Pov. João Miguel
Estou na cozinha da casa grande com meu prato em mãos enchendo o bucho, minha barriga já tava nas costas de fome, trabalhamos o dia inteiro hoje, o capataz da fazenda avisou que o rancho está sob novas rédeas, e que o filho do falecido patrão passaria pra fazer uma vistoria amanhã depois do almoço.
Sô sem casa, mas num sô sem teto, faço as refeições na cozinha da casa grande e durmo num velho quartim de empregado no fundão da casa, bem escondido lá no fundo da cazona.
Término de fila minha janta e lavo meu prato na pia, já que só o morcego aqui estava acordado ainda, pelo menos quenta comida eu sei, como eu já tava de banho tomado, só caio na cama com o chapéu na cabeceira.
Manhã Seguinte...
09:30 AM
Estou sentado em cima de uma das madeira da cerca da porteira de entrada do rancho, são nove e meia da matina, as cabeças de gado estão na entrada do rancho agora, mas mais tarde tenho que levá-las de volta pro curral. Tô filando minha marmita, pois já estava na hora do almoço, quando ouço o som de um motor de caminhonete e buzina.
Só estou eu por aqui olhando o gado e pelo visto, os granfino não vai descer da caminhonete para abrir a porteira, fecho minha marmita e a deixou na sombra de um moreão, escondida pro gado não acha, corro até a extremidade da cerca que ficava a porteira, pulo a cerca de madeira e subo na porteira, soltando o pino de ferro do trinco, fazendo a porteira se abrir.
A caminhonete de luxo passa pela porteira e eu torno a fechá-la, passo o pino de ferro de volta no trinco e volto correndo pro meu posto antes que o capataz José Lucas veja que eu escapulia do meu posto para abrir a porteira pra granfino, seguro meu chapéu pra não voar e pulo a cerca de madeira de volta pra onde o gado estava.
O rancho Vasconcelos é dividido entre Piscicultura, Pecuária de leite, corte e suínos, Pecuária, criação de ovelhas para venda de lã e aves para a venda de ovos e exportação de frango pra fora, hoje eu tô cuidando do gado leiteiro, que consiste nas vaca e bezerros.
Pov. Leonardo de Vasconcelos
Paro com minha Picape RAM 2.500 Laramie na frente do antigo casarão SED do Rancho Vasconcelos, depois que meu pai morreu e deixou o Rancho para mim, não vou mentir, pensei em vender esse lugar, mas, depois de pesquisar um pouco e descobrir que a maior renda da minha família vem desse lugar, desisti de vender o Rancho Vasconcelos.
Passei parte da minha infância aqui antes de ir pra cidade com minha mãe, meus pais não gostavam da amizade que eu tinha com um garoto magro e maltratado que apareceu aqui na fazenda uma noite de temporal, se me lembro bem, seu nome era João Miguel, mas as empregadas costumavam chamar ele de Miguelzinho e os peões o chamavam de menino João.
Saio da Picape e ajudo Luciana DellMontes, minha namorada arranjada pelo meu falecido pai, a sair da Picape, ela não é do tipo que gosta do campo, mas quis me acompanhar nessa viagem até o Rancho Vasconcelos, mando alguns peões que estavam livres de baixo da sombra de algumas árvores frutíferas na frente da casa, levarem as malas da Picape pro meu quarto e pro da Luciana, sim, dormimos em quartos separados mesmo namorando.
Uma empregada antiga do Rancho, a qual conheço desde menino sai da casa e vem me dar as boas vindas, Luciana só entra na casa sem olhar na cara dos empregados com aquele seu tradicional nariz empinado, apenas reviro meus olhos para a esnobes de minha namorada e abraço Dona Maria de Lurdes com carinho, ela é a cozinheira da casa e a pessoa que cuidava de João Miguel quando ele chegou aqui na fazenda.
- Aqui menino Leonardo, tá calor, melhor beber água pra não secar a garganta mais que o poço em época de seca – Maria diz me entregando um copo de água com alguns pedaços de gelo.
Agradeço a gentileza e pego o copo, logo virando um gole, de repente, noto o mesmo rapaz que abriu a porteira quando cheguei, passar estalando um chicote, arrebanhando o gado de volta pros currais.
- MENINO MIGUEL, CUIDADO COM ESSE CHICOTE AÍ, SE VOCÊ SE MACHUCAR ELE VAI CANTAR É EM VOCÊ! – Maria de Lurdes grita olhando pro jovem com as mãos na cintura.
- BENÇA DONA MARIA DE LURDES HAHAHA! – O jovem responde e continua seguindo o gado na direção dos currais, estalando o chicote no ar, sem pegar nos animais uma única vez.
Afogo-me com a água e acabou cuspindo a água que estava na boca enquanto tusso Maria de Lurdes preocupada, começa a acariciar minhas costas na tentativa de me ajudar.
- Ai minha virgem santíssima, cuidado patrãozinho Leonardo, morre afogado com copo d'água não – Maria de Lurdes diz me olhando preocupada.
- Maria, aquele é o Miguel? O mesmo menino magrelo e fracote de quando eu morava aqui? – Pergunto olhando surpreso pra Maria de Lurdes, se for o mesmo Miguel, ele mudou...e muito.
- Ara, que outro menino Miguel seria patrãozinho? Aquele é o mesmo menino Miguel que trabalha de sol a sol, chuva a chuva pra ter onde dormir e oque comer – Maria de Lurdes responde simplesmente.
Estico um pouco meu pescoço pra ver o Miguel se aproximando dos currais com o gado de leite e os bezerros, ele estava sem cavalo, acompanhando o gado a pé e estalando o chicote no ar, o que conduzia o gado na direção certa sem ser necessária qualquer agressão.
João Miguel mudou nesses últimos anos, e muito, sua pele antes clara e pálida como um fantasma agora está morena e castigada pelo sol, de um garoto baixinho, hoje estava mais alto que eu, o João Miguel que conheci há anos atrás, era tão magro que parecia uma caveirinha que anda e fala, mas agora....um braço dele é mais grosso que minha perna pelo trabalho no campo.
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