sandranaua Sandra Braz

Com um copo de margarita talvez seja possível fazer alguns questionamentos. Inclusive aqueles relativos a alma.


Conto Todo o público.

#reflexao-alma-margarita
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Ela sentou-se na mesa do bar. O mesmo que ela sempre vai quando se sente melancólica. A penumbra e a assimetria daquele lugar combinavam com sua alma. Com um copo de Margarita nas mãos, se imagina como personagem de um filme antigo, onde um solo de sax toca ao fundo enquanto ela elegantemente sentada espera que o próximo personagem entre e dê continuidade à cena. Mas ninguém aparece e o que a banda dali toca é a música de algum cantor, provavelmente novo da MPB, desconhecido dela. A canção tem poesia barata e uma melodia suave, o que contrastava com o seu humor cinza. Uma mulher empolgada, talvez pelo excesso de drinques, acompanha a banda de pé junto ao palco com um cigarro que alternava entre os lábios e os dedos e não se importa com possíveis julgamentos e parece estar feliz ou se não, sabe lidar melhor com dias sombrios do que ela. Tomando o último gole de sua Margarita, observa as pessoas e imagina que elas olham-na e conseguem desnudar sua alma e identificar pormenorizadamente sua apatia, angústias, dúvidas, mágoas, medos e seus defeitos tão abomináveis. E então todos a querem longe dali para que ela não os atinja com os respingos de suas desventuras. Retrai-se. Deseja encolher ao ponto de caber dentro da tampa de vodca que jaz junto aos seus pés. Quem sabe miúda, quase invisível consiga vasculhar sua alma como se ela fosse um baú e de lá descartar todas as velharias e depois de desinfetar cada cubículo, organizar o que restar em seu devido lugar como fazia a avó aos sábados quando arrumava sua decrépita estante de bibelôs. Ficava tudo tão bonito...

26 de Fevereiro de 2021 às 17:07 0 Denunciar Insira Seguir história
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