lucas-penteado1593352162 Lucas Penteado

Vicente dos Santos é irmão mais novo de uma atriz brasileira em ascensão. Com um comportamento explosivo, o rapaz vive se metendo em brigas e tirando notas vermelhas. Após uma discussão entre os dois, Vicente sai para esfriar a cabeça e durante sua caminhada é atropelado. Ele precisa então de um transplante de coração, mas apesar de tudo ter corrido bem durante a cirurgia, o rapaz começa a enxergar coisas. Como pequenos fios nos dedos das pessoas e diz que consegue enxergar os sentimentos dos outros. Enquanto sua irmã luta para tentar descobrir o que aconteceu com o seu irmão, as transformações continuam, e ele decide subitamente se tornar um ator.


Romance Contemporâneo Para maiores de 18 apenas.

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Em progresso - Novo capítulo Todas as Sextas-feiras
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Acaso

Vicente ouviu o barulho da porta de seu apartamento se abrindo enquanto comia o almoço. Geralmente ele não se importava em checar, pois sabia que apenas ele e sua irmã tinham a chave da casa, mas naquele dia, seus olhos se viraram para ela ao ouvir suas pisadas fortes no chão.

Sua irmã parecia irritada com alguma coisa, infelizmente não foi muito difícil descobrir com o que. Ele viu o boletim amassado que tentara esconder nas mãos dela. Praguejou internamente, pensou que tinha conseguido se livrar dele, mas ao que parecia, apenas adiara a explosão de raiva que se seguiria.

Os olhos escuros de sua irmã se focaram nele.

— Vicente. Pode me explicar o que exatamente é isso? –ela indagou praticamente jogando o boletim para o rapaz.

— Minhas notas, mana...

Sua irmã ergueu uma sobrancelha. Ela estava terrivelmente irritada, todos os seus gestos apontavam.

— Chama isso de notas?

Dessa vez, Vicente não conseguiu esconder um suspiro.

— Sinto muito mana. Eu prometo que vou me esforçar mais a partir de...

Sua frase morreu pela metade quando sua irmã fechou a distância entre eles e o atingiu com um tapa forte no rosto. Tão forte que o deixou desconcertado; a dor só veio momentos depois, substituindo o choque inicial.

— Não fale nada. Estou cansada de suas promessas vazias! –ela vociferou tremendo. Agora a raiva parecia tomar conta dela. –Você já me prometeu tantas coisas, Vicente! Tantas coisas... Disse que ia parar de brigar e se esforçar mais!

Ele não conseguiu responder, sentia-se congelado. Nunca vira sua irmã daquela maneira; tão mexida por conta de seu boletim; parecia um motivo quase ridículo.

— Eu me esforço tanto para que você tenha uma educação boa... E é assim que você me retribui!

Ele não entendia. Queria dizer quantas vezes tinha tentado arrumar um emprego de meio-período, mas fora barrado justamente por ela. Queria dizer tantas coisas, argumentar ou resolver a situação, mas no final, tudo o que saiu de seus lábios foi um murmúrio irritado.

— Você não é minha mãe.

Ela parou de falar de repente. Focou seus olhos em Vicente, como se não tivesse compreendido suas palavras. Depois sua expressão se fechou numa carranca, uma das piores que ele já vira em toda a sua vida.

No final, sem comer, sua irmã mais velha correu para o quarto e se trancou ali, fechando a porta com um estrondo.

Vicente encarou aquele maldito pedaço de papel, como se a culpa fosse do boletim e não de sua incapacidade. O rasgou em pedaços.

Jogou a comida fora, ele parecia ter engolido uma bola de bilhar. Calçou seus tênis de corrida, saindo do apartamento.

*

Amélia dos Santos era a irmã mais velha talentosa de Vicente. Seus pais a inscreveram no teste de uma agência de atores quando ela tinha sete anos, como uma espécie de brincadeira; mas ela realmente passou e virou uma atriz.

Depois da morte deles, Amélia começou a tomar conta de Vicente. Amadureceu muito rápido e com o dinheiro de suas filmagens ajudava os tios dos dois a pagar a escola, e o apartamento.

Enquanto isso, Vicente era só... ele, um rapaz problemático, uma sombra, um peso para sua irmã, um peso que entrava em brigas e não conseguia manter notas consistentes num colégio.

Enquanto corria, o rapaz se lembrava das palavras que dissera para Amélia antes de sair do apartamento. Você não é minha mãe...

Idiota, idiota! Ele aumentou o passo da corrida.

A cada batida acelerada de seu coração, Vicente sentia que desespero era jogado em sua corrente sanguínea, transformando suas veias em gelo. Não devia ter falado aquilo para sua irmã, sua irmã que se esforçava tanto para vê-lo bem...

Parou no meio da corrida, arfando. Se perguntou se deveria voltar para o apartamento e pedir desculpas imediatamente, ou se deveria esperar um pouco, afinal, de qualquer maneira a merda estava feita.

— Cuidado! –um grito arrancou Vicente de seus pensamentos. Antes de entender o que estava acontecendo, o rapaz estava no meio da rua, a próxima coisa de que se lembrava, era do impacto do carro em seu corpo...

*

A consciência do rapaz tremulou muito, em estados em que ele sentia pura dor queimando todo o seu ser, e estados de inconsciência. Vicente piscou, sentindo seu corpo sendo levado para cima de uma maca, suas pálpebras pesavam como chumbo.

Piscou mais uma vez, vendo o teto branco de um hospital, ouvindo o barulho das rodas da maca, os gritos nada coesos dos médicos que se misturavam com frases de sua irmã em sua cabeça.

Dessa vez, quando fechou os olhos, não os abriu novamente, sentindo-se ser abraçado pela sensação quente de um sono gostoso e necessário.

As pálpebras de Vicente o obedeceram. Ele finalmente conseguiu abrir seus olhos; a primeira coisa que viu foi um teto branco e sem-graça, bips ecoavam pelo quarto.

Não precisou pensar muito para saber que estava num hospital. Um homem careca entrou em seu campo de visão limitado.

— Você é de ferro por acaso? –o homem vestia um jaleco então para Vicente era óbvio que ele era um médico. –Como está se sentindo?

Vicente ponderou por alguns instantes. Suas pernas estavam pesadas, mesmo deitado ele conseguia sentir isso, não conseguia mover muito bem seu corpo e seus pensamentos estavam embaralhados.

— Como se tivesse sido atropelado. –respondeu por fim, arrancado uma risada do médico.

— Bom. V0ocê foi atropelado, acho que isso é o esperado.

O homem puxou um banquinho, se sentou ao lado da cama de Vicente.

— Sua condição atual é estável. –disse, mesmo assim, Vicente conseguia ver sinais de preocupação em seu rosto, o médico evitava olhar em seus olhos. –Mas foi uma cirurgia delicada, então vamos precisar te manter um pouco aqui.

— Minha irmã sabe?

— Sim, mas quando ela veio te visitar você estava na UTI então ela não conseguiu entrar.

UTI? O que raios tinha acontecido a ele?

— Você fez um transplante de coração. –o médico comentou provavelmente percebendo a preocupação de Vicente. –É uma cirurgia delicada, mas você reagiu bem até agora, criança.

O tom dele era afetuoso, quase como um pai parabenizando seu filho.

Vicente, porém, não ouviu. Ele olhou para o próprio peito sentindo as pontas de seus dedos formigando de ansiedade, engoliu em seco, sua pele já pálida começou a parecer papel.

Dentro de seu peito, lhe dando vida e bombeando sangue para o restante de seu corpo havia o coração de outra pessoa...

— É assustador, não é? –o homem ao seu lado indagou, vendo para onde o olhar de Vicente estava se dirigindo. –Mas você é forte garoto, o tempo de observação na UTI foi tranquilo, tenho certeza de que terá um pós-operatório bom.

Eram palavras de encorajamento, mas Vicente não conseguia assimilá-las direito. O médico se ergueu para sair da sala, deixando o rapaz sozinho com seus pensamentos.

Vicente afundou na cama, os olhos bem abertos, com medo de que se dormisse novamente não abrisse os olhos de novo. Ele conseguia ouvir as batidas do novo coração, sentindo-se estranho por dentro.

Ele levou uma das mãos ao rosto, preocupado. Quando ia repousar a mão ao lado de seu corpo novamente, ele percebeu uma coisa...

Era bem pequena, mas existia. Havia uma linha vermelha enrolada num de seus dedos, quando tentou pegá-la para tirá-la de lá, o rapaz tocou o ar. Esfregou os olhos, mas a linha continuava ali mesmo depois disso.

— Que merda é essa? –ele se perguntou franzindo o cenho para a linha.

26 de Fevereiro de 2021 às 17:44 3 Denunciar Insira Seguir história
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Ruana Aretha Ruana Aretha
Hello! Primeiramente, obrigada pela escrita. Me prendeu tanto que pensei "já acabou ?". Vou acompanhar hein , adorei. O mais incrível é que você desenha o personagem com letras , você o descreve tão bem que consegue dimensionar na cabeça as reações , as faces de cada um, maravilhoso!
March 15, 2021, 02:45
Isís Marchetti Isís Marchetti
Olá, Lucas! Tudo bem com você? Faço parte do Sistema de Verificação e venho lhe parabenizar pela Verificação da sua história. Eu imagino o quanto essa situação inicial deve ser um problema para os dois, o elefante na sala é o fato dela fazer de tudo para que ele não sinta saudade dos pais, mas não querer substitui-los com sua própria presença, mas o medo dele decair por falta de atenção assombra ela de alguma maneira. A verdade é que é um assunto muito, muito mesmo, delicado. Eu não sei, mas gostaria de ter essa duvida sanada, esse tal fio vermelho diz respeito a lenda Aka-ito? Se sim, você já me conquistou, haha. Bom, vamos lá. A coesão e a estrutura da sua história, até aqui estão indo muito bem e acredito que você vai chegar bem com elas até o final, eu me lembro de alguns de seus outros trabalhos que eu li e você sempre teve um bom domínio sobre o roteiro. A narrativa está sensacional e a cada ocorrido foi uma surpresa realmente inesperada, o que faz com que eu me corra de curiosidade para saber o que você preparou para essa história. Quanto aos personagens, eu imagino o quanto as coisas vêm sido difícil para ambos, principalmente para ele que tem tantas cobranças, não só pelo fato de ser o irmão patético e que ficou para trás quando diz respeito a ser promissor, mas eu gostaria mais de ver ambos buscando se apoiar um no outro. Eu me pergunto se esse fio vermelho em seu dedo de alguma forma, talvez o leve para o espirito da pessoa que era dona daquele coração anteriormente, por mais que isso pareça meio bizarro eu gostaria de ver, haha. Quanto à gramática, seu texto está muito bem escrito até o momento e eu acredito que continuara nos próximos capítulos. Acredito no seu potencial. No geral é uma história que tem uma premissa muito interessante. Abraços.
March 13, 2021, 18:07
Arnaldo Zampieri Arnaldo Zampieri
Adorei sua história. São eventos que foram me prendendo e seguem uma progressão de importância que me deixou muito feliz em ler. É surpreendente. Vou acompanhar os próximos capítulos e tudo mais que você publicar. =)
March 05, 2021, 13:37
~

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