incursões, eles aterrissaram exatamente na região geográfica que hoje é conhecida como a Serra da Capivara. Muitos da Resistência desembarcaram nessa época junto com os Onze.

A nave era feita de Levitate, um material de incrível resistência e ductilidade. A beleza e postura deles estava trajada apenas por um figurino fluido, porém detalhado e majestoso. Cada qual tinha consigo seres que aparentavam animais, contudo, com faculdades intelectuais e emocionais no mesmo nível humano. Esses são os Gutus.

— Onde devo pousar? — pergunta Wezen, um dos tripulantes.

— Vamos ficar em cima daquelas formações rochosas — opina Allan.

_ Bem vindos mais uma vez ao planeta Terra! — diz Adaim, em tom de zombaria. — Amo a Terra. Vir aqui sempre me deixa morrendo de saudade de casa. Não é Cauã?

— Sem dúvida — responde Cauabori. — Será que é só eu que sinto uma energia pesada e negativa nesse mundo? Em Alaranil tudo é tão leve _ diz ele, se referindo ao planeta natal de Adain e Allam.


Cauabori era primo de Ilméria, porém, tratado como irmão por ela0.

Os Gutus assentem com as cabeças ao ouvirem a afirmação de Cauã. Pois, em se tratando de leveza, eles eram a autoridade, já que praticamente todos eram detentores de asas.

Depois de evacuarem o arrojado veículo, Dheam fala aos passageiros:


— Muito bem! Ao que parece, as condições do planeta parecem ter se estabilizado. Eu gostaria de ter uma palavrinha em particular com os Onze. Os demais podem explorar à vontade, em especial os seus Gutus, para que detectem qualquer coisa de notável interesse.

Os Onze se reúnem em volta de Dheam.

— O que você quis dizer com 'notável interesse'? — interroga a insaciável curiosidade de Ilméria.

— Nada específico. Você gosta de fantasiar demais — diz Dheam, tentando conter uma expressão hilária.

— A Natureza me inspira — diz a princesa, com um sorriso faceiro.

— Por onde devemos começar, Dheam?— pergunta Ayo, natural do planeta Vatany.

— Nem sei. Há tanta coisa para começar. Todavia, a mais urgente, sem dúvida, é um lugar de pouso para vocês. O clima tropical, com certeza, nos presenteará com sucessivas e generosas precipitações pluviais. Portanto, é necessário um abrigo. Vocês, diferente de mim, não carecem dessa rega interminável nas cabeças e pés.

— Não carecemos, nem desejamos. É indiscutivelmente incômodo — declara Ivaí, casado com Inia.

Rapidamente, Dheam passa por cima das árvores altas um dossel construído a partir de seus galhos e raízes, de modo que ficou impermeável à chuva incessante.

— E agora, está melhor?— pergunta Dheam.

— Razoavelmente melhor — aprova Ivaí.

— Mas isso é provisório, não é? — certifica-se Inia, melhor amiga de Ilméria.

— Nossa! Quanta frescura minha gente. É só agua... — comenta Caliandro, irmão de sangue de Ilméria.

— Também acho. Os Gutus estão se divertindo — fala Syagrus.

Dheam responde a pergunta da moça:

— Sim, é provisório, Inia. Meu seleto grupo de amigos da realeza artística merece um lugar mais digno onde possam trabalhar confortavelmente e descansar seus corpinhos lindos.

— Está falando de mim? — interrompe Hima, com um largo sorriso gabola. Hima é irmão gêmeo de Caliandro. Ambos são irmãos de Ilméria, por parte de mãe.

Dheam continua:

— ... Sem falar de nossos ilustres e exigentes Gutus — diz ele, dando ênfase.

Os Gutus presentes incham os peitos, fazendo caras esnobes.

— Vocês são muito cheios de caprichos e regalias. Dheam ainda não nos disse qual será o primeiro passo.


Esse era Hazim, o mais metódico e racional da família.

Dheam prossegue com a palavra:


— Certo. Primeiro, vamos às divisões. Hazim, Cauabori e Ayo ficarão no centro. Adaim e Allam serão responsáveis pelo ponto norte; Hima e Caliandro ficarão com o ponto leste, na recente cordilheira de montanhas; Syagrus, Inia e o marido Ivaí, irão para o sul; enquanto Ilméria ficará aqui, nas florestas do extremo ocidente. Os demais e suas famílias podem escolher em qual desses pontos ficarão ou em suas proximidades.

— E o abrigo?— insiste Inia.

— Calma! Isso vai levar um pouco mais de tempo. Entretanto, desde já eu peço a Wezen, Allam, seus Gutus e a prole deles, que iniciem uma elaborada escavação de cavernas abaixo das formações rochosas ao noroeste da floresta. Eu irei adiantar o processo com minhas raízes, fazendo o percurso das áreas seguras onde deverão escavar.

Seria em vão tentar argumentar na defesa desse projeto aparentemente inconcebível. Todavia, o Gutu de Allam é uma toupeira de um metro e setenta de altura, e o de Wezen é uma preguiça gigante de dez metros. Sem falar na prole abundante que ambos os Gutus tinham para auxiliá-los. Para tornar a ideia mais concebível ainda, eles também usavam o Levitate para quase tudo, inclusive como principal matéria na construção de suas instalações e instrumentos.

Eles faziam essas incursões regularmente, passando curtas temporadas realizando seu trabalho, alternando entre seus planetas natais.


Uma prática comum entre eles era mesclar espécimes vegetais de qualquer dos cinco planetas com a Dhea, a árvore da Noz Dourada.


Milhões de anos depois do primeiro episódio, eles voltam à Terra, trazendo alguns desses enxertos extraplanetários.


— Já viram o resultado que obtive daquela flor de Vatany? — começa Ayo.


— Não. Mostre-me, amigo! — pede Hazim.


Ayo segurava uma flor grande, de aspecto rústico, mas muito elegante.


— Vou chamá-la de protea — diz ele.


Ohana, sua esposa e natural de Maana, entra na conversa.


— Vejam essa! Não ficou graciosa? Eu consegui diversas variações dela. A denominei trombeta de anjo. Para conseguir chegar a essa combinação, eu usei a erva de Maana que os rebeldes manejavam em seus rituais macabros.


— Foi assombrosa a traição daqueles maanenses. E bem debaixo de nossos narizes — comenta Ivaí.


— Isso ainda não acabou. Se for verdade que alguns deles sobreviveram à Grande Explosão e vieram se refugiar na Terra, o nosso trabalho será exponencialmente mais dificultoso — sentencia Hazim.


Todos ficavam tensos com as afirmações do ruivo, pois quase sempre se mostravam verazes.


Wezen faz a observação:


— Eu andei notando coincidências entre alguns dos povos originais da América e os costumes e cultura de Maana. Embora, nem todos apresentem a mesma perniciosidade dos traidores de Maana. Com todo o respeito, Ohana!


— Certamente, meu querido — diz a morena, piscando e mandando um beijo.


No meio da conversa, Hima e Syagrus aparecem correndo do meio do mato.


— Depressa! Venham ver isso!


Todos convergem ao local que eles indicavam. No meio da clareira haviam duas flores gigantes.


— Não são magníficas? — pergunta Hima, empolgado.


— Tem cheiro de carne podre — comenta Adaim.


— Fede a defunto — emenda Caliandro.


— Gostei do nome, maninho — sentindo-se orgulhoso pelo 'elogio', Hima dá um beijo no irmão.


Muitos foram os exemplares que levavam o mérito de Zara como responsáveis pelo cultivo na Terra. Para citar um punhado dentre uma infinidade, eis alguns exemplos e suas origens genéticas: a lufa, a poronga, a sapucaia, a ucuuba, o pau-brasil e o caneleiro(Maana e Aleph). Este último exemplar leva muitas das propriedades da Dhea. Ela foi plantada pela própria Ilméria, onde hoje fica a cidade que simboliza_ Teresina. A palmeira Taliot, o xixá, a embaúba, o pequi, o jenipapo , o mandacarú, o juá, a aroeira brava e as bromélias do Cerrado, como o gravatá e a macambira ( Vatany e Aleph); a calotropis procera, o senécio azul, a puya, a videira jade e a araucária, quem tupi chama-se curi, sendo, deste modo, a origem da cidade de Curitiba. Todas são enxertos de plantas de Vatany e Alaranil com a Dhea; o tallyongut, a lobeira, a mamona, a amarílis, a astromélia e alguns tipos de gengibre, como o sorvetão e o bastão do imperador( Vatany e Maana); o evolvulus, a gelasine, o manacá, o jacarandá mimoso, o pinhão roxo, o teixo do pacífico, o eranthemum, a dyschoriste e o maracujá( Alaranil e Aleph). O caju e o candombá foram os resultados de circunstâncias mais extraordinárias, e cada um tem uma história especial, que serão destacadas muito à frente.

Certa vez, após uma breve inspeção, porém meticulosa, Wezen encontra algo que implicava em questões de extremo interesse para eles.


— O que foi Wezen? — indaga Hazim.


— Vejam! — diz Wezen, apontando-lhes os desenhos nas paredes rochosas.


As pinturas retratavam seres antropomórficos ao lado de triângulos em baixo relevo.


Cauabori, ansioso, questiona:


— Dheam, você tinha dito que a espécie humana endêmica não era dada a expressões artísticas nesse… estilo.


— Não é a espécie humana desse planeta, Cauã. São os sobreviventes perdidos da Grande Explosão _ diz o perspicaz Hazim. — Observe! As figuras estão associadas ao símbolo de Ioni, minha cidade natal. Havia muitos cidadãos de Ioni na frota de Calíodo. Eles sabiam de rumores do Pacto do Triângulo feito por você, Ilméria, Ivaí e Inia.


Ilméria, empolgada, exclama:


— Incrível! Como eles sobreviveram após o extermínio dos dinossauros e esses milhões de anos de intempéries?


Dheam estava introspectivo, passando o olhar distante pelas pinturas. Então ele murmura:


— Hazim pode estar certo. Já tem tempos que eu ando cogitando a possibilidade deles terem feito uso dos resquícios fundidos da explosão da Noz Dourada. Isso pode ter-lhes conferido, digamos assim, características sobrenaturais. Nossos conterrâneos clandestinos de Aleph não são mais como os conhecíamos.


Apoiado em Hazim, Hima pergunta:


— O que você quer dizer? Que eles ficaram com aparência arborícola, igual a Calíodo?


— Ou pior — responde Dheam. — Eles podem ter adquirido qualquer tipo de aparência. Não se espantem se virem por aí uma criatura hominídea ou um homem simiesco, tanto faz.


Cauabori comenta:


— Talvez, isso explique a sensação negativa que tenho sempre que estou aqui. Parece que tudo na Terra é mais lento, como se estivesse debaixo de um manto escuro de atraso, impedindo seu desenvolvimento e elevação. Tudo soa desarmonico.

Dheam fitava fundo em seus olhos e disfarçou o semblante de concordância ao que Cauã disse. No entanto, Hazim percebeu a interação no encontro de olhares entre os dois. Os três se encaram, estabelecendo um diálogo interno muito fugaz. Mas, com a mesma rapidez e discrição contornaram.

Em outra ocasião, muitas partes do globo já estavam povoadas, principalmente a Ásia e a Europa. Estavam presentes Dheam, Caliandro e Hazim.

Dheam pergunta a Caliandro:

— Por que seu irmão não pôde vir?

— Hima não quis deixar a mãe adotiva sozinha. Iéti está ficando famosa na região das montanhas. Hima me contou que as pessoas estão imaginando coisas, comentando sobre eles serem abomináveis criaturas da neve. E sabe como esse tipo de coisa diverte e deixa Hima empolgado…

Hazim replica:

— Vai chegar uma hora que isso deverá cessar. Acho que Hima passa do limite com a repercussão que ele e a mãe adotiva estão causando no local. Essa história de Iéti já está indo longe demais.

Caliandro faz uma cara hilária de quem hesita sobre o que está para declarar.


— Para seu contentamento ser total, Hazim, é necessário que eu diga sobre ele ter andado 'brincando' nas montanhas da América do norte, segundo a reportagem de nosso confiável Dimitri.

— Sim, Dimitri é um poço de honestidade. Eu vou ter uma conversa séria com Hima. Isso não pode continuaqqr. É esse tipo de comportamento que leva o povo terráqueo a nos conferir os estereótipos e alcunhas bizarros. Nunca vi gente mais rasa que as desse planeta.

Caliandro tenta induzir Hazim a ser mais flexível.

— Tente ser tolerante com ele, Hazim. Lembre-se que nosso irmãozinho não cresceu nas mesmas condições que quaisquer um de nós. Foi Iéti quem criou Hima. Ele passou bastante tempo entre o bando de primatas. Esse era o único mundo social que Hima conhecia. Diga-me: você suportaria viver sem dele?

— Jamais — diz Hazim, com expressão sonhadora.

Ele sorria, perdido nas lembranças do dia que encontrou Hima e ganhou um irmão, há exatos 65 milhões de anos.

Antes, porém, vamos percorrer mais alguns ramos dessa Árvore colossal, antes de descermos às profundezas de suas raízes e vermos como tudo germinou e foi adquirindo volume e ramificações.

27 de Maio de 2022 às 15:48 0 Denunciar Insira Seguir história
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