luana_kurama Luana Amorim

Nunca imaginaria que um doce de infância se tornaria tão amargo. E também, nunca imaginei que um inocente amor de infância poderia me prejudicar tanto.


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Capítulo Único

Quando crianças somos tão sinceros, doces e inocentes, somos tão puros que até cogitamos se tal fase de nossa vida foi verdadeira. Apesar de ter muitos momentos de constrangimento nessa idade, eu a considerava a mais doce de minha vida e a mais feliz.

Hoje, apenas sinto um gosto amargo na boca cada vez que me lembro, se eu fechar os olhos e respirar bem fundo, me lembrarei -- não de tudo -- mas o suficiente do que ocorreu no momento mais doce da minha vida.

Era um domingo, meus pais tinham que ir para a igreja e me decidiram me levar junto, eu tinha por volta de seis anos e odiava ir para a considerada: casa de Deus, não podia me divertir e muito menos dormir, não entendia o motivo dos adultos se reunirem em um local para ouvir outro adulto, com roupas estranhas, falando. Por sorte, minha melhor amiga também tinha ido e por uma maior ainda, meus pais tinham pequenos trabalhos a se fazer durante a missa e sua mãe era liberal então demos uma escapadinha;

Na época, uma igreja melhorada da nossa paróquia estava em obra, ela ainda não tinha janelas, portas, piso ou teto, apenas seu formato teria sido feito, como era noite o lugar parecia assombrado, nos dando um pouco de medo. Entramos mesmo assim e nos escondemos debaixo de uma das janelas, a partir deste ponto alguns momentos se perderam, mas por um motivo que desconheço, me lembro perfeitamente da brisa fraca que se fez presente elevando o cheiro da terra úmida abaixo de nós, justo no mesmo momento em que nossos lábios macios e pequenos se encontraram.

Já tinha visto muitos adultos e principalmente meus pais fazerem isso, naquela idade, nunca me perguntei o motivo de fazerem aquilo, mas naquele momento, pensei em ter o encontrado, os adultos faziam aquilo porque era mágico e doce! Tinha um gosto docinho de uma melancia! Quando nossos lábios se distanciaram, sorrimos uma para outra e ela me fez um sinal de silêncio, repetindo a ação mágica mais uma vez, o efeito continuou, nós nos levantamos e olhamos para o salão notando movimento dos adultos, sorrateiramente voltamos para o salão nos separando, tínhamos voltado justo na eucaristia, onde os adultos iam receber a hóstia e fazer uma oração em seus lugares, apesar de muitos terem expressões consideradas sérias para uma criança eu não conseguia parar de contrair os meus lábios e dar um sorriso bobo.

Dias depois, soube pela minha tia que se uma pessoa beija a outra na boca, eles são namorados e sendo criança, ela disse de um modo fofo o que eram namorados, disse que eram duas pessoas que se gostavam e quando se amassem profundamente se casariam e iriam morar juntos, no futuro, para provar seu amor eles criariam uma família, fariam uma criança. Eu achava inocentemente que poderia fazer isso com ela, afinal, eu gostava… não, eu a amava! Tinha sido a garota mais gentil, legal e engraçada que conhecia. Desejava morar com ela e ter uma criança. Não contei aos meus pais, queria falar isso para ela e criar uma família, mas por algum motivo, nunca contei e quando lhe questionei, o doce virou amargo.

Lhe questionei se lembrava ter beijado uma garota no passado, ela negou, tudo bem não? Afinal, faziam anos e bem, eu a faria lembrar do momento mágico nem que precisasse beijá-la novamente. Comecei a dar pequenos indícios, em uma brincadeira disse que gostava de meninas, tentei parecer o mais confiante possível (dizendo a verdade ou não, eu ria e bem todos consideram mentira se você ri enquanto fala algo ‘sério’), ela pareceu surpresa, dias depois vi como isso mudou o modo que era tratada, parecia que eu era uma espécie de alienígena muito parecida como a raça humana sempre que ela falava:“coisas como você..", dias depois, contei que teria feito uma aposta com uma outra amiga para falar aquilo e as coisas voltaram a ser como eram antes da ‘brincadeira’.

Nós acabamos nos distanciando por causa dos nossos estudos, ficamos cerca de dois anos sem brincarmos uma com a outra, quando íamos às missas conversamos um pouco, já que eu fazia questão de me sentar junto da família dela, vez ou outra conversamos pelo celular, mas essa opção era quase nula. Um dos dias em que não consegui ficar junto de si, foi quando seu pai morreu, eu queria mesmo acompanhá-la até o cemitério, pois considerava seus pais como da família, mais que muitos dos parentes que tinha, mas ninguém me permitiu ir.

Um dia, sua mãe foi diagnosticada com Lúpus e foi internada, seus irmãos ficaram com uma amiga a qual ela não gostava, então, como nossas mães também eram amigas e convenhamos que ela era a mais desejada para os batizados, a ‘minha paixão’ ficou morando com a gente, por um mês inteiro, voltamos a conversar, a brincar, a jogar e até criar uma conta no instagram para enviarmos vídeos nossos cantando… foram dias incríveis. Certa vez, ela pegou meu tablet e pediu permissão para utilizá-lo e criar outra conta no facebook para somente ela utilizar, acontece que ao dar a permissão, ela parou de se divertir comigo e começou a conversar com um garoto de Pernambuco, eles em si, teriam se conhecido pelo aplicativo há algumas semanas antes de ter ido para minha casa e nunca teriam se encontrado, tentei avisar que aquilo era idiota da parte dela, namorar com um garoto pela internet, mas sequer fui ouvida, a deixei falar com o garoto fingindo não me importar e apostando que aquilo não duraria mais que uma semana. Nunca em toda minha vida fiquei feliz por ter uma ‘boca maldita’.

Voltamos aos poucos a nos falar novamente, mas quem disse que ela parou quieta nos namoros virtuais? Tive de acordar cedo e esconder aquele maldito dispositivo, a nossa rotina a partir dai começou a se tornar monótona para ela, apesar de me divertir com sua presença ela não se divertia com a minha, não mais. Quando sua mãe foi liberada do hospital, seus irmãos e ela voltaram para casa, e nossa rotina das missas voltaram.

Meus pais não sabiam, nem meu irmão, sequer um parente sabia que todas as noites encarava meu teto e derramava lágrimas, a garota a qual amava não ligava mais para nossa amizade, nossos apelidos, nossos toques de reencontro e despedida foram esquecidos… talvez o meu rosto já tivesse se tornado desconhecido para ela, mas como o dela poderia se tornar desconhecido para mim?

Ela era a mais bela história que já li, oferecendo um conteúdo que jamais encontraria em todo o mundo; a mais bela melodia que ouvi, contendo um som gentil que me faz chorar e ir além dos meus limites; a mais bela arte que já admirei, transpassando as emoções da obra em si enquanto era criada. Os conteúdos e emoções que ela me oferecia, eram os mais belos de todo universo. Ela era a melodia que tocava em meus ouvidos pela manhã, a arte que residia em meus olhos a cada dia e a história que se passava em minha mente a todo momento.

Então me diz, como eu poderia esquecê-la? Como um doce de infância se tornou tão amargo?

20 de Agosto de 2021 às 15:45 0 Denunciar Insira Seguir história
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Fim

Conheça o autor

Luana Amorim Não há muito o que mencionar, apenas que sob a luz do luar e das estrelas, sonhos invadem minha mente, criando mais de milhões de aventuras para vivenciar e mais de mil paisagens para admirar, me deixando apenas duas escolhas ao me deixar acordar no dia seguinte: compartilhar com o mundo minhas aventuras ou ficar com as mesmas, torcendo para nunca esquece-las.

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