haruniverso Haru Mateus

"No dia em que meus olhos encontraram os de Eol Eun, eu me apaixonei por aquela cor. Ninguém em todo o Reino da Primavera tinha íris como aquelas. Era como contemplar o movimento do oceano, ou como o céu de um dia ensolarado. Às vezes, brilhava como um cristal de safira, e em alguns raros momentos, a luz dos candelabros incidia do jeito certo para fazer seus olhos acenderem num tom de prata que lembrava a lua cheia. Eu queria vê-los de perto." Uma história com clichês de príncipes gays de reinos inimigos, para aquecer corações gelados e, só talvez, fazer florescer alguma esperança de que o amor verdadeiro seja mesmo a magia mais poderosa que existe.


LGBT+ Impróprio para crianças menores de 13 anos.

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No dia em que meus olhos encontraram os de Eol Eun, eu me apaixonei por aquela cor. Ninguém em todo o Reino da Primavera tinha íris como aquelas. Era como contemplar o movimento do oceano, ou como o céu de um dia ensolarado. Às vezes, brilhava como um cristal de safira, e em alguns raros momentos, a luz dos candelabros incidia do jeito certo para fazer seus olhos acenderem num tom de prata que lembrava a lua cheia. Eu queria vê-los de perto.

O Palácio da Primavera estava movimentado. Mais que o normal. Soldados circulavam pelo Salão Dourado, carregando elmos prateados e lanças enfeitiçadas. Os magos brincavam com sua magia, cobrindo as paredes com brilho e perfume de rosas. O rei e a rainha se posicionavam em seus tronos no centro do evento. Normalmente, havia súditos festejando na presença das majestades, mas naquele dia em específico, quem cercava o trono era uma legião de ministros e nobres aristocratas dos quatro reinos essenciais: Primavera, Outono, Verão e Inverno. Lembro que os primeiros a chegar vieram do Reino do Outono. Eles entraram pelos portões com seus véus alaranjados que reluziam como um pôr do sol, um ar de superioridade característico deles, tanto quanto seus cabelos que tendiam ao ruivo. Logo atrás, o povo do Reino do Verão se apresenta. Ousados e confiantes, dava pra perceber só de olhar que eles eram extremamente vaidosos, e exalavam um carisma simpático que brilhava como a luz do meio-dia, luz essa que desaparece quando o próximo reino cruza as portas do palácio.

E foi aí que eu o vi.

O rei e a rainha entraram primeiro, eram altos e esguios. Assim como seus súditos, tinham um rosto absurdamente pálido e olhar afiado, como se estivessem julgando cada mínimo detalhe em tudo e todos no salão. Uma névoa gelada os acompanha, tão intensa que fazia o calor do povo do verão se esvair até desaparecer por completo. Os monarcas do gelo se aproximam, e eu encontro aqueles olhos pela primeira vez. Meu corpo se enche de uma estática repentina, e eu não consigo parar de olhar para ele. Aquele príncipe do Inverno que tinha quatorze anos, como eu, mas parecia completamente diferente de mim. Éramos como forças opostas da natureza, e talvez por isso eu me senti imediatamente atraído por ele.

A reunião começou depois de uma rodada de reverências e cumprimentos entre os nobres. Reis e ministros cercam a mesa, discutindo tratados e outras diplomacias que eu, príncipe da Primavera, devia estar prestando atenção. Mas não conseguia. Não com ele ali.

Dia após dia, as reuniões continuam acontecendo, e ele continua me distraindo. Nesse tempo, descobri que seu nome é Eol Eun. Ele é o único filho dos monarcas do Inverno e era pelo menos dois meses mais velho que eu. Apesar disso, reparei que sou mais alto que ele. Eol Eun é esguio como seus pais, seus cabelos são brilhantes e prateados, e caiam numa bagunça arrepiada sobre seu rosto, como fios de seda se movendo ao vento. Mas o mais curioso desse príncipe era o caderno que sempre estava com ele. Seja embaixo do braço ou rabiscando algo durante as reuniões, Eol Eun nunca, jamais, sob hipótese alguma largava seu caderno. Desde a primeira vez que o vi, ele dedica toda sua atenção às páginas amareladas guardadas naquela capa de couro. Me pergunto o que ele está fazendo.

Até que, um dia, à mesa de reunião, vejo ele levantar o pescoço para alcançar o ouvido de sua mãe. Eol Eun cochicha por alguns segundos, então a rainha do Inverno o encara e assente com a cabeça. Ele se levanta e deixa a mesa em direção a saída. Não me pergunte o porquê e nem como, mas eu fiz o mesmo.

— Fugindo de suas responsabilidades outra vez, alteza? — disse a voz repreensiva, pairando perto do meu ouvido sob a forma de uma criatura magica voadora com aparência de elfo, tão ridiculamente pequeno que eu poderia escondê-lo na palma da minha mão.

— Não enche, Magush — espanto a criaturinha como quem espanta um mosquito, mas ele insiste.

— Por que tanto interesse nesse príncipe? — Magush indaga com sua voz élfica. — Preciso lembrá-lo, como seu instrutor mágico que você deve manter-se na linha até que atinja a maioridade e decida sua missão sagrada.

— Eu não vou aprontar nada, se é o que você quer saber — ignoro-o, continuando a procurar pelos corredores.

— Então, por que está procurando o príncipe do Inverno? — o elfo indaga, e outra vez eu prefiro não responder.

Quando encontro Eol Eun novamente, ele está sentado no tapete do chão, parado diante de um quadro velho na parede. Magush se esconde no meio dos cachos do meu cabelo cor-de-rosa, e eu me aproximo do príncipe. No caderno que eu tanto almejava ver, Eol Eun rabiscava em grafite a parede diante dele, com uma quantidade absurdamente incrível de detalhes.

— Então é isso que você estava fazendo? — digo, entregando minha presença ali.

Eol Eun se assusta, a princípio, mas não deixa isso distraí-lo de seu desenho, e logo retoma o trabalho.

— Você desenha muito bem — tento puxar assunto, mas Eol Eun parece tão bom em me ignorar quanto eu sou em inventar desculpas.

Aproveitei que ele não parecia se incomodar com minha presença e me sentei ao seu lado, no tapete. Finalmente pude conferir de perto nossas alturas. Não é nada muito drástico, mas eu ainda o ultrapasso nisso.

— Você não gosta de conversar? — pergunto, mas ele ainda não me responde.

Foi então que me veio a ideia.

— Ei, eu sei de uma coisa legal que você vai gostar de desenhar. Quer ver?

No mesmo instante, ele me olhou com aqueles brilhantes olhos de cristal azul. Xeque mate, eu havia conseguido a atenção dele.

O Jardim Real era sem sombra de dúvida o lugar mais bonito de todo o Reino da Primavera, eu sabia que Eol Eun iria amar desenhar tudo aquilo. Há minutos ele não para de rabiscar euforicamente no papel tudo que vê pela frente, já deve ter gastado metade de seu caderninho.

— Suspeito — Magush comenta mergulhado nos meus cachos. — Por que trazê-lo ao jardim?

— Eu pensei que ele gostaria de desenhar as flores, não deve ter muito disso no Reino do Inverno — respondo, tomando cuidado para que Eol Eun não nos ouça. — Ele é... Interessante.

— Hm. Entendi — Magush murmura, cheio de pretensiosidade, mas ele se oculta novamente no meu cabelo quando Eol Eun se aproxima de mim.

— Então, você gostou? — me inclino para perto dele, tentando ver seus belos olhos sem parecer um maníaco. Eol Eun me devolveu o olhar com a mesma vivacidade, e de repente foi como se aquelas íris de cristal azul pudessem sondar minha alma.

— Posso desenhar você? — ele pergunta inocentemente. Sua voz é fria e sutil, mas carrega uma certa gentileza.

— Eu? — pestanejo e inclino o rosto. Eol Eun assente e me aponta com seu lápis.

— Seu cabelo — ele comenta. — Parecem rosas.

Involuntariamente levo a mão aos meus cachos, meu rosto se crispa e eu estou com as bochechas queimando. Espero que Magush não perceba isso, ele com certeza vai esfregar na minha cara depois.

— Acho que tudo bem... — me controlo como posso para não gaguejar. — O que eu devo fazer? Preciso ficar parado? Ou em alguma pose?

Eol Eun me olha com cara de paisagem, como se minha pergunta fosse muito complicada ou irrelevante. Estranhamente, ele parece deixar de lado a ideia de me desenhar e volta sua atenção para as roseiras novamente. Eu continuo acompanhando-o enquanto passeamos pelo jardim e, às vezes, percebia ele me encarando. Nesses poucos segundos, eu tinha a sensação de estar sendo despido e exposto para o mundo. Era como se seus olhos pudessem ver aquilo que estava dentro de mim. Minha essência, meus sentimentos, minhas intenções e pecados, Eol Eun podia ver tudo com aquelas íris de cristal azul. Tudo.

Alguns minutos depois, ele se aproxima outra vez.

— Seu nome.

— O que tem o meu nome? — pergunto. Bato na própria testa quando finalmente percebo o equívoco. Eu ainda não havia me apresentado.

Tossi e fiz reverência, com uma elegância extremamente forçada.

— Príncipe herdeiro do trono da Primavera, Eung Avalon Won III — depois me levantei com um sorriso besta. — Ou só Eung, se quiser.

Ele baixou o rosto para o caderno e rabiscou mais alguma coisa na página que estava aberta. Depois, sem cerimônia, rasgou a folha e a estendeu para mim. Meu queixo cai e eu preciso esfregar os olhos para ter certeza do que estou vendo. Era eu naquele papel, desenhado pelas mãos do Príncipe do Inverno com tanto talento que faria inveja aos grandes artistas reais. Era tudo tão preciso e natural, tão delicado e vivo.

— Obrigado, alteza — é tudo que consigo dizer para aqueles olhos iluminados.

Ele desvia o olhar, seu rosto pálido parece ganhar cor por alguns segundos, mas logo essa impressão desaparece.

— Como isso se chama? — ele pergunta.

Isso o quê?

Eol Eun aponta para as rosas atrás de nós, e depois para as que estavam à nossa frente, e para todas as outras ao nosso redor.

— O jardim? — chuto.

Jar-dim? — as palavras saem da sua boca de um jeito torto, como se fosse a primeira vez que ouvia a expressão.

— Você nunca viu um jardim? — Eol Eun nega assim que pergunto. — Bom, temos muitos jardins no Reino da Primavera.

— No Reino do Inverno não temos nada assim — sua resposta soa como um lamento, mas eu não tinha certeza, porque a voz de Eol Eun costumava ter sempre um tom neutro.

Me viro para a roseira branca que estava ao nosso lado e tive uma ideia.

— Toma — arranco uma rosa e a entrego ao príncipe, que recebe o presente com brilho nos olhos. — Quando você nos visitar outra vez, eu te mostro outros jardins, eles têm muitas outras flores bonitas como essa.

— Eu... gostei dessa — ele diz, admirado. Se meus olhos não me enganavam, seus lábios haviam acabado de fazer um movimento suave. Eol Eun estava sorrindo, mesmo que só um pouco. E, meu Deus, era lindo.

O sorriso de Eol Eun conseguia ser ainda mais bonito que seus olhos de cristal.

Ao cair da tarde, um mordomo do Reino do Inverno apareceu no jardim para buscar o príncipe. Ele fez uma reverência para mim e se despediu formalmente sem muitas palavras.

— Terra para Eung Won — Magush salta do meu cabelo e balança seus bracinhos na frente dos meus olhos hipnotizados para o desenho que ganhei de Eol Eun. — Pelos deuses, o príncipe do Inverno congelou seu cérebro?

— Eu quero vê-lo outra vez — sorrio, encarando o elfo que parece pronto para me repreender.

— Você sabe que o momento não é oportuno para fazer esse tipo de aproximação, certo, alteza? — ele cruza os braços.

— Vai ficar tudo bem, Magush. Tenho tudo sob controle — afirmo, mas ele não parece acreditar em mim, e tampouco eu tentaria convencê-lo, porque estava ocupado relendo pela milésima vez o recado de Eol Eun no verso do desenho:


PARA O PRÍNCIPE DAS ROSAS, EUNG WON.

OBRIGADO.

8 de Setembro de 2021 às 02:12 0 Denunciar Insira Seguir história
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