O inferno desse despertador tocou de novo depois de eu terdesligado pela terceira vez. Levantei com a preguiça me consumindo,mas fazer o quê? Éisso, ou ser um ninguém,não é?
Faço tudo o que tenho que fazer. Coloco uma camiseta brancacom uma estampa aleatória no meio, a mão de uma mulhersegurando uma fita cassete em meio a um céu azul, não faz o menorsentido, mas continua sendo bonito. Meu amado all star azul. Ele está um pouco surrado, mascontinua sendo meu preferido.
Arrumei meu teclado no suporte. Não sei porquemeu pai insistetanto emficar mexendo nele. Às vezes acho que meu pai é maisbagunceiro que eu.
Desço as escadas entrando na cozinha, uma curiosidade sobremim, eu sempre acordo literalmente morrendo de fome.
― Bom dia,mãe! ― disse sorrindo
― Bom dia, filho! Seu pai fez um sanduíche, quer uma metade?― ela ofereceu, sabendo que possivelmente minha barriga já estavagrudando nas costas.
― Se você não for comer,eu quero sim.
Minha mãe nunca tem fome pela manhã, ela nunca foi de comermuito, não sei dequem eu puxei para sentir essa fome toda. Ela dizque são os hormônios da adolescência. Mas eu posso dizer comconvicção que, mesmo velho, eu vou ter uma geladeira recheada debesteiras.
― Pode pegar. ― Ela cortou o sanduíche ao meio, me dando ametade dele.
― Obrigado,mãe, eu vou indo ― falei, pegando meu walkman eminha mochila que sempre deixo ao lado da porta, é prático, ou, doponto de vista do meu pai, preguiçoso.
― Tenha um bom dia,querido. E boa aula!
― Obrigado,mãe!
Saí de casa enquanto dava uma mordida no delicioso sanduíche.
A escola não é muito longe da minha casa, o que facilita muito.Não preciso pegar o ônibus de manhã, nem implorar carona praalguém.
Coloco os fones nos ouvidos. Eu amo música, elame faz esquecerde tudo e me traz sentimentos bons. É como uma fórmula mágica.
Tocava a deslumbrante “Sonata 19”, ou, como costumam dizer,“Hammerklavier”do incrível Beethoven. Isso é realmente viciante.
Quando ouço música, o tempo parece passar voando. Dei uma últimamordida no meu delicioso sanduíche,jogando o papel em uma lixeira.
Quando vi, já estava quase na frente da escola, entrei pelosportões do colégio, passando perto da escadaria para ir até a quadra,mas, quando me dei conta, Jackson já se aproximava com a suaadorável gangue.
Ah, o Jackson. Botas nos pés, regata preta, óculos escuros,sorriso cínico no rosto. Como eu costumo dizer, a mais pura definiçãode idiotice.
― Olá,Park! Como vai?
Ele me obrigou a tirar os fones e parar de ouvir a incrível músicaque estava tocando para ouvir suas baboseiras.
― Bom dia, Jackson ― eu disse com desdém. Ele sabe que eunão gosto dele, mas mesmo assim insiste em ficar no meu pé.
― Nós.― Ele apontou para a sua turma.―Vamos até o parque,tá afim de ir junto?
Mas nem que a vaca tussa em alemão! Eles vão até a praça paraolhar os pássaros e não fazer absolutamente nada? E estão meconvidando para fazer isso junto com eles? Eu sou uma piada paravocê,Jackson?
― Não, eu não vou ― ditei determinado.
― Qual é! Nós vamos até o Parque de Stanley. Vai mesmo perderisso e ir assistir aulas? ― disse entediado.
Metade da escola daria tudo para que o famoso Jackson osconvidasse para sair com sua turma. Mas,do meu ponto de vista, issonão passa de uma perda de tempo.
― Sim, vou perder o incrível Parque de Stanley ― eu dissecompletamente entediado.—Não vou matar aula com vocês!
Eu me preparei para subir aquela escadaria da frente do colégioe me deparei com Min Yoongi descendo.
Min Yoongi, calças jeans coladas, jaqueta de couro, coturnospretos. Ele descia aquela escada como se fosse o rei da porra toda.Não que alguns não o enxerguem assim. Mas,para mim, todo aqueleibope e toda aquela fama e reputação significava um grande nada.
― Min! ― exclamou Jackson ― E aí,cara, vamos?
Eu parei e o observei ir até o Jackson e as duas garotas enquantoria de alguma bobeira que uma delas fez enquanto ele descia.
Ele me encarou e colocou aquele mesmo sorriso ladino e cínicono rosto, se aproximou da escada de novo se apoiando no corrimão.
― O Jackson disse que ia chamar você, não vem?
Ah, o Min, charmoso como sempre. Ele perguntou de uma formatão inocente que, se não fosse por aquele sorriso idiota, podia jurarque era uma criança.
― Não—respondi seco,virando-me para continuar subindo aescada. Ele segurou meu braço fazendo-me virar de volta pra ele. Queabusado! Me soltei dele suspirando com aquilo, não vai levar a lugaralgum.
― O que é?! ― Quase gritei,soltando um suspiro por ele não medeixar subir logo.
― Tem certeza de que não quer ir?
― Tenho! Isso é uma perda de tempo! ― eu dissecompletamente entediado e estressado.
― Perda de tempo é o que você vai fazer lá dentro. ― Apontoupara os portões do enorme colégio.
― O quê?!
Agora ele está chamando o colégio de perda de tempo?! Eutenho mil e um textos para expressar a minha indignação, mas ele meimpede de falar qualquer palavra.
― Pense bem. É a vida, Park. Ela vai passar antes de vocêperceber.
Ele se virou de costas para mim,caminhando pela calçada aolado de seus colegas.
Obrigado pela leitura!
Podemos manter o Inkspired gratuitamente exibindo anúncios para nossos visitantes. Por favor, apoie-nos colocando na lista de permissões ou desativando o AdBlocker (bloqueador de publicidade).
Depois de fazer isso, recarregue o site para continuar usando o Inkspired normalmente.