yspinheiro Yas Pinheiro

Vivendo em ciclo vicioso, Antonella Lancellotti passou pelo luto mais uma vez de forma precoce, seu rei e marido faleceu sob mãos inimigas mesmo que tivesse recebido cuidados em seus ferimentos a tempo. Precisou erguer a cabeça novamente, guiar o reino italiano para a grandeza de ser um país independente e ainda maior do que já era. Para isso precisava fechar alianças, precisava que o povo acreditasse em si e também que os de fora a temessem. Era uma jovem rainha sem experiência em batalha, em política e sem a mínima noção de como fazer as coisas funcionarem em seu reino. Porém, para tudo se tem um jeito, Antonella estudou, treinou e se tornou a rainha que todos esperavam que ela fosse. Humilde, boa para seu povo e ao mesmo tempo temida por aqueles que não a conheciam. Tão encantadora que chamou atenção de príncipes de outros reinos, um em especial fez algo simplesmente louco apenas para conquistar o coração de Sua Majestade com seu carisma, Valentin não entendia o que era limite e por isso pensava longe quando desejava algo em sua vida. Um castelo cheio de romance, drama e muita — muita mesmo — comédia.


De Época Impróprio para crianças menores de 13 anos.

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Lutto in Italia

Mesmo sabendo que um dia a vida acaba, nós nunca estamos preparados para perder alguém. — Nicholas Sparks

A batalha estava longe de acabar, Vincenzo Pendragon observava seus guerreiros caindo um a um, mas lutando com bravura e honra. Aqueles que tivessem família para sustentar e até mesmo aqueles que não eram os donos de família, iriam ter uma ajuda financeira para conseguirem sustentar-se e também como recompensa para aqueles que deram suas vidas pela Itália, ele não era um rei ruim como podem ver. De fato, aquela pequena guerra era desnecessária, mas ainda assim estava ali para mostrar que o vistoso Rei da Itália não recuaria de forma alguma, lutou bravamente junto de seus guerreiros e no meio deles mostrando que era igual a um soldado e poderia se ferir como tal. O rei não tinha medo de sujar suas mãos, não tinha medo de morrer como igual aos seus soldados e menos ainda vergonha de andar ao lado deles como se fossem amigos — a verdade, era que grande parte dos soldados era mesmo amigo do rei. Ele sentia orgulho dos seus homens, estava honrado em tê-los ao seu lado e mais ainda em poder demonstrar tal admiração por eles. Eram quase todos valentes, corajosos — afinal, ainda existiam aqueles poucos que recuavam perante uma batalha.

Naquele dia em especial, Vincenzo olhava a sua volta começando a entrar em desespero por ver seus homens caídos, não poderia recuar por eles e por sua esposa que a esperava em seu castelo. Tinha lhe prometido que voltaria vitorioso, mesmo que ela só quisesse que ele voltasse inteiro. Antonella Lancellotti tentou não pensar em seu marido morrendo, tentou ter pensamentos positivos de que ele voltaria para ela inteiro e bem, como deveria ser. Seu irmão mais novo, Donnatello, estava com ela para que não ficasse sozinha, o Pendragon tinha enviado uma carta alguns dias antes para o jovem pedindo que viajasse até Florença, não queria que a rainha ficasse sozinha e desamparada caso não voltasse com vida. A batalha que seguia árdua finalmente chegou ao fim quando o rei e o chefe de estado batalharam até a morte, Vincenzo conseguiu dar o golpe final, mas também recebeu um corte fatal.

Seus homens ao perceberem que seu rei não estava dentro de suas condições normais, se apressaram em acudir o homem com seus quarenta anos. Colocaram-o em uma carruagem e então seguiram em direção a Florença, lugar esse que a rainha andava de um lado para o outro com a mão direita no peito esquerdo, estava com um pressentimento ruim e sabia que tinha algo de errado com seu marido.

— Minha irmã, poderia acalmar-se? Vincenzo está bem, tenho certeza — A voz grossa de Donnatello se fez presente para os ouvidos da jovem, ela queria acreditar naquilo com todo seu coração.

— Não sei, Donnie, sinto que há algo de errado com Vincenzo — continuava a andar de um lado para o outro enquanto falava o que sentia. — Eu ainda o avisei para não ir, para deixar tudo do jeito que estava, ele nunca me escuta — soltou um suspiro pesado desabando em uma poltrona enquanto escondia o rosto com uma de suas mãos. — Não posso perdê-lo também.

Donnatello sabia bem sobre quem sua irmã mais velha se referia; seus pais mortos. Não falou nada, não tinha o que dizer sobre os pais falecidos, afinal aquilo já era passado e o jovem Grão-Duque de San Marino tinha superado isso a alguns anos. Sentia falta de sua doce mãe, das conversas com seu pai, mas aprendeu que precisava seguir em frente e não ficar lamentando a perda deles. Respirou fundo olhando pela janela, estava sentado no parapeito da mesma apenas observando o céu que parecia se fechar lentamente, aquilo geralmente nunca era um bom sinal, talvez sua irmã estivesse certa em relação ao marido. Desviou seu olhar do céu nublado para a jovem que já tinha voltado a andar de um lado para o outro, a vida de rainha tinha feito muito bem para a irmã, assim como a de Grão-Duque para si mesmo. Ninguém nunca imaginaria que os Lancellotti iriam voltar para a realeza algum dia, já tinha ouvido muitas histórias sobre seus ancestrais — mesmo que não acreditasse na grande maioria, queria acreditar que seu sangue vinha de uma linhagem nobre que se perdeu no caminho.

Voltou seu olhar para fora, desta vez para baixo, podendo ver os soldados voltando de onde quer que estivessem batalhando daquela vez. Vincenzo não estava entre eles, o que era um mau sinal. Antes que pudesse falar qualquer coisa com a irmã, ouviu a porta abrir-se bruscamente atraindo os olhares dos irmãos Lancellotti enquanto lhes era revelado o conselheiro real — Giovanni Reviello — do rei. O homem devia ter um pouco mais de trinta anos, talvez seus trinta e cinco, olhos azuis bem claros e cabelos perfeitamente penteados para trás. Suas roupas eram impecáveis e não tinha uma linha sequer fora do lugar, pelo menos ele se importava em estar bem vestido diante de suas majestades.

— Vossa Majestade, desculpe-me pelo modo que entrei, trago notícias urgentes... boas e más — falou depois que curvou-se de forma não tão exagerada que Donnatello pensou que iria fazer.

— Vamos, Giovanni, diga-me que Vincenzo está bem — Nenhum dos homens estava surpreso com a sentença da rainha, era óbvio que seus pensamentos e coração estavam todos voltados apenas para o rei. No entanto, o mais jovem do recinto percebeu a hesitação do conselheiro com o pedido.

— Minha rainha, temo que será melhor a senhora ver com seus próprios olhos — respondeu abaixando brevemente seu olhar. — Queiram me acompanhar, por favor.

Assim que terminou a frase, virou-se caminhando à frente. Donnatello deu passagem para sua irmã que estava mais aflita; ele foi logo atrás colocando suas mãos nos bolsos de sua calça enquanto andava calmamente atrás do conselheiro que parecia bastante inquieto e de Antonella que estava a ponto de chorar. Em um determinado ponto do castelo, tudo parecia estar em câmera lenta. Um grito pôde ser ouvido assim que a rainha colocou seus olhos em seu rei completamente debilitado e desacordado, Vincenzo não estava morto, mas estava com um pé quase no paraíso. Até o Grão-Duque, que não acreditava muito em Deus, pediu para qualquer força maior que eles, para que o rei não viesse a falecer. A única coisa que ele conseguiu fazer foi correr atrás de sua irmã para segurá-la, o Pendragon já estava muito frágil e com a jovem em cima dele não faria qualquer efeito.

— Levem-no até seus aposentos e cuidem desses ferimentos. Agora! — A voz grossa de Donnatello soou pelos corredores enquanto tinha a irmã mais velha nos braços que chorava sem uma pausa sequer.

Ele podia sentir a dor dela, por mais que não entendesse, podia sentir a dor que ela irradiava. As lágrimas escorriam de forma grosseira pelo rosto delicado da Lancellotti que sequer se importava com parecer bem vista ao olhar de seus criados, ela estava sofrendo uma perda que ainda não tinha acontecido, mas que sabia que iria acontecer. Naquela época, os curandeiros demoravam semanas para chegar e às vezes não podiam fazer nada para ajudar. Antonella sabia desde que Vincenzo saiu dias antes que aquela seria a última vez que veria o marido sorridente, pediu para que ficasse com ela e deixasse as terras de lado, mas teimoso do jeito que era, decidiu que iria e traria uma nova terra para agregar à Itália. Tinha conseguido, de fato, mas o que tinha lhe custado? A vida.

Demoraram a deixar a rainha entrar, mesmo que ela gritasse com eles, não queriam que ela o visse daquela forma. De todo modo, ela entrou assim que teve a oportunidade e trancou-se no cômodo com o marido, queria vê-lo e conversar com ele. Estava acordado para a sua sorte. Antonella aproximou-se da cama lentamente, estava tentando prolongar o momento, mas tinha que ser rápida, afinal ele não teria muito tempo de vida. Sentou-se na beirada da cama, segurou a mão de seu amado e então levou a livre até o rosto do mesmo para acariciar.

— Meu amor, por quê não ouviste o que disse? — perguntou de forma totalmente retórica ao marido que deu um sorriso mínimo, ela sempre estava certa e ele devia ter aprendido isso antes — Tenho medo de perdê-lo, Vincenzo — fechou seus olhos sentindo as lágrimas escorrerem por seu rosto e em poucos segundos sentiu a mão do homem deitado à sua frente limpando as gotas que restaram.

— Saiba que lhe amei com todo meu coração, Antonella — falou baixo, sua voz estava fraca e aquilo cortava o coração da rainha em vários pedacinhos. — Não foi eu quem lhe escolheu para ser minha rainha, foi você quem me escolheu para ser seu marido e eu tenho sorte por ter ido para aquele lado da cidade.

A jovem soltou uma risada baixa balançando sua cabeça em negação, a sorte tinha sido dela em ter sido escolhida por ele para ser a esposa e rainha. Ela não fazia ideia de onde estaria naquele momento se não tivesse o conhecido, agradecia todas as noites por aquilo e por ser amada como ele a amava. Assim como ela também o amava mais do que poderia descrever em palavras algum dia, respirou fundo mantendo seu olhar em Vincenzo que também retribuía ao olhar e então o mesmo sorriu.

— Quero que governe esse país com sabedoria, meu amor, que não sofra muito quando eu me for e que ame novamente alguém tanto quanto eu te amo — pediu vendo que ela já tornava a derramar lágrimas novamente, era difícil uma despedida daquela forma e era ainda pior para ela que ficaria ali.

— Não fale assim, por favor, você vai viver. Precisa viver.

— Antonella, precisa aceitar que estou partindo, mas estarei sempre por perto e a esperando na próxima vida — Ambos sorriram um para o outro, a jovem se aproximou para deixar um selar nos lábios do marido que retribuiu. Ficaram apenas se olhando e trocando carícias, lentamente as mãos do homem repousaram sobre a cama, mas seus olhos ainda observavam sua amada e o sorriso era evidente em seus lábios.

Demorou um pouco até que percebesse que finalmente tinha partido, quando aconteceu, seu sorriso lentamente se desfez em seu rosto e um grito agoniado rompeu sua garganta agarrando o corpo do marido contra o seu em forma de posse. Tudo ali parecia estar em câmera lenta desde o momento em que viu seu amor ensanguentado chegar da batalha, uma chuva forte rompia os céus de forma grosseira enquanto os trovões e raios dançavam entre si. Itália estava chorando pela morte de seu rei, estavam iniciando seu luto pelo homem que mais tinha lhes ajudado. Depois do grito, Donnatello abriu as portas do quarto com muita dificuldade preocupado com a irmã e logo o choque tomou seu rosto ao ver que Vincenzo havia falecido. Aproximou-se da mais velha pegando-a pelos braços para abraçá-la e a afastou da cama para que os criados pudessem preparar o rei para a cerimônia de funeral.

Por algum motivo, Giovanni tinha dito ao Grão-Duque que Vincenzo já tinha deixado claro como queria que tudo acontecesse e que se algum dia ele chegasse gravemente ferido de uma batalha, era para começar a preparar sua cerimônia. Era óbvio que o Pendragon não tinha medo da morte, mas também não pensava tanto assim em sua rainha quando simplesmente ia para batalhas completamente perigosas e que sabia que poderiam o matar. Tinha dado sorte, até aquele dia. Reviello contou que seria aberto para todos aqueles que desejavam prestigiar o rei e dar suas condolências à rainha, em pouco tempo todos da Itália sabiam o que tinha acontecido ao rei e por tanto começou a se espalhar pelo continente Europeu. O conselheiro foi instruído também a sempre ficar ao lado de Antonella em todas as suas decisões, que deveria ser ensinado para a jovem tudo sobre o posto que ela exerceria e também que aprendesse a lutar, precisaria saber se defender agora que não tinha mais a proteção do rei.

O Lancellotti decidiu deixar a irmã sob os cuidados de suas criadas assim que a jovem se acalmou um pouco, saiu do aposento e foi ele mesmo se banhar para tentar dormir ao menos alguns minutos, mesmo sabendo que não conseguiria. O dia seguinte seria longo e cansativo, tudo teria que estar em seu devido lugar e sabia que Giovanni seria capaz de tal coisa. Tinha decidido também que ficaria um tempo com a irmã até ela acostumar-se com a ideia de que ficaria sozinha naquele enorme castelo. Não poderia ficar ali para sempre, mas estaria sempre presente para a deixar com a sensação de segurança e de que não estava sozinha de forma alguma. Assim que terminou seu banho não tão demorado, colocou roupas limpas que poderiam ser consideradas um pijama e jogou-se sobre a cama colocando as mãos atrás da cabeça pensando um pouco. Vincenzo estava com um sorriso no rosto quando Donnatello entrou no quarto, ficou mais tranquilo em saber que o rei — e seu cunhado — tinha partido feliz. Estava ao lado da esposa, a pessoa que mais amava em sua vida e não tinha dúvidas disso. O jovem fechou seus olhos por alguns breves segundos soltando um suspiro enquanto se deixava entregar para o sono, já que Antonella do outro lado fazia o mesmo devido ao cansaço que causou a si mesma com o choro descontrolado.

[...]

Antonella tinha sido a primeira a acordar no castelo inteiro naquele dia, não queria se despedir do marido daquela forma e estava com seu coração apertado dentro do peito. Muitos aliados iriam naquele dia para a cerimônia que seria no fim da tarde, dentre eles a França, Suíça, Áustria e Eslovênia que já estavam perto o suficiente para entrar no país, alguns outros aliados não teriam o mesmo tempo para chegar, então já tinham começado a mandar cartas a rainha prestando suas condolências. Tinha que se preparar para receber seus convidados, sentou-se na cama olhando para seus próprios pés e desviou para o lado de Vincenzo. Sentiria a falta do homem e suas brincadeiras que sempre a faziam rir, das declarações fora de hora e principalmente de ficar observando seu marido trabalhar tão concentrado que às vezes não percebia ela por perto. Não se incomodava, afinal o mais velho estava em seus momentos de trabalho, e também gostava bastante de ficar observando.

Balançou a cabeça levemente afastando um pouco tais pensamentos, desviou seu olhar para a grande porta que se abria para suas criadas, observou as jovens começarem a escolher seu vestido e preparar seu banho. Se dependesse dela, ficaria deitada na cama e não levantaria por um bom tempo, mas sabia que seu país precisava dela para continuar crescendo e não poderia desapontar Vincenzo. Respirou fundo levantando-se da cama retirando suas vestes de dormir para banhar-se finalmente. Não demorou tanto assim, queria ser rápida para terminar antes que os convidados chegassem ao castelo. Tinha sido escolhido um vestido preto liso, em suas ombreiras havia pedras de cristais que iam até o pescoço. Era um lindo vestido, não se lembrava de ter usado ele alguma vez sequer, talvez estivesse esperando um dia como aquele. Depois de se vestir, sentou-se em sua penteadeira e deixou com que uma de suas criadas arrumasse seus fios negros em um coque grande simples antes de colocar a coroa mais simples que achou. Por ela, não usaria coroa alguma, mas era obrigatório que usasse para mostrar seu posto naquele castelo.

Agradeceu para suas criadas quando terminaram de a arrumar, observou as mesmas fazerem uma singela reverência e logo saírem do quarto. Respirou fundo virando-se para o espelho observando atentamente seu reflexo, estava visivelmente cansada, qualquer um poderia perceber isso. Porém, quem não estaria depois de perder o marido? Todos podiam achar que o casamento de Antonella e Vincenzo era apenas fachada, mas eles e alguns poucos próximos sabiam que não. Ela não se importava com o que falavam sobre ela, não se importava com o que iriam pensar com o falecimento do marido e menos ainda com aquela cerimônia. Porém, Giovanni tinha dito que era o desejo do rei daquela forma, a Lancellotti não iria contra um pedido do seu maior e único amor até então.

Antonella Lancellotti, a rainha viúva da grande Itália, andava calmamente pelos corredores com suas mãos entrelaçadas à frente do corpo, seus cotovelos estavam dobrados em um ato de nervosismo. Seria a primeira vez que estaria sozinha em um grande salão com grandes nomes da realeza de outros países, em sua maioria aliados da Itália. Teria a sorte de ter seu irmão mais novo e conselheiro real ao seu lado, mas era óbvio que não era a mesma coisa que ter Vincenzo ali para lhe dizer quem eram aquelas pessoas de forma mais divertida, aquilo de fato tinha acabado em sua vida. Parou diante da grande porta fechando seus olhos por alguns segundos, respirou fundo passando as mãos no vestido para esticá-lo e sinalizou para que as portas fossem abertas para a revelar por completo.

A primeira coisa que viu foi o caixão de seu marido, seus olhos não conseguiam captar qualquer outra coisa além dele ali tão sereno e tranquilo. Sabia que estava em um lugar melhor e isso era o mais importante para ela. Caminhou pelo salão podendo ver Donnatello se aproximar calmamente com suas mãos nos bolsos, estava completamente de preto, assim como todos ali que entravam e saíam pela porta principal. Muitos cidadãos passavam por ali para prestigiar o rei deles, outros estavam apenas para comer e alguns nobres estavam ali apenas para ver como a rainha estava. Ela sabia que muitos deles agora iriam tentar aplicar um golpe de estado, iriam colocar seus pretendentes para cima dela e tentar um casamento apenas para também tomar controle do país, Antonella não tinha intenção de se casar novamente nem tão cedo.

— Como você está, irmã? — Donnie perguntou antes de ouvir um suspiro da mais velha.

— Eu não queria estar aqui, mas estou fazendo isso por ele — Ambos caminharam até o caixão e observaram a expressão serena que ele se encontrava. — Terei de aguentar tudo isso por ele.

— Saiba que se quiser fugir daqui, estarei a postos e pronto para ir a qualquer momento — deu um sorriso mínimo passando a mão nas costas da jovem e então afastou-se um pouco para dar-lhe privacidade com o marido falecido.

Antonella passou delicadamente no rosto do marido enquanto dava um sorriso mínimo, lágrimas caíam por seu rosto lentamente e de forma silenciosa. A jovem nunca foi de ser escandalosa, por isso não era surpresa para o irmão mais novo que ninguém percebesse que ela estava chorando, mesmo que todos os olhares estivessem em sua direção naquele momento. Com certeza estava em qualquer lugar, menos ali, pelo menos não sua mente, sua alma. Estes estavam em seja qual for o lugar que Vincenzo estava naquele momento, mas estavam com ele, Donnatello sabia que sua irmã precisaria de todo apoio que pudesse dar, mesmo que ela demonstrasse o contrário e tentasse o fazer ir embora, ele não a deixaria sozinha. Manteve-se parado a poucos metros dela, suas mãos estavam nos bolsos de sua calça e seus olhos na multidão a sua volta, poderia ser imprudente desconfiar de tantas pessoas que são consideradas santas, mas nobres não eram tão confiáveis quanto todos imaginavam e o Lancellotti sabia disso.

De longe os reis olhavam a jovem e viúva rainha, tão nova para assumir o trono sozinha, já preparavam discursos sobre o porquê deveria se casar novamente com alguém que entendesse dos assuntos de um rei. Alguns monarcas eram sozinhos, esperando por uma oportunidade como aquela para reerguer-se e tomar terras para si. Outros eram casados e desejavam empurrar seus herdeiros, aqueles que não tinham herdeiros planejavam um golpe ainda maior como tentativa de assassinato para com a rainha. Uma terra sem monarcas poderia ser invadida e reinvindicada sem maiores problemas, apenas o povo que iria sofrer, mas Giovanni e Donnatello estavam ali para impedir que qualquer coisa acontecesse com a rainha em seu tempo de luto ou até mesmo fora dele. Guardas reais seriam pagos para guardar pessoalmente da segurança de sua rainha, para Antonella, aquilo não tinha necessidade, mas sabia que não poderia se dar ao luxo de ser atacada e deixar seus súditos desamparados.

A mulher deixou um beijo na testa do marido antes de se afastar, caminhou até seu trono sentando-se e então soltou um suspiro olhando para seus próprios pés cobertos pelo vestido preto. Não demorou muito até que os primeiros nobres viessem em sua direção, os primeiros foram da Áustria. Desejaram suas condolências e então se afastaram sem falar muito mais coisas. Depois houveram os Suíços e os Eslovenos, estes foram menos sutis e começaram a tentar jogar seus filhos na jovem — esta apenas deu um sorriso sem muita vontade enquanto Giovanni os retirava dali. Por fim, os Franceses, seu maior aliado e amigo. Observou os dois reis e a jovem princesa Aurélie, melhor amiga de Antonella desde muito tempo.

— Nossas condolências, Rainha Antonella, nos perdoe por nosso mais velho e nosso mais novo não estarem aqui hoje — Cateline Valois, a rainha da França, falou e deu um sorriso mínimo enquanto falava.

— Ora, Cateline, já lhe disse para me chamar apenas de Antonella. Temos o mesmo título — A jovem soltou um suspiro levantando-se e sorriu ladino. — Não faz mal, tenho certeza que eles tiveram coisas importantes a fazer.

— Se você acha encher a cara em um bar qualquer importante, então sim, coisas muito importantes — Aurélie soltou revirando os olhos enquanto desviava para o outro lado, aquilo tinha feito a morena soltar uma risada e apenas concordar.

— Perdoe também nossa filha que às vezes esquece com quem está falando e que tem de ter modos — Roland, o rei da França, falou enquanto lançava um olhar para a filha que fingia nem ser com ela. — Saiba que qualquer coisa pode contar conosco, Antonella, seu marido era um amigo muito querido nosso e estamos dispostos a lhe ajudar no que precisar.

— Obrigada, Roland, lembrarei disso — Sorriu os observando sair, porém Aurélie permaneceu ali a olhando com piedade. — Não me olhe assim, estou bem, Aurélie.

— Isso não é bem verdade, eu te conheço — Respondeu soltando um suspiro e aproximou-se segurando suas mãos. — Sabe que podes contar comigo sempre, se precisar, passo uma temporada aqui com você.

— Tenho certeza que tem coisas mais importantes a fazer, minha amiga, mas fico feliz que possa contar com sua ajuda — As duas moças abraçaram-se antes da rainha ouvir a voz de Reviello lhe dizendo que o sepultamento seria iniciado.

As duas se afastaram, a princesa dirigiu-se até os pais enquanto a jovem rainha caminhava até o caixão de seu amado e adorado marido. Permaneceu ao lado do mesmo durante todo o processo de oração, algumas vezes dizia algumas poucas palavras direcionadas ao homem e então começaram a fechar o caixão. Novamente as silenciosas lágrimas se fizeram presente em seu rosto, a partir daquele momento, tudo parecia estar em câmera lenta e demorar a passar. Os passos que davam até a sepultura eram pesados, lentos e arrastados. As respirações eram pesadas e descompassadas, quase como se não conseguissem respirar realmente. Antonella sentia uma pressão no peito, sentia as gotas de chuva caindo em sua pele, sentia o clima pesado e mórbido que a morte de Vincenzo tinha trago.

Não demorou muito, todos deram suas últimas condolências antes de se afastarem do local, restando apenas Antonella que pediu para seu irmão mais novo e para o conselheiro real um tempo sozinha. Mesmo que receosos em conceder o pedido, mantiveram uma distância considerável para que ela não corresse qualquer tipo de perigo. Lancellotti observou a lápide onde encontrava-se escrito "Qui giace un amato re e marito." além do nome completo dele. A jovem soltou um suspiro sentindo seu corpo completamente dolorido, molhado e cansado de tudo aquilo. Precisava do seu tempo de luto, mas também sabia que precisava reagir e governar seu país com sabedoria. Ergueu a cabeça para o céu deixando com que a chuva lavasse seu rosto, tornou a endireitar-se e então começou a caminhar calmamente na direção dos rapazes que a esperavam.

— Vamos, temos um país para governar.

19 de Outubro de 2021 às 12:59 1 Denunciar Insira Seguir história
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Amanda Luna De Carvalho Amanda Luna De Carvalho
Olá! Faço parte da Embaixada brasileira do Inkspired e estou aqui para lhe parabenizar pela Verificação da sua história. Vim dizer que sua história é encantadora e demonstra como os personagens podem ser simpáticos aos leitores. Achei as primeiras cenas de batalhas bem descritas e denota como todos ali tinham uma emoção aflorada, que faz com que todos fiquem interessados. As qualidades e defeitos dos personagens são ressaltados e podemos sentir como são humanos. Todos que passam por uma guerra, perdem ou recuperam entes queridos, sentem na pele toda dor e amor do mundo. Todas as batalhas são cruéis, ainda que sempre hajam vencedores. Muitas pessoas nunca conseguem esquecer as memórias de traumas vivenciados tais situações. Leitores de alma refinada e que apreciam os sentimentos humanos, se atraem por obras assim, que mostram como uma personagem começa tão triste e tão baqueada, e por amor ao seu povo, vai crescendo internamente como pessoa, para se proteger e proteger as pessoas ao seu redor. Um verdadeiro governante vai sempre batalhar pelo respeito e admiração de sua população, demonstrando o quanto ama-os de verdade e quer seu melhor. Temos reis assim na História Mundial e com um coração tão amoroso, que são dignos de admiração. A personagem principal teve muitas perdas, assim como cresceu como pessoa aos poucos. Apenas pessoas que passam por algo assim e tem forças para sair do buraco, que pode ser até um inferno dependendo da experiência, são especiais e os verdadeiros heróis, fazendo toda diferença na vida das pessoas de verdade. O amor faz a gente crescer. Seu português é bem escrito e quase sem erros. Parabéns pela obra e continue escrevendo.
January 07, 2022, 14:31
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