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Agust é um fantasma no mundo dos cibercrimes, procurado pelas figuras mais corruptas dos becos às mansões de Busan. Min Yoongi é o vizinho doce de Ahn Jiyoung, o único de sua família a entrar na faculdade, o trabalhador esforçado de um restaurante caseiro e, não menos importante, a verdadeira face por trás da máscara do misterioso hacker. Quando o seu arquivo mais precioso é roubado, Yoongi é obrigado a unir forças com uma figura egocêntrica, perigosa e terrivelmente petulante para proteger sua identidade secreta e sua vida segura. Kitty Gang não é confiável e tem uma péssima mania de flertar nas situações mais inconvenientes, mas ele é a única chance que o Min tem de recuperar o seu segredo, mesmo que, para isso, precise se envolver em uma guerra de gangues orquestrada por um mafioso milionário, um gângster sem rosto e Park Jimin, a própria personificação, vestida em jaquetas coloridas e mascando chicletes cor-de-rosa, de todos os pecados capitais.


Fanfiction Bandas/Cantores Para maiores de 18 apenas.

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A vida me deu alguns limões, então eu fiz uma limonada.

Escrito por: @dntfarway / arctcmono


Notas iniciais: oioi, é a annie!! eu tô muito animada pra essa fanfic porque faz muito tempo que queria escrever algo com o kitty gang, mas nunca consegui pensar em nada, então muito obrigada ao projeto por me dar a oportunidade 💜 um obrigada muito especial à @Mimi2320ls / @bebeh1320alsey pela betagem. obrigada, Millena, por toda a sua paciência comigo e com os 7 capítulos gigantescos que eu escrevikkk e amém @gguksblog_/ por essa obra prima de capa!! sério, eu tô completamente apaixonada 💜💜

espero que gostem da fanfic, ótima leitura!

~~

Sendo bem sincero, Yoongi não sabia dizer o ponto exato em que sua vida começou a dar completamente errado.

Talvez tivesse sido há quatro anos, quando saiu de sua cidade natal para seguir um sonho que, na época, parecia ser a sua maior oportunidade. Para um garoto franzino, sem muita expectativa de vida, que cresceu em um bairro decaído de Daegu, brincando em pistas de skate pichadas entre crianças tão perdidas quanto ele próprio era e adolescentes com fichas criminais, conseguir uma vaga na Universidade Nacional de Busan, a PNU, era um milagre e um dos bem raros. Tudo bem, não era Seul — o seu verdadeiro objetivo —, porém ainda era a segunda melhor universidade do país e era alguma coisa. Algo longe de sua realidade precária, longe dos cortes de energia e água no fim do mês, longe de seu pai bêbado, de sua mãe deprimida e de seu irmão mais velho que sempre tinha um sorriso no rosto, sempre apertava seu ombro bom — o que era livre da fratura que sofreu aos dezessete anos, quando trabalhava como entregador de uma farmácia e acabou sofrendo um acidente na moto que ele não deveria estar dirigindo, porque não tinha idade legal para tal — e dizia:

— Não se preocupe, Yoongi-ah. Nós vamos dar um jeito.

Yoongi encontrou o seu jeito, sua válvula de escape. Cursar História nunca foi seu plano de vida, mas como não tinha nenhum inscreveu-se em graduações diferentes, atirando para todos os lados, para onde a sorte pudesse alcançá-lo. E ela o fez. Estava tudo bem, mesmo. Estudar os antepassados e os problemas de outros seres humanos já mortos era muito melhor do que focar nos seus próprios. Formar-se para exercer a função de professor, ou historiador, ou escritor também não era algo ruim. Tinha gosto de esperança. Era seguro. E, falando bem francamente, para alguém que viveu a vida inteira mergulhado em incertezas e com medo do amanhã, ter onde se agarrar era um luxo que Yoongi achou nunca ser merecedor.

Foi quando a vida resolveu puxar o seu tapete. Porque, obviamente, as circunstâncias não poderiam ser tão fáceis. O Min achou que estava fugindo de uma realidade miserável para a promessa de uma vida melhor, contudo, bateu de frente com um alto, espesso e inquebrável muro com os seguintes dizeres: Você está ferrado. E ele estava mesmo.

Não conseguiu uma vaga no dormitório da faculdade, então precisou se mudar para uma pensão velha, onde seu quarto simples — composto por uma cama de solteiro com molas que rangiam toda vez que deitava, a pequena cômoda para guardar seus pertences e uma mesa retangular acabada com uma cadeira de perna bamba — dividia parede com uma senhora rabugenta, que estava todas as horas do dia conversando com seus dois gatos de rua — ou com o espírito do marido, Yoongi nunca entendeu muito bem.

O aluguel era pago com seu emprego capenga como funcionário temporário em um escritório de advocacia — basicamente fazer o café e entregar o correio de pessoas arrogantes, cheias de si e com uma vida muito melhor que a sua.

E como se encarar o ambiente tóxico do escritório não fosse o suficiente para completar o pacote "vida de merda", na maioria das vezes, ele ia andando para a aula porque não tinha dinheiro para pagar a passagem de ônibus — ou usava o transporte ou comia, nunca podia fazer os dois — e estava corriqueiramente enfurnado entre as estantes bolorentas de uma biblioteca pública, atrás de livros para estudar para suas provas e seminários, uma vez que não tinha tempo para estudar na faculdade — por causa do emprego — e muito menos dinheiro para comprar livros e apostilas ou pagar internet.

Então, sim, a vida do Min estava dando completamente errado naquela época. Ela era um grande e insaciável acúmulo de desgraças. Não podia sequer pedir ajuda da família, porque, bem, eles nunca estiveram em melhores condições.

Quando Kim Namjoon, um colega de outro curso, o abordou perguntando se ele era bom com computadores e dizendo que tinha uma tarefa para o mais velho, as coisas começaram a mudar. Porque, sim, Yoongi era muito bom com computadores. Passou toda a sua vida invadindo o sistema da escola para livrar os amigos — ou pessoas as quais cobrava dinheiro pelo serviço — de punições ou notas baixas. Quando ficou um pouco mais velho, abandonou a sala de informática da instituição e a mudança de notas em boletins alheios para se esgueirar em bibliotecas, cafés e até mesmo caixas de lojas ou restaurantes e trabalhar pelo o que quer que o pagassem para fazer: rastrear pessoas, sumir com gravações de câmeras de segurança, apagar fichas criminais. Ele era bom nisso. Era bom em ser uma sombra, um vírus sem nome.

Aquele pequeno serviço que fez para Kim Namjoon, o que pagou o seu jantar e a passagem de ônibus, acabou ganhando proporções inimagináveis. Quando se deu conta, ser um hacker para seus colegas, professores, estudantes alheios e, até mesmo, membros da gestão estava sendo mais lucrativo do que o emprego meia-boca que ainda mantinha como aparência.

Ninguém sabia quem ele era. Namjoon quem recebia as pessoas e passava os serviços adiante, sem nunca revelar a identidade do mais velho, e foi dessa forma que os dois criaram uma espécie de parceria. O Kim ficava com dez por cento do lucro e, às vezes, ganhava serviços gratuitos — ele quase nunca precisava, alegando que preferia ganhar as coisas de forma honesta, mas sempre acabava cedendo à pressão de alguma nota, algum e-mail errado ou arquivo comprometedor que precisava que sumisse. Yoongi não se importava com o julgamento do colega, ou sequer com sua instabilidade em seguir as normas, contanto que o outro não revelasse sua identidade para outras pessoas, os dois estavam quites.

E Namjoon nunca revelou, mesmo quatro anos depois nem quando o emprego clandestino de Yoongi começou a ganhar proporções impossivelmente abrangentes. Ele não se lembrava do primeiro serviço que fez para uma gangue, ou como foi encontrado por uma, mas suas habilidades não mais favoreciam apenas universitários desesperados para que seus nudes vazados sumissem de uma rede social. Descobrir o perfil secreto de um namorado traidor e hackeá-lo era brincadeira de criança, se comparado com tudo o que fazia atualmente.

Yoongi se espalhou como um verdadeiro vírus, contaminando delegacias, prédios políticos e covis secretos de máfias. Ninguém sabia quem ele era, onde morava, quantos anos tinha, se era homem ou mulher. Entretanto, todos sabiam como encontrá-lo. Era em uma série de blogs inocentes de receitas, decorações e dicas para criação de animais de estimação, na aba do Contate-nos. A mensagem eletrônica dava ao remetente a opção de falar com a Pessoa 1 ou a Pessoa 2 para tirar a sua dúvida, apresentar sua sugestão ou mandar elogios. A Pessoa 2 sempre levava a uma tela preta com uma única mensagem: Quanto você irá me pagar?

Quem não estivesse buscando por ele, acharia que o site era apenas um erro do servidor. Mas quem sabia, quem queria que aquela mensagem aparecesse, só conseguiria um contato direto com o hacker se respondesse à pergunta e esse aceitasse a proposta.

Foi a maneira que arrumou para proteger tanto a Namjoon quanto a si próprio. E, mesmo vivendo com um constante medo que sua Pessoa 2 ganhasse um rosto, um nome verdadeiro e um endereço para ser caçado, Yoongi não tinha certeza se era por essa razão que sua vida tinha ido ladeira abaixo atualmente. Porque, agora, morava em um apartamento decente, conseguia viajar para visitar sua família e sempre tinha dinheiro para passagens de ônibus e refeições. Enquanto a sua Pessoa 2, enquanto Agust, permanecesse sendo uma sombra e Min Yoongi fosse apenas um quase-graduando em História, que era gentil com os vizinhos e sempre tinha um sorriso encantador para os demais, sua vida estava mais do que perfeita.

Portanto, a razão para tudo está desandando perigosamente agora só podia ser aquela noite.

Yoongi deveria ter reparado que algo estava errado com o fatídico dia. Teve todas as pistas: o homem tatuado e robusto que trombou consigo na saída de seu novo trabalho fixo — como garçom em um restaurante que só abria nas quintas, sextas e sábados — e que pediu desculpas com um sorriso cheio de segundas intenções, enquanto uma das figuras gravadas em seu corpo se destacava à visão cansada do jovem; a moto desconhecida estacionada na rua em que morava, bem em frente ao seu prédio, e o comentário de Ahn Jiyoung, sua vizinha de porta, para quem ele pagava uma diária para faxinar o seu apartamento duas vezes por semana.

Yoongichi, parabéns! — ela cumprimentou ao avistá-lo saindo do elevador.

A Ahn estava deixando seu apartamento para seu corriqueiro passeio noturno com o seu pequeno e marronzinho poodle, com o qual o Min tinha um certo apego, quando se esbarraram no corredor do andar em que moravam.

— O que? — O loiro olhou, confuso, para a mulher mais velha enquanto abaixava-se para deixar um carinho atrás das orelhinhas de Holly, o poodlezinho.

Aigoo! Não precisa ficar tímido, querido. — Jiyoung riu. — Não se preocupe. Holly e eu o aprovamos. Ele é muito gentil. E bonito, claro.

A vizinha o presentou com uma piscadela e saiu puxando o cachorrinho em direção ao elevador ainda parado no mesmo andar. Yoongi, por sua vez, continuou alguns minutos parado onde estava, tentando entender a cena ocorrida. Seus neurônios exaustos, completamente drenados, protestaram e o universitário resolveu se conformar com o seguinte cenário: Namjoon provavelmente passou no seu apartamento sem avisar, como vivia fazendo, e Jiyoung concluiu que era o seu namorado, ou coisa do gênero.

Satisfeito com a conclusão, o Min continuou seu caminho para o interior de sua casa, sequer parando para reparar no par extra de botas na porta — as quais, definitivamente, não lhe pertenciam —, seguindo aos tropeços pelo breu dos cômodos até o seu quarto, onde poderia largar suas coisas e se enfiar no pequeno banheiro para tomar um banho e esquecer que toda aquela semana infernal tinha acontecido.

A última pista ignorada foi a luz acesa do quarto escapando pela fresta da porta e do chão. O Min só reparou nela quando girou a maçaneta e uma voz impaciente o cumprimentou:

— Ya! Por que você demorou tanto? Achei que não fosse chegar nunca.

Yoongi congelou na entrada, a mão ainda presa na maçaneta e olhos baixos tentando entender o que estava acontecendo. Tinha um garoto na sua cama. Um garoto esparramado em seu colchão com um dos seus livros da faculdade no colo e uma jaqueta de couro, cheia de lantejoulas coloridas bordadas nos ombros, assim como correntinhas penduradas nos braços, largada ao seu lado. Um garoto que jogou o livro na mesa de cabeceira sem cerimônia alguma, ficou de joelhos no colchão e exclamou, animado:

Woaaah, você é bem mais bonito do que eu imaginava.

— O quê… Co-como? — O loiro piscou, atordoado. — Quem é você?

Essa pergunta era um mero disfarce, servia apenas para manter sua máscara de bom e inocente cidadão. Era óbvio que Yoongi sabia quem o garoto em sua cama era. Tinha o reconhecido assim que os olhos o encontraram. E mesmo que não soubesse, o rosto delicado, enfeitado por um curativo colorido da My Melody no queixo e uma pequena tatuagem de coração na maçã da bochecha esquerda, a boca carnuda e brilhante, que estava constantemente — e irritantemente — mascando chicletes e estourando balõezinhos, os olhos amendoados e avaliativos, como os de um gatinho curioso, e o cabelo rosa chamativo casavam perfeitamente com as descrições de um dos criminosos mais conhecidos tanto entre as gangues de Busan quanto nos sistemas policiais de toda a cidade.

Kitty Gang.

Também conhecido apenas por Kitty, ou pirralho insolente, ou chaveirinho de Kim Baekhyun, ou pura e simplesmente por Park Jimin.

Jimin era uma lenda no mundo underground de Busan. Não só por sua conhecida e temida mira certeira — ele nunca errava um tiro e, se errasse, era por escolha própria — ou sua personalidade peculiar e problemática, mas principalmente por sua história: o Park perdeu os pais aos dez anos e foi adotado e criado por Kim Baekhyun, líder da maior máfia de gangues da cidade; a CYPHER.

Noventa por cento dos crimes de Busan, fossem os mais pequenos — como assaltos à bancos, lojas, caixas eletrônicos — aos maiores — sequestros, extorsão, assassinato —, tinha envolvimento da enorme e complexa cadeia de criminosos regida por um agiota milionário, protegido por sua mansão cercada e pela corrupção de políticos no gabinete da cidade. Seus membros eram reconhecidos por uma única marca, a mesma que Yoongi demorou tanto para reconhecer no homem que esbarrou nele mais cedo: uma tatuagem de delta com um C cursivo em seu interior. Tatuagem essa que Park Jimin carregava orgulhosamente na lateral direita do pescoço, perfeitamente visível sob o pequeno e fino choker prateado que usava.

— Você é muitas coisas, Agust-ssi, mas tenho certeza que idiota não é uma delas — Jimin disse, quebrando o silêncio tenso, um sorriso implicante no rosto bonito.

Ele cuspiu o chiclete que tinha na boca dentro da lixeirinha que Yoongi mantinha do outro lado da cama, entre o móvel e sua escrivaninha, e engatinhou pelo colchão até sentar na sua beirada. O hacker sentia o coração batendo alucinado no peito, a mente gritando para que corresse para o mais longe possível, porém continuou exatamente onde estava; preso na aura forte e imponente do gângster.

Ninguém sabia quem ele era. Vivia sua vida com essa segurança, essa única certeza, a única garantia de que poderia continuar coexistindo como Min Yoongi e Agust. Não importava o que fazia como Agust; se era contribuir para um sequestro, achar a localização de uma futura vítima de assassinato, sumir com provas de um assédio feito por alguma figura política. Nada disso importava porque, quando ele voltava para casa, era Min Yoongi. Era o vizinho gentil e que adorava o bichinho de estimação de Ahn Jiyoung, o aluno dedicado do curso de História, o funcionário exemplar de um restaurante familiar.

E foi exatamente isso que disse ao rosado:

— Meu nome é Yoongi. Não faço a mínima ideia do que você está falando. — Largou a porta e ajeitou a postura. Não seria agindo como um gatinho assustado que conseguiria se livrar daquele maluco, afinal de contas. — Você quer fazer o favor de sair do meu apartamento ou eu vou ter que chamar a polícia?

Jimin se jogou para trás no colchão, rindo. Rindo muito alto.

— Você é tão engraçado, hyung! — O garoto soltou, ainda em meio às suas risadas esganiçadas, e o Min piscou incrédulo. De onde aquele doido tinha tirado intimidade para chamá-lo de hyung?

— Eu estou falando sério! — Yoongi puxou o celular do bolso, mas não discou o número da polícia. Não adiantaria nada. Jimin estava acima da lei, ele podia fazer o que quisesse e nunca teriam a audácia de levantar voz de prisão para o Park (e, acredite, já tentaram).

— Min Yoongi, vinte e seis anos, nasceu em Daegu no dia nove de março de 1993. — A risada de Kitty tinha morrido repentinamente e sua voz, agora, era perigosa. Era uma insinuação sombria, uma ameaça disfarçada em fatos. Eu sei de tudo, ele estava dizendo nas entrelinhas, você não pode se esconder de mim. — Você tem um irmão mais velho, não tem? Seu pai morreu há dois anos e sua mãe está internada. — Ele voltou a se sentar com as pernas dobradas uma sobre a outra e encarou o mais velho com olhos analíticos, invasivos. — É por isso que você trabalha como Agust, hyung? Para pagar o hospital da sua mãe? — O corpo do Min tencionou de forma perceptível, o que arrancou um sorriso vitorioso do gângster. — Você achou mesmo que poderia se esconder de mim, Min Yoongi-ssi?

— O que você quer? — O mais velho resolveu ser direto, visto que tentar fugir do Park seria apenas ingenuidade. Se ele estava ali, no seu apartamento, invadindo a sua vida, era porque tinha um objetivo grande. Algo que ia muito além dos antigos serviços que Agust já tinha prestado para a CYPHER.

— Pensei que você nunca ia perguntar. — Jimin suspirou dramaticamente e a pose ameaçadora sumiu. Ele abriu um sorriso descontraído, como se fosse apenas um colega de classe do Min visitando-o para que pudessem estudar juntos. — Nesta segunda-feira, você fez um serviço para um grupo da Zona, não foi?

Zona era o território leste da cidade, que ainda não tinha sido conquistado por nenhuma grande gangue. Os crimes em seus bairros não tinham donos e, muito menos, quem lucrasse com eles. Era um território sem leis policiais e criminais. Yoongi não sabia muito bem como funcionava a política da máfia, mas sabia que não havia um grande interesse pela área. Era um loteamento cheio de bairros pobres e precários, os quais não ofereciam nada de valor para nenhuma das potências de Busan, fossem essas o governo ou um líder mafioso podre de rico.

O serviço ao qual Jimin se referia era a principal causa da exaustão do hacker. Foi o que o manteve acordado por três noites seguidas, remoendo os acontecimentos da madrugada daquela segunda-feira.

— Talvez — respondeu, na defensiva. Ele caminhou até a outra ponta do quarto, onde seu guarda-roupa estava, e começou a procurar por roupas limpas para tomar banho e poder descansar. Como se a desgraça do Kitty Gang não estivesse sentada na sua cama, olhando-o cheio de cinismo naquele maldito rosto perfeito.

— Sem joguinhos, por favor. Eu passei a tarde te esperando, sabia? Até ajudei aquela senhorinha a arrumar sua casa! — o Park retrucou, a voz soando estranhamente manhosa. — Tô morto. Você tem uma péssima mania de acumular toalhas sujas. Minhas pobres unhas sofreram tanto! Só quero voltar para minha casa logo, então por favor, agiliza isso aí.

— Você fez o quê? — Yoongi virou para o outro, incrédulo.

— Ela pensa que eu sou seu namorado. O que não seria algo tão ruim. Nós formaríamos um puta casalzão, você não acha? — Jimin apoiou o cotovelo em um dos joelhos e o queixo na mão, presenteando o hacker com uma piscadinha.

— Você não faz meu tipo — o Min o cortou e voltou sua atenção as gavetas, tentando disfarçar o rubor em suas bochechas.

Kitty soltou uma risadinha, mas, por algum milagre divino, não insistiu no assunto. Talvez realmente estivesse cansado depois de ter passado a tarde lavando toalhas sujas.

— Eu sei que eles invadiram o seu esconderijo e roubaram algo importante, hyung — prosseguiu o mais novo. — Algo muito importante.

A lembrança fez a única tatuagem que marcava a pele de Yoongi coçar. Ela era pequena, estava localizada no antebraço direito e carregava um significado que, agora, poderia custar a vida do Min — e no sentido literal da palavra. Tratava-se de um código de barras, um conjunto de traços que formavam uma senha e davam passagem para o algo importante. E, desde a maldita segunda, a marca em sua epiderme era a única lembrança do que tinha perdido.

— Você falou, falou, falou e até agora eu ainda não entendi por que invadiu meu apartamento, fingiu ser meu amigo para minha vizinha...

Namorado — Jimin o corrigiu.

— E agora está querendo saber sobre um acontecimento que não envolve você e, muito menos, sua ganguezinha punk. — Yoongi o ignorou. Estava virado para o mais novo, a mão apertando a tatuagem no seu braço e os olhos observando o garoto e seu sorriso cínico.

— É aí que você se engana, Agust hyung. — Kitty cuspiu seu pseudônimo como se esse fosse veneno, um veneno que não o afetava. — Você pode acreditar que vive em nosso mundo como uma sombra, mas está completamente errado. Pode ter certeza que eu não sou o único a saber sua verdadeira identidade, gatinho. — O mais velho não gostou da informação, e bem menos do novo apelido. — Ela só nunca se tornou conveniente para uso. Bom, até agora. Assim como a informação sobre o seu arquivinho cheio de segredos.

Talvez, o Min concluiu, tudo começou a dar verdadeiramente errado quando começou a compilar informações valiosas e demasiadamente sigilosas. Informações que custavam muito mais do que alguns wons na sua conta bancária. Informações que poderiam pagar a cirurgia de sua mãe, comprar uma casa nova para sua família em outro país e também uma vida segura e estável para o Min. Informações que estavam guardadas em um único arquivo altamente codificado, o qual a última chave estava gravada na pele do hacker. Arquivo esse que foi roubado.

O gosto amargo do seu descuido e a corrosão venenosa da sua culpa o atormentavam há três dias, desde o momento que aceitou o maldito trabalho da pequena gangue de criminosos da Zona. Yoongi tinha os subestimado, como todo mundo. Acreditou que o serviço era simplesmente invadir e derrubar o sistema de segurança sofisticado de uma mansão localizada em um dos bairros mais ricos de Busan para que os bandidos pudessem roubá-la sem serem notados. Ele precisou alugar um quarto de motel, próximo à residência, porque não havia como acessar o sistema do seu esconderijo — um depósito pequeno e velho, o qual ficava em um armazém de espaços alugados do outro lado da cidade.

Como o loiro poderia imaginar que, enquanto guiava um trio de criminosos pelos inúmeros corredores da enorme mansão, o seu espaço clandestino, a parte escura da sua vida, tinha sido descoberta e estava sendo invadida? Ele simplesmente recebeu seu pagamento, voltou para casa e foi para aula e trabalho no dia seguinte, como sempre fazia. Só descobriu sobre o arrombamento na tarde de quarta-feira, quando fez a sua parada semanal no depósito. Ainda conseguia se lembrar com clareza a forma como seu sangue gelou e o mundo inteiro pareceu simplesmente parar, como um maldito DVD riscado, quando encontrou o espaço revirado e metade dos seus notebooks, incluindo o que possuía o Arquivo, desaparecidos.

Desde então, vivia com aquele medo gelado agarrado a sua sombra, seguindo-o por todos os lados, vinte e quatro horas por dia, esmagando seus pulmões e roubando seu oxigênio e sono. Quanto tempo o pessoal da Zona levaria para descobrir que apenas Agust era capaz de decodificar as informações secretas? E será que, naquela altura do campeonato, eles já não sabiam que esse atendia por Min Yoongi? Afinal, Kitty Gang não demorou muito para descobrir.

— Você apavorado é tão fofo. — Falando no demônio, ele estava rindo ao notar a palidez no rosto de Yoongi à medida que seus medos ganhavam forma concreta.

— O que a CYPHER quer comigo, Kitty? — disparou, nervoso. — O Arquivo já foi roubado. Você chegou um pouquinho atrasado.

— O Arquivo é realmente valioso, hyung, mas sabe por que, mesmo meu pai sabendo da sua existência, ele nunca mandou capangas atrás de você? — Jimin tombou a cabeça para o lado como um gatinho curioso. O mais velho, reparando que a aparência inocente do gângster conseguia ser mais perigosa do que sua habilidade em matar pessoas, assentiu negativamente em resposta. — Porque, assim como certas informações são armas contra nossos inimigos, outras podem ser balas nas nossas cabeças. Era melhor mantê-las longe, até que houvesse um valor capaz de nos fazer arriscar nossas vidas por elas.

— E por que agora tem? Só por que não foi roubado por um dos bonequinhos do seu pai? — o mais velho retrucou e ganhou um sorrisinho em resposta. Provavelmente o mais assustador que recebeu a noite inteira.

Não era doce, não era provocativo, não era cínico. Era assassino. Era a satisfação de um predador antes de atacar sua presa, sabendo que essa não tinha para onde fugir. Se o rosado tirasse uma arma do cós da calça naquele instante e ameaçasse enfiar uma bala em Yoongi, esse não ficaria surpreso.

— Porque eu sei que você o achou. — Kitty se levantou e caminhou até sua direção, fazendo-o dar passos inconscientes para trás, o que foi um baita movimento idiota porque agora o rosado o tinha encurralado contra o guarda-roupa. — TigerV. Você descobriu quem ele é, não foi?

Ah. Agora tudo fazia sentido.

Era óbvio que Kim Baekhyun não enviaria sua preciosa e sedutora arma para atormentar um hacker anônimo só porque um arquivo com algumas listas de políticos corruptos havia sido roubado. Foi porque, naquela segunda-feira do assalto, quando Yoongi invadiu os sistemas da mansão, descobriu uma pasta criptografada no computador do seu dono. Como o bom vírus que era, o Min não podia deixar nada passar — e ele também tinha uma certa quedinha por documentos codificados.

Quando decifrou as senhas, deparou-se com um compilado de fichas com nomes, rostos, endereços e outras variedades de informações pertencentes a figuras tão anônimas quanto o próprio Agust era. Políticos e promotores de justiça bondosos, que no fundo eram tão corruptos quanto aqueles que assumiam, criminosos procurados, advogados e juízes comprados, um líder de máfia sem rosto.

TigerV. O líder anônimo da Baepsae, a segunda maior gangue de Busan e maior pedra no sapato de Kim Baekhyun e toda a sua CYPHER.

Yoongi não pensou duas vezes em fazer diversas cópias das fichas e enviar para o seu Arquivo. Aquela era a informação mais preciosa que tinha conseguido durante seus quatro anos no mundo dos cibercrimes. Ela podia comprar sua liberdade ou, o que era mais provável, levando-se em consideração as circunstâncias atuais, a sua morte em um piscar de olhos.

— Eu juro que não abri a ficha — garantiu o hacker, antes que o gângster começasse a ameaçá-lo pela verdade. — Apenas a enviei para o Arquivo antes que eles notassem.

— E eles foram lá e roubaram-no de você. — Kitty suspirou, decepcionado. Passou a mão cheia de tatuagens minimalistas, como uma pequena coroa desenhada no polegar, pelo cabelo brilhoso e continuou: — Você está me dando tanto trabalho, hyung.

Algo na fala encheu Yoongi de satisfação.

— Boa sorte o recuperando, então — disse e abriu um sorriso implicante, que o Park imediatamente respondeu com um beijinho roubado na sua bochecha.

— Ah, gatinho, você vai me ajudar. Ou você pensa que eu não sei que você é o único que pode abrir o Arquivo?

— Por que eu faria isso? — Yoongi não cedeu e, muito menos, recuou mais uma vez quando Kitty permaneceu perto, os lábios ainda pairando próximo do seu rosto. — Posso muito bem ficar com minha bunda grudada no meu sofá, esperando o pessoal da Zona me encontrar. Libero o Arquivo para eles, esses descobrem quem é o TigerV, derrubam a Baepsae e a CYPHER vai ter um novo amiguinho com quem brincar. Parece divertido, não é?

— Você vai descobrir, Min Yoongi... — O gângster agarrou seu queixo em resposta, empinando-o na sua direção, a boca tão próxima da sua que as palavras pareciam escapar dos seus próprios lábios. — Que o país inteiro se torna um pequeno e patético estacionamento aberto, sem nenhuma proteção, quando meu pai e eu estamos com raiva de você. Então sugiro que não nos provoque, hyung. — Ele desceu as mãos para o seu pescoço, apoiando-as nos ombros como se fosse abraçá-lo (ou enforcá-lo, nunca dava para saber). — Agora, você vai me ajudar a recuperar esse maldito Arquivo, vai decifrá-lo, me dar o nome e rosto do TigerV e, em troca, eu evito que esse seu lindo corpinho ganhe uns furos de bala, que tal?

Yoongi fechou os olhos, respirou fundo e engoliu em seco. Ele seria idiota e arrogante se dissesse que não tinha medo de Park Jimin. Sabia que deveria ter, que, diferente dele e o seu blefe sobre trair a CYPHER, o mais novo não hesitaria um segundo em cumprir com sua ameaça. Não tinha para onde correr.

— Eu também quero ser pago — declarou. Mesmo que estivesse em óbvia desvantagem naquele joguinho, Min Yoongi tinha aprendido a nunca desperdiçar oportunidades. — E vocês vão dar um jeito de sumir com qualquer um que saiba quem eu sou.

— Como você quiser, gatinho. — Jimin roubou um breve selinho, quase inexistente, e se afastou aos pulinhos. Apanhou sua jaqueta na cama, jogou-a por cima do ombro e, como uma criança animada com uma promessa de passeio feita pelos pais, virou-se para o mais velho, exclamando: — Isso vai ser tão divertido!

Kitty Gang se despediu com um beijinho voador e deixou o apartamento, pedindo para que o hacker mandasse um abraço para sua vizinha e a lembrasse de mandar-lhe a receita do bolo de laranja que havia prometido — tarefa que o Min com certeza não faria. Quanto menos gente envolvesse naquela situação, mesmo que fosse da forma mais banal possível, melhor.

O hacker grudou em sua janela para observar o gângster, já na rua, subir na sua moto tão cheia de desenhos e adesivos quanto sua pele era e sumir na escuridão da noite. Quando os fios rosa-chiclete de Park Jimin ficaram fora de vista, engolidos pela distância, tudo o que Min Yoongi conseguiu pensar, relembrando as palavras do mais novo, era que não, nada daquilo seria divertido.

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Notas finais: o que vocês acharam??? será que o yoongi sai com sanidade dessa fanfic? espero que tenham gostado dessa pequena introdução ao meu hackerzinho sofrido, nos próximos capítulos teremos mais do jimin então me aguardem!

18 de Agosto de 2021 às 23:29 0 Denunciar Insira Seguir história
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Leia o próximo capítulo Eu acho que você vai ser meu fã número um.

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